30.6.14

A caminho do Maracanã #15 (Holanda - México)

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Devo começar por dizer que apreciei bastante este jogo. Porque o seu inicio nos presenteou com duas equipas que, jogando no mesmo sistema, mostraram dinâmicas substancialmente diferentes (uma melhor do que a outra, como explicarei mais abaixo), e porque depois do primeiro golo essas características se alteraram radicalmente, culminando num final que figurará certamente entre as histórias mais marcantes desta prova. Mas, vamos por pontos...

O 3-5-2, as suas implicações, e as diferenças entre as duas equipas
Na verdade, o sistema não é exactamente idêntico, entre México e Holanda, com uma diferença importante no papel dos médios. Enquanto que o médio central do México (no caso, Salcido) é o mais posicional, o da Holanda (Sneijder) era aquele que mais se aproximava dos avançados, podendo-se até falar em 3-4-3, na minha perspectiva. Enfim, para o caso isso não é muito relevante, porque aquilo que quero abordar passa sobretudo pelas implicações de jogar com 3 centrais, em particular na fase de construção. Esta opção, de ter 3 elementos na fase de construção tem-se revelado bastante proveitosa para as equipas que a têm utilizado neste Mundial, porque dificulta muito a missão de quem pressiona, sendo normalmente garantia de alguns metros de terreno, em termos de presença posicional de quem ataca. Neste sentido, e até por não ser uma opção exclusiva dos sistemas de 3 defesas, creio que será uma opção com tendência a ser cada vez mais explorada pelos treinadores nos próximos tempos, mais não seja pela propaganda que este Mundial tem sido a esse respeito.
Aqui, porém, há que traçar as diferenças entre o que fez o México e a Holanda. O México, bem mais preparado nas suas dinâmicas, com alas de maior vocação ofensiva, médios mais móveis no corredor central e, sobretudo, centrais com mais propensão para assumir o jogo em posse, nomeadamente na capacidade de provocar com bola, sempre que o espaço lhes é oferecido. A Holanda, por outro lado, a ter alas e médios demasiado posicionais e centrais pouco afoitos para provocar com bola, vendo ainda o seu 10 (Sneijder) a baixar para a fase de construção, o que reduziu depois o número de linhas de passe dentro do bloco adversário, por onde a Holanda praticamente nunca conseguiu jogar. Por aqui passou, na minha leitura, grande parte da diferença de qualidade entre México e Holanda, na primeira parte, com clara vantagem para as dinâmicas mexicanas. Já agora, é interessante o ponto contacto entre estes dois países, com 3 jogadores mexicanos (Salcido, Moreno e Rodriguez) a terem importantes passagens pelo futebol holandês, sendo todos eles centrais com capacidade de assumir o jogo em posse, uma característica tradicionalmente apreciada no futebol holandês.
Por fim, e sobre este sistema, notar que o principal motivo pelo qual os treinadores Van Gaal e Herrera o utilizam, e na minha interpretação, tem a ver com o momento de organização defensiva, e a possibilidade de acrescentar densidade numérica à sua linha mais recuada. O outro lado desta opção, porém, é que esta retira uma unidade de zonas mais adiantadas do terreno, o que tende a dificultar uma abordagem defensiva que pretenda ser mais pressionante numa extensão maior do terreno. A meu ver, desta implicação decorre o principal motivo pelo qual este continuará a ser um sistema de utilização residual no futebol europeu, onde o pressing alto faz todo o sentido para a generalidade das equipas, e também uma possível explicação para o seu sucesso neste Mundial, já que, devido às condições climatéricas, as equipas têm tido muitas dificuldades em manter um pressing alto eficaz, beneficiando claramente quem optou por priveligiar a protecção das suas zonas fundamentais, neste caso através de uma maior presença numérica.

Holanda, um candidato. Cheio de defeitos, é certo, mas um candidato!
Como escrevi acima, o futebol holandês foi tudo menos um modelo no que respeita às suas dinâmicas. No plano ofensivo, pelas razões que sumariamente descrevi, mas também no plano defensivo, onde não faltam pontos igualmente questionáveis, em especial no comportamento dos elementos dos sectores mais recuados. Mesmo depois do 0-1, e com a mudança táctica, a Holanda foi basicamente impulsiva, retirando bons frutos dessa abordagem, é certo, mas sem uma grande qualidade e organização no seu jogo. Fundamentalmente, tirou partido da incrível forma de Robben neste Mundial (dá ideia que a sua sensação térmica é sempre de menos 20ºC, relativamente aos outros jogadores!), e do esgotamento físico do meio campo mexicano, incapaz de responder à energia que os holandeses forçaram no jogo. E, claro, teve também a felicidade do seu lado.
Sobre isto, porém, quero deixar, como ponto de opinião, a ideia de que a Holanda pode, de facto, estar longe da perfeição relativamente à interpretação do sistema que escolheu, mas eu continuo a ver nesta uma excelente opção por parte de Van Gaal, para este Mundial, e já com muitos proveitos obtidos. Primeiro, porque a Holanda é realmente bastante medíocre nas suas unidades mais defensivas, e tentar mudar isso em 3 semanas de treino seria, provavelmente, uma utopia, servindo a densidade numérica dos 5 defesas para atenuar essa debilidade. Depois, pelas características desta competição, que era à partida especialmente difícil para a Holanda, que em face do sorteio da fase de grupos iria disputar vários jogos com equipas muito fortes tecnicamente e com uma grande presença em posse, sendo que Van Gaal montou uma ideia de jogo incomparavelmente mais forte a jogar a partir do momento de transição. Finalmente, e tal como escrevi acima, a questão do desgaste físico provocado pelo clima parece-me também ter favorecido este tipo de sistema, porque mesmo pedindo uma presença pressionante das suas unidades mais ofensivas, o equilíbrio numérico na sua zona mais recuada está sempre salvaguardado. Aliás, e apesar de ser uma selecção europeia, nada habituada a este tipo de condições, a Holanda tem sido das equipas menos penalizadas pelo factor climatérico neste Mundial, como aliás este jogo atestou muito bem, sendo que na minha leitura há uma grande importância da componente táctica na explicação deste "fenómeno". Em suma, mesmo com as debilidades tácticas que facilmente se lhe identificam, o facto é que a Holanda tem sido muito bem sucedida neste Mundial, estando já a 180 minutos de repetir nova final. Pessoalmente, e por tudo o que expliquei, estou convencido que se Van Gaal tivesse optado pelo seu sistema e modelo habituais, o mais provável é que estivesse nesta altura já a pensar na primeira jornada da Premier League 2014/15...

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29.6.14

A caminho do Maracanã #14

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Brasil - Chile
Por pouco não se dava mais um grande tombo - seria o maior de todos! - neste Mundial. O Brasil voltará a chamar a si todas as dúvidas e críticas sobre o seu futebol, que a quase ninguém impressiona. Ainda assim, volto a escrever o mesmo sobre este Brasil: realmente surpreendente seria se esta equipa apresentasse uma qualidade excepcional na sua presença em posse, e se essa limitação (que era conhecida) não foi suficiente para por em causa o favoritismo canarinho neste Mundial, então hoje este percurso terá de ser considerado natural e não surpreendente. Talvez a maior prova de força do Brasil seja facto de, mesmo sem impressionar ninguém, a equipa estar já a apenas 180 minutos da final...

Sobre o jogo, mais concretamente, diria que o Brasil teve uma boa entrada na partida, sobretudo com alguma astúcia do ponto de vista estratégico, na minha interpretação. Isto porque me parece ajustada a opção de não apostar tanto no condicionamento da primeira fase de construção chilena - que seria um objectivo mais complicado e arriscado - e optar, antes sim, por definir um bloco mais baixo, mas com uma grande presença pressionante sobre o jogo interior do Chile, por onde mais se orientava o futebol da equipa de Sampaoli. Ou seja, em vez de apostar tudo em ter bola, onde não é tão forte, o Brasil preferiu tentar potenciar o momento de transição, onde Neymar e Hulk são muito difíceis de parar. O jogo acabou por ter uma história bem diferente, é verdade, mas parece-me justo referir também que o Brasil conquistou, dentro desta sua abordagem ao jogo, uma situação que tinha tudo para lhe ser muito favorável na resolução da eliminatória. Isto porque chegou à vantagem, e mesmo sem ter bola, tinha o controlo sobre a circulação chilena, que nessa altura era mais um ponto de partida para as transições brasileiras do que propriamente para desequilíbrios do próprio Chile. Dentro desta perspectiva, facilmente se percebe a importância que atribuo ao golo do empate, primariamente oferecido pelos brasileiros. Porque se o jogo entrasse numa fase mais adiantada com a igualdade no marcador, o Brasil teria de assumir necessariamente outra postura, mais autoritária com bola, para a qual não está tão vocacionado, e porque o próprio Chile poderia, nesse contexto, corrigir alguns dos erros com que se ia deparando e controlar melhor o jogo, nomeadamente através da sua boa presença em posse. E, no fundo, foi isso mesmo que aconteceu...

