28.10.14

Benfica e a derrota em Braga

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Benfica, o significado da derrota - À margem dos pontos estratégicos que identifico acima, e que na minha leitura foram determinantes para a forma como o jogo decorreu, esta derrota parece-me ter duas implicações claras para o Benfica. A primeira é quase matemática e tem a ver com a perda de 3 pontos, comprometendo uma vantagem pontual na Liga que poderia ser importante, mas que está agora praticamente anulada. Neste sentido, a derrota representa objectivamente uma redução importante nas possibilidades do Benfica atingir o seu principal objectivo da temporada - o bicampeonato -, sendo que apesar de tudo essa meta continua obviamente em aberto. A segunda implicação tem a ver com a confirmação das dificuldades que a equipa vinha revelando em jogos de maior grau de dificuldade, particularmente denunciadas nas exibições para a Liga dos Campeões. Aqui, poder-se-á assumir duas perspectivas comparativas. A primeira, estabelecendo como ponto de referência a segunda metade da época anterior, onde a capacidade da equipa era francamente superior e mais consistente do que a actual. A segunda, apontará alternativamente para o período homólogo de 13/14, sendo este um paralelismo bem mais optimista, já que há um ano o Benfica estava também ainda a arrancar para a sua melhor fase. E é aqui que surge a maior dose de subjectividade nas projecções que cada um fará. A tendência é pensar que o Benfica evoluirá significativamente, tal como aconteceu quase sempre com Jesus, mas se em geral eu tenderei para concordar com essa previsão, ela não me parece de todo um dado adquirido. A questão mais interessante, a meu ver, passa por perceber se existe hoje o mesmo potencial de evolução de há 1 ano, sendo que não se deve desprezar também o risco de aparecerem novos problemas pelo caminho (sendo concreto, lesões em jogadores nucleares e muito complicados de substituir). Seja como for, aqui ficam algumas posições que, na minha análise carecem de revisão na equipa do Benfica:

Guarda-redes: No ano passado, todos observamos a correlação entre a entrada de Oblak e a melhoria da equipa. Eu serei a última pessoa a precipitar-me para concluir sobre o caracter causal dessa correlação, mas ainda assim parece-me clara a importância de ter uma solução de qualidade nesta posição específica, num problema que foi muito mediatizado no defeso, que no papel o Benfica terá resolvido com a entrada de Julio César, mas que na prática continua por não contar com uma alternativa continuada para a sua baliza. Resta saber se esta questão não terá, também ela, custos desportivos...

Segundo central: Já tivemos Jardel - muito criticado! - e agora Lisandro Lopez. A verdade é que nenhum deles esteve ao nível de Garay, e o problema para o Benfica talvez não passe tanto pela falta de competência dos substitutos mas mais pela mais valia que representava o substituído. De facto, e do meu ponto de vista, o argentino saiu da Luz como um dos melhores centrais do futebol mundial, e mesmo que Jesus faça evoluir as alternativas que tem ao seu dispor, vejo com pouca probabilidade que algum deles tenha o potencial para chegar ao patamar de Garay (que, diga-se saiu da Luz muito melhor central do que quando chegou). As consequências são várias, mas destacaria sobretudo o impacto na fase de construção, onde Garay era a principal referência de saída de bola da equipa, fazendo-o com qualidade e critério, o que é extremamente raro. Este será o ponto onde me parece menos provável que o Benfica se venha a aproximar do que foi na época anterior...

Posição 6: Não tenho ainda suporte factual (nomeadamente ao nível da análise estatística) que possa confirmar a minha percepção, mas para já fica-me a ideia de que Samaris apresenta pouca intensidade e capacidade de intervenção, o que pode estar a contribuir para as dificuldades que o Benfica tem sentido para dominar a sua zona, nomeadamente ao nível dos duelos directos. No passado, esta tem sido uma posição muito fácil de substituir por Jesus, que tem conseguido extrair bom rendimento de quase todas as alternativas que estiveram ao seu dispor. Neste sentido, poder-se-á esperar que o treinador possa também fazer evoluir o grego dentro desta posição, no entanto há um outro dado que pode indiciar que esse possa não ser um processo tão fácil como parecerá à primeira vista. É que praticamente todas as soluções introduzidas para a posição tiveram uma afirmação praticamente imediata (o caso mais recente, e talvez também o mais claro será o de Fejsa), o que faz de Samaris um caso algo singular desse ponto de vista. Se esta segunda perspectiva se confirmar, poderá não ser tão evidente para Jesus fazer evoluir Samaris até aos níveis dos seus antecessores, o que tornará o regresso de Fejsa e Amorim uma urgência para o treinador e para a equipa. Uma nota para a opção de utilizar Enzo e Talisca no meio campo, sendo essa uma solução que pessoalmente não me agrada. Porque ao baixar Enzo se está a retirar uma unidade chave da sua melhor posição, e porque o próprio Talisca não parece apresentar capacidade de envolvimento com bola e intensidade defensiva para poder dar o melhor rendimento à posição 8 (como, aliás, na minha análise ficou claro na recta final do jogo de Braga).

Segundo avançado: Talisca tem marcado muitos golos, apresentando um aproveitamento invulgar das ocasiões de que usufruiu, e isso tem retirado quase toda a margem para que Jesus o possa abdicar da sua presença entre primeiras opções. O treinador, de resto, parece acreditar bastante no jogador, mas pessoalmente creio ser prematuro que se lhe atribua um peso muito grande na equipa. Primeiro, porque a sua veia goleadora resulta, e como escrevi acima, essencialmente de um elevado aproveitamento das ocasiões de que desfrutou (e não de um elevado número de ocasiões), o que faz acreditar que dificilmente se possa perpetuar no tempo. Depois, porque apesar de ser um excelente executante e ter conseguido aparecer relativamente bem nos momentos de transição e transporte de bola, Talisca está ainda longe de ter a qualidade de movimentos que Rodrigo ou Saviola tiveram em anos recentes, e que tanto acrescentavam ao jogo interior do Benfica. Um bom exemplo disso será a dificuldade que o jovem brasileiro teve em aparecer nos momentos de organização do jogo de Braga. A meu ver, será muito provável que Jonas seja a mais forte das soluções para a frente de ataque, pela qualidade de envolvimento que revela, e pela capacidade de surgir depois a desequilibrar em zonas de finalização (a tal ambivalência que caracterizava quer Saviola, quer Rodrigo). E, se assim for, o melhor mesmo será não ter de esperar que as coisas corram mal para, então sim, lançar Jonas em definitivo no onze. Quanto a Talisca, o seu talento pode existir de facto, mas por muito que os golos que marcou o pareçam desmentir, sou da opinião de que lhe faltará ainda um patamar de evolução até que seja uma mais valia incontornável no modelo actual do Benfica.

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23.10.14

Notas da Champions #3

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Schalke - Sporting
Um jogo muito atípico, por vários factores. Desde logo, as muito polémicas decisões da arbitragem, que não só condicionaram o curso do jogo, como o próprio resultado. Depois, a eficácia absolutamente invulgar das duas equipas, o que sugere algumas conclusões equivocadas, se nos deixarmos levar apenas pelo resultado. Com o 4-3, e da perspectiva do Sporting, tender-se-á a enfatizar os problemas defensivos e os méritos ofensivos da equipa. Na verdade, porém, nem o Sporting concedeu ao Schalke grandes ocasiões, nem o seu ataque se revelou especialmente capaz, durante o jogo. O resultado é, também a este propósito, muito enganador, porque o Schalke fez 4 golos tendo criado muito pouco para tal, e o mesmo se poderá dizer da prestação ofensiva do Sporting, que em termos de proximidade real com o golo se resumiu ao que está espelhado no marcador final. Aqui, parece-me mais normal que o Sporting tenha tido dificuldades em criar ofensivamente, num jogo em que esteve tanto tempo em inferioridade numérica, mas esperavam-se mais dificuldades defensivas, o que manifestamente não aconteceu, por muito que o resultado sugira o oposto. Sobre este último ponto, duas notas: a primeira sobre o Schalke, que me parece muito diferente da mentalidade que tinha, com a chegada de Di Matteo, tendo feito um jogo muito fraco para as suas potencialidades. Depois, sobre o próprio Sporting, que teve muito menos problemas do que é hábito, muito devido ao facto da equipa, em inferioridade numérica, se ter aventurado muito menos em termos de presença pressionante, o que implicou uma maior compacidade do bloco e, consequentemente, uma melhor protecção da linha defensiva. Para o Sporting, e por muito injustiçada que a equipa se sinta, as aspirações de apuramento estão irremediavelmente complicadas, mas a equipa tem ainda hipóteses de o discutir na última jornada, caso vença os dois jogos caseiros que se seguem.

