28.8.15

Notas 15/16 (#2): Banhos de realidade

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Sporting, fora da Champions: A época estava a ser perfeita, no que a resultados diz respeito, mas deixou-o de ser nesta semana, e logo em dose dupla. A eliminação da Champions, em particular, teve uma valorização mediática muito significativa. Começando por abordar os jogos dessa eliminatória, frente ao CSKA, creio que eles terão tido o condão de trazer à terra aqueles, eventualmente, estivessem mais iludidos. O Sporting, por muito que esteja notoriamente melhor em diversos planos, como me parece que está, não poderia passar a ser, de repente, aquilo que não é, uma equipa da primeiríssima linha do futebol europeu. Porque só nessa condição é que poderia ter revelado uma grande superioridade perante uma equipa como é o CSKA. Não foi assim, obviamente, e os dois jogos foram, no essencial, equilibrados. O Sporting, diria, mostrou-se mais competente na generalidade dos seus processos de jogo, mas teve sempre muitas dificuldades em controlar os movimentos de dois jogadores, especialmente Musa. Mas, se poderia haver uma euforia excessiva em relação a esta equipa do Sporting, corre-se agora o risco de cair no erro inverso. Primeiro, os erros cometidos e problemas sentidos não me parecem graves, estando na minha perspectiva mais ligados ao mérito próprio, dos jogadores do CSKA. Depois, a eliminação da Champions também não me parece, de todo, um revés com a magnitude que lhe é dado em termos mediáticos. Estar na fase de grupos da Champions tem, para um clube como o Sporting, pontos a favor, mas também pontos contra, e estes últimos raramente são equacionados. A favor, os óbvios milhões que são muito úteis para ajudar a compor planteis mais fortes, e a motivação que traz ao clube e aos seus adeptos. Contra, na minha perspectiva, quase tudo o resto. No plano desportivo, a Champions é um objectivo desportivo praticamente impossível, nos dias que correm, para as equipas portuguesas e para o Sporting em particular. Ser campeão europeu é uma utopia, e mesmo uma altamente improvável presença nos quartos ou meias finais não chegaria para compensar a perda de um título interno. E esse é o meu ponto essencial: no futebol português as épocas ganham-se ou perdem-se nas competições internas, e se os milhões da Champions poderão saciar os bolsos de alguns, nunca serão suficientes para compensar as frustrações dos adeptos no final de Maio. Mas, a verdadeira ameaça advém do desgaste que geralmente decorre da presença numa competição tão exigente, sendo normalmente complicado gerir os ciclos semanais com jogos tão importantes à terça ou quarta feira. Um passo que várias vezes se revelou maior do que a perna para as equipas portuguesas. Um bom exemplo de tudo isto é o caso do Benfica no ano anterior, que foi afastado das competições europeias precocemente, mas acabou por conseguir manter a vantagem interna que tinha, numa fase em que era o Porto quem parecia estar mais forte. Estamos apenas no domínio conjectural, reconheço, mas parece-me um equívoco ser despiciente relativamente à importância que têm tido as trajectórias europeias nas competições internas. Enfim, passar o playoff seria, sem dúvida, uma vitória importante para o Sporting, mas poderia também vir a revelar-se uma vitória pírrica para as aspirações internas - e mais importantes, desportivamente - do clube.

