13.2.15

5 jogadas (Intensidade, Atlético-Real, Sporting-Benfica)

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Jogada 1 - O primeiro golo do Atlético, na surpreendente goleada aplicada ao Real, é um bom exemplo de como a equipa de Simeone envolve várias unidades no processo ofensivo, mesmo sendo uma equipa muito forte na transição defensiva. Este é um aspecto que me parece interessante na análise que deve ser feita a esta equipa, que tanto sucesso tem tido e durante tanto tempo. Isto porque o que vemos várias vezes é as equipas envolverem mais ou menos jogadores nos momentos de organização, ofensivo ou defensivo, conforme o enfoque que pretendem dar ao momento de transição subsequente. Um desses casos será o do Real Madrid, que tende a envolver menos gente no processo defensivo, tentando tirar depois partido do momento de transição ofensivo. O objectivo, segundo este paradigma, é defender/atacar melhor com menos jogadores nos momentos de organização, para depois tirar partido do momento de transição seguinte. Por aqui se percebe a diferença do Atlético a este respeito, já que sendo uma equipa reconhecidamente muito forte nos momentos de transição, não deixa de envolver normalmente muita gente nos dois momentos de organização, o que ajuda a explicar o porquê do seu sucesso transversal, tanto perante equipas mais fortes como na generalidade dos jogos da liga interna. A resposta está, evidentemente, na intensidade, que é também a chave de quase todas as jogadas que estão neste vídeo. Já agora, fica a minha questão sobre este tema: será que é mesmo possível defender/atacar bem e sustentadamente com menos unidades? Ou será que o melhor que se pode conseguir é defender/atacar menos mal? Se olharmos apenas para os casos de Real e Atlético, claramente é esta segunda tese que sai reforçada...

Jogada 2 - Mais uma vez Tiago, figura principal deste jogo. Aqui, fica realçada a sua intensidade defensiva, na reacção a uma situação de jogo onde o Real Madrid consegue o raro feito de abordar a zona de finalização em muito boas condições para se conseguir aproximar seriamente do golo. Este movimento do médio português pode parecer relativamente trivial, mas a verdade é que é muito comum vermos equipas de topo a não revelar grande relação intersectorial, nomeadamente com os médios a negligenciar os desequilíbrios que são criados pontualmente na linha defensiva. Aliás, já várias vezes trouxe aqui exemplos desse tipo, sendo este mais um ponto por onde se pode perceber o sucesso colectivo do Atlético.

Jogada 3 - De novo, a intensidade dos jogadores do Atlético - com Tiago também novamente em destaque - no ataque às zonas de finalização. Aqui, e já com uma vantagem de 2 golos no marcador, o Atlético não deixa de colocar unidades no processo ofensivo e na zona de finalização, acabando por criar uma vantagem gritante na resposta ao cruzamento. É claro que a expressividade da vitória colchonera não se pode explicar apenas por aqui, sendo nomeadamente de sublinhar a notável e muito rara capacidade para neutralizar o ataque tão poderoso como é o do Real, mas a verdade é que são inúmeros os lances neste jogo a revelar o enorme desnível de intensidade na reacção dos jogadores às mudanças circunstanciais que o jogo ofereceu. Aliás, se da parte do Atlético já não há muito para dizer em relação à capacidade que a equipa tem tido em superar aquelas que seriam as suas expectativas normais (volto a sublinhar aqui o tempo e regularidade com que o vem conseguindo), também devo dizer que não consigo compreender alguns elogios feitos ao trabalho de Ancelotti no Real (sobretudo depois de ter vencido a Champions 2014), que me parece pouco mais do que banal, tendo em conta os recursos ao seu dispor.

Jogada 4 - Sobre o derbi de Lisboa, um primeiro comentário ao facto do Sporting ter conseguido muito poucas ocasiões claras de golo, tendo em conta o ascendente que conseguiu e as jogadas que construiu até à zona de finalização. Aqui, parece-me haver algum demérito da equipa de Marco Silva, sendo no entanto primeiro importante fazer uma contextualização relativamente às dificuldades que o processo defensivo do Benfica criou. Boa parte da qualidade da organização defensiva do Benfica resulta do bom trabalho que a sua linha defensiva realiza na dicotomia entre encurtar o espaço interior e controlar o risco de exposição na profundidade. Neste sentido, é normal e expectável que o Sporting tenha tido dificuldades em fazer uso do seu jogo interior, precisamente porque é isso que a boa organização defensiva consegue condicionar. Face a este cenário, e a lógica continua a ser relativamente trivial, seria importante que o Sporting conseguisse ter boa capacidade de explorar a profundidade, porque esse é precisamente o risco que Benfica assume ao defender desta forma. Fosse de uma forma mais directa, através de lançamentos para as costas da linha defensiva, o que raramente resultou, quer por mérito do Benfica como por algum demérito do Sporting (nomeadamente, parece-me, por algum desajuste das características de alguns dos seus jogadores a esse tipo de movimento), fosse de uma forma mais indirecta, nomeadamente aproveitando o espaço nos corredores laterais para obrigar a linha defensiva a baixar e defender dentro da sua área. E foi precisamente por esta segunda via que o Sporting conseguiu várias vezes causar problemas ao Benfica, encontrando boas condições para colocar a bola na zona de finalização, muitas vezes com a defesa do Benfica ainda a recompor-se posicionalmente. O problema do Sporting, porém, foi que repetidamente - e o lance no vídeo é apenas um dos exemplos deste problema - os seus jogadores não conseguiam ter uma boa presença na área, sobretudo por algum défice de intensidade e agressividade neste tipo de movimentos. O lance incluído no vídeo é um bom exemplo deste problema, no caso com Montero a não conseguir acompanhar a velocidade do lance, apesar de ser à partida o jogador a dar mais profundidade no corredor central, (João Mário era quem estava mais atrasado, nesta ocasião). Não se trata de uma questão de velocidade, mas de concentração e percepção para este tipo de movimentos. Intensidade, portanto. Já agora, no lance do golo do Sporting é bem ilustrada a importância que a profundidade posicional (no caso, de João Mário) pode ter perante uma defesa como a do Benfica, precisamente pelo tipo de risco que esta assume para tentar encurtar o espaço interior do adversário.

Jogada 5 - O lance do dramático golo do Benfica é essencialmente determinado pela aleatoriedade própria do jogo, mas há também alguns registos a ter relativamente à reacção de alguns dos protagonistas. E, de novo, a intensidade com que estes abordam o lance e a sua mudança de circunstâncias, é decisiva. Primeiro, Jonas, que como lhe é característico antecipa a oportunidade do lance, sendo o mais lesto a reagir, e a ganhar vantagem por isso. Depois, a diferença entre William e Jardel, que partem sensivelmente da mesma zona. Enquanto que Jardel parte de imediato para a zona de finalização, William permanece pouco reactivo, acabando por não proteger a zona onde precisamente Jardel acaba por finalizar com sucesso. Mais uma vez, não é uma questão de velocidade, mas de concentração e percepção da importância que a sua reacção pode vir a ter, mesmo não sendo certa a sua utilidade. Há uma semana trouxe o exemplo positivo de Cedric, numa jogada em Arouca, e desta vez foi essa mesma intensidade que faltou a William para que a sua boa exibição nos 90 minutos não tivesse terminado com um amargo empate em cima do apito final.

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