22.6.14

A caminho do Maracanã #10

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Argentina - Irão
O resultado acabou por fugir ao Irão, mas não é pelo rasgo de inspiração final de Messi que este deixou de ser um dos mais surpreendentes jogos do Mundial, até à data. E, aqui, dividiria as coisas. Porque, uma coisa foi o que vimos na primeira parte, com a Argentina a ter muitas dificuldades em criar espaços, perante uma super densa equipa iraniana. Outra coisa, foi o que se passou após o intervalo, em que foi a formação asiática a criar as melhores ocasiões de golo. Isso sim, foi verdadeiramente inesperado!

Relativamente à Argentina, e um pouco em sentido contrário daquilo que comentava ontem sobre a França, estes primeiros jogos terão baixado muito as expectativas em torno desta equipa, e poucos serão aqueles que nesta altura acreditarão nas suas possibilidades de chegar até ao último dia deste torneio. Pessoalmente, não me desviaria muito das projecções iniciais, e desvalorizaria bastante o que se viu até aqui. As possibilidades de vitória jogar-se-ão em jogos de características muito diferentes, perante equipas que terão mais capacidade para ter bola, mas também que oferecerão outro espaço no momento de transição. É nesse perfil de jogo em que a Argentina terá de ser mais forte do que no passado, para poder atingir o sucesso, e eu até agora não vejo motivos para concluir que não o venha a ser. Na mesma linha do que penso sobre as hipóteses do Brasil, há que esperar...

Uma palavra sobre o Irão de Queiroz, que já tinha destacado como a equipa mais defensiva deste Mundial, num perfil que me parece ajustado ao seu contexto dentro desta competição. Individualmente, o Irão terá um dos conjuntos mais débeis desta prova, mas tem uma disciplina táctica superior a equipas do seu patamar, o que faz com que seja uma selecção mais difícil de ultrapassar. Sobre isto, é interessante realçar o caso de Queiroz. O treinador português tem agora 6 jogos em fases finais de campeonatos do mundo e 3 empates a zero, o que é algo muito improvável de conseguir. A este respeito, e fica a curiosidade, Queiroz esteve muito perto de igualar os recordistas de nulos em Mundiais, que são Antoni Piechniczek (seleccionador polaco em 82 e 86) e o mítico Helmut Schoen (seleccionador da Alemanha Federal, entre 66 e 78), ambos com 4 empates a zero. Queiroz terá pelo menos mais uma oportunidade...

Alemanha - Gana
Algumas surpresas neste jogo, que inevitavelmente servirá de ponto de comparação relativamente ao que aconteceu entre a Alemanha e Portugal. Isto, sobretudo, porque tal como Portugal, o Gana optou por assumir uma pressão mais alta, estendendo-se bastante no campo, em organização defensiva. Este parece-me um ponto decisivo naquilo que foi o curso do jogo, uma vez que a Alemanha teve até mais facilidade do que contra Portugal (antes da expulsão, obviamente) em encontrar soluções de passe entrelinhas, mas denotou depois muitas dificuldades em fazer o melhor aproveitamento dessa situação. Aqui, nota para as diferenças de rendimento da equipa depois da entrada de Klose, podendo-se destacar o acréscimo de uma solução de passe mais na profundidade, mas também o facto de nesta altura a pressão sobre o resultado ser muito maior, relativamente ao que sucedera na primeira parte. Seja como for, este foi um jogo que sempre deu a ideia de ter boas condições para que os germânicos se aproximassem muito do golo, mas isso apenas aconteceu na parte final da partida, o que parece indiciar a existência de algumas arestas por limar. É curioso porque o espaço entrelinhas foi um aspecto muito abordado no pós-jogo, frente a Portugal, mas como aqui escrevi também, e apesar desse espaço ter sido efectivamente explorado, as principais ocasiões alemãs não derivaram nunca desse ponto especifíco. Enfim, para o registo, e mais do que o empate, fica uma prestação alemã que me parece ter ficado bastante aquém do esperado, primeiro pela tal incapacidade de fazer um melhor aproveitamento das suas chegadas ao último terço, e depois pela dificuldade em controlar melhor o jogo, permitindo que este se partisse muito, o que frente a uma equipa como o Gana é sempre um risco. Aqui, não posso também excluir a hipótese de um efeito das condições climatéricas, com a Alemanha a juntar-se agora ao extenso leque de equipas mais fortes com dificuldades inesperadas em jogos frente a adversários que, à partida, não deveriam criar tantos problemas. E não me estou sequer a referir ao resultado...

Nigéria - Bósnia
Alguma desilusão pessoal com a eliminação bósnia. Do ponto de vista da qualidade de jogo, com bola, confirmou as boas indicações, mas acabou traída por uma resposta defensiva que, neste jogo em particular, acusou muitas dificuldades. Fica-me a ideia que poderá ter a ver com as condições climatéricas, já que houve sobretudo um défice de presença pressionante e capacidade de resposta individual perante as acelerações nigerianas na primeira parte. É verdade que o jogo foi equilibrado e que a Bósnia teve alguma infelicidade em vários momentos, mas também é inegável que à maior qualidade de construção bósnia não correspondeu o controlo do jogo que o seu plano de jogo certamente ambicionaria, pelo que o resultado ficou muito dependente de factores incontroláveis. Mantenho que a Bósnia é - ou, foi - uma das melhores equipas do Mundial no que respeita à sua ideia de jogo, mas o interesse do futebol e de uma prova como esta também passa pela imprevisibilidade...

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