27.2.15

Notas da Champions

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- Começo pelo jogo entre Man City e Barcelona, talvez o mais aguardado dos oitavos de final. Mais do que o resultado, não surpreende a superioridade dos catalães, um pouco na linha do que venho escrevendo nas últimas semanas. Não surpreende, mas é surpreendente que não surpreenda. Isto é, não há nenhum motivo pelo qual se possa considerar normal que um projecto com o investimento que tem tido o Man City se encontre, tantos anos e milhões de libras depois, tão longe do ponto mais alto do futebol europeu. Não sendo um admirador especial do futebol de Pellegrini, também me parece que as suas ideias têm muito mais conteúdo do que as que tinha Mancini. No entanto, isto não quer dizer que Pellegrini esteja a representar um avanço significativo relativamente ao seu antecessor. É que por muito que não se gostasse daquilo que fazia a equipa de Mancini, parece-me indiscutível que com ele o City evolui muito mais do que com o seu sucessor. Porquê? Basicamente, porque com Mancini - e mesmo se nem todos os reforços foram bem sucedidos - os milhões foram canalizados para unidades como Aguero, David Silva, Nasri ou Yaya Touré, que continuam a ser ainda hoje as principais unidades da equipa. Com Pellegrini, a torneira não secou, mas os milhões passaram a ser canalizados para jogadores como Mangala, Fernandinho, Alvaro Negredo ou Jovetic (Referencio propositadamente estes 4 porque, incrivelmente, o valor total despendido na sua aquisição é mais ou menos o mesmo do que aquele que foi preciso para contratar os outros 4, acima mencionados). Talvez o óbvio seja pouco interessante, mas no futebol ninguém pode fazer - nem de perto, nem de longe - tanta diferença como os jogadores, e por isso as escolhas que são feitas a esse nível continuam a ser o que mais e melhor define o sucesso ou insucesso das equipas.

- A grande surpresa veio, sem dúvida, do Emirates. Não vou falar muito do jogo, porque não o vi com detalhe, mas posso falar das equipas, porque as acompanho com bastante regularidade. Começando pelo Arsenal, que é o caso que mais me intriga, não vou dizer que se tenha tratado de um desfecho previsível (o Arsenal tem obviamente muito melhores recursos do que o Mónaco!), mas posso sem dúvida afirmar que esta enésima versão que Wenger montou nos Gunners, será das mais desapontantes de sempre. Desapontante, porque é impossível não reconhecer qualidade a jogadores como Ozil, Alexis ou Cazorla, mas ao mesmo tempo o Arsenal de hoje deverá ser também dos que mais dificuldades têm em assumir o domínio territorial do jogo, mesmo no plano interno. Por exemplo, no fim de semana passado a equipa fez um jogo horrível no derby com o Crystal Palace, vencendo é certo, mas passando quase todo o tempo a ser remetida para o seu extremo wreduto por uma equipa que lhe é francamente inferior. A reputação herdada do passado faz com que ainda vejamos o Arsenal a ser retratado como uma equipa de futebol atractivo e ofensivo, mas a verdade é que a equipa de Wenger não faz sequer juz ao potencial técnico que tem ao seu dispor, e hoje é obrigada a defender com muito mais frequência do que se poderia esperar, fazendo-o com muita gente envolvida, mas nem sempre necessariamente bem.
Quanto ao Mónaco, Leonardo Jardim tem de facto feito um trabalho fantástico, nomeadamente na Champions. No entanto, esta não é nem por sombras uma equipa brilhante. Mesmo a nível interno, o Mónaco tem muitas dificuldades em superiorizar claramente em relação à generalidade das equipas da Ligue 1, tendo quase sempre de trabalhar muito para conquistar os pontos que ambiciona. Diria que o Mónaco é uma equipa que se organiza bem e tem uma boa atitude competitiva e que por isso sabe sofrer quando precisa, sem dúvida, mas diria também que sofre mais do que aquilo que seria desejável, e que por isso dificilmente poderá lutar por um lugar no top 3 do seu campeonato interno, por muitos elogios que a sua trajectória europeia possa merecer.