Benfica e a derrota frente ao Arouca - O jogo frente ao Arouca, disputado depois dos empates dos rivais na véspera, prometia trazer uma injecção de moral para as hostes encarnadas, acabou por ter o efeito precisamente inverso. Ora, estes altos e baixos emocionais têm normalmente alguns efeitos na lucidez com que se olha para o jogo, e creio que isso terá acontecido também desta vez. Aqui, refiro-me sobretudo à tentação quase irresistível para se exacerbar os deméritos da exibição do Benfica, em função da desilusão do resultado. Começo, portanto, por referir que na minha análise o Benfica teve um volume ofensivo bastante significativo no total do jogo, e em especial na primeira parte, o que normalmente lhe teria sido suficiente para garantir pelo menos um golo no jogo. Bastante mais significativo, por exemplo, do que teve frente ao Estoril, onde venceu por 4 golos de diferença. Diria que a goleada desse jogo foi tão enganadora como esta derrota, e diria também que apesar do contraste extremo dos resultados, o Benfica deu alguns sinais bastante consistentes nestes dois jogos. Por um lado, que em princípio deverá ser capaz de dominar, de forma clara, a generalidade dos seus jogos no plano interno. Por outro, que tanto do ponto de vista defensivo como ofensivo não tem ainda (vejamos se alguma vez terá...) a consistência que lhe permita aspirar a uma regularidade pontual para chegar ao patamar pontual das últimas temporadas. No plano defensivo, há uma dificuldade clara no momento de transição defensiva, com várias situações de jogadores a aparecer na cara de Júlio César nestes dois jogos. A gestão da posse (segurança) e jogo posicional (reacção) provavelmente necessitam de ser revistos, porque se esta tendência se mantiver os custos serão seguramente muitos e frequentes. Ofensivamente, já referi que a equipa conseguiu um grande volume e assédio à área do Arouca, mas é igualmente verdade que a forma como o fez deixou bastante a desejar, apostando a meu ver exageradamente em cruzamentos e finalizações exteriores, em vez de combinações que pudessem desequilibrar mais o último reduto adversário. Aqui, duas notas individuais contrastantes. Pela positiva, Nélson Semedo, que conseguiu algumas situações de rotura dentro da área do Arouca, em especial na primeira parte, perdendo esse protagonismo na segunda, não parecendo ter beneficiado com a entrada de Victor Andrade. Pela negativa, Mitroglou. Incrível a sua falta de envolvimento num jogo com tanto volume ofensivo e onde a influência de um avançado poderia ser maior. E isto, naturalmente, não ajudou em nada no tal problema que a equipa revelou na forma como abordou o último terço. É verdade que Mitroglou tem conseguido ganhar alguns duelos no seu papel de "pinheiro", mas a mim parece-me um contributo muito escasso para uma equipa com as aspirações do Benfica.

Porto, "déjà vú" na Madeira - A perda de pontos na Madeira terá sido um penoso "déjà vú" para os adeptos portista, mas não creio que seja apenas no que respeita ao resultado que a equipa deu sinais de continuidade em relação à época transacta. E isso, na minha perspectiva, pode ter uma leitura tanto positiva como negativa para as aspirações da equipa. Pela negativa, a falta de evolução do modelo de Lopetegui, que parece manter os mesmos defeitos do passado. Isto é, um jogo muito lateralizado, com poucas situações de rotura interior e um apelo constante a variações de corredor. A segunda parte do Porto, por exemplo, foi muito pouco conseguida em termos ofensivos, com a equipa raramente a conseguir desmontar o bloco defensivo do Marítimo. Pela positiva, porém, fica a ideia de que as diversas saídas jogadores importantes não terão afectado significativamente o potencial da formação de Lopetegui. Ou seja, mantenho a ideia de que este Porto valerá mais ou menos o mesmo do que a sua versão anterior, sendo que esse nível não será este ano tão fácil de superar por parte de qualquer dos rivais. Aliás, o saldo da jornada acabou até por não ser desfavorável ao Porto, já que era quem tinha em teoria o jogo mais complicado. Uma nota especialmente negativa, porém, para o regresso de Cissokho. A sua responsabilidade no golo parece-me óbvia, dada a trajectória tão larga que a bola percorreu, e isso teve desde logo custos elevados para a equipa, no jogo. Mas, também no plano ofensivo o seu contributo foi muito escasso para uma equipa que teve grande parte do volume ofensivo, e que aposta tanto nos corredores laterais para conseguir os seus principais desequilíbrios. Assim, Alex Sandro vai de facto fazer muita falta.