Sobre o Chile, que sai agora da competição, devo dizer que, à luz do jogo que vira na fase de preparação (frente ao Egipto), tive receio de uma abordagem bem mais arriscada (ou suicida, para utilizar o termo de Vidal) relativamente ao posicionamento da sua linha defensiva. Sampaoli terá também percebido que esse não poderia ser o caminho, e a equipa chilena acabou por se apresentar mais cautelosa a esse nível, apesar de não ter abdicado nunca do seu arrojado pressing. Por outro lado, com bola e como era previsível, foi uma equipa difícil contrariar na sua circulação baixa, e com um grande foco na mobilidade dos seus avançados, nomeadamente sobre o corredor central. Em suma, foi uma boa equipa, que se bateu muito bem contra dois dos principais candidatos (por pouco não os eliminou aos dois!), é verdade, mas que também revelou algumas fragilidades, nomeadamente alguma dependência da criatividade de Alexis (que neste Mundial provou que poderia ser bem mais do que uma espécie de sombra de Messi) e, claro, o jogo aéreo, o capítulo que mais penalizou a equipa e que certamente continuaria a ser um forte handicap para as suas aspirações, caso tivesse tido outra sorte nos penáltis.

Colômbia - Uruguai
No segundo jogo desta espécie de Copa América em pleno do Mundial, a Colômbia partia com um favoritismo que à partida, confesso, me pareceu exagerado. Sem dúvida que era do seu lado que estavam as unidades mais criativas e com maior capacidade de desequilíbrio, e também não discordo da importância da ausência de Suarez, cujo peso especifico já tinha abordado aqui. Mas este podia também ser perfeitamente um jogo ao jeito do Uruguai, que mesmo sem os mesmo argumentos técnicos tinha capacidade para ser bem sucedido num jogo assente no condicionamento defensivo e no momento de transição, um papel onde tantas vezes esta equipa se deu bem. Há duas notas fundamentais para mim, sobre esta partida. A primeira para o posicionamento do bloco do Uruguai que, mesmo numa estratégia assumidamente mais cautelosa, me pareceu excessivamente baixo e limitador em termos de possibilidade de gerir também o jogo com bola, o que me parecia importante. A segunda, claro, para James Rodriguez. Porque, mesmo com todo o domínio territorial exercido, a verdade é que o Uruguai foi conservando um bom controlo defensivo sobre as ofensivas do seu adversário, que fundamentalmente havia repetido finalizações exteriores. No fim, o resultado oferece-nos o conforto de poder analisar o jogo partindo da certeza sobre a superioridade colombiana na partida, mas não fosse o génio - outra vez ele! - de James Rodriguez, e a verdade é que poderíamos perfeitamente ter assistido a uma partida muito diferente e de resultado bem mais incerto. Sobre James, de resto, parece-me que a sua candidatura a melhor jogador do Mundial está confirmada com mais esta exibição, não sendo de excluir um assédio ao jogador por parte dos principais emblemas europeus, assim termine o Mundial.

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28.6.14

A caminho do Maracanã #13 (Dados 1ª Fase)

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Dados Colectivos


Como nota prévia, devo referir que as fontes de recolha de dados não são as oficiais, pelo que eventuais diferenças com outros dados, derivarão desse facto.
Os dados pretendem, de um modo geral, ser auto-explicativos, pelo que não serão precisos grandes comentários. Ainda assim, nota para o facto de praticamente todas as equipas apuradas estarem no grupo de equipas com melhor % de ocasiões de golo nos respectivos jogos. As excepções são - para mal de Portugal - os Estados Unidos e a Nigéria. No caso dos Estados Unidos, houve sobretudo uma grande felicidade relativamente ao jogo com o Gana, onde a equipa americana conseguiu uma vitória decisiva fundamentalmente através de um grande aproveitamento das poucas ocasiões criadas. Relativamente à Nigéria, o jogo frente à Bósnia acabou por ser o factor determinante no apuramento. Ainda no grupo F, é interessante o caso do Irão de Carlos Queiroz, que apesar de ter sido a pior equipa em diversos indicadores, conseguiu um bom desempenho em termos de proximidade real com o golo, tanto em termos defensivos como ofensivos (o jogo com a Argentina será o caso mais evidente desta ideia).

Dados Individuais


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27.6.14

A caminho do Maracanã #12 (Portugal - Gana)

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O jogo com o Gana
Diz-se que este foi o melhor jogo de Portugal no Mundial, e até aqui creio que não haverá grande margem para discussão. Já me parecem menos consensuais, porém, muitas das explicações que tenho encontrado para as diferenças observadas. Em particular, estabelecer uma ligação directa entre as mudanças nas primeiras opções e as melhorias, tanto ao nível do resultado como da exibição, parece-me no mínimo forçado. O futebol é, já de si, um jogo demasiado complexo para este tipo de reducionismo, mas no caso há outros factores que neste jogo mudaram, relativamente aos anteriores. E não foram propriamente pormenores. O adversário, porque nem o Gana é a Alemanha, nem as suas dinâmicas causaram tantos problemas como as dos Estados Unidos. O sistema táctico, porque Paulo Bento apresentou um 4-1-3-2 (losango) que difere de todos os registos tácticos que havíamos visto até aqui. E, claro, o clima, porque Brasília era, particularmente ao nível da humidade, muito diferente dos dois cenários anteriores, sobretudo Manaus. Motivos mais do que suficientes, portanto, para que exista alguma prudência no isolamento de factores explicativos.

Quanto ao que se assistiu, pessoalmente saúdo a mudança táctica encetada, mesmo se obviamente haverá aspectos a aperfeiçoar em termos de dinâmicas colectivas. Sobretudo, e como já venho escrevendo há algum tempo, parece-me lógico que Ronaldo seja liberto de acompanhamentos defensivos sem que isso ponha em causa o equilíbrio estrutural da equipa, sendo que também é benéfica a sua mobilidade nas acções com bola, particularmente a maior proximidade do corredor central, seja como elemento de ligação, ou presença na zona de finalização. Haverá a tendência para culpabilizar Ronaldo pelos golos que não foi capaz de concretizar, mas eu tenho uma visão diferente. É certo que o acerto na finalização é decisivo para a definição dos resultados - não é isso que discuto, obviamente - mas na minha análise o que separou Ronaldo de uma exibição histórica terão sido apenas pormenores muito difíceis de controlar, sendo notável que tenha conseguido chamar a si tantas ocasiões claras de golo num só jogo (até agora e a esse nível, a exibição mais expressiva de um só jogador, neste Mundial). Enfim, não só por ele, mas muito por Ronaldo e pelas suas características, parece-me que este poderá ser um bom sistema a adoptar por parte da Selecção no futuro próximo.

Para além de Ronaldo, e do 4-1-3-2 (losango), e não me querendo alongar muito mais neste ponto, queria deixar outras notas sobre o jogo: 1) Para o comportamento da linha defensiva, que arriscou menos no seu adiantamento, permitindo que o jogo se partisse mais, mas mantendo-se mais organizada perto da área, onde contou sempre com a proximidade do pivot. 2) Para o papel de William, muito posicional e com uma exibição bastante conseguida, o que lhe deverá ter garantido a titularidade. 3) Para o regresso de Moutinho a uma exibição de grande intensidade, ao seu nível, apesar de ter tido alguns problemas ao nível do passe (a perda na origem do golo ganês é sua). 4) Para o péssimo jogo de Veloso em termos defensivos, repetindo as indicações deixadas no jogo com os Estados Unidos, nomeadamente ao nível do posicionamento e da falta de celeridade que denotou no encurtamento de espaços. 5) Para Eder, a outra exibição de muito baixa qualidade, sendo que Varela acabou por mostrar que também ele pode vir a ganhar espaço caso se opte por um sistema que peça maior mobilidade aos avançados.

As razões do mau Mundial, e o valor da equipa
Já se tem falado e escrito muito sobre os motivos do insucesso da campanha portuguesa, e creio que o tema ainda terá algumas semanas até ficar esgotado. Também já escrevi sobre isto, nomeadamente na sequência do jogo com os Estados Unidos, e correndo o risco de me repetir, destacaria estes dois pontos: 1) a especificidade da prova, que sendo de curta duração coloca sempre grande dependência em factores menos controláveis, havendo depois pouca margem para os corrigir. Ora, se há coisa que é fácil de encontrar na prestação portuguesa, são precisamente factores menos controláveis. 2) o desfasamento, a meu ver claro, entre as orientações tácticas do modelo português - nomeadamente a exigência física do pressing que pressupõe - e as condições climatéricas que os jogadores encontraram para o interpretar. Moutinho, por exemplo, destacou esse como o factor mais relevante para as diferenças na sua própria performance individual, o que vai de encontro à ideia que também já me ficara, sobretudo depois do jogo com os Estados Unidos. Poder-se-á aqui criticar a equipa técnica por não ter antecipado o problema, mas também é verdade que se viram poucos seleccionadores a ter essa visão, acabando por ser as selecções com menor arrojo de exposição espacial a ganhar com a situação.