- Continuando na onda das surpresas, ainda que esta seja na minha leitura apenas meia surpresa, tivemos ainda a vitória do Leverkusen, que complicou muito o apuramento do Atlético. Digo meia surpresa, porque mesmo se era do lado dos madrilenos que estava o favoritismo, claramente não me parece que fosse razoável esperar que o Atlético conseguisse uma grande superioridade frente a uma equipa cujo nível técnico não é assim tão diferente do seu. Já o escrevi - inclusivamente no ano anterior - que por muito mérito que os extraordinários feitos do Atlético possam ter, não se pode descontextualizar a verdadeira realidade da equipa, colocando-a por exemplo no mesmo patamar que Real Madrid ou Barcelona. E, a este respeito, recupero aqui boa parte do raciocínio que partilhei acima a propósito do Man City e da sua evolução qualitativa. No caso do Atlético, a sua organização e intensidade deverão continuar a servir de garantia de qualidade para o futuro, mas a equipa só poderá verdadeiramente aproximar-se dos melhores se for conseguindo paralelamente melhorar o seu plantel, particularmente com jogadores que lhe permitam ter mais tempo a bola e com qualidade. Ora, se o Atlético tem conseguido substituir relativamente bem os jogadores que têm saído - mesmo que algumas diferenças existam - tem também sentido muitas dificuldades em acrescentar aos seus quadros jogadores que possam contribuir para o tipo de evolução a que me estou a referir. Em concreto, parece-me que a equipa continua a depender em demasia do rendimento de Arda Turan para conseguir aumentar a sua qualidade de envolvimento com bola, e quando o turco não está ou não está bem, não há mais ninguém, o potencial do Atlético diminui significativamente. Mais uma vez, são os jogadores e a sua qualidade que podem determinar, ou não, a grande parte da evolução de cada equipa. Mesmo no caso que possivelmente mais contraria esta ideia...

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20.2.15

Notas da semana (Porto, Champions e Sporting)

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- Em Basileia, o Porto terá realizado uma exibição que me parecer dizer muito daquilo que é, e tem sido, a equipa de Lopetegui. Grande capacidade para se impor no jogo, dominando o adversário quase que por completo, num registo que julgo ser muito meritório e ao alcance de um número não muito extenso de equipas. Por outro lado, este domínio não tem correspondência na capacidade criativa da equipa no último terço, sobrando a ideia de que as suas dinâmicas poderiam oferecer mais a esse nível. O já muito discutido problema jogo interior (ou melhor, da falta dele), claro, mas não apenas isso, como também já escrevi. Há, porém, outro ponto que vem marcando muito a trajectória desta equipa, e que tem penalizado de forma decisiva as suas aspirações. Refiro-me, à facilidade com que a equipa sofre golos, perante tão pouca exposição defensiva. Foi assim frente ao Benfica, frente ao Marítimo e agora também em Basileia, complicando uma eliminatória que poderia nesta altura estar já muito mais bem encaminhada. É difícil perceber até que ponto este é um problema que deriva da simples aleatoriedade do jogo, ou de algo que possa denunciar uma tendência da própria equipa, mas eu tendo a valorizar mais a primeira hipótese...

- Em relação à Champions 2015, que arranca agora para a sua fase decisiva, a minha perspectiva é que existem três equipas com mais hipóteses de sair vitoriosas do que as outras. Em primeiro lugar, o Barcelona, que como já escrevi me parece claramente a melhor equipa do futebol europeu nesta altura, e depois Bayern e Real Madrid. O Bayern, pelo potencial técnico, mas também pela mais valia que representa ter Guardiola na liderança, o que faz com que dificilmente alguma equipa poderá dominar um jogo contra os bávaros (teria a curiosidade de ver um confronto Bayern-Barça, a este propósito). O Real, porque apesar de ser uma equipa a meu ver não muito optimizada do ponto de vista colectivo, tem simplesmente um conjunto de jogadores fantástico, com quem apenas o Barcelona rivalizará. Há, na minha leitura, duas ou três formações que se poderiam aproximar bastante deste trio, dado o potencial técnico que possuem, mas que não creio que estejam colectivamente preparadas para tal. Casos de PSG ou Man City, por exemplo. Assim, fora dos três candidatos que distingui, parece-me que pode haver um grande equilíbrio, incluindo aqui também o Porto, que me parece ter a consistência suficiente para se bater de igual para igual (ou muito próximo disso) com a generalidade das formações ainda em prova.