Inicio da liga espanhola - Nota também para o inicio da liga espanhola, e em particular para os arranques de Barça e Real, ambos com exibições muito atípicas. Em Bilbao, a performance do Barcelona acabou por ser suficiente para garantir a vitória, mas não para deixar de desiludir quem se habituou a ver a expressividade ofensiva dos blaugrana. Não me pareceu o melhor arranque para equipa de Luis Enrique. Se 1 golo foi escasso em Bilbao, muito mais foi o nulo de Gijon! No entanto, foi bastante diferente a exibição do Real, relativamente à do seu rival catalão. Muito mais volume ofensivo, e também muito mais permissividade defensiva, o que leva a conclusão de que o nulo tem muito de acidental e pouco de sintomático. Verdadeiramente preocupante, para o Real, foi a facilidade com que o Gijon se aproximou da sua baliza, mas também se podem estender algumas criticas ao plano ofensivo. Em especial, as decisões no último terço pareceram-me questionáveis em grande parte do jogo, com poucas jogadas de envolvimento e rotura, e muitas finalizações exteriores e cruzamentos (uma critica idêntica à que fiz ao Benfica, acima). Não me parece, porém, que o Real deixe de ser uma equipa altamente concretizadora durante a temporada.

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19.8.15

Notas 15/16 (#1): Arranque de temporada

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- Na liga portuguesa, a corrida ao título em 15/16 promete ter características não muito diferentes das anteriores. Ou seja, a superioridade dos principais candidatos será enorme na esmagadora maioria dos jogos, o que tem como consequência óbvia a menor probabilidade de que surja uma grande diferenciação pontual através desses jogos. Os clássicos e os acidentes de percurso prometem, por isso, voltar a ser decisivos para definir o campeão. Mas, no que respeita aos candidatos propriamente ditos, há diferenças óbvias em relação ao passado recente...

- O "factor Jesus" tem, na minha opinião e como já escrevi, uma importância enorme no lançamento dos dados para esta temporada. O Sporting ganha com isso, e pode perspectivar para si próprio um melhor desempenho absoluto, em termos pontuais. Não é garantido, nem implica uma melhor classificação relativa, mas parece-me claro que o Sporting é hoje bem mais candidato do que era há um ano, e essencialmente por ter agora Jesus como timoneiro.

- Em sentido inverso está o Benfica, e sobretudo também pela mudança de treinador. Sobretudo, mas não só. Depois de algumas épocas de grande acerto no mercado, o Benfica inverteu claramente essa tendência e de há uns anos a esta parte tem perdido sucessivamente qualidade no seu plantel, mesmo mantendo níveis importantes de investimento em aquisições. E isso, mais tarde ou mais cedo, com Jesus ou sem Jesus, ir-se-ia pagar. A saída do treinador terá servido de catalizador nesta reacção e, no arranque de 15/16 e aos meus olhos, as perspectivas do Benfica são bem menos favoráveis do que tem sido hábito. Há ainda margem para um volte-face, que se poderá dar tanto através do mercado, pela estrutura, como nos treinos, pelo treinador. Mas parecer provável, não parece...

- Mantenho a leitura que havia feito em Junho: quem mais se aproxima do título com as mudanças na segunda circular de Lisboa, é o Porto. Basicamente, e mesmo tendo de facto várias alterações entre as suas principais figuras, parece-me bastante seguro perspectivar que o Porto 15/16 não se afaste muito do registo pontual da época passada. Ora, se isso acontecer, uma de duas situações terão de suceder para que a equipa de Lopetegui não acabe a época no topo da tabela. Ou o Benfica mantém, pelo menos, o registo pontual anterior, o que não se afigura provável; ou o Sporting melhora substancialmente o seu desempenho, o que parecendo-me possível, também não vejo como fácil. Sendo assim, 15/16 tem, para mim e à partida, um favorito óbvio, que é o Porto.

- Uma nota, para terminar, sobre o arranque da Premier League. Poucas mudanças, na minha opinião, no quadro dos favoritos ao título, com muito equilíbrio entre várias equipas. Cria-se a ideia de que, por ter sido campeão, o Chelsea seria o favorito, mas a verdade é que, e tal como escrevi na altura, 14/15 não mostrou uma superioridade clara da equipa de Mourinho em relação às demais. Não quer isto dizer que o Chelsea seja inferior a qualquer outro candidato, mas perante diferenças tão curtas, a expressão favoritismo soará sempre a hipérbole. Para já, o arranque foi favorável às equipas Manchester, mas a Premier League, e ao contrário daquilo que se passa por exemplo em Portugal, é uma prova onde poucos jogos podem ser dados como garantidos para qualquer que seja a equipa, e por isso a margem para recuperar de desvantagens pontuais é, pelo menos em teoria, bastante grande.

