28.5.15

Liga 14/15: Dados colectivos finais

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Terminado o campeonato, deixo algumas análises finais, começando pelos dados colectivos, que juntam aos golos a comparação das ocasiões criadas, bem como a divisão entre a origem de cada um dos lances que mais aproximaram as equipas do golo.
Relativamente à leitura dos números, creio não ser necessário acrescentar muito, tanto pelo natureza explícita dos quadros, como pelas leituras que já fui deixando ao longo da época. Nota, ainda assim, para a importância das bolas paradas na luta pelo título, com o Benfica a ter um aproveitamento substancialmente superior aos rivais, onde se destaca especialmente o mau desempenho ofensivo portista. De resto, à margem das bolas paradas, parece haver mesmo muito pouco a separar o desempenho de campeões e vice-campeões, com uma distância importante para as outras equipas. Relativamente ao Sporting, a sua distância para os rivais parece ter tido dois pontos chave: ofensivamente, o baixo aproveitamento das ocasiões criadas, que apesar de tudo foram bastante próximas do que Benfica e Porto registaram; defensivamente, um registo incomparavelmente mais modesto do que os outros "grandes". Curiosamente, esta é uma análise contrastante com aquela que havia sido observada em 2013/14, o que a meu ver pode indicar um potencial ofensivo significativamente superior nesta temporada, e que talvez não seja fácil de manter no futuro imediato, como já aqui escrevi, se se confirmarem algumas saídas. Por outro lado, o desempenho defensivo parece mesmo bastante modesto para uma equipa com o ascendente territorial que o Sporting conseguiu impor na generalidade dos jogos que realizou nesta prova.

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21.5.15

O título (Benfica e Porto) e o Sporting

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- Começo pela questão do título, que esta semana viu o Benfica confirmar a renovação do seu título de campeão. Este era um cenário que há já algum tempo vinha dando como significativamente provável, nas análises que fui partilhando, não por haver uma diferença significativa de qualidade entre as duas equipas, mas essencialmente pela vantagem que o Benfica cedo conseguiu. É curioso, já agora, como as pessoas se revelam pouco sensíveis na hora de estimar a probabilidade dos eventos. Intuitivamente conseguimos obviamente distinguir entre a possibilidade e a impossibilidade, mas depois não fazemos grande distinção no que respeita à probabilidade dos mesmos virem a ocorrer, e isto explica o porquê de tanta gente repetir coisas como "está tudo em aberto", perante cenários tantas vezes desequilibrados no que às probabilidades diz respeito. Talvez seja uma consequência evolutiva, ou não fosse a vida feita precisamente de um conjunto de acontecimentos altamente improváveis. Enfim, o ponto aqui é que há muito tempo que as hipóteses reais do Porto se sagrar campeão eram, ainda que não impossíveis, relativamente remotas.

- Um dos clichés de quem faz a análise aos campeões é considerá-los justos, assumindo que uma prova com a extensão de um campeonato acaba inevitavelmente por distinguir os melhores e mais regulares. Ora, isto pode até ser verdade para a generalidade dos casos, mas não o é obrigatoriamente, nem me parece ser para este caso concreto. Desde logo, porque Benfica e Porto fizeram exactamente os mesmos pontos nos jogos contra as restantes equipas, o que faz que nem a análise pontual sustente essa tese. Depois, porque de facto não me parece que existissem diferenças significativas no rendimento de campeão e vice campeão, cuja diferença na tabela se deve mais a uma questão de pormenor do que outra coisa. Por exemplo, o mesmo já havia acontecido nos dois últimos títulos portistas, onde fora o Benfica a ficar marginalmente por baixo, em duas provas extremamente equilibradas, sendo que também nesses casos foi a equipa que esteve mais tempo envolvida nas provas europeias que acabou por ver o seu rival fazer a festa do campeonato. E este parece-me um factor potencialmente importante entre duas equipas que se equivaleram tanto. Outro factor que me parece poder ter sido potencialmente diferenciador é o das bolas paradas, onde o Benfica se apresentou significativamente melhor do que o Porto, sendo que a equipa de Lopetegui me pareceu globalmente mais bem potenciada do ponto de vista defensivo do que ofensivo, de acordo com as análises e opiniões que fui deixando ao longo da época. E aqui reforço que, apesar destes factores potencialmente diferenciadores, as duas equipas se equivaleram no essencial, sendo natural que no plano mediático e emocional se estabeleça um fosso entre vencedores e vencidos, mas não sendo racional nem aconselhável que essa seja a análise de quem gere o futebol dos dois clubes. Nem o Porto precisa de mudar tudo porque não foi campeão, nem o Benfica deve acreditar que parte para 15/16 em vantagem sobre o seu rival. Não perceber isso pode ser o primeiro passo em falso na nova temporada.

