3.9.14

Benfica - Sporting (II): performance individual

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Benfica
Artur - O lance do golo dispensa comentários, assim como outras situações em que a sua falta de confiança ficou perfeitamente notória. Ainda assim, penso que é justo salientar que o risco que o guarda-redes assume no jogo de pés tem a ver com a ambição da equipa em sair de forma apoiada a partir de trás e de fazer uso do seu guarda-redes esse objectivo. Ou seja, a ineficácia é individual, indiscutivelmente, mas o risco deriva de uma orientação colectiva. Também é um justo notar que, apesar do erro decisivo, teve duas intervenções em lances determinantes.

Maxi - Deu sequência ao bom inicio de época com mais uma exibição muito positiva, combinando uma presença assídua, intensa e eficaz no jogo, com uma assistência decisiva. Nota para a elevada % de acerto em posse, uma das melhores entre todos os protagonistas do jogo.

Eliseu - Foi o jogador com mais intervenções defensivas no jogo, o que acaba por traduzir a sua boa presença defensiva no jogo, precisamente o ponto onde lhe eram reconhecidas mais dificuldades no desempenho da função. Destaque, aqui, não só para a boa presença nos duelos com os extremos do Sporting, mas também para a intensidade e bom posicionamento no momento de transição defensiva. Já agora, é para mim um mistério o seu percurso na Selecção...

Luisão - O jogo acabou por não lhe exigir muito em termos de intervenção defensiva, e acabou por fazer uma exibição bastante modesta em termos de presença defensiva. Com bola, esteve regular.

Jardel - Ligeiramente mais interventivo do que Luisão e até com maior acerto em posse do que o capitão do Benfica. No entanto, uma exibição também com mais problemas, acumulando alguns erros e denotando dificuldades pontuais. Em destaque, a este nível, os duelos com Slimani (muito agressivo) e um equívoco comprometedor com bola, já na fase terminal da partida.

André Almeida - Um jogo regular, dentro daquilo que lhe é pedido pela especificidade da função. No entanto, acabou por não ser capaz de oferecer à equipa uma maior amplitude na circulação ao longo da primeira linha de construção, o que se reflecte numa presença em posse relativamente modesta para a posição que interpretou. Um aspecto que, claramente, deverá tentar melhorar...

Enzo Perez - Basta olhar para o seu número de passes e comparar com todos os outros protagonistas do jogo, para perceber a importância e qualidade que Enzo empresta à equipa em termos de presença em posse. Ainda assim, acabou por não ser um protagonista nos lances de maior impacto no jogo, e também do ponto de vista defensivo não fez um jogo especialmente bem conseguido.

Gaitan - Marcou o golo e esteve ainda na maioria dos principais desequilíbrios da equipa, crescendo a esse nível na segunda parte. Nos outros capítulos do jogo, esteve apenas regular, mas tudo considerado, é bem capaz de justificar o maior destaque individual do jogo.

Salvio - Começou por ter uma acção determinante no lance do golo, onde provavelmente será o maior responsável pelo desequilíbrio criado. Depois, manteve-se sempre bastante encostado à linha, onde protagonizou um duelo muito dividido com Jefferson, o que retirou eficácia às suas aparições com bola. No entanto, a amplitude da sua utilidade só pode ser verdadeiramente entendida se se considerar a frequência e facilidade com que aparece em zonas de finalização, tendo sido ele o denominador comum das jogadas de maior potencial criadas em situações de bola corrida. É verdade que não foi o jogo mais feliz em termos de eficácia nesse tipo de situações, mas parece-me uma benção que o Benfica tenha nesta altura um jogador com as características de Salvio, num contexto em que os seus dois avançados aparecem a finalizar com muito pouca frequência.

Talisca - Não fez um mau jogo, mas também não escondeu as dificuldades que ainda tem para ser uma mais valia num papel bastante exigente. Apareceu várias vezes sobre a esquerda, talvez procurando outros espaços e outros ângulos de recepção para intervir no jogo, mas não me parece nada positivo que se distancie muito da zona de finalização, onde até agora não deu mostras de se sentir muito à vontade. Destacou-se sobretudo nos lances de bola parada.

