11.11.14

Notas do fim de semana

ver comentários...
Nacional - Benfica
Se o triunfo, pela sua importância, arrancará certamente sorrisos entre a generalidade dos adeptos encarnados, já a exibição não parece agregar o mesmo entusiasmo, a começar pelo próprio treinador. A minha opinião, relativamente à performance da equipa, é de que a recta final do jogo foi de facto pouco conseguida, havendo alguns aspectos a rever, mas de todo não concordo com a ideia de que os 3 pontos tenham sido a única coisa boa que o Benfica tem para extrair desta visita à Choupana.
Começando pelos aspectos positivos, destacaria essencialmente a primeira parte. Aí, o Benfica conseguiu sempre um bom controlo do jogo e do adversário e teve, junto da baliza contrária, uma proximidade significativa com o golo. É verdade que nunca conseguiu impor uma grande fluidez na sua posse, mas num jogo de bastantes bolas divididas, o Benfica conseguiu sempre desdobrar-se bem em ataques rápidos a partir desse tipo de situações, não concedendo por outro lado que o Nacional fizesse o mesmo. A outra nota positiva do jogo vai para Jonas, que definitivamente se parece confirmar como uma grande mais valia para o Benfica 14/15: baixa para oferecer linhas de passe no corredor central, entra nas costas dos extremos aproveitando o arrastamento do lateral (neste particular, combinou especialmente bem com Salvio), e aparece depois com propósito na zona de finalização. Muito bom!
Do outro lado da moeda, está a segunda parte, em especial os últimos 15-20 minutos do jogo. Primeiro, o Benfica perdeu profundidade ofensiva mas foi mantendo o controlo do adversário. Depois, na tal fase final de maior risco por parte do Nacional, perdeu também boa parte do controlo defensivo que até aí havia tido, não recuperando quer a capacidade para controlar o jogo com bola (que nunca teve), nem tão pouco a profundidade ofensiva (mesmo numa fase de maior risco e exposição por parte do Nacional, o que se estranha). Haverá várias explicações e motivos que contribuirão para este mau bocado que o Benfica passou, mas não posso deixar de destacar o pouco impacto que teve a introdução de Samaris, cuja entrada em campo tinha como objectivo acrescentar precisamente segurança numa fase que se previa de maior risco por parte do adversário. Acontece que Samaris, de facto, não parece muito vocacionado para a posição 6. Com bola, tem qualidade técnica, mas não tem o critério adequado para a posição que ocupa, como se viu na forma como geriu algumas intervenções no jogo, e que serviram de mote para a reacção final do Nacional. Sem bola, não parece ter agressividade nem capacidade de intervenção para que possa dominar uma zona tão fulcral como a que lhe é confiada. Confesso que estranho a aposta num jogador com estas características, tendo em conta o acerto que Jesus havia revelado nas suas escolhas anteriores para esta posição, mas o que é certo é que o Benfica se encontra realmente com um problema por resolver e que provavelmente assim continuará até à recuperação de Fejsa.

Sporting - Paços
A análise ao jogo foi dividida, por quase todos, em duas partes. Os primeiros e os segundos 45 minutos (na verdade, a partição de Marco Silva apontou para 30-60). Eu talvez preferisse 3 divisões, para melhor explicar o jogo...
1- Os primeiros 30 minutos - Notável entrada no jogo do Paços, contando com o contributo do Sporting que foi, na melhor das hipóteses, negligente. Paulo Fonseca voltou a definir uma equipa com as mesmas características, ou seja oferecendo grande incidência ao jogo interior e ao corredor central. A equipa tenta sair a jogar a partir de trás, e fê-lo mesmo perante o pressing do Sporting, sendo que para isso envolve os dois médios na primeira fase de construção, criando mais apoios nessa zona e atraindo o pressing contrário. O papel do duplo pivot é depois também muito importante para a reacção à perda, que me pareceu bastante boa por parte do Paços. Mais à frente, os alas têm uma grande vocação interior, sendo a largura normalmente garantida pelos laterais. Perante isto, o Sporting subiu as suas linhas para pressionar, como quase sempre faz, mas acabou sistematicamente exposto nas costas da sua linha média, numa sucessão de jogadas que expuseram a linha defensiva e que só por alguma falta de inspiração dos jogadores do Paços não terminaram num número significativo de ocasiões de golo. Aqui, e do ponto de vista do Sporting, destacaria a baixa intensidade revelada por alguns jogadores, pouco concentrados com bola, e pouco reactivos defensivamente. Em particular, na minha opinião, Carrillo e William, de resto os dois que Marco Silva deixou nos balneários. O caso de William, de resto, começa a ser flagrante, dada a pouca vocação que o jogador tem para defender numa área tão extensa do terreno. Com os dois médios a subir em simultâneo para pressionar, é importante que exista uma boa capacidade de recuperação destes jogadores, assim que a bola entre nas suas costas, como tantas vezes aconteceu neste jogo. Só que William não tem essa capacidade, e neste como noutros jogos, sempre que a bola entrou nas suas costas, só muito dificilmente o médio do Sporting voltou a intervir defensivamente na jogada. Tendo a ver o caso de William da mesma forma que vejo o dos defensores (à excepção de Sarr, como já escrevi). Ou seja, o problema das suas dificuldades relativamente ao ano anterior não me parecem tanto resultar de uma alteração súbita do rendimento individual, mas antes de uma alteração do contexto colectivo, que hoje é muito menos ajustado às suas características individuais. Uma nota final, relativamente a este período, para Paulo Fonseca. O ex-treinador do Porto foi mediaticamente devastado na época passada, mas a verdade é que esta segunda vida em Paços está a evidenciar que a sua rápida ascensão até ao topo do futebol português não terá sido um acidente. Equipas da dimensão do Paços, a jogar como o Paços? Não haverá muitas...
2- do golo do Paços, até à expulsão - Não é uma ideia que pareça muito racional, mas é um facto que o jogo é dominado por reacções emocionais dos jogadores às circunstâncias do jogo. Por isso, por exemplo, temos significativamente mais golos nos minutos finais das partidas. No caso deste jogo, o Sporting - e tal como referiu Marco Silva - reagiu de facto ao golo sofrido, e não o fez apenas na segunda parte. A equipa tornou-se essencialmente mais agressiva e intensa, e isso fez com que tivesse assumido definitivamente as rédeas de um jogo que até aí havia sido claramente dominado pelo seu adversário. Mas há duas coisas a dizer sobre este período, e que o distanciam dos minutos finais. Primeiro, que apesar da maior iniciativa e de algumas boas chegadas ao último terço, o Sporting criou muito poucos lances de perigo efectivo até à expulsão, sendo de alguma forma feliz pela improvável eficácia do remate exterior de Montero. Segundo, que neste período o Paços foi obrigado a uma maior presença defensiva, mas não deixou de expor defensivamente o Sporting, em especial o seu espaço entrelinhas, continuando por isso ameaçador.
3- depois da expulsão - Se até aqui o Sporting havia tido, no máximo, um ascendente sem grandes consequências objectivas ao nível da proximidade real com o golo, após a expulsão a equipa aproximou-se finalmente daquele que era o seu objectivo inicial, a vitória. E é este período, que, afinal, permite alguma divisão de perspectivas. Por um lado, poder-se-á dizer que, pelas ocasiões que perdeu neste período, o Sporting foi infeliz em não ter ficado com os 3 pontos. Por outro, argumentar-se-á que ao demorar tanto tempo para impor a superioridade o Sporting potenciou o seu próprio risco de insucesso no jogo. As duas ideias parecem-me válidas, assim como me continua a parecer evidente que para ter a consistência de resultados que pretende, o Sporting precisará também de ter uma consistência organizacional que no campo continua a não ter.

