6.2.15

5 jogadas (Porto, Sporting, Bayern, Chelsea, Barça)

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Jogada 1 - Já tenho escrito aqui várias vezes sobre o enorme desequilíbrio existente na liga portuguesa, e nesse sentido não posso sobrevalorizar demasiado a oposição que representava o Paços. Mesmo, se como também já escrevi, a equipa de Paulo Fonseca é das que mais atenção e mais elogios me parecem merecer no actual contexto do futebol nacional. Ainda assim, parece-me incontornável a qualidade da exibição portista, uma semana depois de ter perdido pontos importantes na Madeira. Em particular, de sublinhar a grande intensidade revelada na primeira parte, também na circulação de bola, mas sobretudo nos momentos defensivos, o que explica o facto do Paços ter sido praticamente confinado ao seu meio reduto, apesar dos seus esforços para valorizar a posse de bola. Mesmo considerando o desnível de valores entre as equipas, não me parece nada fácil realizar a exibição que o Porto conseguiu. Isto, na primeira parte, porque a segunda foi bastante diferente.

Quanto à jogada, que paradoxalmente acontece já após o intervalo, revela tanto o bom efeito do pressing portista, como o risco assumido pelo Paços, mesmo perante o contexto que tinha pela frente. E, aqui sim, pode levantar-se a questão sobre a abordagem estratégica do Paços. Costuma dizer-se, até porque é bonito e fica bem, que as equipas devem sempre manter a sua identidade, independentemente do contexto. Eu tendo a pensar que, mesmo podendo ser muito nobre (se é que isso existe, tacticamente falando), uma abordagem que ignora o contexto em que se insere não tem nada de inteligente, e sendo assim corre o risco de não ser também a mais eficaz. O objectivo que me parece mais lógico, e como sempre, é o da maximização da eficácia dos processos, e a dúvida neste caso é se a abordagem escolhida foi a que mais potenciou esse objectivo, isto claro sem querer passar a ideia de que o resultado e as dificuldades pudessem ter sido muito diferentes com qualquer outra abordagem.

Jogada 2 - Em Arouca, o Sporting realizou uma exibição que na minha opinião pecou pela intermitência. Isto é, a equipa impôs um ascendente claro, tanto antes do 1-1 como depois do 1-3, mas não o fez no largo período que intervalou essas duas fases, o que poderia ter colocado em risco a conquista de 3 pontos. Em vésperas do derbi, tenho alguma dificuldade em projectar o que esse duelo poderá dar. Tanto Sporting como Benfica são boas equipas e com recursos individuais de potencial não muito distante (ao contrário do que se diz), mas ambas me suscitam dúvidas relativamente a alguns pontos do seu jogo, sendo que o habitual grau de dificuldade existente na liga portuguesa não permite que se perceba bem o verdadeiro alcance dessas limitações. Um ponto provavelmente essencial relativamente a esse jogo passará pela estratégia de ambas as equipas, relativamente à construção, sendo que é de prever que qualquer das equipas tente pressionar o seu adversário em praticamente toda a extensão do terreno. No caso do Sporting, há algumas questões relativamente à segurança em posse, que não tem sido propriamente a ideal. No caso do Benfica, a minha previsão é que o risco assumido seja baixo, assim como aconteceu no Dragão, sendo que a equipa também ainda não se revelou muito eficaz com uma estratégia de saída de bola mais longa, nomeadamente pelas dificuldades de Talisca para actuar naquela zona do terreno.

O lance que trago tem como destaque essencial a reacção de Cedric, que faz aquilo que provavelmente é mais difícil - em termos de atitude, bem entendido - no futebol. Ou seja, reagir de forma agressiva, independentemente da incerteza da utilidade dessa reacção para o lance. Porque quando o lance se inicia não é de todo adquirido que Cedric vá ser chamado a intervir no lance, sendo que isso não o impede de recuperar com a celeridade que o lance revela. A meu ver, há poucas coisas mais valiosas para a solidez táctica de uma equipa do que esta intensidade na reacção à mudança de contexto do jogo, e talvez seja também por isso que o Sporting sentiu quase sempre as ausências de Cedric. Uma nota também para Tobias Figueiredo, protagonista pela negativa no inicio deste lance e que terá um teste importante frente ao Benfica, correndo-se na minha perspectiva o risco de se estar a lançar o jogador cedo de mais na equipa principal do Sporting. Isto é, dada a sua posição, parece-me que talvez fosse mais aconselhável que tivesse mais tempo de utilização em equipas de menor pressão mediática, havendo a possibilidade de ser exageradamente penalizado por alguns erros que possa vir a cometer por uma eventual falta de maturidade.