Lima - Fez um jogo com bastantes pontos positivos, sem dúvida. A nota de maior preocupação, porém, não tem tanto a ver com este jogo, mas com a ideia de que tendo em Talisca um jogador com menor propensão para aparecer em zonas de finalização, a equipa passará a precisar de um contributo mais assíduo de Lima nessa função específica. E a verdade é que, para já, Lima não tem conseguido esse patamar de protagonismo.


Sporting
Rui Patrício - Como escrevi, foi na minha análise um dos grandes responsáveis pela boa época que o Sporting realizou no ano anterior. Nesta temporada, voltou ao mesmo nível, e tem tido para já um contributo muito positivo, relativamente à sua eficácia em lances decisivos. Como nota menos positiva, ainda que não tanto por responsabilidades próprias, o sua presença nas reposições de jogo. Na fase de maior dificuldade do Sporting no jogo, a equipa passou a recorrer ao seu guarda-redes para tentar evitar o pressing do Benfica, sendo que Patrício procurou estrategicamente colocar a bola nos laterais, abdicando de reposições mais profundas. Não conseguiu grande eficácia, e foi a partir desse tipo de situação que nasceram algumas das situações de maior potencial do Benfica, nessa fase do jogo.

Esgaio - Se considerarmos o contexto, a sua exibição tem de ser considerada positiva. No entanto, teve algumas dificuldades em vários aspectos. A saber, na segunda parte perdeu alguns duelos que estavam ao seu alcance, perante Gaitan; teve algumas dificuldades em definir posicionamentos interiores, em situações de transição, e ao nível do cruzamento também não emprestou a mais valia técnica que dele se podia esperar, tendo em conta a posição de onde é originário.

Jefferson -Um dos jogadores mais interventivos no jogo, travando um duelo muito intenso com Salvio. Nota para as suas dificuldades de desempenho técnico neste contexto, sendo o jogador da equipa com menor % de acerto em posse, o que para um lateral não é nada positivo.

Maurício - As suas grandes dificuldades no jogo passaram pela presença em posse, onde foi várias vezes forçado a jogar de forma mais directa e menos eficaz, acabando por acumular também uma perda que poderia ter custado mais caro à equipa. Sem bola, porém, voltou a fazer um jogo muito positivo, destacando-se a sua capacidade para travar duelos directos, nomeadamente anulando várias vezes o ponto de referência para o primeiro passe de transição do Benfica, o que permitiu à equipa prolongar o seu tempo de ataque. Aliás, foi o jogador da partida com mais intercepções no momento de transição defensiva, o que reflecte bem essa virtude do seu jogo. Parece-me que ao contrário dos seus defeitos, os pontos fortes de Maurício não são bem percebidos pela generalidade dos adeptos, mas se se entende o potencial que pode ter para um avançado ser capaz de receber e enquadrar, também ficará fácil perceber o quão importante é ter um defesa que seja capaz de evitar que os seus adversários façam precisamente isso...

Sarr - Com bola foi mais eficaz do que Maurício, fundamentalmente porque não foi forçado a jogar tantas vezes de forma mais longa. No entanto, também não conseguiu esconder as suas limitações no capítulo técnico, acrescentando pouco ou nada à qualidade de construção. Sem bola, por outro lado, não conseguiu o mesmo nível de intervenção do seu parceiro de sector, o que não surpreende uma vez que não tem o mesmo à vontade de Maurício na leitura de lances e no confronto directo com os opositores. Na jogada do golo, a gestão do seu posicionamento também me parece questionável. Ainda assim, há um ponto que quero ressalvar em relação às minhas criticas relativamente a Sarr. A minha perspectiva tem sempre em vista o rendimento presente, e com isso poderei muitas vezes não considerar a margem de evolução do jogador, que será da minha parte uma falha do ponto de vista da análise. No caso de Sarr, as suas condições físicas são, como é evidente, incomuns, e pode haver da parte de Marco Silva uma aposta de médio prazo no desenvolvimento do jogador, que do ponto de vista técnico-táctico, tanto com bola como sem ela, me parece não estar acima do nível médio do que se pode encontrar em qualquer equipa da primeira liga portuguesa. E, se é certo que do ponto de vista técnico dificilmente será um grande jogador, o mesmo não se pode dizer da sua margem de evolução táctica, que é o que indiscutivelmente mais importa na sua posição. Tudo dependerá da sua própria capacidade de aprendizagem e do acompanhamento que tiver, e o tempo dirá se esta será, ou não, uma aposta ganha por parte do Sporting (sendo certo que, do mesmo modo, ela podia ser igualmente feita com outros jogadores dos quadros do clube).