Há, agora e em face do insucesso, a tendência para se desvalorizar potencial da equipa, colocando-a num patamar mediano, tal como assumiu o próprio Ronaldo, numas declarações a meu ver muito infelizes. Dada a especificidade do contexto e a aleatoriedade própria do jogo, não creio que este Mundial seja um motivo para que se mude muito a avaliação que era feita sobre esta equipa, da mesma forma que o Mundial de 2002 não serviu para concluir que todos aqueles jogadores não prestavam. Se começasse hoje o Mundial da Rússia, e com estas mesmas equipas, eu voltaria a colocar a Espanha entre o leque dos principais favoritos, e Portugal entre as equipas com uma palavra a dizer. A minha convicção só seria afectada se, de novo, o cenário fosse nos trópicos.

Paulo Bento e o futuro
Sobre Paulo Bento, devo dizer em primeiro lugar que penso que tanto a Federação como o próprio treinador teriam a ganhar se tivessem decidido antecipadamente por uma mudança de ciclo, após o Brasil. Não tem a ver com o treinador ou com a Federação, tem a ver com a cultura do país, onde o desgaste sobre os treinadores se acumula rapidamente, e quase sempre através de criticas muito forçadas. A decisão, porém, foi exactamente a oposta, e também não vejo especiais problemas por isso. Haveria outras soluções com capacidade para orientar a Selecção, sem dúvida, mas vejo com grande cepticismo a hipótese de se darem grandes melhorias apenas pela alteração do treinador. Pelo contrário, acho que o risco de haver um retrocesso até será grande, quando chegar a hora de escolher o seu sucessor. Pelo menos, é isso que me é sugerido quando olho para a lista dos seleccionadores que antecederam Paulo Bento.

Mais importante - bem mais importante! - do que a questão do seleccionador, é a questão do futuro da Selecção, em termos de jogadores. Todos estão alarmados com a falta de soluções de qualidade em gerações mais jovens, e eu não fujo a essa regra, sendo-me difícil antever outro cenário que não seja uma queda acentuada de qualidade na Selecção, e num prazo temporal já não muito distante. Sobre isto, porém, gostaria de acrescentar alguns pontos: 1) Esta equipa - que, reforço a ideia, me parece ter bastante qualidade - deverá ainda ter condições para fazer o próximo ciclo, que terminará em 2016, pelo que até lá e salvo qualquer imprevisto, ainda deverá haver motivos para ter boas expectativas relativamente ao desempenho da Selecção. 2) No futebol, as coisas mudam muito mais rapidamente do que pensamos, e se melhor exemplo fosse preciso, basta olhar para o que sucedeu em 2002, quando uma geração fantástica de jogadores parecia terminado o seu ciclo. A esse Mundial não foram Miguel, Ricardo Carvalho, Costinha, Maniche, Deco e Cristiano Ronaldo, mas a verdade é que todos eles foram titulares na final do Europeu, apenas dois anos depois, dando inicio a uma nova geração que, embora não tivesse um rótulo dourado a embalá-la, acabou por atingir resultados muito mais consistentes do que os talentos anteriores. Isto não quer dizer que seja lógico esperar que nova fornada de jogadores surja do nada, mas no futebol nem sempre o facto de não vermos qualquer luz ao fundo do túnel significa que não exista uma saída surpreendente prestes a aparecer. 3) A exigência em torno de Portugal aumentou muito nos últimos 20 anos, e hoje estamo-nos permanentemente a comparar com as melhores selecções da Europa, o que no passado era relativamente absurdo. Sobre isto, parece-me possível perspectivar boas, e por vezes até óptimas equipas, mas já não me parece muito realista a comparação com o leque de seleccionáveis de países muito mais populosos, e com uma base de praticantes incomparavelmente superior. Ou seja, será possível formar equipas competitivas, centradas em elites de 10-20 jogadores, sem dúvida, mas não me parece aconselhável pensar o futebol português com o objectivo de ser uma potência europeia, que pela sua dimensão natural, nunca poderá ser.

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23.6.14

A caminho do Maracanã #11 (EUA - Portugal)

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Há muito para dizer sobre o que aconteceu em Manaus, mas começaria pelo resultado, que me parece justo em face das ocasiões que ambas as equipas criaram, embora estas tenham tido prestações muito diferentes, com Portugal a sentir muito mais dificuldades do ponto de vista da organização e consistência colectiva. A este respeito, de resto, a exibição portuguesa foi absolutamente desastrosa, e até difícil de acreditar. E é sobre isto que, a meu ver, mais importa reflectir...

Mundial 2014, um universo paralelo?
À primeira vista, e olhando para este jogo, dir-se-ia que Portugal é uma equipa com enormes fragilidades defensivas, sobretudo a nível individual, tendo uma proposta de jogo completamente desajustada à sua realidade. Mas isso era se víssemos apenas este jogo. Já vimos outros, sendo o Euro'2012 o exemplo mais fácil de relembrar, onde esta mesma equipa sentiu menos problemas frente às duas melhores selecções europeias (Alemanha e Espanha), juntas e em 210 minutos, do que em 90 minutos frente aos Estados Unidos, neste Mundial. Depois, este também não é um problema singular da equipa portuguesa, mas transversal ao que se tem visto em praticamente toda esta prova. Ainda ontem escrevia sobre isso, e praticamente todos os dias somos surpreendidos com incidências altamente surpreendentes, em jogos onde o desnível esperado entre as equipas é enorme, mas em que depois o que se passa em campo diverge completamente dessa expectativa. A Espanha será o exemplo mais evidente, e em sentido contrário o da Costa Rica, mas esses serão sobretudo os casos em que o resultado acabou por ser claramente afectado, porque também já assistimos a jogos absolutamente inesperados onde o desfecho acabou por não ser tão chocante, como o Austrália - Holanda, o Alemanha - Gana ou o Argentina - Irão, só para citar alguns exemplos. Ora, é-me muito difícil explicar qualquer destes fenómenos que se vêm sucedendo, mas ao considerá-los a todos em conjunto torna-se muito plausível a existência de um factor comum entre todos, que creio terá a ver com as condições climatéricas que as equipas têm encontrado. E, aqui, há outro ponto característico deste Mundial, e que tem a ver com as dificuldades que as equipas vêm sentido para manter uma atitude pressionante eficaz. Não me lembro de ter visto nenhuma equipa a conseguir grandes proveitos de uma estratégia mais pressionante sobre a posse contrária (eventualmente com resultados pontuais, como no caso do Chile), e inúmeras vezes tem-se assistido mesmo a problemas de agressividade e ajustamento posicional dentro do próprio bloco defensivo. Neste último caso, o exemplo de Portugal neste jogo será dos mais flagrantes.

Portugal: Péssimo ajuste estratégico
Em face do que escrevi acima, parece-me que Portugal - conjuntamente com outras selecções europeias - será das equipas mais afectadas por esta aparente condicionante em que se disputa o Mundial. O modelo táctico português é completamente dependente do pressing. A equipa propõe-se pressionar qualquer adversário em praticamente toda a extensão do terreno, e mesmo em zonas mais baixas existe uma orientação muito forte para que a equipa mantenha uma atitude permanentemente pressionante, inclusivamente com a linha defensiva a aproximar-se muito da linha média. Ora, se os jogadores não conseguem pressionar os adversários, se chegam sempre tarde na contenção sobre o portador da bola, é inevitável que se criem muitos espaços disponíveis para ser explorados, e foi isso que na minha leitura sucedeu frente aos Estados Unidos. A nível individual, podemos encontrar um excelente exemplo deste problema nas exibições de Moutinho, que é um jogador normalmente fulcral na dinâmica defensiva portuguesa, exactamente pela sua invulgar capacidade de preenchimento de espaços numa área muito alargada, mas que neste Mundial tem surgido absolutamente irreconhecível a esse nível, perdendo diversas vezes o seu enquadramento posicional ao longo das jogadas.

