6.1.15

Notas da jornada 15

ver comentários...
Sporting - Estoril
Um jogo muito confortável para o Sporting, ao contrário do que vinha sendo regra nos jogos para o campeonato em Alvalade. E este é o primeiro ponto que gostaria de abordar, porque, e muito embora o resultado o possa sugerir, eu não creio que o Sporting tenha tido uma exibição especialmente mais bem conseguida, relativamente a outras que, nesta época e no mesmo estádio, terminaram em perdas pontuais ou vitórias sofridas. A diferença fundamental está na eficiência, e no aproveitamento ofensivo das ocasiões criadas, que desta vez permitiu ao Sporting ganhar uma vantagem desde cedo, ao contrário de outras ocasiões. Aliás, sobre isto é interessante notar que a eficiência é precisamente a explicação para o facto do Sporting ter menos golos marcados em casa do que fora, já que ao nível de ocasiões claras de golo (e à luz da análise que venho mantendo e partilhando) a equipa tem sido bastante mais produtiva nos jogos domésticos. Ou seja, o problema da falta de golos será apenas circunstancial e a probabilidade é que o tempo o acabe por mostrar.
O segundo ponto tem a ver com o desempenho defensivo, que na minha análise é, claramente e a par de alguma má fortuna em alguns jogos, a grande explicação para o facto do Sporting estar nesta altura praticamente arredado da discussão do título. É incontornável que o Estoril não criou grandes ocasiões para marcar, mas sobretudo na primeira parte teve situações para se aproximar desse objectivo. Ou seja, é inegável que a equipa tem estado mais estável nos últimos jogos (parece-me importante que tenha afastado o enorme equívoco que foram algumas apostas, nomeadamente em Sarr e Esgaio), mas é cedo ainda para retirar conclusões relativamente à solidez do processo defensivo, e nesse sentido os próximos jogos poderão oferecer pistas mais concretas.
Finalmente, nota para o facto de o Sporting ter dado continuidade a uma série de vitórias no meio de tanta agitação nos bastidores. Se a equipa não tivesse sido bem sucedida neste ciclo, certamente não faltariam teorias a estabelecer um nexo de causalidade, muito estreito, entre o que se passou no plano mediático e no terreno de jogo. É um caso que, mesmo não podendo servir de prova, não deixa de ser um exemplo de como o impacto das variáveis externas na performance desportiva está longe de ter o efeito que geralmente se pensa poder ter. O futebol tem uma característica que o distingue de outras áreas igualmente mediáticas (nomeadamente a política), e que confesso me agrada muito. É que o futebol é essencialmente um jogo, onde a competência dos intervenientes e a sorte são os factores que, de forma avassaladora, mais definem o sucesso e insucesso dos diversos protagonistas. Para se chegar à presidência de um clube - nomeadamente de um clube grande - podem ser indispensáveis as capas de jornais, as entrevistas e, agora também, as redes sociais. Mas, uma vez atingida essa função, tudo isso passa a ser perfeitamente acessório, por muito que haja muita gente que goste de acreditar no contrário. No futebol nada interessa mais do que o jogo, e essa parece-me ser uma boa lição a retirar de todo este frenesim.

Gil Vicente - Porto
A forma como o jogo começou, nomeadamente com um número surpreendente de ocasiões para o Gil Vicente poderá ter atenuado a percepção positiva que a exibição portista me parece justificar. É claro que o grau de dificuldade, já de si muito baixo e ainda mais acentuado pela expulsão, não permitem que se possa valorizar muito os índicios positivos deixados, mas não se pode também deixar de assinalar o impressionante volume ofensivo que o Porto conseguiu, nomeadamente acumulando um registo avassalador de ocasiões claras de golo, o mais elevado na prova até agora (repito, segundo os meus critérios de análise), e certamente muito difícil de igualar no que ainda falta jogar. Individualmente, haverá vários nomes a destacar, mas creio que nenhum o justificará tanto como Oliver.
Há duas ideias que gostaria de partilhar, relativamente ao futebol do Porto, e que de resto não são novas. A primeira, relativamente ao papel do pivot na construção, que me continua a parecer demasiado inconsistente e que não só afecta o desenvolvimento ofensivo da equipa como também a própria segurança defensiva, uma vez que as perdas de bola continuam a ser uma das principais causas para os desequilíbrios defensivos consentidos. A segunda, tem a ver com o controlo defensivo, sendo verdade que neste jogo o Gil conseguiu um número relevante de ocasiões claras para marcar, mas sem que isso tivesse correspondido no entanto a uma grande capacidade de estender o jogo até ao último terço portista. Aliás, a equipa continua a parecer-me bastante sólida em organização defensiva, e tenho inclusivamente curiosidade para ver o seu desempenho frente a adversários mais fortes, uma oportunidade que se poderá abrir caso o Porto confirme o seu favoritismo frente ao Basileia e marque presença nos quartos de final da Champions. Teremos, por isso, de esperar até lá, mas na minha leitura as perspectivas são bastante boas.

Penafiel - Benfica
Jesus falou numa nova equipa a ser criada, e de facto o Benfica actual mais se parece com aquele que vemos no inicio das pré temporadas. Pelos jogadores que faltam, pelas dificuldades de rendimento das novas soluções e, já agora, pela forma como as aspirações da equipa permanecem intactas apesar de todos estes problemas. Aqui, parece-me importante contextualizar a análise, nomeadamente no que diz respeito ao grau de dificuldade do adversário. É que poucas ligas têm nesta altura uma discrepância tão grande entre as equipas de topo e fundo da tabela, como acontece em Portugal, e em face disso espera-se que, para se manter na frente até ao fim, seja preciso que o Benfica consiga manter um aproveitamento pontual muito elevado até ao fim. Ora, não é a justiça do triunfo em Penafiel que está em causa, antes sim as dificuldades que o Benfica sentiu para se impor de forma mais clara, e enquanto esteve em igualdade numérica, perante um dos adversários mais débeis da competição. Um registo que, de resto, repete depois do jogo com o Gil Vicente. Se é preciso perder poucos pontos até ao fim, a jogar como vem fazendo, o Benfica pode perdê-los a qualquer momento, e se o cenário actual se parece muito com o de uma pré época, então é bom que rapidamente deixe de parecer, porque o grau de dificuldade irá aumentar já no ciclo de jogos seguinte.
É claro que o Benfica guarda para si ainda alguns trunfos, para além da importante vantagem pontual de 6 pontos. Nomeadamente, a organização defensiva, muito por mérito do seu treinador, e o potencial ofensivo de quem pode ter ao mesmo tempo 4 unidades como Gaitan, Salvio, Lima e Jonas. Mas, para ter uma equipa capaz de lhe oferecer as garantias que precisa, Jesus continua a ter de resolver o problema da sua fase de construção, que não lhe consegue oferecer a fluidez de outros tempos, sendo que hoje o Benfica não consegue sair com a mesma qualidade pelo corredor central (nomeadamente através dos centrais) e não tem por outro lado a dinâmica exterior de outros tempos. Sobre isto, de resto, creio que não ajuda colocar André Almeida como lateral esquerdo quando o corredor central oferece tantas dúvidas, sendo hoje mais necessário recorrer ao papel dos laterais para fazer a equipa chegar até fases mais ofensivas do terreno. É evidente que as recuperações de Fejsa, Amorim e Eliseu poderão ajudar muito a equipa a evoluir neste particular, mas reforço que o Benfica me parece correr muitos riscos caso não melhore, rápida e consideravelmente, o seu rendimento actual.

AddThis