- Em foco na semana, e sobretudo por resultados menos positivos, esteve o Sporting. Como os dois jogos me parecem bastante diferentes, penso que fará sentido separá-los, começando pelo do Restelo. Estou de acordo, e parece-me pouco discutível, que o Sporting terá feito um jogo pouco inspirado, mas também não me sobram grandes dúvidas de que a veemência das criticas à equipa resultam essencialmente do resultado, e não tanto da exibição. No futebol, e apesar de sistematicamente ouvirmos o contrário, são os resultados que ditam praticamente tudo, e nem os próprios protagonistas conseguem fugir à sua influência. O exemplo, é a própria análise de Marco Silva ao jogo, assim como as suas substituições ao intervalo, a meu ver sem grande justificação para tal. Será que se Montero ou William tivessem convertido as boas oportunidades de que desfrutaram nesse período, Marco Silva teria sido tão cáustico na sua análise ao desempenho da primeira parte, e teria feito as substituições que fez? Mesmo estando num domínio apenas conjectural, eu arriscaria claramente que não. Assim como não me parece que houvesse grandes criticas à equipa se esta tivesse sido mais eficaz relativamente às ocasiões criou. Não foram muitas, é certo, mas também é inegável que o Sporting conseguiu ser uma equipa bastante dominadora num jogo frente a um dos adversários mais fortes do contexto nacional, e que a exibição que produziu não terá sido assim tão inferior a outras que terminaram com os 3 pontos para a equipa de Marco Silva. O resultado, reforço, dita quase tudo no que respeita aos sentimentos e análises pós-jogo.
O jogo frente ao Wolfsburgo foi, obviamente, diferente. O Sporting revelou capacidade para ter bola, não se submetendo a um domínio demasiado acentuado em termos de presença territorial, mas é por outro lado uma equipa que se continua a revelar muito frágil em termos defensivos. Seria, a meu ver, bastante mais desculpável se a equipa tivesse sido exposta em situações de bola parada ou transição, que podem sempre acontecer num determinado jogo, mas o que se passou foi que o Wolfsburgo conseguiu de forma demasiado fácil expor o Sporting no momento de organização, onde normalmente quem defende encontra mais condições para ser bem sucedido. Nomeadamente, os movimentos de De Bruyne foram sempre mal controlados pelo bloco defensivo, que repetidamente permitiu que o belga recebesse em zonas onde tinha condições para criar vantagem, pagando o Sporting bastante caro por essa e outras fragilidades. É um mal que acompanha o Sporting desde o inicio de temporada, e aquele que na minha leitura mais prejudicou as aspirações da equipa em todas as frentes onde jogou. O Sporting é uma equipa que consegue ter bons períodos de posse de bola e que por isso não tem de defender muito (especialmente a nível interno, onde o diferencial técnico é enorme para a generalidade das equipas), mas consente demasiadas ocasiões para o tempo que passa no processo defensivo e, como referi, isso tem sido o seu maior e mais custoso pecado em toda a época, tendo a ver na minha perspectiva com a qualidade dos seus processos colectivos e não com as qualidades dos individuais dos seus jogadores, que me parece ser a teoria mais em voga.