Nesta realidade, diria, Portugal, assim como outras selecções terão negligenciado os efeitos das condições climatéricas na eficácia da implementação da sua proposta de jogo. Paulo Bento afirmou que a equipa não tinha apostado num pressing alto, mas se olharmos às incidências do jogo, vemos que as cautelas do treinador português foram ainda demasiado aventureiras para aquilo que era recomendável, com vários jogadores a serem atraídos pela circulação adversária, e a perderem posição por não serem capazes de ser eficazes em termos de condicionamento pressionante. A este nível, por exemplo, os Estados Unidos fizeram um jogo incomparavelmente mais adequado, com um jogo posicional muito mais equilibrado e também com maior densidade numérica na zona média. É verdade que na segunda parte a equipa portuguesa melhorou (paradoxalmente, foi quando sofreu os dois golos), mas fê-lo jogando num sistema e num comportamento a que está pouco habituada, cometendo alguns erros de posicionamento que lhe foram fatais (tal como tento evidenciar no vídeo).

O que fazer contra o Gana?
Portugal está numa situação que, não sendo impossível, é seguramente bastante difícil. Se este Mundial estivesse a ser jogado em condições normais, não me pareceria tão inverosímil assim o cenário de que Portugal precisa, mas neste momento eu nem sequer daria por garantido que a Alemanha vença os Estados Unidos, que à partida seria um encontro francamente desnivelado.
De todo o modo, e apesar do que escrevi acima, penso que Portugal não terá outra possibilidade que não seja apostar tudo na sua ideia de jogo, nomeadamente no condicionamento pressionante que tanto a tem deixado ficar mal. Portugal precisa de um jogo excepcional frente ao Gana, e a sua melhor chance de o conseguir será seguramente através da forma para a qual está preparado para jogar. Brasília será certamente muito diferente de Manaus, ou mesmo de Salvador, e resta esperar que a equipa possa, nessas condições, encontrar maior eficácia na implementação do sua ideia de jogo. Com William no meio campo, porque entrou muito bem, e Veloso à esquerda, porque Portugal precisa de golos e não há outra solução. Mais do que a qualificação, diria, Portugal joga frente ao Gana boa parte do seu brio, e não há tempo para se reinventar até lá.

Depois do Mundial, e não sabemos ainda que implicações esta prestação virá a ter, há alguns aspectos que merecem revisão. Sendo certo que não é preciso colocar tudo em causa, até porque como escrevi parece-me haver aqui um enorme efeito do contexto competitivo, parece-me claro que se deverá pelo menos rever a forma como Portugal se defende ao longo do corredor esquerdo. 

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22.6.14

A caminho do Maracanã #10

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Argentina - Irão
O resultado acabou por fugir ao Irão, mas não é pelo rasgo de inspiração final de Messi que este deixou de ser um dos mais surpreendentes jogos do Mundial, até à data. E, aqui, dividiria as coisas. Porque, uma coisa foi o que vimos na primeira parte, com a Argentina a ter muitas dificuldades em criar espaços, perante uma super densa equipa iraniana. Outra coisa, foi o que se passou após o intervalo, em que foi a formação asiática a criar as melhores ocasiões de golo. Isso sim, foi verdadeiramente inesperado!

Relativamente à Argentina, e um pouco em sentido contrário daquilo que comentava ontem sobre a França, estes primeiros jogos terão baixado muito as expectativas em torno desta equipa, e poucos serão aqueles que nesta altura acreditarão nas suas possibilidades de chegar até ao último dia deste torneio. Pessoalmente, não me desviaria muito das projecções iniciais, e desvalorizaria bastante o que se viu até aqui. As possibilidades de vitória jogar-se-ão em jogos de características muito diferentes, perante equipas que terão mais capacidade para ter bola, mas também que oferecerão outro espaço no momento de transição. É nesse perfil de jogo em que a Argentina terá de ser mais forte do que no passado, para poder atingir o sucesso, e eu até agora não vejo motivos para concluir que não o venha a ser. Na mesma linha do que penso sobre as hipóteses do Brasil, há que esperar...

Uma palavra sobre o Irão de Queiroz, que já tinha destacado como a equipa mais defensiva deste Mundial, num perfil que me parece ajustado ao seu contexto dentro desta competição. Individualmente, o Irão terá um dos conjuntos mais débeis desta prova, mas tem uma disciplina táctica superior a equipas do seu patamar, o que faz com que seja uma selecção mais difícil de ultrapassar. Sobre isto, é interessante realçar o caso de Queiroz. O treinador português tem agora 6 jogos em fases finais de campeonatos do mundo e 3 empates a zero, o que é algo muito improvável de conseguir. A este respeito, e fica a curiosidade, Queiroz esteve muito perto de igualar os recordistas de nulos em Mundiais, que são Antoni Piechniczek (seleccionador polaco em 82 e 86) e o mítico Helmut Schoen (seleccionador da Alemanha Federal, entre 66 e 78), ambos com 4 empates a zero. Queiroz terá pelo menos mais uma oportunidade...

Alemanha - Gana
Algumas surpresas neste jogo, que inevitavelmente servirá de ponto de comparação relativamente ao que aconteceu entre a Alemanha e Portugal. Isto, sobretudo, porque tal como Portugal, o Gana optou por assumir uma pressão mais alta, estendendo-se bastante no campo, em organização defensiva. Este parece-me um ponto decisivo naquilo que foi o curso do jogo, uma vez que a Alemanha teve até mais facilidade do que contra Portugal (antes da expulsão, obviamente) em encontrar soluções de passe entrelinhas, mas denotou depois muitas dificuldades em fazer o melhor aproveitamento dessa situação. Aqui, nota para as diferenças de rendimento da equipa depois da entrada de Klose, podendo-se destacar o acréscimo de uma solução de passe mais na profundidade, mas também o facto de nesta altura a pressão sobre o resultado ser muito maior, relativamente ao que sucedera na primeira parte. Seja como for, este foi um jogo que sempre deu a ideia de ter boas condições para que os germânicos se aproximassem muito do golo, mas isso apenas aconteceu na parte final da partida, o que parece indiciar a existência de algumas arestas por limar. É curioso porque o espaço entrelinhas foi um aspecto muito abordado no pós-jogo, frente a Portugal, mas como aqui escrevi também, e apesar desse espaço ter sido efectivamente explorado, as principais ocasiões alemãs não derivaram nunca desse ponto especifíco. Enfim, para o registo, e mais do que o empate, fica uma prestação alemã que me parece ter ficado bastante aquém do esperado, primeiro pela tal incapacidade de fazer um melhor aproveitamento das suas chegadas ao último terço, e depois pela dificuldade em controlar melhor o jogo, permitindo que este se partisse muito, o que frente a uma equipa como o Gana é sempre um risco. Aqui, não posso também excluir a hipótese de um efeito das condições climatéricas, com a Alemanha a juntar-se agora ao extenso leque de equipas mais fortes com dificuldades inesperadas em jogos frente a adversários que, à partida, não deveriam criar tantos problemas. E não me estou sequer a referir ao resultado...

Nigéria - Bósnia
Alguma desilusão pessoal com a eliminação bósnia. Do ponto de vista da qualidade de jogo, com bola, confirmou as boas indicações, mas acabou traída por uma resposta defensiva que, neste jogo em particular, acusou muitas dificuldades. Fica-me a ideia que poderá ter a ver com as condições climatéricas, já que houve sobretudo um défice de presença pressionante e capacidade de resposta individual perante as acelerações nigerianas na primeira parte. É verdade que o jogo foi equilibrado e que a Bósnia teve alguma infelicidade em vários momentos, mas também é inegável que à maior qualidade de construção bósnia não correspondeu o controlo do jogo que o seu plano de jogo certamente ambicionaria, pelo que o resultado ficou muito dependente de factores incontroláveis. Mantenho que a Bósnia é - ou, foi - uma das melhores equipas do Mundial no que respeita à sua ideia de jogo, mas o interesse do futebol e de uma prova como esta também passa pela imprevisibilidade...