Porto - Bilbao
O Porto conseguiu uma vitória importante e que face aos outros resultados do grupo torna o apuramento praticamente certo. Essa é a melhor notícia que resulta deste jogo, porque há vários aspectos que revelam também um acréscimo de insegurança da equipa, o que se poderá vir a revelar um problema no curto prazo, caso não seja corrigido. Aqui, destacaria dois aspectos. O primeiro tem a ver com a circulação baixa, que aparenta ter ficado afectada pelos maus resultados recentes. Em particular, isto viu-se na segunda parte, quando o Bilbao se adiantou para pressionar em toda a extensão do terreno, e o Porto respondeu não só com pouca capacidade para contornar esse obstáculo, como ainda sem a tranquilidade suficiente para evitar um número preocupante de perdas de bola. O segundo aspecto tem a ver com o processo defensivo, onde o Porto parece-me hoje uma equipa menos compacta do que no inicio de época, nomeadamente com os seus alas a parecerem pouco preocupados com a questão posicional, o que fragiliza depois o conforto da linha defensiva em subir e encurtar o espaço entre sectores (que só pode ser eficazmente encurtado se o bloco estiver compacto, como um todo). À margem de tudo isto, a grande novidade parece ser a aposta em Quintero, que pelo segundo jogo consecutivo assumiu o estatuto de titular, continuando a oferecer uma grande capacidade de desequilíbrio e disfarçando individualmente a pouca vocação colectiva para explorar o jogo interior. Pelo que já escrevi sobre Quintero no passado, compreender-se-á a minha total concordância com esta aposta no jogador.

Mónaco - Benfica
Da visita ao principado não resultou o encurtamento de distâncias pretendido pelas aspirações encarnadas, mas isso não deve servir para que se confundam as coisas. O empate e a exibição não podem, a meu ver, ser consideradas como negativas tendo em conta a dificuldade do desafio. O problema deriva, isso sim, do que não fez nos primeiros dois jogos, onde foi batido de forma clara e sem grande capacidade de resposta. E a este propósito, a prestação europeia do Benfica tem servido para revelar boa parte dos problemas da equipa, e que internamente só mais dificilmente são denunciados pela modéstia da generalidade dos opositores, sendo a conclusão que, claramente, o Benfica está ainda longe do valor que a distinguiu na época passada. A equipa tem unidades ofensivas que lhe acrescentam um enorme potencial, com Gaitan e Salvio à cabeça, mas noutros aspectos do seu jogo revela ainda dificuldades que a impedem de ter aspirações para se superiorizar claramente num grupo tão competitivo como este. A esperança dos benfiquistas residirá na capacidade de Jesus voltar a fazer evoluir a sua equipa com o decurso da temporada, e mesmo sendo expectável que isso aconteça, também se pode dar o caso de ser tarde de mais para as aspirações europeias da equipa. É neste cenário que a vantagem pontual já conquistada no campeonato se afigura cada vez mais como uma preciosidade para as aspirações da temporada. No fim de semana, terá um sério teste à sua capacidade de a conservar, e veremos que resposta a equipa é capaz de dar em Braga...

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21.10.14

Porto - Sporting (II): análise individual

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Porto
Andrés Fernandez - Não teve capacidade para fazer a diferença, mas também não se lhe pode apontar o dedo por isso. Nota para o facto de ter sido muito menos solicitado para jogar com os pés, comparativamente com Fabiano no jogo de Alvalade, o que reflecte a diferença de orientação colectiva identificada.

Danilo - Uma exibição dentro do estilo que o caracteriza, embora com menos profundidade ofensiva, salvando-se a esse respeito o bom cruzamento que realizou para cabeceamento de Jackson. De resto, teve dificuldades em termos de intensidade defensiva e foi igualmente irregular na presença em posse. A este respeito, aliás, foi um bom espelho do estado anímico da equipa, começando com alguma confiança nas suas progressões com bola, mas a acabar o jogo a repetir erros e iniciativas de pouco critério, o que acrescentou risco à segurança da equipa.

José Angel -  Provavelmente das exibições mais regulares da equipa. Tinha uma missão previsivelmente complicada, com Nani pela frente, mas não se pode dizer que se tenha dado mal em termos do confronto individual propriamente dito. De resto, é verdade que não deu grande profundidade ofensiva ao seu corredor, mas também não se pode dizer que tenha comprometido na sua presença em posse. Nota para a abertura para Jackson, no lance que culminou no penálti.

 Marcano - Fica marcado pelo autogolo que marcou, e suspeito que o facto de ter actuado como pivot recentemente também não tenha contribuído muito para uma apreciação favorável a seu respeito. Bem pelo contrário, naturalmente. Pessoalmente, no entanto, continuo com uma impressão muito positiva das suas capacidades, depois de já ter gostado da sua prestação em Alvalade. Em particular, confirmou novamente a sua capacidade para dominar a sua área de intervenção, sendo o jogador com mais intervenções defensivas da equipa. O principal foco de critica tem a ver com alguma falta de critério na circulação baixa, não valorizando tanto a posse como podia e acabado por ceder algo rapidamente à pressão do Sporting, verticalizando o jogo. Isto, apesar de ter tido também ao nível do passe uma elevada percentagem de acerto - a mais elevada da sua equipa - e me parecer um jogador pouco propenso a perdas de risco, mas isso será um pormenor que carece de mais dados para confirmação.

Maicon - Foi um protagonista bem mais frequente do que o seu parceiro de sector na construção e, claro, também não cometeu um erro tão importante como o de Marcano. Apesar disso, não conseguiu o mesmo protagonismo em termos defensivos, e acabou também ele por acusar progressivamente a pressão do resultado, parecendo bastante mais intranquilo na recta final do jogo.

Casemiro - Em Alvalade, conseguiu escapar ao desnorte do meio campo na primeira parte, mas desta vez foi ele a estar no centro do furacão, ainda que num jogo de contornos bastante diferentes. Há, na minha análise, que separar a exibição entre duas vertentes. Sem bola, voltou a mostrar-se um jogador bastante útil naquela zona, com boa capacidade de trabalho, o que lhe valeu várias bolas ganhas num jogo muitas vezes com pouco espaço devido ao facto de ambas as equipas encurtarem intencionalmente o espaço interior. Com bola, por outro lado, a sua exibição foi tremendamente má e em certo sentido até difícil de explicar. Teve pouquíssima participação com bola, envolvendo-se pouco na circulação, o que pode ser explicado pela intenção colectiva de solicitar as costas da defesa do Sporting através dos defesas e não passar tanto o jogo pelo meio. Mesmo assim, a qualidade técnica do seu desempenho foi terrível e muito aquém do que se exige a este nível. Claro, com o lance do segundo golo em destaque, mas não apenas por esse lance. Não conheço bem o jogador, mas se se confirmar a sua dificuldade para ter bola dentro do bloco contrário, então duas coisas me parecem claras. A primeira, e mais óbvia, é que Casemiro terá de ser solicitado tendencialmente fora do bloco,. A segunda, é que o seu salto para o Real Madrid terá sido um equívoco e que rapidamente o tempo se encarregará de o mostrar.

Oliver Torres - É verdade que não teve um jogo fácil, mas talvez Lopetegui pudesse tê-lo incluído no seu plano b para a segunda parte, porque tem talento e qualidade suficientes para que pudesse ser util à equipa.

Herrera - Apareceu a jogar ao lado de Casemiro, mas numa missão com bastante mais liberdade ofensiva, nomeadamente sendo também ele uma solução para aproveitar as dificuldades da linha defensiva do Sporting, com movimentações de rotura. Acabou por não protagonizar um grande jogo, apesar da intensidade que sempre apresenta e que o leva a conseguir ser uma presença constante no jogo, ainda que quase sempre de uma forma mais impulsiva do que pensada. Esteve numa das principais jogadas da equipa na primeira parte, com um passe a isolar Adrian Lopez.

Quintero - Aparentemente, Lopetegui estará mais convencido do potencial que representa, e isso a meu ver é um bom sinal. Falta-lhe, porém, encontrar o enquadramento que tenha em conta as suas características, tanto no que respeita à sua necessidade de ter a bola no pé e não no espaço, como relativamente às suas limitações no processo defensivo. Ainda assim, e mesmo não tendo sido esse enquadramento devidamente definido, Quintero vai sendo um protagonista frequente nos desequilíbrios da equipa, estando neste jogo na origem de 3 ocasiões.

Adrian Lopez - Tem sido uma das principais desilusões da temporada, mas parece-me precipitado desvalorizar a sua utilidade. Neste jogo, pareceu-me melhor na primeira parte, quando actuou num papel central e numa missão que me pareceu estratégica, do que na segunda, quando ficou muito afastado do jogo, ao ser encostado a uma das faixas. Não que não pudesse jogar nessa posição, mas num modelo em que os extremos estão tendencialmente tão abertos e com tanta propensão para procurar situações de 1x1 nos corredores laterais, as características de Adrian simplesmente não parecem encaixar.