- Aproveito também para escrever sobre o Sporting, que não faço há bastante tempo. Assumindo a subjectividade da análise, creio que o Sporting terá feito um campeonato positivo. Se compararmos com os registos históricos das últimas décadas, essa tem de ser claramente a conclusão, mesmo que isso não tenha chegado sequer para lutar pelo título. O Sporting, a este propósito, está numa situação atípica, porque não é uma equipa que tenha uma referência comparativa clara no panorama do futebol português actual. A sua ambição incontornável é a luta pelo título, mas não parece justo que se exija estar permanentemente no patamar de rivais que se preparam com condições orçamentais muito mais favoráveis. Por outro lado, o Braga também não é uma referência suficientemente ambiciosa para a dimensão do Sporting. O habitual é que as equipas estabeleçam para si próprias metas comparativas (ser campeão, chegar à europa ou não descer), dependendo estas sempre dos desempenhos alheios, mas não tem de ser assim. Pode-se perfeitamente definir metas próprias, como um número de pontos a alcançar, ou mesmo de golos marcados e sofridos, e no caso do Sporting creio que é isso que fará racionalmente mais sentido. Assim, e voltando ao inicio, não creio que se possa fazer um balanço negativo do campeonato do Sporting, se atentarmos apenas aos resultados da própria equipa. É claro que poderia ter sido melhor, e aqui parto para aquele que me parece ser um panorama menos favorável para o Sporting. É que este ano o Sporting contava com unidades que lhe ofereceram um excelente contributo, em especial no plano ofensivo, e que provavelmente não estarão presentes no futuro imediato. No caso, se à previsível perda de Nani se juntar também a de Carrillo, dificilmente o Sporting conseguirá evitar uma perda importante de potencial para a próxima época, sendo preciso para isso um defeso extraordinário no que diz respeito a reforços. Neste plano, compreender-se-á uma eventual frustração dos dirigentes do Sporting relativamente à presente época, já que estavam reunidas condições que não serão fáceis de repetir num futuro próximo, mas nem por isso a equipa foi capaz de se bater pelo título. Aqui, é impossível não destacar o desempenho defensivo, que me parece ter ficado bem aquém do que era possível. No Sporting discute-se muito, até pelas novelas que vão marcando a agenda mediática há praticamente meio ano, o tema do treinador, e sendo esse um ponto indiscutivelmente importante, parece-me também ser amplamente sobrevalorizado no plano mediático. Para ser concreto, se o Sporting perder Nani e Carrillo no defeso, o mais provável é que 15/16 venha a ser uma época bem mais complicada em Alvalade do que foi 14/15, sente-se no banco Marco Silva ou qualquer outro treinador deste mundo.