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13.2.15

5 jogadas (Intensidade, Atlético-Real, Sporting-Benfica)

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Jogada 1 - O primeiro golo do Atlético, na surpreendente goleada aplicada ao Real, é um bom exemplo de como a equipa de Simeone envolve várias unidades no processo ofensivo, mesmo sendo uma equipa muito forte na transição defensiva. Este é um aspecto que me parece interessante na análise que deve ser feita a esta equipa, que tanto sucesso tem tido e durante tanto tempo. Isto porque o que vemos várias vezes é as equipas envolverem mais ou menos jogadores nos momentos de organização, ofensivo ou defensivo, conforme o enfoque que pretendem dar ao momento de transição subsequente. Um desses casos será o do Real Madrid, que tende a envolver menos gente no processo defensivo, tentando tirar depois partido do momento de transição ofensivo. O objectivo, segundo este paradigma, é defender/atacar melhor com menos jogadores nos momentos de organização, para depois tirar partido do momento de transição seguinte. Por aqui se percebe a diferença do Atlético a este respeito, já que sendo uma equipa reconhecidamente muito forte nos momentos de transição, não deixa de envolver normalmente muita gente nos dois momentos de organização, o que ajuda a explicar o porquê do seu sucesso transversal, tanto perante equipas mais fortes como na generalidade dos jogos da liga interna. A resposta está, evidentemente, na intensidade, que é também a chave de quase todas as jogadas que estão neste vídeo. Já agora, fica a minha questão sobre este tema: será que é mesmo possível defender/atacar bem e sustentadamente com menos unidades? Ou será que o melhor que se pode conseguir é defender/atacar menos mal? Se olharmos apenas para os casos de Real e Atlético, claramente é esta segunda tese que sai reforçada...

Jogada 2 - Mais uma vez Tiago, figura principal deste jogo. Aqui, fica realçada a sua intensidade defensiva, na reacção a uma situação de jogo onde o Real Madrid consegue o raro feito de abordar a zona de finalização em muito boas condições para se conseguir aproximar seriamente do golo. Este movimento do médio português pode parecer relativamente trivial, mas a verdade é que é muito comum vermos equipas de topo a não revelar grande relação intersectorial, nomeadamente com os médios a negligenciar os desequilíbrios que são criados pontualmente na linha defensiva. Aliás, já várias vezes trouxe aqui exemplos desse tipo, sendo este mais um ponto por onde se pode perceber o sucesso colectivo do Atlético.

Jogada 3 - De novo, a intensidade dos jogadores do Atlético - com Tiago também novamente em destaque - no ataque às zonas de finalização. Aqui, e já com uma vantagem de 2 golos no marcador, o Atlético não deixa de colocar unidades no processo ofensivo e na zona de finalização, acabando por criar uma vantagem gritante na resposta ao cruzamento. É claro que a expressividade da vitória colchonera não se pode explicar apenas por aqui, sendo nomeadamente de sublinhar a notável e muito rara capacidade para neutralizar o ataque tão poderoso como é o do Real, mas a verdade é que são inúmeros os lances neste jogo a revelar o enorme desnível de intensidade na reacção dos jogadores às mudanças circunstanciais que o jogo ofereceu. Aliás, se da parte do Atlético já não há muito para dizer em relação à capacidade que a equipa tem tido em superar aquelas que seriam as suas expectativas normais (volto a sublinhar aqui o tempo e regularidade com que o vem conseguindo), também devo dizer que não consigo compreender alguns elogios feitos ao trabalho de Ancelotti no Real (sobretudo depois de ter vencido a Champions 2014), que me parece pouco mais do que banal, tendo em conta os recursos ao seu dispor.