Jackson - Foi, sem surpresa, um protagonista. Partiu mais com a missão de procurar o jogo entrelinhas, eventualmente atraindo os defesas do Sporting para libertar Adrian nas suas costas, mas acabou por ser também um protagonista nos movimentos de procura da profundidade, onde conseguiu as suas principais jogadas. Para além do golo e do penálti, que desperdiçou depois de o ter criado ele próprio, ainda foi protagonista de um cabeceamento muito perigoso na segunda parte.

Tello - Em Alvalade foi, à velha maneira, a arma secreta de Lopetegui, conseguindo agitar o jogo na segunda parte. Desta vez, e quando se esperava que de novo o conseguisse, Tello não foi capaz de repetir o mesmo protagonismo.

Ruben Neves - Entrou para o lugar de Casemiro, provavelmente para penalizar o médio brasileiro da mesma forma que o próprio Ruben Neves fora penalizado depois no intervalo jogo de Alvalade. Resta saber até que ponto beneficiará de uma eventual penalização ao seu colega de sector, já que ele próprio pareceu passar por uma espécie de castigo depois do mau jogo que fez em Alvalade.

Sporting
Rui Patrício - Novo jogo grande e de novo Rui Patrício como protagonista. Tem sido assim esta época, e se o Sporting se pode queixar de alguma ineficácia ofensiva em alguns jogos, também deve muito ao seu guarda redes por aquilo a que este o tem poupado. Tem sido,  na sequência da última temporada, uma mais-valia incontornável.

Cedric - Tinha feito um jogo muito positivo em Copenhaga e repetiu-o no Dragão. Boa intensidade e uma grande participação no jogo, sendo um protagonista constante. Parece estar bem, nomeadamente em termos físicos, e isso torna-o num elemento bastante útil, sobretudo se tivermos em atenção as dificuldades que Esgaio havia revelado nas suas aparições.

Jonathan Silva - Mais uma exibição abençoada por alguns lances importantes, nomeadamente o do primeiro golo, em que é autor do cruzamento. De resto, porém, continua-me a parecer algo irregular em vários planos, sendo também verdade que não acusou os mesmos problemas da recepção ao Porto.

Paulo Oliveira - Tem, a meu ver, responsabilidades decisivas no lance do golo do Porto, que deveria ter controlado se não tivesse alterado algo arbitrariamente o seu posicionamento. Tal como a restante defesa, também sentiu dificuldades em alguns ajustes posicionais, o que dificilmente poderia deixar de acontecer, dadas as dificuldades colectivas. Depois, ao nível da presença em posse também esteve bastante discreto, com muito poucas intervenções, muito devido à opção estratégica da equipa. Apesar de tudo isto, pareceu-me uma exibição positiva, se tivermos em atenção as indicações que deu ao nível da capacidade de intervenção defensiva. A este nível, de resto, parece-me incomparavelmente melhor do que Sarr, sendo para mim difícil perceber o porquê de não ter sido opção mais cedo, estando eventualmente a dar-se uma importância excessiva aos centímetros do francês. O que é certo é que Paulo Oliveira conseguiu um número de intervenções que dificilmente Sarr realizaria, e se existem - nele como em vários outros jogadores - aspectos posicionais a corrigir, parece-me que essa evolução dependerá sobretudo da qualidade do trabalho que vier a ser feito.

Maurício - Não cometeu um erro com as consequências do de Paulo Oliveira e foi muito mais presente com bola, conseguindo uma boa percentagem de acerto nas suas intervenções a esse nível. De resto, porém, não fez um jogo tão interventivo como lhe é habitual, e esteve bastante longe de Paulo Oliveira, nesse particular. Pode ser mais experiente do que os seus companheiros de sector, mas esteve sempre habituado a jogar de outra forma, pelo que carece também ele de evoluir bastante no capítulo posicional para que se sinta confortável nesta forma de jogar.

William - Já havia feito um bom jogo em Alvalade, frente ao Porto, e voltou a repeti-lo, numa missão com maior foco no retirar da bola das zonas de pressão do que propriamente assumindo a responsabilidade de ser um organizador do jogo ofensivo. Parece-me que será sempre neste perfil que o melhor de William pode ser potenciado. De resto, conseguiu um bom jogo em praticamente todos os planos. Defensivamente, com várias recuperações, com bola sendo o jogador com mais passes completos no jogo e ficando ainda perto de voltar a marcar neste palco. Existem dificuldades ao nível do posicionamento colectivo da linha média, que frequentemente se expõe bastante, mas tal como para a linha defensiva, esse parece-me mais um problema colectivo do que individual.

Adrien - Foi o jogador com mais acções defensivas no jogo, o que é bem revelador da sua capacidade de trabalho. Com bola, teve também um grande acerto, com destaque para os 10 passes completos no momento de transição. Sem ter sido um protagonista principal em termos de organização de jogo, realizou uma partida muito eficaz e muito bem conseguida.

João Mário - É verdade que não conseguiu ser um desequilibrador, e aliás não me parece que tenha ainda uma vocação especial para tal, mas como já escrevi parece-me uma unidade chave na evolução da equipa em termos de capacidade para ter bola dentro do bloco contrário, tendo novamente contribuído positivamente para tal. Resta saber até que ponto será capaz de evoluir...

Nani - Justificou, novamente, o estatuto que carrega e foi a figura da partida, sobretudo pela capacidade de aproximar a equipa do golo. Para além disso, Nani oferece também a capacidade para o Sporting ter bola, nomeadamente em zonas interiores, coisa que com outros extremos dificilmente acontecia. Uma única nota menos positiva para alguma tendência para abrilhantar as suas intervenções com números que, sem dúvida, beneficiam a vertente técnica do jogo, mas que retiram eficácia às suas aparições no jogo. É um capricho de que poderia abdicar tal com faz, por exemplo, na Selecção.

Capel - A principal nota positiva vai para a boa eficácia das suas intervenções com bola no jogo, o que lhe valerá uma exibição positiva, mas também distante do brilhantismo de outros protagonistas.

Montero - Pareceu determinado em aproveitar a oportunidade, nomeadamente trabalhando bastante sem bola. Acabou por estar ligado aos dois primeiros golos, mesmo que sem que se lhe possa dar um grande crédito por isso. Apesar do esforço, ser-lhe-á muito difícil competir pelo lugar com Slimani, que apresenta nesta altura uma intensidade e dinâmica muito mais fortes.


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20.10.14

Porto - Sporting (I): aspectos colectivos

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A importância da eficácia - O balanço mediático destes jogos de maior carga emocional tende invariavelmente para acentuar as virtudes dos vencedores e defeitos dos vencidos, um pouco independentemente do que foi a história do jogo. Repete-se muito que não se analisa em função dos resultados, mas a meu ver esse continua a ser um viés dominante nas análises que são feitas, o que é perfeitamente normal tendo em conta o peso emocional que os resultados acarretam. Quer isto dizer, como facilmente se antecipará, que não concordo com a ideia de um jogo desequilibrado ou em que uma equipa tenha sido muito melhor do que a outra. Na minha leitura, este foi um jogo dividido, muito mais homogéneo do que o do campeonato, em que o Sporting venceu fundamentalmente pelo melhor aproveitamento que fez das situações que criou. De resto, ambas as equipas continuam a revelar-se aquém do seu potencial. O que é obviamente negativo, por um lado, mas que indica também que existe uma margem de progressão para que ambas possam vir a ser melhores num futuro próximo. Quer num caso quer noutro, porém, essa evolução não me parece fácil de acontecer...