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11.8.15

Benfica - Sporting: Análise individual da Supertaça

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Abaixo, deixo os meus comentários pessoais sobre os 20 jogadores de campo que iniciaram o jogo da Supertaça. Não me vou alongar muito sobre os aspectos colectivos da partida, ficando-me a ideia de que o Sporting se mostrou bastante mais competente do que o Benfica naquilo que ambas as equipas apresentaram, parecendo-me esta conclusão indissociável com o duplo-efeito que a mudança de Jesus representava para este jogo específico. Duplo-efeito, porque se o treinador é uma mais-valia, essa vantagem foi, por um lado, subtraída ao Benfica, e por outro, adicionada ao Sporting. Ainda assim, o jogo não foi de todo desequilibrado, e o desfecho do mesmo está muito longe de ter sido a fatalidade que a generalidade das análises pós-jogo parecem sugerir.
Sobre a análise individual, nota para o facto de eu não ter acompanhado a pré época dos dois clubes, estando as minhas considerações apenas centradas naquilo que pude ver neste jogo. Outra nota para o facto de não apresentar dados estatísticos a acompanhar a análise, como é meu hábito, o que tem a ver com o facto de estar a desenvolver um novo modelo de avaliação, não tendo este ainda a solidez que pretendo para que o possa apresentar sem gerar confusão a quem lê. Ainda assim, as minhas considerações têm como referência os dados recolhidos no jogo.

Benfica
Nélson Semedo - Se à partida este já não seria um jogo fácil para a estreia, as circunstâncias ainda tornaram as coisas mais complicadas. Em particular, o elevado número de solicitações a que foi sujeito. Como ponto positivo, a capacidade de projecção ofensiva, com alguns contributos importantes para o colectivo. Em sentido inverso, dificuldades em vários planos. Defensivamente, e apesar de ter saído por cima em vários duelos, esteve longe de conseguir impedir várias descidas do Sporting pelo seu corredor. Com bola, também não teve a consistência que certamente o Benfica idealizará para o titular da posição. A meu ver o balanço não é positivo, mas tem algumas atenuantes a seu favor, como são os casos da juventude e do grau de dificuldade do adversário.

Sílvio - Um jogo bastante mais discreto do que o de Nélson Semedo, mas na minha perspectiva não necessariamente melhor. Aliás, as diferenças de estilo são tão grandes que é difícil comparar. Ofensivamente, sem qualquer utilidade para a equipa no último terço, não passando ao lado das dificuldades que o Sporting colocou à fase de construção. Defensivamente, creio que terá sido mais vitima do que réu nas jogadas que o Sporting protagonizou pelo seu corredor, mas nem por isso o seu jogo foi especialmente positivo a esse respeito. A meu ver, o Benfica estaria melhor com um lateral que, ofensivamente, tivesse mais para oferecer ao seu lado esquerdo.

Jardel - A minha ideia é a de que Jardel poderá ser dos jogadores que mais poderá vir a sofrer com a saída de Jesus. O tempo ainda é curto para conclusões definitivas, evidentemente, mas o primeiro jogo oficial não lhe foi de todo favorável. Em especial, sobressaíram as suas dificuldades na construção, o que teve repercussões não apenas na fluidez de jogo, mas também na segurança defensiva da própria equipa, porque as suas perdas podem ser bastante comprometedoras. Defensivamente, esteve longe de conseguir o protagonismo de Lisandro, tendo como ponto mais positivo uma intervenção determinante.

Lisandro - Talvez a única boa notícia para o Benfica no jogo. Um número muito elevado de duelos ganhos no jogo, e um controlo muito positivo da sua zona. Com bola, também foi dos que menos problemas sentiu com a pressão do Sporting. Fica a dúvida em torno do motivo de tão pouca aposta da parte de Jesus no passado, e a resposta pode passar pelo menos em parte pelo comportamento posicional na última linha, onde não esteve tão bem como noutros planos. Independentemente de tudo, parece muito provável que um lugar no onze venha a ser seu em 15/16.

Fejsa - Jogo regular, nos mais variados planos, vindo ao de cima a sua capacidade para se impor nos duelos na sua zona. Ponto menos positivo uma perda de bola comprometedora. No meio de tantas dúvidas, e o problema das lesões à parte, parece-me um valor seguro para a sua posição específica.