Jogada 4 - Sobre o derbi de Lisboa, um primeiro comentário ao facto do Sporting ter conseguido muito poucas ocasiões claras de golo, tendo em conta o ascendente que conseguiu e as jogadas que construiu até à zona de finalização. Aqui, parece-me haver algum demérito da equipa de Marco Silva, sendo no entanto primeiro importante fazer uma contextualização relativamente às dificuldades que o processo defensivo do Benfica criou. Boa parte da qualidade da organização defensiva do Benfica resulta do bom trabalho que a sua linha defensiva realiza na dicotomia entre encurtar o espaço interior e controlar o risco de exposição na profundidade. Neste sentido, é normal e expectável que o Sporting tenha tido dificuldades em fazer uso do seu jogo interior, precisamente porque é isso que a boa organização defensiva consegue condicionar. Face a este cenário, e a lógica continua a ser relativamente trivial, seria importante que o Sporting conseguisse ter boa capacidade de explorar a profundidade, porque esse é precisamente o risco que Benfica assume ao defender desta forma. Fosse de uma forma mais directa, através de lançamentos para as costas da linha defensiva, o que raramente resultou, quer por mérito do Benfica como por algum demérito do Sporting (nomeadamente, parece-me, por algum desajuste das características de alguns dos seus jogadores a esse tipo de movimento), fosse de uma forma mais indirecta, nomeadamente aproveitando o espaço nos corredores laterais para obrigar a linha defensiva a baixar e defender dentro da sua área. E foi precisamente por esta segunda via que o Sporting conseguiu várias vezes causar problemas ao Benfica, encontrando boas condições para colocar a bola na zona de finalização, muitas vezes com a defesa do Benfica ainda a recompor-se posicionalmente. O problema do Sporting, porém, foi que repetidamente - e o lance no vídeo é apenas um dos exemplos deste problema - os seus jogadores não conseguiam ter uma boa presença na área, sobretudo por algum défice de intensidade e agressividade neste tipo de movimentos. O lance incluído no vídeo é um bom exemplo deste problema, no caso com Montero a não conseguir acompanhar a velocidade do lance, apesar de ser à partida o jogador a dar mais profundidade no corredor central, (João Mário era quem estava mais atrasado, nesta ocasião). Não se trata de uma questão de velocidade, mas de concentração e percepção para este tipo de movimentos. Intensidade, portanto. Já agora, no lance do golo do Sporting é bem ilustrada a importância que a profundidade posicional (no caso, de João Mário) pode ter perante uma defesa como a do Benfica, precisamente pelo tipo de risco que esta assume para tentar encurtar o espaço interior do adversário.

Jogada 5 - O lance do dramático golo do Benfica é essencialmente determinado pela aleatoriedade própria do jogo, mas há também alguns registos a ter relativamente à reacção de alguns dos protagonistas. E, de novo, a intensidade com que estes abordam o lance e a sua mudança de circunstâncias, é decisiva. Primeiro, Jonas, que como lhe é característico antecipa a oportunidade do lance, sendo o mais lesto a reagir, e a ganhar vantagem por isso. Depois, a diferença entre William e Jardel, que partem sensivelmente da mesma zona. Enquanto que Jardel parte de imediato para a zona de finalização, William permanece pouco reactivo, acabando por não proteger a zona onde precisamente Jardel acaba por finalizar com sucesso. Mais uma vez, não é uma questão de velocidade, mas de concentração e percepção da importância que a sua reacção pode vir a ter, mesmo não sendo certa a sua utilidade. Há uma semana trouxe o exemplo positivo de Cedric, numa jogada em Arouca, e desta vez foi essa mesma intensidade que faltou a William para que a sua boa exibição nos 90 minutos não tivesse terminado com um amargo empate em cima do apito final.

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9.2.15

Notas do Sporting - Benfica

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- Quanto ao jogo creio, julgo que tal como a maioria, que foi uma partida onde foi o Sporting quem mais fez por merecer a vitória, pelo ascendente que conseguiu impor, mas onde o Benfica fez valer também a sua boa organização defensiva, o que culminou numa partida praticamente sem ocasiões à excepção dos próprios golos. 0-0 ou 1-0 talvez fossem os resultados mais certos, mas esse é um conceito que o futebol por natureza tende a desrespeitar.