Porto, a estratégia de Lopetegui - Lopetegui surpreendeu ao colocar Adrian Lopez ao lado de Jackson, mas não demorou muito a que se percebesse a ideia do treinador basco. Lopetegui, no fundo, viu o que todos vemos no jogo do seu adversário, ou seja, as dificuldades da sua linha defensiva, e tentou explorar ao máximo essa lacuna. Assim, a sua fase de construção convidava o bloco do Sporting a subir, Jackson baixava para atrair um dos centrais e Adrian fazia o movimento nas costas, solicitando o correspondente lançamento na profundidade. Isto viu-se inúmeras vezes e logo desde as primeiras jogadas. Em parte, a ideia de Lopetegui é perfeitamente lógica, em face dos problemas que o Sporting revela na resposta a este tipo de comportamento. Por outro lado, ao exacerbar tanto o recurso a esta solução, o Porto acabou por desvirtuar aquele que é habitualmente o seu ponto forte, que é capacidade de ter bola, aumentando os tempos de ataque, trabalhando bem a circulação baixa e desgastando o bloco defensivo contrário. Mas isto apenas explica o porquê do Porto ter permitido que o Sporting tivesse mais bola em sua casa do que havia feito, por exemplo, recentemente em Alvalade, mas não explica a desvantagem ao intervalo. Aí, temos de recorrer aos incontornáveis erros individuais, que custaram os dois primeiros golos do Sporting. O que é certo é que perante a derrota parcial ao intervalo, Lopetegui fez marcha atrás, encostou Adrian a uma faixa e acrescentou um médio. Só que aí o Porto não voltou a recuperar a tranquilidade para circular e valorizar a posse a partir de trás como é seu hábito, parecendo a pressão do resultado ter um efeito nefasto na lucidez e critério dos jogadores. E isto, assinale-se desde já, pode não ser um bom indicador para uma equipa que depende tanto desses dois atributos para a afirmação do seu modelo de jogo, e começa a estar cada vez mais colocada num contexto de pressão mediática. É facto que na segunda parte o Porto voltou a ter as suas oportunidades para empatar, mas voltou a não ser feliz no aproveitamento e acabou, também novamente, por conceder demasiado tempo de jogo ao Sporting, que foi progressivamente conseguindo controlar mais o jogo com bola e acabou por capitalizar o risco que o Porto assumia por uma postura defensiva que, na segunda parte e muito pela ânsia de chegar ao empate, foi bastante displicente.

A situação não está obviamente fácil para Lopetegui. A taça não é, sejamos claros, uma competição especialmente relevante, nem suficiente para salvar uma eventual perda do campeonato, mas esta é uma derrota que vem acentuar muito a pressão mediática em torno da equipa e do seu treinador. Lopetegui tem agora um desafio reforçado, porque se já era claro que a equipa precisava de trabalhar alguns aspectos do seu jogo - nomeadamente os movimentos na sua zona criativa -, agora terá também de ser capaz de isolar os jogadores da pressão e das dúvidas que estão colocadas sobre o processo. Ou seja, agora não há apenas o risco de não melhorar, há também o risco de piorar.

Sporting, a mesma identidade - Se Lopetegui apresentou uma estratégia específica para o jogo, Marco Silva voltou a revelar-se pouco flexível para fugir muito daquela que é a orientação fundamental do seu jogo. E isso traz coisas boas e coisas más, tal como se viu neste jogo e como já se vira também noutras ocasiões nesta temporada. Em particular, destacaria a abordagem defensiva da equipa, que não abdica de adiantar muita gente no pressing, conseguindo com isso diminuir os tempos de ataque do adversário, o que contribui decisivamente para que esta seja uma equipa muito difícil de dominar territorialmente. Por outro lado, ao fazê-lo o Sporting expõe muito o seu bloco e, em última análise, a sua linha defensiva, que não raras vezes tem sido confrontada com situações complicadas de resolver. Isso voltou a acontecer no Dragão, e inevitavelmente voltará a acontecer sempre que o Sporting defronte equipas com capacidade técnica para explorar as suas fragilidades. Aqui, volto a reforçar o problema que todos identificam, e que terá mesmo convidado Lopetegui a mudar a sua estratégia, que são as dificuldades de comportamento da linha defensiva. Tem-se focado muito o problema na questão individual, mas não me parece que isso seja correcto quando praticamente todos os jogadores denotam problemas no ajuste posicional. É uma forma de jogar nova para praticamente todos os defensores e cabe à equipa técnica ser capaz de os fazer evoluir no sentido que pretende ou, em última análise, encontrar comportamentos que possam ser interpretados com mais eficácia por todos. Mais, parece-me igualmente redutora a ideia de que o problema do Sporting reside única e exclusivamente na sua linha defensiva, porque se o processo defensivo funciona como um todo e envolve todos os sectores, muitos dos problemas que a linha defensiva vem sentindo resultam também das dificuldades que a linha média tem, tanto em garantir uma boa presença pressionante sobre o portador da bola, como em proteger alguns espaços importantes.
Enfim, talvez haja da minha parte alguma crueldade em começar por enfatizar os pontos negativos numa exibição com tanto feedback positivo, quer para a equipa, quer para os adeptos. O Sporting tem, de facto, e como venho escrevendo desde o inicio de época, motivos para acreditar numa boa época, porque tem um potencial técnico bastante elevado, o que se nota nomeadamente na capacidade da equipa para ter bola e gerir o jogo através da posse. Aqui, destacaria dois nomes. O primeiro é o mais óbvio, Nani. Já o escrevi várias vezes, mas não me canso de repetir que a sua aquisição foi um factor que mudou muito os destinos desta equipa. Tanto pela sua capacidade de desequilíbrio - e sobretudo por isto, não nos equivoquemos! - como pela sua capacidade para ter bola e em zonas onde os outros extremos do plantel não estão especialmente vocacionados para jogar. Depois, João Mário. O Sporting teve durante muito tempo em André Martins uma solução que trazia muito pouco à posição em que jogava. Nem acrescentava grande capacidade de presença em posse, nem capacidade de desequilíbrio. Com João Mário, o Sporting ganha outra capacidade para ter bola dentro do bloco contrário, e isso ajuda muito a equipa a afirmar-se territorialmente nos seus jogos. Por fim, falar dos centrais e da sua tão badalada falta de capacidade técnica. Neste jogo, o Sporting enfatizou muito pouco a circulação baixa, mas isso não impediu que tivesse feito um bom jogo com bola e num campo muito difícil de o conseguir. Aliás, não tem sequer impedido que o Sporting seja uma equipa de enorme presença em posse no campeonato (apenas superada pelo Porto, neste respeito). Ter maior capacidade técnica dos centrais ajudaria, sem dúvida, mas daí até se dizer que esse é um factor impeditivo para as aspirações da equipa vai um enorme e desmesurado exagero, como está bom de se ver...

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16.10.14

Dinamarca - Portugal (II): análise individual

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Patrício - Um jogo de muito pouco trabalho, sobretudo pela boa protecção defensiva que teve. Sem grandes reparos, a única nota menos positiva vai para a baixa eficácia nas reposições longas.

Cedric - Foi um jogo de grande exigência, onde nem tudo foi perfeito mas onde respondeu globalmente bastante bem. Aliás, foi o jogador português com mais passes completados e acções defensivas, o que o projecta inevitavelmente para um patamar de destaque entre as várias exibições da equipa.

Eliseu - Comparativamente com Cedric, protagonizou um jogo mais modesto a todos os níveis, mas nem por isso comprometedor.

Ricardo Carvalho - Não foi um jogo especialmente exigente para os centrais, que tiveram a sua tarefa bastante facilitada pela protecção da linha média e pela forma mais ligada como a Dinamarca abordou o seu jogo ofensivo, com poucas solicitações para a zona central da defesa portuguesa. Ainda assim, respondeu bem nas solicitações que teve, sem problemas de registo.

Pepe - Na mesma linha de Ricardo Carvalho, com mais intercepções mas também com uma má abordagem defensiva num lance que depois recuperou, perante Bendtner. Como escrevi ontem, parece-me que as qualidades dos centrais portugueses (e de Pepe, em particular) permitiriam equacionar uma abordagem mais arrojada do processo defensivo, mas ao que tudo indica com Fernando Santos abrir-se-á uma fase de maior protecção para a linha defensiva e, em particular, para os centrais.

William - Ganha, evidentemente, quando se lhe pede uma missão mais posicional e menos exigente em termos de extensão do terreno que tem para percorrer. Por outro lado, ganha também quando se lhe exige apenas que faça a bola circular, retirando-a das zonas de pressão dos adversários, em vez de ser um protagonista ao nível do passe, na primeira fase de construção. Neste sentido, este foi um jogo de características ideiais para William, onde não se deu mal, mas onde esteve longe do patamar exibicional que já se lhe viu. Em destaque, alguma irregularidade em termos técnicos, o que se reflectiu numa percentagem de passe relativamente baixa para a posição que ocupa.

Moutinho - Sem surpresa, foi o médio com maior envolvimento no jogo colectivo, tanto ao nível defensivo como no que respeita à presença em posse. Ainda assim, não foi uma exibição ao nível de várias que protagonizou ao serviço da Selecção. As suas características provavelmente seriam melhor enquadradas no anterior modelo da equipa, onde era um jogador com uma missão muito exigente no processo defensivo, tendo capacidade para o fazer. Provavelmente terá de se habituar a uma missão mais posicional no novo trio de médios da Selecção, mas haverá outros jogos, com outras características, e também a possibilidade de jogar noutras posições.

Tiago - Notoriamente preocupado em fechar o corredor esquerdo, no auxílio a Eliseu, manteve-se sempre muito prudente no seu posicionamento. O resultado é positivo, porque Portugal conseguiu controlar globalmente bem as iniciativas dinamarquesas por aquele corredor e Tiago foi sempre um jogador com grande intervenção a esse respeito. Com bola, ofereceu qualidade à circulação, no entanto e tal como Moutinho, sem grande envolvimento no último terço de campo.