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21.6.14

A caminho do Maracanã #9

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Itália - Costa Rica
Novo jogo, nova surpresa, e igualmente com justiça face àquilo que as duas equipas produziram.
Do ponto de vista táctico, diria que depois de termos visto a equipa espanhola a não ser capaz de tirar partido da exposição interior do seu adversário (Chile), agora vimos algo igualmente inesperado, com a Itália a não ser capaz de tirar partido da profundidade, oferecida pelo posicionamento da linha defensiva costarriquenha. E nem era preciso recordar Inzaghi, que tantas vezes fez mossa a jogar no limite do fora de jogo, porque o futebol italiano continua a ter alguns intérpretes muito fortes nesse tipo de movimento, sendo que provavelmente Balotelli não seria o jogador mais indicado para tal especificidade. Pegando neste e noutros aspectos, fica-me a ideia de que houve uma má preparação específica da Itália para este adversário. Pela falta de soluções criadas no espaço entrelinhas, para poder dar sequência à sua tão característica circulação baixa (Cassano entrou para tentar corrigir isso, na segunda parte), e pela falta de esclarecimento na tal definição das jogadas perante a linha defensiva da Costa Rica, com bastantes decisões pouco conseguidas e sobretudo uma incompreensível falta de concentração de alguns jogadores relativamente ao fora de jogo, sendo que na maioria dos casos essas situações ocorreram em situações junto às linhas laterais, onde havia a possibilidade de controlar a linha defensiva e não existia sequer a necessidade de antecipar o movimento de rotura. Enfim, foi a meu ver uma grande oportunidade perdida para a Itália, que continua a revelar muita capacidade para ter bola em zonas mais baixas, mas que parece bem menos esclarecida relativamente às suas soluções colectivas no último terço. Para além disto, há ainda a questão do pressing defensivo, que voltou a parecer-me pouco intenso e muito demasiado perante a circulação adversária, o que impede a Itália de ser uma equipa com a presença posse que a sua capacidade para ter bola sugere. Tudo considerado, e se não corrigir alguns destes aspectos, a Itália corre sérios riscos de ser eliminada no jogo frente ao Uruguai, que tem uma intensidade muito superior, colocando em sério risco um apuramento que, depois da vitória frente à Inglaterra, tinha tudo para ser confirmado.

Suíça - França
Com esta exibição, não tenho dúvidas, a França deixará de ser olhada com a desconfiança que ainda lhe sobrava de 2010, para gerar grandes expectativas em praticamente todos. Não vou dizer que a goleada fosse previsível, mas não me confesso surpreendido pelas dificuldades impostas à equipa suíça. Os helvéticos já haviam revelado grandes dificuldades na dinamização do seu jogo, frente ao Equador, e sendo o adversário a França esse nível de exigência certamente aumentaria muito. Confirmaram-se, pois, as dificuldades de ligação no jogo suíço, com erros que potenciaram as transições gaulesas, mas como se viu o problema esteve longe de se ficar por aqui. A França não terá o requinte técnico de outras equipas, nem tão pouco a mais culta tacticamente, mas tem outras virtudes que a tornam temível e difícil de contrariar. Com a saída da Espanha, será provavelmente a segunda maior candidatura entre os europeus, e já não surpreenderá ninguém se chegar até ao fim desta escalada...

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20.6.14

A caminho do Maracanã #8

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Colômbia - Costa do Marfim
Ambas tinham armas para poder acreditar na vitória, e a esse nível parece-me que os valores até eram bastante próximos. Mas, na prática, foi a Colômbia quem esteve quase sempre melhor, nomeadamente por ter mais capacidade para estrategicamente explorar o momento de transição, em particular na potenciação do erro adversário, assim como no rápido aproveitamento dos espaços.

No que respeita à Colômbia, será sempre uma equipa complicada de contrariar devido à forma como se protege através de uma estratégia de baixo risco, e depois potencia as suas hipóteses de sucesso pela qualidade individual que tem. E aqui, na qualidade individual, nenhum nome sobressai mais do que James Rodriguez. Já o tinha destacado como a unidade chave do modelo colombiano, mas James foi ainda mais longe na transversalidade da sua influência, marcando um inesperado golo de cabeça e identificando muito bem a oportunidade de pressão, para protagonizar a intercepção decisiva para o segundo golo. Mudando de contexto, continuo a manter a opinião de que foi provavelmente o primeiro motivo para a diferença de rendimento da época portista. Um craque!

Uruguai - Inglaterra
Muito melhor o Uruguai, a recolocar-se em posição para atacar uma qualificação que, ainda assim, continua difícil. Dois aspectos chave, a meu ver, na exibição da 'Celeste': primeiro, uma atitude mais arrojada em termos de pressing. Depois, claro, Luis Suarez! Havia referido que boa parte das dificuldades de rendimento no jogo frente à Costa Rica tinham de estar ligadas à ausência de um jogador com a sua qualidade, e ao ver a forma como se movimenta para ganhar espaços essenciais, creio que quaisquer dúvidas ficam desfeitas. Ainda a este respeito, destacaria o timing do seu movimento para o primeiro golo, convergindo na perfeição com a leitura que Cavani estava a fazer o lance. Perfeito!

Quanto à Inglaterra, e salvo uma conjugação agora muito improvável de resultados, trará do Brasil mais uma desilusão para juntar a um currículo cada vez mais penoso. A equipa, é bom ressalvar, perde dois jogos equilibrados e onde facilmente poderia ter conhecido outro destino, mas a questão não me parece ser essa. A questão é, antes sim, que a Inglaterra falha sistematicamente em ter uma abordagem que tacticamente ajude a potenciar a qualidade que, apesar de tudo, os seus recursos sempre lhe vão oferecendo. Desta vez, há uma série de equívocos de que já escrevera na antevisão, e que não vale a pena repetir. Fala-se, agora, da juventude e no potencial da sua nova geração. Para quem tem memória, porém, dificilmente o entusiasmo poderá ser muito, se recordarmos os resultados de gerações que combinaram Beckham, Shearer, Owen e Scholes, ou Gerrard, Lampard, Terry e Rooney. Nesta perspectiva, parece-me difícil ficar muito entusiasmado com as promessas de Sturridge, Sterling ou Welbeck...

Japão - Grécia
Seguramente, um dos jogos menos entretidos do Mundial, até agora. A atitude reflexa passará por associar a Grécia a mais um jogo mais fechado, mas eu pergunto qual das equipas merecerá mais responsabilidades por não ter conseguido maior proximidade com o golo? A resposta, olhando para o jogo e para os recursos individuais, tem indiscutivelmente de apontar para o lado nipónico. Foi o Japão quem usufruiu de superioridade numérica durante mais de metade do jogo, e era também do seu lado que estavam os principais recursos criativos do jogo. A propósito, será que Zaccheroni concluiu que o problema da sua dificuldade em integrar, ao mesmo tempo, Honda e Kagawa, se resolvia com a retirada de um dos dois? Ironias à parte, esta equipa do Japão tem confirmado a ideia que partilhei na antevisão e de que se trataria de uma das mais sobrevalorizadas equipas da competição. Mesmo jogando contra uma Colômbia possivelmente desfalcada, as suas hipóteses são agora muito remotas. Quanto à Grécia, e em sentido contrário, não posso ter outra coisa se não respeito por esta equipa, que é de longe a mais modesta das participantes europeias, mas que tem a seu favor uma proposta de jogo que me parece bastante ajustada às suas características. A Grécia, do meu ponto de vista, teve dois jogos bastante ingratos, primeiro sendo muito penalizada pela eficácia, frente à Colômbia, e agora vendo-se reduzida a 10 jogadores durante mais de meio jogo. E, ainda assim, as suas hipóteses de qualificação permanecem perfeitamente em aberto...

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19.6.14

A caminho do Maracanã #7

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Austrália - Holanda
O resultado acabou por convergir para a expectativa inicial de vitória holandesa, mas nem por isso este deixa de ser um jogo surpreendente. E, aqui, mesmo desconsiderando o bom jogo frente à Espanha, esperar-se-ia sempre mais dos holandeses, cuja diferença de valor para a equipa australiana é demasiada para que tivesse de passar por este tipo de sobressaltos. Do lado holandês, ficou confirmada a vocação desta equipa para actuar em transição, assim como algumas dificuldades para fazer da sua circulação baixa uma arma de afirmação no jogo. Mesmo frente a uma equipa com poucos recursos como é a Austrália, e mesmo com um modelo que contempla uma elevada presença no inicio de construção (também já havia escrito sobre isto na antevisão, mas mesmo assim foi uma surpresa). A verdade é que a posse, para a Holanda, trouxe sempre mais risco defensivo (devido aos erros e perdas que foi acumulando, e que potenciaram o próprio descontrolo defensivo) do que potencial ofensivo. Em suma, desta Holanda poderemos sobretudo esperar uma grande força no momento de transição, restando perceber até que ponto os desafios que encontrará se encaixarão, ou não, neste perfil. Para já, e apesar do mau jogo frente à Austrália, o saldo é francamente positivo.