- Sobre o Sporting, e se tinha dúvidas em relação à capacidade de resposta em alguns aspectos de pormenor mas que poderiam ser decisivos, não me parece de todo surpreendente que a equipa se tenha conseguido superiorizar ao Benfica em termos de ascendente ofensivo. De elogiar, neste sentido, o pouco risco assumido pelos jogadores mais defensivos, o que pode não ter contribuído para uma maior expressividade do jogo ofensivo - nomeadamente, em termos de construção - mas terá certamente sido importante para a seca de acções ofensivas por parte do Benfica, nomeadamente em transição. A este respeito, de resto, dizer que o golo mais não é do que um acidente, de probabilidade muito reduzida nas condições em que ocorreu (na verdade, há que dar também algum mérito a Jonas pela qualidade técnica com que baixou a bola dentro da grande área), e que não vejo qualquer motivo para que se perca muito tempo a discutir o tema. Ainda a propósito da tão abordada questão dos centrais, e mesmo se não concordo com algumas contratações como as de Naby Sarr ou Ewerton (por diferentes motivos, note-se), creio que o Sporting tem abordado correctamente a questão ao não entrar no equívoco de investir muito dinheiro em jogadores com mais currículo e experiência. Já escrevi que pode ser cedo de mais para lançar Tobias, mas é bem mais compreensível esse risco do que canalizar verbas orçamentais importantes para contratar jogadores supostamente experientes para a posição, mas que na verdade pouca diferença fazem em relação à estabilidade defensiva da equipa, que é sobretudo definida pela qualidade do processo defensivo como um todo, e não tanto pela experiência individual dos defensores. Aliás, o próprio passado recente do Sporting é um excelente exemplo disto. Nota menos positiva, claro, para o mau aproveitamento do domínio ofensivo que a equipa conseguiu exercer. A este respeito, duas notas específicas, e ambas que têm a ver com algum défice de agressividade nos movimentos sem bola. A primeira, para a incapacidade dos médios protagonizarem movimentos de rotura que pudessem tirar partido da profundidade que a linha do Benfica oferecia perante a construção do Sporting. A equipa tentou-o várias vezes, e havia de facto essa oportunidade, mas raramente o conseguiu fazer com a eficácia desejada. Ainda assim, e apesar deste primeiro problema, o Sporting conseguiu um número substancial de abordagens em boas condições à zona de finalização, nomeadamente através dos corredores laterais. O que se observou recorrentemente, porém, é que às acções de aceleração que criavam desequilíbrios nas alas, não correspondia depois a mesma velocidade nos movimentos sem bola para garantir presença na zona de finalização. E aqui é incontornável falar-se da ausência de Slimani, nomeadamente por ser este o aspecto na minha opinião mais fraco em Fredy Montero, que com demasiada frequência não se oferece como solução de finalização em acções de ataque mais rápido.

- Sobre o Benfica, a grande nota na minha opinião tem a ver com a qualidade do onze apresentado, que me parece bastante aquém do que a equipa apresentou nos últimos anos. Aliás, fala-se recorrentemente da menor capacidade dos recursos individuais do Sporting, mas francamente parece-me que o Benfica se apresentou com uma equipa em nada superior ao seu rival, antes pelo contrário creio que era o Sporting quem tinha melhores condições individuais para se impor no derbi, e foi isso que acabou por acontecer. E desta constatação não resulta apenas uma ameaça para o presente ou futuro imediato. Se o Benfica conseguiu encurtar a diferença para o Porto nos últimos anos, foi essencialmente (e que não haja equívocos sobre isto!) porque se foi conseguindo reforçar com qualidade no mercado. O que tem acontecido recentemente é que essa capacidade não se tem mantido nos últimos anos, e aos jogadores que têm saído não têm correspondido entradas com a mesma qualidade. E aqui não colhe a justificação das saídas milionárias, primeiro porque não tem sido por falta de investimento que o Benfica não se tem reforçado melhor, e depois porque a natureza do modelo de gestão do Benfica passa precisamente por ser capaz de vender mais caro e comprar mais barato, sem perder qualidade ao longo do tempo. Sem qualidade nas escolhas que são feitas, o modelo estará essencialmente condenado à ruína. Resta, no fim disto tudo, elogiar a qualidade da organização defensiva da equipa - e aqui sim, o Benfica ganha uma vantagem importante sobre o Sporting na corrrida ao título - que tem sobretudo a ver com o cunho pessoal do seu treinador. Veremos, a este respeito também, se essa será uma mais valia com que o Benfica continuará a contar nos próximos anos...