Nani - Jogou mais a partir do corredor central e conseguiu um bom envolvimento no jogo ofensivo da equipa. Aliás, dos 3 da frente era o que havia tido mais participação na altura em que saiu. Foi também um protagonista em termos de finalização, com 3 tentativas, com destaque para o cabeceamento que errou por pouco, na primeira parte. As suas maiores dificuldades terão sido no capítulo defensivo, onde teve muitos problemas em retirar utilidade dos posicionamentos que foi assumindo. Claramente, será um aspecto a rever no desempenho desta função...

Danny - Tal como Ronaldo e Nani, conseguiu uma boa envolvência ofensiva, o que ajudou a equipa ter bola dentro do bloco contrário. Foi protagonista de algumas jogadas de maior potencial, com especial destaque para aquela que terminou com Ronaldo isolado na frente de Schmeichel.

Ronaldo - Fica-me a sensação de que se não tivesse marcado, muitas criticas lhe seriam apontadas. No entanto, seria a meu ver muito injusto para a exibição que fez. Em posse, conseguiu um bom envolvimento, com uma eficácia muito elevada, acima dos 80% e apenas superada pelos centrais, o que para um jogador da sua posição é francamente notável. Depois, e mais importante, foi o denominador comum das principais jogadas ofensivas da equipa, com destaque para a excelente jogada que criou para Nani finalizar, na primeira parte. Mas, para não ficarem dúvidas, ainda foi a tempo de marcar o golo da vitória, mostrando mais uma vez a sua extraordinária apetência para jogar (também!) na zona de finalização. Tudo somado, sem dúvida e como de costume, o melhor jogador da Selecção!

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15.10.14

Dinamarca - Portugal (I): aspectos colectivos

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Jogo equilibrado - No futebol, e na minha análise, o sucesso faz-se muito pela capacidade (talvez "felicidade" seja um melhor termo) que as equipas têm de extrair bons resultados, mesmo quando a exibição não os torna absolutamente evidentes. Portugal foi, a este nível, muito penalizado frente à Albânia, mas acaba agora por resgatar alguma fortuna, num dos jogos mais dificeis que o calendário lhe reservava, e onde a vitória nunca foi um cenário evidente, pelas dificuldades que a Dinamarca lhe colocou. Aqui, e para além do resultado, haverá sempre margem para ver o copo, meio-cheio ou meio-vazio, em função da perspectiva de cada um, e sobretudo em função da valorização que se dê ao adversário. Pessoalmente, penso que a Dinamarca é um adversário muito complicado de contrariar, especialmente em sua casa, e se os resultados recentes de Portugal em Copenhaga ajudam a sustentar esta opinião, há outras características no jogo dinamarquês que me parecem ter bastante qualidade e que previsivelmente criariam problemas a Portugal. Em particular, a capacidade da Dinamarca para assumir o jogo em posse, chamando a si boa parte do tempo de jogo. Portugal acabou por responder com bastante prudência, preferindo proteger-se nas zonas essenciais, mesmo que para isso tivesse de abdicar de ter a bola durante longos períodos. Como nem a Dinamarca conseguia penetrar no último terço português, nem Portugal conseguia inverter a tendência de maior domínio e presença em posse da Dinamarca, o jogo foi tendendo naturalmente para o nulo, sendo este apenas desfeito por aquilo que, afinal, determina o maior potencial da equipa portuguesa: a qualidade individual. Ter 3 pontos nesta altura não é ideal, mas é apesar de tudo melhor que estes tenham sido conseguidos frente a um adversário directo, do que frente à Albânia.

O 4-4-2 losango - O nome dos sistemas, 4-3-3 e 4-4-2, acaba por dar uma ideia trocada daquilo que realmente se passa em campo. Na sua última versão do 4-3-3, Portugal tendia a defender com uma linha média de 4 elementos, ou por vezes mesmo 5. Neste novo 4-4-2, e olhando para a disposição real da equipa, identificam-se, 4 defesas, 3 médios e 3 jogadores mais adiantados. Ou seja, ao contrário do que o nome sugere, é neste 4-4-2 que Portugal está mais desprotegido na sua linha média, libertando mais unidades na frente. É claro que não tem de ser forçosamente assim e haverá várias formas de defender e atacar dentro do mesmo sistema, mas esta parece-me ser a forma de Fernando Santos interpretar este sistema, pelo que também não me parece que se devam esperar muitas modificações relativamente ao que se viu. Quais serão então, as implicações de tudo isto, e qual será a nova identidade da Selecção? Do ponto de vista defensivo, com Paulo Bento a Selecção era notoriamente arrojada em termos de presença pressionante, adiantava muito a sua linha defensiva e tentava condicionar os seus adversários em praticamente toda a extensão do terreno (todos se lembrarão dos custos que isto teve no calor do Mundial!). Com Fernando Santos, o cenário é praticamente oposto. Apesar de ter 3 elementos mais adiantados, Portugal tem mais relutância em subir como um bloco, porque os médios sentem-se pouco confortáveis em sair da sua posição quando estão permanentemente a ser solicitados para defender na largura, acabando por se encostar à linha defensiva e fazer o bloco baixar. Ou seja, Portugal é uma equipa defensivamente mais expectante, com um pressing mais baixo mas com menor envolvimento numérico em zonas mais baixas. Se isto é melhor ou pior? Depende dos gostos de cada um e, naturalmente, das características da equipa. Pessoalmente, parece-me que Portugal tem centrais com capacidade para jogar uns metros mais à frente, havendo nesse aspecto algum desperdício de potencialidades. Por outro lado, ao libertar unidades como Ronaldo, Danny e Nani, Portugal ganha um grande potencial no momento de transição, o que no entanto ainda não foi devidamente potenciado. Seja como for, é preciso pelo menos manter alguma coerência, e se Portugal não consegue ter uma linha média pressionante, então o melhor mesmo é que a sua linha defensiva se proteja na profundidade baixando o bloco, como fez neste jogo.
No que respeita ao jogo com bola, a principal nota já foi referida por Fernando Santos e tem a ver com a necessidade de trabalhar a complementaridade dos movimentos dos 3 jogadores da frente, nomeadamente de forma a garantir presença na zona de finalização. Este modelo, com estes jogadores, garante a Portugal um grande potencial para circular dentro do bloco contrário. É um tema que eu já discuti várias vezes, sendo que muitas vezes me parece sobrevalorizado o contributo do papel do elemento mais adiantado em sistemas de apenas 1 avançado, quando quase sempre a influência real (número de vezes em que efectivamente intervem) desse jogador no jogo colectivo é muito reduzido. Com este modelo e estes jogadores, porém, as coisas podem ser verdadeiramente diferentes a esse nível, e isso viu-se neste jogo, onde Ronaldo, Nani e Danny conseguiram níveis de participação bastante elevados e com boa percentagem de eficácia. E é muito por isto que tendo a ser favorável a este tipo de solução de 2 avançados mais móveis, desde que se trabalhe bem a tal questão da zona de finalização, evidentemente.

A circulação baixa da Dinamarca - Por cá, o preconceito em relação à forma de jogar dos diversos países em nada mudou nos últimos 20 anos, mas na prática o que vemos é que frequentemente isso não se verifica. Por exemplo, continuamos a achar que nos países nórdicos se joga um futebol com pouca valorização da componente técnica e muito directo. A Dinamarca é um excelente exemplo de como esses preconceitos podem ser um enorme equivoco. Por exemplo, neste jogo - e novamente, porque é algo que faz parte da identidade desta equipa - a Dinamarca foi muito mais competente do que Portugal na sua fase de construção, assumindo o risco de querer sair sempre de forma apoiada e a partir de trás, e fazendo-o com grande qualidade, jogando a 1-2 toques com grande mobilidade e bom disposição posicional dos seus jogadores. Por isso, a Dinamarca foi sempre superior a Portugal em termos de presença em posse, mesmo tendo Portugal feito um bom jogo a nível de eficácia no passe. É comum elogiar e valorizar quando vemos as melhores equipas do mundo fazer este tipo de circulação e em envolvimento na sua fase de construção, mas parece-me bastante mais justo que se reconheça o mérito a quem o faz com qualidade, mas com recursos bem mais modestos. É o caso da Dinamarca, que em vários momentos do jogo (em especial na primeira parte, porque na segunda Portugal "encaixou" melhor), deu um verdadeiro recital de como circular e envolver o pressing adversário. Já agora, e numa altura em que se tem mediatizado tanto o tema dos centrais (a meu ver com grande exagero), fica a nota para o contraste entre as ligas nórdicas e sul americanas. Por muito que seja contraditório com a ideia pré concebida, é no Norte da Europa que se encontram mais equipas a valorizar a construção a partir de trás e também onde se encontram linhas defensivas a arriscar mais em termos de adiantamento. Na América do Sul, o recurso ao jogo directo é normalmente mais frequente, e as linhas defensivas mais baixas, com mais espaços entre sectores. Quer isto dizer que os centrais são melhores num sítio do que no outro? Claro que não!