Espanha - Chile
Tinha escrito aqui que me parecia perfeitamente possível uma recuperação espanhola, mas a realidade encarregou-se de mostrar o quão desmesuradamente optimista era essa minha expectativa. Sei que por aí não faltarão fatos à medida, a explicar como tudo era, afinal, um destino mais do que anunciado e à vista de todos. A começar pelos pecados do treinador - o mesmo que conduziu a equipa nas 2 vitórias anteriores - e a acabar no novo mito, do efeito maniqueísta da influência de Guardiola na selecção espanhola - como se Guardiola fosse treinador do Barcelona quando esta onda de vitórias começou, em 2008. Para mim, confesso, tudo isto me parece muito estranho e difícil de explicar. Em particular, é-me difícil perceber o volume de erros técnicos numa equipa com tanta qualidade a esse nível, sendo que foi precisamente pela vulnerabilidade em posse que a Espanha começou a definir a sua derrota. Enfim, com ou sem mistério, sai de cena, e de forma absolutamente inesperada, uma das melhores selecções do mundo, sendo que não tenho dúvidas que o continuará a ser no futuro próximo, muito provavelmente ainda com boa parte dos jogadores que fizeram parte deste fiasco. É uma saída que penaliza claramente o nível da competição, mas um Mundial é isto mesmo: é ver quem ganha e não quem é melhor!

Surpreenderia sempre a impotência revelada pelos espanhóis no jogo de ontem, mas para mim surpreende ainda mais tendo esta acontecido frente a uma selecção que é descrita por um dos seus principais jogadores como "tacticamente suicída". E, de facto, é muito isso que o Chile é, ainda que se tenham observado mais cautelas na exposição da sua linha defensiva, relativamente ao que fez noutras ocasiões. No futebol tudo é sempre possível, mas continuo a ver na equipa chilena algum talento (com Alexis à cabeça), é verdade, mas também muitas limitações na sua abordagem táctica, o que não me faz estar optimista quanto à chegada da equipa até às fases terminais da prova. Para já, jogará um interessante 3º jogo frente à Holanda, que definirá quem vai defrontar o Brasil nos oitavos. É uma partida que tenho dificuldade em antever. Por um lado, a transição holandesa tem tudo para provocar estragos, mesmo que Van Persie não possa jogar. Por outro, o pressing impulsivo do Chile poderá produzir frutos, caso a defensiva holandesa mantenha a displicência com bola, revelada frente à Austrália.

Camarões - Croácia
Não vou sugerir a introdução de regras radicais, mas creio que todos teriam ficado a ganhar se simplesmente fosse possível desclassificar os Camarões. Não pela baixa competitividade, até porque haverá equipas bem piores a esse nível, mas antes pelo triste espectáculo que é ver em campo, num Mundial, uma equipa que tem menos de colectivo do que um grupo de miúdos a jogar no intervalo de almoço. Foi tudo mau, desde a expulsão à disposição táctica 'kamikaze' da equipa, na segunda parte, mas nada ultrapassa a tentativa de agressão entre dois jogadores da mesma equipa que, suspeito, deverá ter sido uma estreia em fases finais de campeonatos do mundo. É uma péssima imagem para os jogadores, para a competição, e para o próprio país, que já tem problemas (e a sério!) de sobra para ainda ter de levar com este espectáculo dos seus mais mediáticos representantes.

Quanto à Croácia, mesmo com a goleada vou ter de continuar a ser crítico. Mais uma vez, um bloco muito expectante, e uma valorização muito pobre da posse de bola (aliás, é notável, porque foi preciso os Camarões ficarem com 10 para que a selecção de Rakitic e Modric ficasse com uma % de tempo de posse de bola superior ao seu adversário!). Não vou dizer que este será o pior modelo do Mundial, mas parece-me ser aquele que mais se afasta das virtudes das individualidades que tem ao seu dispor. Se mantiver a abordagem frente ao México, vai seguramente passar a maior parte do tempo a ver o seu adversário jogar, sendo que esta nem sequer é uma equipa especialmente talhada para o momento de transição. Restar-lhe-á, portanto, o talento individual e os pormenores...

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18.6.14

A caminho do Maracanã #6

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Bélgica - Argélia
É curioso o caso belga, porque nenhuma equipa pode ser considerada uma revelação se todos tiverem antecipadamente essa expectativa. Ou seja, Bélgica não será uma selecção que surpreenderá se tiver uma excelente prestação, sê-lo-á sim se isso não acontecer. Para já, porém, a sua estreia foi certamente uma das principais desilusões da primeira ronda, e isto mesmo tendo conseguido resgatar a vitória. Pessoalmente, e tendo em conta aquilo que vi na preparação, não me posso considerar supreendido pela exibição ou vitória belgas. A exibição, porque como escrevi na antevisão, já se adivinhavam dificuldades perante equipas muito fechadas. A vitória, porque apesar de não esperar um grande jogo da Bélgica, a diferença de valores era tal que mesmo assim esse era o desfecho incomparavelmente mais provável. Destaque claro, na exibição belga, para o impacto da entrada de Fellaini, oferecendo à equipa uma solução de jogo mais directo que ajudou a contornar as dificuldades que esta havia sentido numa abordagem mais apoiada, ao último terço ofensivo.

Menos previsível, para mim, foi a exibição da Argélia, que havia tido outra postura - mais aventureira - na preparação. A estrutura foi a mesma, e o onze base também não surpreendeu, mas o risco assumido foi completamente diferente, nomeadamente com um bloco muito expectante e baixo. Não se pode dizer, ainda assim, que este fosse um cenário a excluir, já que o contexto de dificuldade sugeria uma abordagem mais cautelosa. Será interessante ver até que ponto a Argélia irá repetir este tipo de estratégia nos próximos jogos, sendo que se isso não acontecer, me parece provável que vejamos um grau de exposição muito maior por parte dos argelinos, pelo menos a fazer fé naquilo que pude ver na preparação...

Brasil - México
Segundo jogo de pouco entusiasmo do Brasil, desta vez mesmo a valer a perda de 2 pontos. Há um aspecto que me parece interessante explorar e que tem a ver com a gestão do jogo e do risco por parte de Scolari. O treinador brasileiro foi prudente nas alterações, nomeadamente nunca acrescentando grande risco, o que como era previsível não agradou à esmagadora maioria dos adeptos. Pessoalmente, tendo a concordar com alguma prudência por parte do seleccionador, nomeadamente não aumentando o risco de derrota, já que o Brasil teria bem mais a perder com uma derrota do que a ganhar com uma vitória. Quanto à qualidade do jogo brasileiro, que está a decepcionar a maioria, parece-me que não era de esperar muito mais da equipa neste Mundial, e que isso não retira o Brasil do topo dos favoritos.

Mais interessante do que o Brasil, na minha perspectiva, é analisar o jogo do ponto de vista mexicano. Não sou um adepto deste sistema, mas penso que a equipa mexicana tem aquilo que é mais importante, que é uma identidade própria e bem definida. Naturalmente, não foi fácil fazê-lo, e o Brasil poderia facilmente ter ganho o jogo se tivesse concretizado uma das boas ocasiões criadas, mas os mexicanos apareceram no jogo apostados em jogar o seu jogo, de acordo com as suas ideias, acabando por criar muitos problemas a um adversário que lhe é incomparavelmente superior. Aqui, não resisto em fazer um paralelismo com aquilo que fez a Croácia no jogo inaugural, que com recursos bem mais fortes do ponto de vista individual, não conseguiu nunca dividir o jogo como fizeram os mexicanos, nomeadamente escolhendo uma postura reactiva e submissa e raramente controlando o jogo pela posse. Finalmente, sobre o México, parece-me claro que grande parte da sua capacidade ofensiva podia ser maximizada com a simples introdução de 'Chicharito' Hernandez, já que é um jogador muito mais forte nos movimentos de apelo à profundidade, criando muito mais soluções de passe aos médios e muito mais problemas de controlo aos defensores. Com Hernandez de inicio, estou em crer que este México podia aspirar a voos muito mais altos neste Mundial.

Fim da 1ª ronda: muitos golos!
A expectativa passava por que tivéssemos 40 golos nos primeiros 16 jogos da primeira ronda. Tivemos 49, mais 9. Ora, isto sugere que estamos a ter um Mundial inesperadamente ofensivo, com mais prevalência dos ataques, relativamente ao que se esperava. Mas não creio que foi isso que realmente se passou. Segundo a minha análise (e critério), tivemos exactamente 100 ocasiões claras de golo, o que quer dizer que o aproveitamento das mesmas esteve na ordem dos 49%. Tal como tenho defendido aqui, e de acordo com outras análises, este indicador deverá ser relativamente estável a prazo, não ultrapassando os 40%. Ou seja, se a capacidade de desequilíbrio das equipas se mantiver, o mais provável não é que continuemos a ter muitos golos, mas sim que essa marca decresça substancialmente na 2ª ronda.