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8.5.15

Champions: Notas da 1ªmão das meias finais

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- Respeitando a ordem cronológica, começo pelo jogo de Turim. A situação desta eliminatória lembra-me um pouco o ponto em que se encontrava a eliminatória entre Porto e Bayern, após o jogo do Dragão. Ou seja, a vitória do Juventus não terá chegado para ficar mais próximo da final do que o seu rival, mas terá pelo menos sido suficiente para ter anulado o favoritismo que inicialmente o Real justificava. As hipóteses estarão, portanto, bastante equilibradas nesta altura. A Juventus deverá, para já, estar satisfeita pela forma como conseguiu expor algumas fragilidades de uma equipa que lhe é claramente superior. O Real, por seu lado, guardará para si também alguma responsabilidade no desaire, sobressaindo claramente dois factores chave: a ausência de algumas unidades importantes, como Modric e Benzema, e a dificuldade de Ancelotti em manter um onze com as características mais indicadas para o seu modelo. Não haverá grandes dúvidas de que a Juventus terá de sofrer bastante para sobreviver à segunda mão, onde provavelmente precisará não só de uma noite inspirada, mas também de um contributo da aleatoriedade no que respeita à eficácia das ocasiões que forem criadas. Um factor impossível de controlar, mas que nos 90 minutos que faltam jogar, pode bem vir a revelar-se ser decisivo.

- Passando ao prato forte, não apenas destas meias-finais, mas de toda edição da Champions, e talvez mesmo o embate mais interessante dos últimos anos, o Barça-Bayern, começaria por tentar abordar o jogo da perspectiva o Bayern. Guardiola, sem surpresa, teria como primeira prioridade ter bola. Talvez por uma questão de filosofia, diria quase dogmática, mas a verdade é que esse lhe objectivo lhe permitiria retirar tempo de ataque ao Barça e assim ser também uma arma de controlo defensivo, para além do potencial ofensivo que mais obviamente a posse oferece. O Bayern cumpriu este primeiro propósito relativamente bem, inclusivamente sem grandes custos ao nível de perdas de risco, como acontecera por exemplo no Dragão. Mas só a posse, por si só, dificilmente seria suficiente. Nesse sentido, era preciso, também, garantir um bom controlo defensivo, nomeadamente no que respeita ao controlo da profundidade, onde a equipa sente dificuldades com algum hábito, e depois ser capaz de ser consequente no último terço ofensivo. E foi nestes últimos pontos que o Bayern, realmente, não me pareceu estar à altura do desafio que que tinha pela frente. Provavelmente mais decisiva a questão ofensiva, que resulta da incontornável diferença de valores individuais, particularmente agravada pelas baixas de Ribery e Robben. Assim, o Bayern conseguiu o raro feito de dividir a posse de bola no Camp Nou, mas não se aproximou mais do golo do que a generalidade das equipas que visitam aquele estádio. A esse nivel, portanto, vulgar. Depois, a questão defensiva, que apenas teve custos na fase final do jogo, mas que já na primeira parte havia proporcionado ao Barça ocasiões mais do que suficientes para ter chegado à vantagem antes do intervalo, mesmo com uma presença em posse bem mais limitada do que é habitual. Neste sentido, penso até que o jogo terá corrido relativamente bem ao Bayern, ficando-me a dúvida de que forma a equipa poderia ter reagido se o Barça tivesse chegado ao golo, como me parece ter feito por merecer na primeira parte. Ao olhar para o que aconteceu na recta final do jogo, assim como outras ocasiões durante a época, sobra a ideia de que o risco poderia ter sido bastante elevado e um regalo para Messi e companhia, assim como foi para o Real no ano anterior. Referido isto, há também que salientar a ironia do jogo, já que se a primeira parte do Barça justificava a vantagem, a segunda estava a ser muito pouco conseguida até ao golo, com várias precipitações ao nível da decisão com bola, e com o Bayern a parecer ser capaz de levar pelo menos o nulo para uma segunda mão que teria tudo para lhe ser mais favorável. Aí, porém, sobressaiu o tal detalhe que faz verdadeiramente a diferença entre este Bayern e este Barça, a qualidade individual, e em especial o incontornável génio de Messi. E aí, por muito que no plano mediático sugira que são os treinadores o epicentro de tudo no futebol, a verdade é que me continua a parecer que o seu poder é muito escasso face à diferença que certos jogadores podem fazer.

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