William - Relativamente a Adrien, tentou auxiliar mais a primeira linha de construção, e não se pode dizer que tenha sido mal sucedido nesse papel, em termos de desempenho técnico. No entanto, a frequência e qualidade desse envolvimento não foi aquela que a equipa necessitava para as características técnicas dos seus centrais, sendo esta uma critica mais colectiva do que individual. Claramente, e tal como já escrevi, parece-me menos vocacionado para actuar numa função mais simétrica (com bola) relativamente a Adrien, ficando a perder relativamente ao enquadramento que as suas características tinham com o modelo de Jardim. Sem bola, manteve-se mais posicional do que Adrien, e fez um jogo apenas regular nesse plano.

Adrien - Ontem escrevia relativamente à pouca influência dos médios do Sporting na presença em posse, e essa critica pode ser sustentada na baixíssima presença em posse de Adrien neste jogo. Sem bola, esteve sempre muito próximo de Enzo, notando-se a sua preocupação específica com a influência do argentino do Benfica. Com bola, porém, não esteve minimamente próximo de dar ao seu adversário o mesmo tipo de dor de cabeça, o que certamente lhe poderia ter provocado um desgaste muito maior. Mais uma vez, e tal como noutras exibições em jogos deste calibre, Adrien merece mais destaque pelas acções defensivas, do que propriamente pela sua presença em posse.

Nani - Não foi ainda, e nestes 2 jogos, o desequilibrador que dele se espera, embora estivesse perto de oferecer a Slimani o golo da vitória. Também não teve a intensidade e eficácia defensiva que é habitual nele nos jogos da Selecção. Espera-se, portanto, que melhore nestes pontos, sendo que para já traduziu apenas a sua mais valia pela capacidade de ter bola, sendo o jogador da equipa que mais passes completou, o que para um extremo não deixa de ser assinalável.

Carrillo - Voltou a repetir uma exibição importante neste inicio de época, estando bastante activo na criação de desequilíbrios. É, a este nível, o jogador com mais rendimento da equipa nesta abertura de campeonato, reavivando a esperança de que possa ser este o ano em que as suas exibições venham atingir a regularidade que à tanto tempo dele se espera.

André Martins - Não tem, neste modelo, uma posição semelhante à de Adrien, mas a minha critica não pode ser muito diferente. Pouca presença em posse, e pouca capacidade desequilíbrio. Neste último aspecto, de resto, prometeu bastante na pré-época mas ainda não correspondeu na época oficial, o que se torna mais problemático se considerarmos que, com Marco Silva, tem uma presença bem mais próxima das zonas de finalização, e por isso com mais responsabilidades na capacidade de desequilíbrio. Continua-me a parecer um jogador mais vocacionado para fases mais precoces do jogo...

Slimani - Se já havia a ideia de que com ele o Sporting ganharia outra agressividade e presença na zona de finalização, o derbi apenas serviu para reforçar essa convicção. Marcou um golo, mas com outra inspiração, e com as ocasiões que teve, poderia até ter feito uma exibição histórica no derbi. E é por aqui que, na minha perspectiva, está a diferença que nesta altura pode marcar em relação a Montero. Não tanto porque será mais eficaz na finalização, mas porque poderá fazer muito mais vezes as movimentações que a equipa precisa, nos sítios onde ela precisa. Veremos, mas se confirmar aquilo que mostrou neste jogo e nas aparições que já havia tido na época anterior, Slimani facilmente se tornará num nome determinante para o sucesso da equipa.

Capel -  Marco Silva voltou a refrescar os seus extremos por volta da hora de jogo, sem que houvesse propriamente justificação para tal. Num jogo em que se questiona tanto a falta de substituições por parte de Jesus, o exemplo da entrada de Capel é bem esclarecedor de como uma substituição, por si só, está muito longe de garantir qualquer melhoria ao rendimento da equipa...

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