Samaris - Jogo globalmente modesto, sobretudo na presença em posse onde ofereceu pouco à equipa, não sendo solução para a fazer sair da teia montada pelo Sporting. Não será caso para sobrevalorizar a sua responsabilidade individual, num jogo onde o contexto colectivo era tão complicado, mas também dificilmente se poderá pensar que em Samaris possa estar uma mais valia significativa para uma função tão nuclear.

Gaitan - Não deixando de ser uma exibição bem abaixo daquilo que tem para oferecer, a verdade é que terá sido o mais consistente depois de Lisandro, algo que não se estranha em face da sua qualidade. Se sair, como se diz ser provável, os problemas do Benfica 15/16 poderão ser ainda maiores...

Ola John - Foi o jogador que mais vezes levou a equipa para situações de algum potencial ofensivo. E isto, mesmo não sendo feito com a melhor das consistências deveria ter sido mais valorizado, não me parecendo fazer muito sentido a sua substituição no contexto em que o jogo se encontrava. Ola John tem um conjunto de problemas que dificilmente alguma vez o permitirão ser um jogador completo. Tem uma intensidade defensiva baixa e um jogo igualmente limitado no que à movimentação sem bola diz respeito. Mas tem também uma capacidade de desequilíbrio com bola que dificilmente Rui Vitória poderá encontrar em muitos mais jogadores do seu plantel. Caberá ao treinador pesar os prós e contras, mas a ideia que fica deste jogo é que poderá não ser fácil prescindir daquilo que o holandês tem para oferecer.

Talisca - Jogo assustadoramente fraco para um jogador que actua naquela posição, não oferecendo quase nada à equipa no plano ofensivo. E aqui o "quase" é aplicado para salvaguardar a sua utilidade nas primeiras bolas, onde venceu vários duelos na sequência das reposições longas de Júlio César. Já foi chamado à selecção brasileira e o próprio Jesus lhe projectou uma ascensão para patamares ainda mais elevados, mas a repetir exibições como esta ser-lhe-á muito complicado manter-se entre as primeiras opções do Benfica actual.

Jonas - Qualquer individualidade depende do colectivo, e Jonas não é excepção. Em termos mediáticos, Jonas terá sido uma das principais decepções do jogo, em grande parte pela imagem que deixou na temporada passada, mas a meu ver voltou a ser dos elementos mais úteis para o colectivo, num contexto que não lhe foi de todo favorável. Nomeadamente, conseguiu com bastante frequência auxiliar a equipa a chegar em boas condições ao último terço adversário, por exemplo em completo contraste com aquilo que fez Talisca. Depois, poderia também ter mudado o rumo do jogo. Primeiro, poderia ter feito melhor na resposta ao cruzamento de Ola John, depois também não foi eficaz na sequência de um pontapé de canto de Gaitan, onde me parecer justificar mais crédito pela forma como leu correctamente a trajectória da bola. Colocar o foco dos problemas do Benfica em Jonas será, a meu ver, um erro tremendo.

Sporting
João Pereira - Ofereceu boa dinâmica ao seu corredor, estando bem melhor no envolvimento do que propriamente na execução final das jogadas. Algo que não é novo. Defensivamente, não evitou alguns problemas no seu corredor.

Jefferson - Jogo de grande sobrecarga, tanto no plano ofensivo como defensivo. Claramente, a sua grande mais-valia é a capacidade com que aborda o último terço, e mais uma vez se fez valer no jogo por essa via, com vários cruzamentos perigosos, com destaque para aquele em que Teo não conseguiu emendar na frente de Júlio César. Depois, bem mais inconsistente nos restantes planos. Com bola, nem sempre deu a melhor sequência em fases mais precoces do jogo. Defensivamente, algumas abordagens questionáveis e a meu ver algo comprometedoras, apesar de ter vencido também vários duelos. A verdade é que, tudo somado, os seus cruzamentos acabam por compensar bem algumas lacunas que apresenta.

Paulo Oliveira - Uma exibição praticamente perfeita do ponto de vista defensivo. Com bola, sem grandes problemas. O mais provável é que ganhe muito com a chegada de Jesus ao clube.