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13.10.14

Os desequilibradores da Liga

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Como complemento da análise às 7 primeiras jornadas, deixo a tabela dos 20 jogadores que mais desequilibraram neste inicio de campeonato. Mais concretamente, a tabela refere-se aos jogadores que mais participaram em ocasiões claras de golo das respectivas equipas, e segundo análise que venho mantendo. Aqui ficam algumas notas de análise pessoal...

Melhor marcador, uma luta mais apertada - Há um ano, e apesar do espectacular inicio de época de Montero, não tive grandes duvidas em projectar o claro favoritismo de Jackson na corrida ao título de melhor marcador da liga. O motivo prendia-se com o facto de Jackson ter muito mais ocasiões do que Montero, estando a veia goleadora do seu compatriota mais ligada ao bom momento de eficácia que havia tido, e sendo a eficácia um indicador muito mais volátil no curto prazo. Este ano, e atendendo às indicações deste inicio de temporada, a tarefa de Jackson poderá não estar tão facilitada. O problema não tem tanto a ver com o rendimento do goleador colombiano, que mantém uma enorme importância na finalização das ocasiões criadas pela equipa, o problema é que este ano o Porto promete criar para Jackson bem menos do que aconteceu na época anterior, e se assim continuar a ser os números do colombiano serão seguramente mais modestos do que nas épocas anteriores. Isto, claro, numa perspectiva de golos marcados por tempo jogado, e excluindo a influência das grandes penalidades, que propositadamente ignoro nesta análise. Entre os rivais de Jackson nesta corrida, destacaria Lima e Slimani. Lima não teve um arranque muito positivo em termos de aproveitamento das ocasiões de que desfrutou, e a sua influência (que tem sido muito boa, registe-se) não parece ser tão orientada para as acções de finalização, mas se o Benfica se mantiver com o registo ofensivo até aqui apresentado, e sobretudo se conservar a diferença face ao Porto a esse nível, então Lima será um nome a ter em conta na corrida ao estatuto de melhor marcador. Talvez a maior ameaça para o "reinado" de Jackson venha mesmo do outro rival de Lisboa, mais particularmente na figura de Slimani. O argelino realizou um inicio de época fantástico, e mesmo levando menos minutos por ter falhado os primeiros 2 jogos, é o jogador com mais ocasiões finalizadas nestes primeiros 7 jogos. Se o Sporting mantiver a capacidade ofensiva revelada até aqui, então será mesmo muito difícil de bater Slimani nesta corrida, porque o argelino dificilmente deixará de garantir uma grande influência em termos de zona de finalização. Tendo sido dos que duvidou dele no inicio, não é também a primeira vez que o elogio, sendo para mim claro que a intensidade com que joga o torna numa das principais mais valias para o Sporting actual, e num sério candidato a ultrapassar as marcas de todos os goleadores que o clube teve na última década. Veremos se o confirma...
Por fora, e a meu ver, correm todos os outros jogadores, mesmo aqueles que estão bem colocados nesta altura, como é o caso de Talisca. O motivo é simples, não se afiguram probabilidades razoáveis de que venham a usufruir de tantas ocasiões de golo como Lima, Jackson ou Slimani. Aqui, talvez a principal dúvida resida em Jonas, que se vier a ter uma utilização mais regular, facilmente poderá entrar também nestas contas.

Os que mais criam - Gaitan foi o destaque da época passada, e parece ser de novo o maior candidato nesta temporada a ser o jogador com maior presença criativa em ocasiões claras de golo. Entre os nomes que poderão rivalizar a este nível com o 10 do Benfica, projectaria Salvio, Nani, Carrillo, Brahimi e Quintero. Salvio será mais um candidato a ser dos jogadores com mais participação directa em ocasiões de golo, criando ou finalizando, mas em princípio não terá a mesma vocação criativa do que Gaitan. No Sporting, surgem também dois candidatos a rivalizar com Gaitan neste plano. O primeiro é, claro, Nani, sendo um jogador que, sozinho, mudou o jogo ofensivo da equipa de Marco Silva, pela sua influência, qualidade e capacidade para ter bola em zonas interiores. Desde que jogue, Nani continuará a ser seguramente um dos principais protagonistas do campeonato. Do outro lado, aparece Carrillo, que teve um inicio de época muito bom, mas cuja regularidade não pode ser projectada com a mesma segurança. Se mantiver o rendimento de até aqui, será certamente uma das figuras da prova e merecerá inclusivamente mais tempo de jogo. Será desta? No Porto, o destaque mais óbvio é Brahimi. Tal como para o caso de Jackson, porém, a grande dúvida estará mais no rendimento colectivo, já que se a equipa não melhorar a sua proximidade com o golo, como um todo, será muito complicado a qualquer dos seus jogadores assumir um grande protagonismo individual. Ainda no Porto, não consigo deixar de mencionar Quintero, porque caso venha a ter uma utilização mais regular (e enquadrada às suas características, já agora), estou em crer que Quintero rapidamente se tornará num dos principais desequilibradores do campeonato, até porque será dos jogadores que mais facilidade natural tem para assumir esse estatuto.
Como nota final, sublinhar que esta análise não considera os lances de bola parada, naturalmente para não favorecer os jogadores que são protagonistas das respectivas equipas a bater cantos e livres indirectos.

As revelações - Naturalmente, será muito difícil a qualquer jogador que não actue num dos 3 grandes ser um protagonista individual, em termos de golos marcados, assistências ou ocasiões criadas e finalizadas. Simples e trivialmente, porque a produção colectiva é tendencialmente inferior. Ainda assim, há jogadores a merecer destaque. No Belenenses, Deyverson fez um arranque de época muito bom, e promete atrair rapidamente atenções de clubes com maior capacidade financeira. No Estoril, e apesar do mau desempenho colectivo, Kuca tem tido um impacto muito bom, especialmente considerando que se trata de um jogador vindo de escalões inferiores. No Paços, destaque para Cícero e Urreta. O primeiro com baixo aproveitamento das ocasiões de que desfrutou, é verdade, mas com uma grande influência nas principais movimentações ofensivas da equipa. O segundo, com um enorme impacto no pouco tempo que jogou, prometendo ser uma mais valia indiscutível para Paulo Fonseca. No Marítimo, também dois nomes, Fransérgio e Ruben Ferreira. Fransérgio, sobretudo pela capacidade de aparecer em zonas de finalização, assumindo um protagonismo que no passado não tinha tido. O lateral esquerdo Ruben Ferreira, por seu lado, conseguiu inúmeros cruzamentos de elevado potencial, estando inclusivamente presente em vários golos da equipa. Em Braga, Rafa é um destaque menos surpreendente, tendo sido uma revelação da última temporada, mas Zé Luis teve uns primeiros minutos muito prometedores, o que poderá ser uma excelente notícia para Sérgio Conceição. Finalmente, nota para 2 jovens do Guimarães, Bernard, talvez a principal revelação dos primeiros jogos, e Tomané, que vai mantendo uma presença discreta mas muito regular e útil no ataque do Vitória. O tempo dirá quais destes jogadores serão capazes de manter uma bitola alta para o seu rendimento, e que outros virão a justificar destaque...

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8.10.14

14/15 vs 13/14: 3 grandes à 7ª jornada

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Tal como havia anunciado no post anterior, como complemento ao ponto de situação que fiz sobre o rendimento das equipas nestas primeiras 7 jornadas, deixo uma análise comparativa relativamente ao mesmo período da época anterior, para os 3 grandes. Aqui ficam algumas notas...

Benfica - Jesus afirmou, há algumas semanas, que o Benfica está melhor do que estava nesta altura na época passada, e no que respeita ao campeonato isso parece relativamente incontestável. Sobretudo a nível ofensivo, o rendimento tem sido muito melhor do que aquilo que foi nas primeiras 7 jornadas da época passada, confirmando-se essa ideia em praticamente todos os indicadores. Do ponto de vista defensivo, curiosamente nesta altura da época passada havia um grande alarmismo em relação à vulnerabilidade defensiva da equipa, mas como na altura adverti tal se devia sobretudo a uma eficácia anormal por parte dos adversários, algo que depois se veio a confirmar ao longo da época. Seja como for, o Benfica este ano conseguiu um controlo defensivo não muito distante do verificado na época anterior, sendo no entanto de notar o facto de ter concedido mais ocasiões claras de golo em menos finalizações, o que indica uma menor eficácia do processo defensivo.