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17.6.14

A caminho do Maracanã #5 (Alemanha - Portugal)

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Do entusiasmo da estreia à depressão colectiva!
A goleada sofrida por Portugal frente à Alemanha traz, como sempre acontece, uma onda de pessimismo e censura sobre tudo o que envolve a Selecção. As derrotas, mesmo as mais pesadas como foi esta, oferecem a oportunidade de se questionar o que está ser feito, e isso pode ser até muito positivo. Menos lúcido, porém, será o diagnóstico catastrófico que se formula sobre tudo e todos nestas ocasiões. Ainda assim, e de acordo com o que tantas vezes escrevo, toda esta irracionalidade é na minha óptica uma consequência incontornável da dimensão emocional, o motor daquilo que o futebol é hoje enquanto fenómeno social. Neste sentido, e por muito que tente ter uma perspectiva diferente das coisas, não serei certamente eu a lamentar esta volatilidade emocional generalizada, que tanto deprime quando se perde, como leva à euforia quando se ganha. Preocupante, mesmo, era se não fosse assim!

Enfim, indo então de encontro às questões sobre o jogo de Portugal frente à Alemanha, gostaria de começar por recuperar muito daquilo que escrevi a propósito da goleada sofrida pela Espanha, há uns dias a esta parte. Em particular, para referir que se existem muitos pontos questionáveis e até censuráveis - segundo a opinião de cada um, evidentemente - naquilo que fez Portugal, também é preciso compreender a verdadeira origem do resultado, que não resulta de um desequilíbrio extremo de forças como o resultado sugere, mas muito mais de uma sequência de acontecimentos que foram compondo o cenário final. Mais concretamente, se nos fixarmos no minuto 37, quando acontece a expulsão de Pepe (que na prática é o 'knock-out' das aspirações portuguesas no jogo), vemos que o que sucedeu até então não foi um jogo desnivelado. Aliás, muito pelo contrário, se contabilizarmos as situações de desequilíbrio que as ambas as equipas tinham sido capazes de criar até esse momento, encontramos um cenário marcado pela equivalência de parte a parte, explicando-se o resultado fundamentalmente pelo sempre decisivo pormenor da eficácia. A partir daí, evidentemente, tudo foi diferente. A minha conclusão de tudo isto, para Portugal, também é mais ou menos a mesma que aquela que partilhei no rescaldo da derrocada espanhola, ou seja que a goleada deve servir para questionar e rever situações que de facto existem, mas que o resultado está muito longe de traduzir a real diferença de valor entre as equipas, ou sequer de sentenciar as aspirações portuguesas nesta competição.

Passando à discussão sobre algumas questões tácticas, vou dividir por pontos a minha opinião sobre cada um dos aspectos que me parecem ser susceptíveis de debate:

Estratégia e risco defensivo - Contextualizando, a opção de Paulo Bento passou por tentar um condicionamento muito arrojado sobre a construção alemã. A Alemanha não fez o mesmo, e talvez à excepção do Chile, não creio que neste Mundial alguma outra equipa se tenha proposto defender numa extensão tão grande de terreno. Ou seja, existe aqui um risco implícito do momento de organização defensiva portuguesa, que será obviamente questionável. Não creio que Portugal se tenha dado mal com esta estratégia em particular, já que conseguiu provocar o erro na selecção alemã, potenciando situações de transição e diminuindo o tempo de presença em posse do seu adversário, que com outra estratégia teria sido seguramente maior. Por outro lado, e se nos reportarmos ao tempo em que ambas as equipas estiveram em igualdade numérica, a Alemanha não criou qualquer situação de golo por via deste tipo de risco. Em suma, parece-me arriscado defender assim, mas aceito perfeitamente a opção e - aqui sem margem para dúvidas! - prefiro-a à postura submissa e meramente reactiva que Portugal apresentou no Mundial 2010.

Posicionamento defensivo de Ronaldo - Não é um tema novo, e já aqui havia discordado desta opção, onde me parece estar a grande fragilidade defensiva da Selecção. Se olharmos para a primeira parte do jogo, de resto, veremos que foi quase sempre pelo seu lado direito que a equipa alemã conseguiu encontrar espaço para progredir e evitar o pressing alto português. Portugal defende com uma estrutura que deveria contemplar 2 linhas de quatro elementos, adiantando Moutinho para perto do avançado. O que sucede, porém, é que há uma assimetria deliberada entre o comportamento dos alas (Ronaldo e Nani), com o capitão português a não fechar ao longo do seu corredor. A consequência é que Portugal acaba por defender muitas vezes com uma linha média de apenas 3 unidades nos últimos 25-30 metros, aumentando muito a exigência sobre o papel defensivo de Meireles. Por exemplo, no lance do primeiro golo, que tem origem exactamente nesse corredor, Portugal não envolve 3 unidades nos últimos 25 metros (Ronaldo, Moutinho e Almeida). Pessoalmente, mantenho que este é o ponto que mais fragilidade provoca à Selecção portuguesa, parecendo-me que seria preferível que Ronaldo defendesse na primeira linha do corredor central.

Comportamento defensivo individual - Depois dos jogos é sempre fácil criticar este ou aquele comportamento individual dos jogadores. É, certamente, um exercício necessário e muito útil para se detectar erros e corrigir aspectos de pormenor, mas quando se passa disso para uma tentativa de assassinato público das competências dos jogadores, já se está entrar num campo onde a desonestidade intelectual e o mesquinhismo se sobrepõem a tudo o que de positivo pode haver neste tipo de análise. Sobre isto, quero apenas recuperar o primeiro ponto desta discussão e que tem a ver com o risco e exigência táctica que estavam implícitos na proposta de jogo portuguesa, para mais frente a um dos adversários mais fortes em termos de mobilidade e qualidade de circulação (apenas a Espanha poderia causar mais problemas a este nível). Ou seja, é fácil encontrar e isolar vários lances onde as opções poderiam ter sido outras (ainda que a tese de que o resultado seria diferente, não passe de uma mera conjectura), agora tenho sérias dúvidas que houvesse assim tantos que fossem capazes de fazer melhor...

Risco (pouco), em organização ofensiva - Se Portugal assume muito risco na sua postura em organização defensiva, o mesmo não se pode dizer quando a equipa tem a bola. Portugal denota uma grande aversão ao risco de perda em posse, o que significa que facilmente a equipa opta por um jogo mais directo perante o condicionamento do adversário. Mais uma vez, é fundamentalmente uma questão de opção. Portugal não tem uma equipa especialmente forte para ser radical a este nível (como a Espanha ou a Alemanha, por exemplo), mas tem certamente capacidade para definir uma abordagem mais arrojada para a sua fase de construção. Aqui, tendo a estar de acordo com a ideia de que Portugal deveria exigir mais de si próprio e envolver mais gente na circulação baixa, em vez de projectar tanto os médios em profundidade, algo que acontece sobretudo perante equipas de maior dimensão como foi o caso da Alemanha.

Lado esquerdo e a ausência de Coentrão - Este era um cenário que já havia explorado num comentário recente, e Paulo Bento aparentemente pagará mesmo a imprudência de não ter trazido outro lateral esquerdo de raiz para o Mundial. Pessoalmente, vejo com muito maus olhos a entrada de André Almeida para aquele corredor, tanto mais num modelo onde é ao lateral quem cabe normalmente oferecer profundidade ao lado esquerdo, dada a propensão interior de Ronaldo. Honestamente, e mesmo havendo outros riscos (nomeadamente defensivos) envolvidos, preferia ver Veloso adaptado ao lugar, entrando William ou Amorim para o meio campo. Mesmo em relação a André Almeida, penso que Ruben Amorim poderia ser melhor opção, devido à maior qualidade da sua presença em posse. Seja como for, se tivesse de eleger um aspecto onde a decisão de Paulo Bento me parece mais criticável, seria certamente na negligência da importância das características do lateral esquerdo para o modelo de jogo da Selecção, na definição da sua convocatória.

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16.6.14

A caminho do Maracanã #4

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Suíça - Equador
Um confronto interessante, por colocar em confronto duas selecções, digamos, da classe média dos respectivos continentes, sendo que ambas representam bem as orientações tácticas que hoje predominam quer nas equipas europeias, quer nas sul americanas. Ambas em 4-2-3-1, mas a Suíça a valorizar mais o momento de organização, enquanto que o Equador a revelar-se sobretudo vocacionado para o momento de transição. Daqui resulta uma consequência sobre aquele que seria - e foi, durante grande parte do jogo - o detalhe fundamental do jogo, ou seja o momento da perda da bola suíça. Quando os suíços conseguiram ter mais qualidade na ligação do seu jogo, prolongando-o até ao último terço, a resposta do Equador foi sempre muito complicada. Mas quando isso não sucedia, eram os equatorianos quem tinham uma presença mais ameaçadora no jogo. Pessoalmente, entendo que a Suíça é uma formação mais bem trabalhada tacticamente e com uma equipa mais completa em termos de qualidade, mas a verdade é que os suíços tiveram muita dificuldade em lidar com o bloco baixo e denso dos equatorianos, não confirmando no jogo - e muito por este ponto que, como disse, me parece fulcral - a superioridade que lhes reconhecia. Outro detalhe interessante, e decisivo na definição do resultado, foi a forma como o Equador permitiu que o jogo se partisse nos minutos finais, provavelmente deslumbrado pela possibilidade de vitória, mas acabando por ser penalizado pelas dificuldades que os seus defensores revelam quando saem do conforto daquele bloco baixo e denso que tanto caracteriza a equipa.