Estoril - Porto
O Porto regressou ao campeonato, e regressou também ao padrão que havia marcado o seu arranque de temporada. Ou seja, muito domínio territorial, tanto por vontade própria como por cedência estratégica do seu adversário, mas paradoxalmente e apesar de todo o talento que a equipa tinha em campo, também sem um número correspondente de ocasiões claras de golo. Aliás, é surpreendente como no final de uma partida como esta, o Estoril acaba por ter um número equivalente de jogadas de grande potencial ofensivo, mesmo com tanta submissão territorial. Mas, como referi, este não é um cenário novo na época portista, assim como não são as dificuldades de utilização do corredor central ou a dependência da circulação lateral e das iniciativas individuais dos extremos no último terço ofensivo do Porto.
A critica do pós-jogo vai para a inclusão de Adrian ao lado de Jackson, numa opção que já estava conotada com o insucesso, na sequência do jogo da Taça. Pessoalmente, não faço esse tipo de associações, que estou seguro tão apelativas como falaciosas, nem tão pouco compro a critica da "rotatividade" tal como a tenho visto apresentada, mas também penso que as coisas precisam de uma lógica, e neste caso confesso que não consigo desvendar nesta opção de Lopetegui. Ou seja, se a equipa havia denotado melhorias com opções que lhe trouxessem outra capacidade no jogo interior, particularmente perante equipas previsivelmente mais fechadas, então fazia sentido que Lopetegui voltasse a insistir nessa opção. E mesmo não podendo ter Quintero de inicio, o treinador tinha Oliver como solução para esta linha de raciocínio. Se a rotatividade de Lopetegui for uma gestão de recursos em função do desgaste e da estratégia competitiva, então há uma lógica que me parece fazer sentido e não vejo problema com ela, ou evidência concreta de que seja uma opção menos virtuosa do que a sistematização de um onze. Mas há também a hipótese de Lopetegui estar a utilizar a rotatividade fundamentalmente para distribuir minutos pelos diversos jogadores, e sem privilégio da componente estratégica. Se frente ao Sporting, e por muito que essa estratégia não tenha resultado, se percebeu a intensão de colocar Adrian ao lado de Jackson, desta vez ficou apenas a sensação de que se tratou de mera rotatividade, pela rotatividade...
Uma nota para o jogo do Estoril, que adoptou uma estratégia defensiva essencialmente assente na densidade numérica, com especial nota para a introdução de Esiti, como uma espécie de "joker" defensivo, entre as linhas defensiva e média, com o objectivo de garantir mais presença numérica na zona da bola, sempre e apenas quando esta entrava no último terço. Não foi uma opção brilhante, a de Couceiro, mas é indiscutível que produziu os resultados pretendidos, porque nem o Porto teve muitas ocasiões claras para marcar, nem o Estoril deixou de ter as suas. Mas há outro pormenor a focar aqui e que tem a ver com as exibições individuais dos defensores do Estoril. É que defendendo desta forma, muito baixo e com muita gente, cada jogador fica com uma área muito pouco extensa para controlar, o que facilita de sobremaneira a tarefa individual de cada jogador no seu espaço. Não estou com isto a querer menorizar as exibições individuais dos jogadores do Estoril, mas como tenho defendido parece-me fundamental considerar o contexto nas apreciações individuais...

AddThis