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6.2.15

5 jogadas (Porto, Sporting, Bayern, Chelsea, Barça)

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Jogada 1 - Já tenho escrito aqui várias vezes sobre o enorme desequilíbrio existente na liga portuguesa, e nesse sentido não posso sobrevalorizar demasiado a oposição que representava o Paços. Mesmo, se como também já escrevi, a equipa de Paulo Fonseca é das que mais atenção e mais elogios me parecem merecer no actual contexto do futebol nacional. Ainda assim, parece-me incontornável a qualidade da exibição portista, uma semana depois de ter perdido pontos importantes na Madeira. Em particular, de sublinhar a grande intensidade revelada na primeira parte, também na circulação de bola, mas sobretudo nos momentos defensivos, o que explica o facto do Paços ter sido praticamente confinado ao seu meio reduto, apesar dos seus esforços para valorizar a posse de bola. Mesmo considerando o desnível de valores entre as equipas, não me parece nada fácil realizar a exibição que o Porto conseguiu. Isto, na primeira parte, porque a segunda foi bastante diferente.

Quanto à jogada, que paradoxalmente acontece já após o intervalo, revela tanto o bom efeito do pressing portista, como o risco assumido pelo Paços, mesmo perante o contexto que tinha pela frente. E, aqui sim, pode levantar-se a questão sobre a abordagem estratégica do Paços. Costuma dizer-se, até porque é bonito e fica bem, que as equipas devem sempre manter a sua identidade, independentemente do contexto. Eu tendo a pensar que, mesmo podendo ser muito nobre (se é que isso existe, tacticamente falando), uma abordagem que ignora o contexto em que se insere não tem nada de inteligente, e sendo assim corre o risco de não ser também a mais eficaz. O objectivo que me parece mais lógico, e como sempre, é o da maximização da eficácia dos processos, e a dúvida neste caso é se a abordagem escolhida foi a que mais potenciou esse objectivo, isto claro sem querer passar a ideia de que o resultado e as dificuldades pudessem ter sido muito diferentes com qualquer outra abordagem.

Jogada 2 - Em Arouca, o Sporting realizou uma exibição que na minha opinião pecou pela intermitência. Isto é, a equipa impôs um ascendente claro, tanto antes do 1-1 como depois do 1-3, mas não o fez no largo período que intervalou essas duas fases, o que poderia ter colocado em risco a conquista de 3 pontos. Em vésperas do derbi, tenho alguma dificuldade em projectar o que esse duelo poderá dar. Tanto Sporting como Benfica são boas equipas e com recursos individuais de potencial não muito distante (ao contrário do que se diz), mas ambas me suscitam dúvidas relativamente a alguns pontos do seu jogo, sendo que o habitual grau de dificuldade existente na liga portuguesa não permite que se perceba bem o verdadeiro alcance dessas limitações. Um ponto provavelmente essencial relativamente a esse jogo passará pela estratégia de ambas as equipas, relativamente à construção, sendo que é de prever que qualquer das equipas tente pressionar o seu adversário em praticamente toda a extensão do terreno. No caso do Sporting, há algumas questões relativamente à segurança em posse, que não tem sido propriamente a ideal. No caso do Benfica, a minha previsão é que o risco assumido seja baixo, assim como aconteceu no Dragão, sendo que a equipa também ainda não se revelou muito eficaz com uma estratégia de saída de bola mais longa, nomeadamente pelas dificuldades de Talisca para actuar naquela zona do terreno.

O lance que trago tem como destaque essencial a reacção de Cedric, que faz aquilo que provavelmente é mais difícil - em termos de atitude, bem entendido - no futebol. Ou seja, reagir de forma agressiva, independentemente da incerteza da utilidade dessa reacção para o lance. Porque quando o lance se inicia não é de todo adquirido que Cedric vá ser chamado a intervir no lance, sendo que isso não o impede de recuperar com a celeridade que o lance revela. A meu ver, há poucas coisas mais valiosas para a solidez táctica de uma equipa do que esta intensidade na reacção à mudança de contexto do jogo, e talvez seja também por isso que o Sporting sentiu quase sempre as ausências de Cedric. Uma nota também para Tobias Figueiredo, protagonista pela negativa no inicio deste lance e que terá um teste importante frente ao Benfica, correndo-se na minha perspectiva o risco de se estar a lançar o jogador cedo de mais na equipa principal do Sporting. Isto é, dada a sua posição, parece-me que talvez fosse mais aconselhável que tivesse mais tempo de utilização em equipas de menor pressão mediática, havendo a possibilidade de ser exageradamente penalizado por alguns erros que possa vir a cometer por uma eventual falta de maturidade.