Sporting - A nível pontual o cenário poderá não ser tão favorável, mas olhando à generalidade dos indicadores apresentados, facilmente se percebe que tal não sucede por uma menor qualidade do futebol do Sporting, em face àquilo que apresentou na época anterior. Sobretudo a nível ofensivo, onde praticamente todos os indicadores foram melhorados, relativamente a 13/14, com a excepção da eficácia, que era anormalmente elevada nesta altura do ano anterior e que explicava o elevado número de golos marcados. No que respeita ao plano defensivo, e embora a equipa tenha consentido mais ocasiões de golo, também não há grandes sinais de preocupação face ao cenário em 13/14, já que nesta altura o Sporting já defrontou os dois rivais. O Sporting, note-se, tem dado sinais negativos relativamente ao seu processo defensivo, mas sobretudo em jogos de maior grau de dificuldade, não sendo esses problemas tão visíveis perante adversários de menor potencial. Ainda assim, e tal como no caso do Benfica, o facto do Sporting ter concedido mais ocasiões em menos finalizações (e no caso, menos ataques também), revela a maior vulnerabilidade do seu processo defensivo face a 13/14.

Porto - O calendário, menos favorável em 14/15, talvez ajude a explicar algumas das diferenças, mas no que respeita às primeiras 7 jornadas, o investimento feito na equipa ainda não teve tradução numa melhoria relativamente à época anterior. No entanto, o Porto 13/14 havia sido bastante competente neste período, tendo caído bastante posteriormente, não sendo previsível que tal possa acontecer na presente temporada. De todo o modo, e sem surpresa, o que mais sobressai são as diferenças em termos de desempenho ofensivo, onde a equipa de Lopetegui apenas conseguiu melhorar os indicadores de posse de bola, denotando muito menos objectividade nas suas acções ofensivas. Do ponto de vista defensivo, não há muitas diferenças relativamente ao que se passava por esta altura na época anterior. Foi a nível defensivo que o Porto mais quebrou de rendimento em 13/14, mas como já escrevi acima, não é expectável que tal possa acontecer de novo esta época (aliás, também não era expectável há um ano).

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7.10.14

Análise Liga Portuguesa 14/15 (7ªjornada)

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Aproveito a paragem no campeonato, para fazer um ponto de situação em relação ao que foi até aqui o rendimento das equipas, do ponto de vista dos mais variados indicadores estatísticos, tanto ofensivamente como defensivamente. Ainda esta semana, apresentarei uma comparação com o que se verificava nesta mesma altura em 13/14, relativamente aos 3 grandes. Aqui ficam algumas notas sobre a minha leitura pessoal:

Benfica - Se pontualmente o Benfica conseguiu uma vantagem importante em apenas 7 jornadas, do ponto de vista estatístico há pouco por onde questionar esse estatuto. Sobretudo ao nível das ocasiões de golo, onde o Benfica foi a equipa com maior proximidade com o golo e melhor controlo defensivo. De resto, confirma-se o perfil tantas vezes identificado para a equipa sob o comando de Jorge Jesus, ou seja sendo bastante objectiva do ponto de vista ofensivo, e não alicerçando tanto (em termos relativos, obviamente) as suas aspirações na sua presença em posse. Também defensivamente este perfil se identifica, já que o Benfica consegue o melhor registo defensivo em termos de ocasiões consentidas, mas sem ter uma presença em posse especialmente elevada, o que reflecte a qualidade do seu processo defensivo.

Porto - À 7ªjornada é já possível termos uma tradução objectiva do perfil de jogo que Lopetegui idealizou para o Porto 14/15. Desde logo, sobressai a elevada presença em posse, com uma distância considerável mesmo para os principais rivais. Por outro lado, porém, esta presença em posse não teve para já correspondência ao nível de outros indicadores. Ofensivamente, a bola que o Porto tem tido não tem tradução numa vantagem no número de ataques, finalizações ou - mais importante, ainda - no número de ocasiões claras de golo. Daí o número de golos marcados, relativamente modesto mas condizente com aquilo que a equipa produziu. Uma nota ainda para o número de cantos, que é significativamente mais elevado do que o de qualquer outra equipa, o que pode ter a ver, não só com a elevada presença em posse, como também com a tendência da equipa para procurar os corredores laterais como forma de chegar ao golo. Defensivamente, até certo ponto o mesmo problema, ainda que a este nível a presença em posse tenha uma correspondência num maior número de indicadores. Ou seja, o Porto foi até agora a melhor equipa defensiva em quase todos os indicadores estatísticos, havendo porém a relevante excepção do número de ocasiões claras de golo, o que pode estar relacionado com algumas perdas de bola na fase de construção e que permitiram aos adversários algumas jogadas muito rápidas, mas de elevado potencial. Nota para o facto do Porto ter tido, até ao momento, uma boa capacidade de sobrevivência às ocasiões consentidas, o que explica fundamentalmente o melhor registo da liga em termos de golos sofridos. Com uma melhoria ainda que ligeira na sua segurança em posse, o Porto facilmente se tornará numa equipa muito difícil de bater, tendo em conta o controlo que a sua presença em posse lhe oferece. Neste sentido, o Porto apresentar-se-á nesta altura e na minha perspectiva, como o principal candidato a melhor defesa da Liga. Por outro lado, em termos ofensivos, Lopetegui parece ter algum trabalho pela frente...

Sporting - Os indicadores estatísticos destas primeiras 7 jornadas traduzem um pouco as ideias que tenho partilhado recentemente sobre a equipa. Ou seja, o Sporting 14/15 tem um potencial ofensivo muito elevado e dentro dos patamares de um candidato real ao título, estando os problemas essencialmente no processo defensivo. Ofensivamente, o Sporting conseguiu, a par do Benfica, o maior número de ocasiões de golo, não tendo porém a mesma eficácia, o que explica o menor número de golos do que o seu rival. No entanto, o Sporting apresentou maior expressividade do que o Benfica noutros indicadores, como a presença em posse, finalizações e ataques. Defensivamente, porém, o cenário é menos optimista para as aspirações da equipa de Marco Silva. A equipa conseguiu um bom registo em vários indicadores, mas acabou bastante exposta em termos de ocasiões claras de golo. A primeira nota, aqui, vai para o facto do Sporting já ter defrontado Porto e Benfica, representando estes dois jogos mais de 50% das ocasiões consentidas pela equipa. Analisando de forma um pouco mais detalhada e explorando as principais situações de golo consentidas ressalta à vista o elevado número de situações na sequência de ataques rápidos ou perdas de bola (transição ataque-defesa), o que poderá indicar algum trabalho a fazer do ponto de vista colectivo, e muito concretamente no que respeita à preparação da equipa para responder a este tipo de situações.

Outras equipas - Uma primeira nota para o Braga, que no ano passado havia sido uma equipa especialmente vulnerável defensivamente, mas que este ano e para já, tem-se apresentado bastante consistente a esse nível. Muito prometedor, e como também já havia alertado antes das duas recentes vitórias, parece ser o campeonato do Paços de Ferreira, de novo com Paulo Fonseca ao comando. Entre as desilusões deste arranque de temporada, evidenciam-se Estoril e Nacional. No caso do Estoril, são evidentes os problemas de controlo defensivo, havendo ainda assim sinais positivos na performance da equipa e que indicam que terá tudo para ficar pelo menos na primeira parte da tabela. Menos certa, à luz desta análise, será a capacidade de reacção do Nacional, sendo de sublinhar que qualquer destas duas equipas foi penalizada por um aproveitamento excepcionalmente elevado das ocasiões criadas pelos seus adversários.