Naldo - Um jogo positivo, mas longe da eficácia que conseguiu Paulo Oliveira. Não o conheço bem, mas parece-me óbvio que é completamente diferente para um central estar no Sporting em 14/15 ou em 15/16, e Naldo tem todas as condições para ganhar bastante com isso.

Adrien - Nesta nova posição, foi dos jogadores que menos me impressionou, ainda que tenha feito um jogo regular. Com bola, regular e a oferecer boa fluidez, apesar de uma perda mais comprometedora a assinalar. Os seus maiores problemas, porém, vêm das dificuldades que sentiu na respostas às primeiras bolas aéreas, em especial enquanto Talisca se manteve em campo. Na minha leitura, dificilmente terá as características que Jesus idealiza para esta posição, precisamente pelas limitações no jogo aéreo, e se assim for não lhe será nada fácil manter o estatuto de titular ao longo da temporada.

João Mário - Um jogo de muito boa efectividade, que não terá passado despercebido a ninguém. Bem em todos os planos, auxiliando com segurança a equipa nas fases mais precoces da construção e sendo também dos que mais contribuiu para as chegadas da equipa às derradeiras zonas do terreno. Defensivamente, também importante o seu papel, com vários duelos ganhos e um posicionamento nuclear para as aspirações da equipa. Terá de dar provas da sua consistência nesta posição, e em jogos de características diferentes, mas se o fizer não vai ser fácil tirar-lhe o lugar.

Carrillo - Não pelo golo, mas justifica, a meu ver claramente, o estatuto de melhor em campo. Foi, com bastante distância, o jogador cujas acções mais contribuíram para a chegada da equipa em boas condições às derradeiras fases do processo ofensivo, conseguindo também dar o seu contributo de forma bastante útil nos vários duelos que se travaram na zona média. Destaque para o seu posicionamento mais interior, com bola, que colocou bastantes problemas de ajustamento posicional à linha média do Benfica, para além, claro, da sua capacidade de desequilíbrio individual. Caso se mantenha em Alvalade, será com toda a probabilidade uma figura central do Sporting 15/16.

Bryan Ruiz - Longe, como todos, da utilidade que emprestou Carrillo à fase criativa, mas esteve também na linha dos que mais ofereceram à equipa, o que se exige na posição em que ocupa. Ainda assim não foi um jogo impressionante ou perto do potencial que, creio, tem para oferecer. Destaque para os seus movimentos de rotura, uma característica que pode ser importante no equilíbrio colectivo, já que compensa a pouca propensão de Carrillo para esse tipo de acção.

Teo Gutierrez - A meu ver é o principal problema que Jesus tem pela frente nesta altura. Teo ofereceu muito pouco ao jogo colectivo da equipa, e muito menos do que aquilo que se esperaria de um jogador da sua posição. Não basta baixar no terreno para trocar a bola com os médios, se dessas acções não resultar nada em termos de ligação efectiva do jogo. Não tenho muitas dúvidas sobre a qualidade do colombiano enquanto finalizador, mas o mesmo não posso dizer da sua capacidade para o jogo de envolvimento, e é muito possível que Teo venha a ser uma aposta falhada nesse propósito.

Slimani - Não podia contrastar mais com o caso de Teo. Pode ser surpreendente tendo conta o perfil do jogador, mas a verdade é que Slimani revela uma utilidade enorme para o jogo colectivo da equipa, valendo muito mais do que a ideia estereotipada que lhe é associada, de "jogador de área". Move-se com bastante propósito, identificando bem as oportunidades de atacar as costas da última linha e tirando partido da sua capacidade de choque, para dar continuidade a jogadas que os centrais estão habituados a dominar. E isso, neste jogo, valeu várias jogadas de elevado potencial à equipa, em que Slimani foi protagonista, e raramente como finalizador. Não será o jogador esteticamente mais agradável de ver jogar, e continuará certamente a ser vitima do tal estereotipo que lhe está associado, mas quanto à utilidade e efectividade do seu contributo, pelo menos a mim, não me restam dúvidas. Outro jogador que promete muito para 15/16 e do qual as aspirações da equipa provavelmente dependerão bastante.

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