Jogada 3 - Perder, mesmo que por números avultados, em futebol pode sempre acontecer. O que mais surpreende na derrota do Bayern é mesmo o que o jogo mostrou. Talvez 4-1 seja exagerado, mas mesmo considerando outros indicadores relevantes do jogo, como ocasiões claras de golo, foi o Wolfsburgo quem se superiorizou e isso foi o que realmente me surpreendeu. Recentemente, e a propósito de Guardiola, escrevi aqui recentemente que me parecia que a Bundesliga lhe era tão acessível que poderia não servir para testar realmente o risco que o seu modelo de jogo pretende assumir, chegando e sobrando para a generalidade dos jogos, mas que pode depois ser seriamente exposto perante equipas com mais capacidade no aproveitamento do espaço concedido, como sucedeu na última meia final da Champions. Neste sentido, o Wolfsburgo acabou por me contradizer, sendo capaz de expor de forma flagrante os riscos que o modelo do Bayern assume. Ou então, a percepção do risco é que se perdeu completamente, por parte dos bávaros, porque é essa a ideia que fica em vários dos lances do jogo. Talvez o mais claro - chegando até a ser caricato - seja mesmo aquele que está no vídeo, e que culmina no 3º golo sofrido pelo Bayern, onde os elementos da última linha defensiva estão de tal forma empenhados em apertar o espaço interior que se parecem esquecer de que a regra do fora de jogo só tem efeito a partir da linha do meio campo, e negligenciam por completo o risco que o seu posicionamento representa, em termos de exposição espacial. É claro que a exibição e as dificuldades sentidas não se explicam apenas pelo comportamento nos momentos tácticos defensivos, mas torna-se difícil não realçar especialmente a exposição da equipa, que ainda a meio da semana voltou a complicar as suas aspirações ao ser estranhamente surpreendida por estar demasiado adiantada numa jogada tão básica quanto um pontapé longo do guarda redes do Schalke.

Jogada 4 - Na Premier League, um jogo muito importante na corrida para o título, com um desfecho aparentemente mais favorável para Mourinho, mas sem que nada esteja verdadeiramente decidido. Sobre o jogo, referir a justiça do empate, sendo que provavelmente o nulo se ajustaria melhor a uma partida onde o Chelsea nunca fez valer o favoritismo de jogar em casa, e onde o City também nunca conseguiu ser consequente relativamente ao domínio territorial que exerceu. A Premier League, e como escrevi há algumas semanas, parece aberta porque não vejo nenhuma equipa verdadeiramente consistente para que se possa pensar que não venha a perder pontos. Relativamente ao lance do primeiro golo do Chelsea, a nota vai, de novo, para a forma como uma linha defensiva que tenta tirar partido da lei do fora de jogo para cortar o espaço de ataque do adversário, acaba por ser exposta por trajectórias que tiram partido da largura do terreno.

Jogada 5 - Nota para o Barcelona, e para mais uma exibição que me pareceu bastante conseguida, apesar das dificuldades sugeridas pelo curso do marcador, e frente a uma das melhores equipas do futebol espanhol actual, o Villarreal. Aliás, o Barça é a equipa que mais me agrada nesta altura no futebol europeu, restando saber que capacidade de reacção terá perante adversários com um potencial técnico mais equivalente ao seu. Desta referência positiva que faço ao Barça não está, naturalmente, dissociado o contributo de Messi. Confesso que nunca consegui ver em Messi um sub-rendimento e que as oscilações das suas prestações individuais sempre me pareceram ter mais a ver com problemas colectivos do que o contrário, mas ainda assim não posso deixar de sublinhar o seu momento e aquilo que na minha opinião é um super-rendimento, provavelmente sem paralelo no futebol mundial.

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