Jogada 3 - Perder, mesmo que por números avultados, em futebol pode sempre acontecer. O que mais surpreende na derrota do Bayern é mesmo o que o jogo mostrou. Talvez 4-1 seja exagerado, mas mesmo considerando outros indicadores relevantes do jogo, como ocasiões claras de golo, foi o Wolfsburgo quem se superiorizou e isso foi o que realmente me surpreendeu. Recentemente, e a propósito de Guardiola, escrevi aqui recentemente que me parecia que a Bundesliga lhe era tão acessível que poderia não servir para testar realmente o risco que o seu modelo de jogo pretende assumir, chegando e sobrando para a generalidade dos jogos, mas que pode depois ser seriamente exposto perante equipas com mais capacidade no aproveitamento do espaço concedido, como sucedeu na última meia final da Champions. Neste sentido, o Wolfsburgo acabou por me contradizer, sendo capaz de expor de forma flagrante os riscos que o modelo do Bayern assume. Ou então, a percepção do risco é que se perdeu completamente, por parte dos bávaros, porque é essa a ideia que fica em vários dos lances do jogo. Talvez o mais claro - chegando até a ser caricato - seja mesmo aquele que está no vídeo, e que culmina no 3º golo sofrido pelo Bayern, onde os elementos da última linha defensiva estão de tal forma empenhados em apertar o espaço interior que se parecem esquecer de que a regra do fora de jogo só tem efeito a partir da linha do meio campo, e negligenciam por completo o risco que o seu posicionamento representa, em termos de exposição espacial. É claro que a exibição e as dificuldades sentidas não se explicam apenas pelo comportamento nos momentos tácticos defensivos, mas torna-se difícil não realçar especialmente a exposição da equipa, que ainda a meio da semana voltou a complicar as suas aspirações ao ser estranhamente surpreendida por estar demasiado adiantada numa jogada tão básica quanto um pontapé longo do guarda redes do Schalke.

Jogada 4 - Na Premier League, um jogo muito importante na corrida para o título, com um desfecho aparentemente mais favorável para Mourinho, mas sem que nada esteja verdadeiramente decidido. Sobre o jogo, referir a justiça do empate, sendo que provavelmente o nulo se ajustaria melhor a uma partida onde o Chelsea nunca fez valer o favoritismo de jogar em casa, e onde o City também nunca conseguiu ser consequente relativamente ao domínio territorial que exerceu. A Premier League, e como escrevi há algumas semanas, parece aberta porque não vejo nenhuma equipa verdadeiramente consistente para que se possa pensar que não venha a perder pontos. Relativamente ao lance do primeiro golo do Chelsea, a nota vai, de novo, para a forma como uma linha defensiva que tenta tirar partido da lei do fora de jogo para cortar o espaço de ataque do adversário, acaba por ser exposta por trajectórias que tiram partido da largura do terreno.

Jogada 5 - Nota para o Barcelona, e para mais uma exibição que me pareceu bastante conseguida, apesar das dificuldades sugeridas pelo curso do marcador, e frente a uma das melhores equipas do futebol espanhol actual, o Villarreal. Aliás, o Barça é a equipa que mais me agrada nesta altura no futebol europeu, restando saber que capacidade de reacção terá perante adversários com um potencial técnico mais equivalente ao seu. Desta referência positiva que faço ao Barça não está, naturalmente, dissociado o contributo de Messi. Confesso que nunca consegui ver em Messi um sub-rendimento e que as oscilações das suas prestações individuais sempre me pareceram ter mais a ver com problemas colectivos do que o contrário, mas ainda assim não posso deixar de sublinhar o seu momento e aquilo que na minha opinião é um super-rendimento, provavelmente sem paralelo no futebol mundial.

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