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2.10.14

Notas da Champions #2

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Sporting - Chelsea
Esta passagem de Mourinho por Alvalade fez-me lembrar a popular fábula de La Fontaine, do corvo e da raposa. Mourinho, qual raposa, queria roubar o queijo (3 pontos) ao Sporting, e para tal resolveu começar por elogiar a coragem do seu adversário, convidando-o a cantar, que é como quem diz a "jogar para ganhar". Ou seja, sugeriu Mourinho que o Sporting jogasse de forma aberta perante um adversário mais forte, coisa que como sabemos bem ele próprio não faz em idênticas circunstâncias. Seja ou não pelo incitamento da raposa, a verdade é que o Sporting, tal e qual como o corvo, cantou. Abriu o bico, e ao fazê-lo facilitou de sobremaneira a tarefa à raposa. Mas há uma diferença fundamental entre esta história e a de La Fontaine. É que ao contrário da ave necrófaga na fábula, o Sporting não se achou iludido pela raposa, culpando ao invés a má fortuna do queijo lhe ter caído do bico enquanto cantava, como se fosse provável que outra coisa tivesse acontecido. E, assim, tudo acabou em bem, a raposa satisfeita com o queijo e o corvo conformado com a má sorte, mas agradecido à gentil raposa por tão simpáticas palavras na sua visita.
Não quero com isto dizer, obviamente, que o Sporting devesse ter tido grandes ilusões neste jogo, mas estou em completo desacordo com os elogios à prestação da equipa. O ponto mais grave - e é grave! - tem a ver com as dificuldades e debilidades reveladas no processo defensivo. O Sporting pode resignar-se à sorte de não ser capaz de vencer uma equipa que lhe é indiscutivelmente superior, mas o mesmo não deverá fazer relativamente à qualidade dos seus comportamentos defensivos. Já havia antecipado aqui dificuldades específicas para este jogo no que respeita ao controlo da profundidade, mas ainda assim tenho de me confessar surpreendido pela vulnerabilidade da equipa nesse ponto particular. E aqui estendo a minha critica à opção estratégica, que abordei no primeiro parágrafo, porque se o Sporting tinha tantos problemas no controlo da profundidade e ia jogar perante uma equipa cuja principal força residia precisamente no bom aproveitamento que faz do espaço, então não se pode entender que faça sentido algum abordar este jogo assumindo tanto risco no adiantamento do bloco e da última linha. Não admira que Mourinho tenha sugerido que o Sporting jogasse "para ganhar"! Há obviamente aspectos positivos a retirar da exibição, e continuo a pensar que existe esta época maior potencial, nomeadamente em termos ofensivos, mas o Sporting só poderá ser uma equipa na plenitude das suas potencialidades - e isso poderá até não chegar para se bater com o Chelsea de igual para igual, ou até para ombrear pelo título até ao fim - se tiver patamares de organização mais elevados do que os actuais. E, a este respeito, a tendência mediática é e tem sido para olhar para o lado individual da questão e crucificar, um a um e a gosto de cada qual, os diferentes protagonistas. Ora, a mim essa parece-me uma perspectiva meramente destrutiva de ver as coisas, e por duas razões. Primeiro, porque se é inquestionável que existem lacunas do ponto de vista individual, o que se detecta é uma dificuldade transversal de todos os jogadores para interpretar alguns dos comportamentos que lhes são pedidos (alguns desses comportamentos parecem-me, em si mesmo, questionáveis). Depois, porque no que respeita ao processo defensivo o peso da componente colectiva é enorme e muito maior do que no processo ofensivo, não faltando exemplos de jogadores que, de uma época para outra, apresentam níveis exibicionais completamente diferentes, apenas por mudar de contexto colectivo. Ou seja, os problemas defensivos não me parecem um fado pelas limitações individuais, mas sê-lo-ão seguramente se  colectivamente não houver capacidade para corrigir estes aspectos. Por fim, deixo uma questão sobre a exibição de Rui Patrício: em média, qual a probabilidade de um jogador isolado perante o guarda-redes (1x0) fazer golo? Talvez não seja tanto quanto à primeira vista se possa pensar...

Shakhtar - Porto
Lopetegui pode ter conseguido resgatar um resultado positivo da Ucrânia, mas receio que o seu estado de graça esteja definitivamente encerrado com as opções que tomou para esta partida. Aliás, os golos de Jackson têm esse duplo efeito de, por um lado, salvarem o treinador da derrota, e por outro reforçarem o erro que terá sido deixar o colombiano de fora. Mas, terá sido mesmo um erro? É que Lopetegui diz que o jogador tinha problemas físicos, e sendo assim não haverá muita margem para críticas. E relativamente a Marcano? Pois, já sabemos que existe o preconceito negativo, entre adeptos e crítica, relativamente ao uso de defesas centrais nessa posição, talvez por dar uma imagem muito defensiva, mas a verdade é que os factos acabam por dar razão ao treinador espanhol nesta sua opção. Marcano teve, efectivamente, uma exibição irrepreensível, com boa capacidade de intervenção defensiva na sua zona e praticamente sem mácula do ponto de vista da presença em posse, como o próprio Lopetegui salientou.
Bem vistas as coisas, o Porto fez um bom jogo na Ucrânia, perante um adversário complicado, e se esteve tão perto da derrota isso nada teve que ver com alguma perda de controlo defensivo, porque tudo o que o Shakhtar criou foram as duas situações de golo, e ambas na sequência de erros individuais. A maior crítica, na minha perspectiva, deve estar novamente orientada para o futebol algo estereotipado da equipa, que voltou a procurar incessantemente os corredores laterais (excepto após a entrada de Quintero, claro) e que raramente conseguiu, em organização, aproveitar o potencial que a equipa tem.
Algumas notas mais sobre a exibição do Porto. Primeiro, sobre a ausência de Ruben Neves, que não me parece assim tão surpreendente depois das dificuldades que o jogador denotou frente ao Sporting. Depois, sobre os erros em posse, um ponto que tende a ganhar peso quando o patamar competitivo se eleva e a sublinhar a importância da segurança em zonas mais recuadas. Daí, discorde do ênfase que é dado à qualidade técnica dos centrais, quando o foco deve estar essencialmente no critério em posse. Finalmente, nota para a importância decisiva que tem tido a qualidade transversal do plantel nos momentos de dificuldade da equipa. Frente ao Sporting, Lopetegui fez entrar Tello e Oliver, mudando o jogo, agora introduziu Jackson, Quintero e Adrian, não só oferecendo à equipa características diferentes, como acrescentando-lhe até qualidade, relativamente ao que já tinha em campo. Não é comum.

Leverkusen - Benfica
Jesus afirmou no final do jogo que já esperava o tipo de jogo que o Leverkusen impôs e que a equipa perdeu simplesmente porque o seu adversário lhe foi superior. Confesso que, ao ver o jogo, fiquei com uma ideia diferente. Aliás, uma ideia fortemente reforçada pela agitação do treinador na linha lateral logo nos primeiros minutos, nomeadamente pedindo à equipa que deixasse de sair de forma apoiada a partir de trás. Se não foi surpreendido pelo pressing do Leverkusen, pelo menos foi surpreendido pela efectividade com que este foi implementado. Enfim, surpreendido ou não, a verdade é que o Benfica foi praticamente atropelado pela verticalidade e intensidade do seu adversário, não se apresentando devidamente preparado para fazer face a algumas das suas especificidades. Há a tal questão da construção, onde o Benfica não conseguiu soltar-se do pressing através de um jogo mais apoiado, nunca conseguindo encontrar espaços para fazer passes interiores, e solicitando quase sempre os laterais quando o Leverkusen estava preparado para pressionar os corredores. Neste particular, se o Benfica queria sair de forma apoiada (e Jesus rapidamente deixou de o querer), teria a meu ver de fazer mais uso do guarda redes para não ter de verticalizar quando e para onde o adversário queria. Não o fez. Outra opção passava por construir de forma longa, usando Derley como referência para a primeira bola, mas o problema aqui é que o Benfica nunca se posicionou bem para este tipo de solução, nomeadamente com os dois médios a baixar para receber e o próprio Talisca a aproximar-se muito de Enzo. Naturalmente, foi o Bayer quem ficou quase sempre com as segundas bolas e, tudo somado, o Benfica acabou encurralado no seu meio campo. Mas há ainda o processo defensivo, porque se o Benfica não se preparava para as segundas bolas ofensivamente, também não o fez no processo defensivo. A equipa pressionava a saída de bola do Leverkusen, que ficava sem linhas de passe para sair curto, mas colocava muitas unidades nas costas dos médios do Benfica, e por isso acabava quase sempre por ficar com a segunda bola, acelerando rapidamente e com boa presença numérica para abordar o último terço. Nota, ainda no que respeita ao desempenho defensivo, para o tempo que o meio campo levou para pressionar o portador da bola em diversas situações, deixando exposta a linha defensiva a situações muito complicadas de controlar. Um problema que tem acontecido com alguma recorrência recentemente.
O Benfica podia ser o primeiro cabeça de série do grupo, mas na prática há muito equilíbrio entre estas 4 equipas. Talvez o Benfica não esteja ainda num patamar que lhe permitisse bater-se de forma mais competente pelo apuramento - com Jesus, o "ponto de rebuçado" costuma vir mais tarde -, ou talvez a forma como a equipa abordou os jogos não o tivesse permitido, nomeadamente ao dar prioridade clara ao campeonato. O certo é que o Benfica é neste momento o mais forte candidato do grupo a ficar fora da Europa em Dezembro, e por isso esse é um cenário que nesta altura não deve estar fora das contas de ninguém, por muito que possa custar. A este respeito, o Benfica está neste momento numa posição oposta à do Porto, já que no campeonato usufrui de uma vantagem que lhe pode ser muito útil na luta pelo título e na Europa as contas estão muito complicadas. A boa notícia para Jesus é que, como bem sabemos, no final é quase sempre o campeonato que mais conta...

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