França - Honduras
Há pouco para dizer deste jogo, tal o desequilíbrio de valores entre os dois conjuntos. Na verdade, parece-me até que a percepção das diferenças não estava muito bem percebida, havendo alguma expectativa em torno da possibilidade de uma surpresa hondurenha. A verdade, porém, é que as Honduras são das equipas mais fracas deste Mundial (com Irão e Austrália, formam um grupo que destaco claramente das demais), enquanto que a França está no topo do segundo pelotão de favoritos para este Mundial, atrás dos 4 mais claros candidatos. Na equipa francesa, o sublinhado mais evidente recairá em Benzema ou no poderio do seu meio campo (fisicamente, o mais impressionante da prova), mas gostaria de destacar também a qualidade de Valbuena, que como já havia referido na antevisão sobre a equipa, tem um papel fundamental nos movimentos interiores da equipa, oferecendo-se sempre como solução de qualidade num zona que onde poucos o conseguem fazer. Ao vê-lo nesta função aos 29 anos, fico com a sensação de que terá passado ao lado de uma carreira de muito maior fulgor, nomeadamente ao ser sempre utilizado em posições exteriores. Que desperdício!

Argentina - Bósnia
A Argentina foi das equipas que menos se deu a mostrar nos jogos de preparação e, talvez por isso, aquela que mais me surpreendeu na sua abordagem inicial, em relação ao que tinha visto. De facto, não esperava os 3 centrais, e também não me parece a melhor forma de potenciar os recursos desta equipa. De resto, é interessante o caso de Messi, que marcou um grande golo, mas que passou também grande parte do jogo a ser anulado pelo adversário. Pessoalmente - e posso estar errado, aqui - continuo a pensar que o que distingue o patamar de rendimento de Messi é sobretudo o ajuste do contexto colectivo. A sua envolvência no jogo, na minha perspectiva, deve ser potenciada e explorada, mas de preferência entre as últimas duas linhas adversárias. O que me parece acontecer é que, em relação ao passado, Messi tem sido solicitado em fases cada vez mais precoces do jogo das suas equipas, nomeadamente quando tem ainda 30-40 metros para percorrer até chegar à baliza e, principalmente, duas ou três linhas defensivas por ultrapassar. Assim, acaba por desgastar-se física e mentalmente, quer pela maior frequência com que é solicitado, quer pela frustração de ser mal sucedido em iniciativas de grande improbabilidade de sucesso. Ou seja, potenciar Messi, sim, mas saltar etapas do jogo ofensivo, não.

Se a grande expectativa mediática para este jogo girava em torno da equipa argentina, a minha estava também muito centrada na Bósnia, sobre quem tinha sido muito elogioso. De facto, foi pena o golo sofrido logo no inicio do jogo, porque a qualidade que esta equipa confirmou tinha tudo para colocar os argentinos em sobressalto. Como havia referido, é uma equipa com uma proposta arrojada, tanto a nível defensivo como ofensivo, mas com bastante qualidade naquilo que se propõe fazer. Não diria que o resultado foi injusto, mesmo se foi a Bósnia quem conseguiu mais finalizações enquadradas ou pontapés de canto no jogo (o que, dado o desnível de recursos entre as equipas, é já de si notável), mas destacaria sem dúvida a capacidade que a equipa revelou para gerir o jogo com bola, sempre ligando o jogo de forma apoiada a partir de trás. E recupero aqui o que escrevi sobre a exibição da Croácia frente ao Brasil, que com recursos individuais bem mais capazes não teve o arrojo de ir além de uma postura submissa e reactiva. Na Bósnia, grande destaque para o corredor central, com Pjanic, Besic (já havia antecipado a qualidade deste jovem desconhecido, que me parece ter capacidade para jogar numa das principais equipas do futebol europeu, como médio defensivo), Misimovic e Dzeko, que contrasta com alguma mediocridade dos jogadores que actuam nos corredores laterais. Enfim, a prova é curta e bastante vulnerável a factores aleatórios, assim como aos caprichos de calendário (a Argentina jogará com a Nigéria na última jornada, podendo estar já qualificada nessa altura), mas mantenho a expectativa elevada sobre esta equipa, que me continua a parecer a mais bem potenciada colectivamente, em face dos recursos individuais que possui. Esperemos é que Susic não se deixa afectar por alguma miopia analítica, e queira mudar uma identidade forte que construiu para incluir outro avançado no onze, quem sabe encostando Pjanic outra vez a uma faxa ou abdicando do toque vintage que só Misimovic é capaz de oferecer à ligação da equipa. Seria uma crueldade, mas no futebol nunca se sabe...

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15.6.14

A caminho do Maracanã #3

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Colômbia - Grécia
Diz-se, e repete-se, que a Grécia é uma equipa defensiva. Não posso discordar da classificação, mas já acho mais duvidoso que se enfatize essa característica quando pela frente temos uma equipa como a Colômbia. De resto, é curioso como, à excepção do Chile, todas as equipas sul americanas se apresentam em bases tácticas muito semelhantes:
- linha defensiva com muito pouco risco na gestão da profundidade (fora de jogo)
- bloco defensivo essencialmente expectante
- bloco defensivo com duas linhas de quatro jogadores
- 2 médios defensivos mais trabalhadores do que criativos
- dinâmica ofensiva simples e muito dependente daquilo que individualmente os jogadores têm para oferecer

Uma tendência que, na minha leitura, poderá ter a ver com questões históricas, e com a forma como estas selecções foram sendo penalizadas por algum aventureirismo táctico que as caracterizou durante décadas. Seja como for, não é seguramente brilhante do ponto de vista táctico, e por isso escrevi na antevisão que estas são - quase todas - equipas algo sobrevalorizadas, porque valem muito pouco para além daquilo que as suas principais unidades possam oferecer. Por exemplo, parece-me que a Grécia não só não é menos defensiva do que estas equipas, como é bem mais interessante do ponto de vista táctico. Só que, claro, não tem a mesma qualidade individual, e é por aí que se explica o facto do seu potencial ser inferior ao da Colômbia . De resto, diria que este foi, até agora, o resultado que mais contou com o peso da eficácia para a sua definição, porque se a Colômbia marcou três golos, a Grécia foi a única equipa que perdeu ocasiões claras de golo.

Uruguai - Costa Rica
Em futebol, diria, há dois tipos de resultados surpreendentes. Aqueles que decorrem da aleatoriedade e dos caprichos da eficácia, e os outros, que acontecem na sequência de performances globalmente inesperadas das equipas. Neste caso, esta foi claramente uma surpresa do segundo tipo. Ou seja, o Uruguai não perdeu porque fez um menor aproveitamento daquilo que produziu. Perdeu, porque produziu menos, e consideravelmente menos. De facto, mais do que o resultado, não esperava esta diferença de rendimento entre as equipas. Mesmo se agrupo o Uruguai no tipo de equipas com as características que descrevi acima e se já tinha escrito sobre os riscos da sua falta de vocação criativa. Uma parte da explicação, a meu ver, tem de estar mesmo na ausência de Suarez, porque se esta equipa vale essencialmente pela soma das suas partes, torna-se incontornável que sem a mais valiosa das parcelas o resultado acabe por ser menor do que à partida se poderia supor. Seja como for, é agora muito improvável que os uruguaios possam sequer ameaçar em repetir a presença numa final de um Mundial brasileiro.

Uma nota sobre a Costa Rica, que não passou a ser uma selecção de grande qualidade por causa deste seu merecido feito. Tem essencialmente, e para além de Navas, um tridente de muito boa capacidade técnica na frente, e isso é o que a faz ser consideravelmente mais perigosa do que as piores selecções que estão em prova. Porque, de resto, as suas limitações estão lá para serem exploradas, e em princípio é isso que acabará por acontecer nos próximos jogos.

Inglaterra - Itália
Um dos jogos mais aguardados, e que de acordo com a antevisão que havia deixado, foi de encontro às expectativas, nomeadamente no que respeita à identidade das equipas. No que respeita à Inglaterra, e tal como havia escrito, parece-me uma equipa com fragilidades no processo defensivo e sem grande capacidade para potenciar o seu rendimento colectivo. Isto, porém, não quer dizer que não veja boas hipóteses de qualificação para os ingleses, mesmo depois desta derrota, já que me parece melhor do que o Uruguai (ao contrário das perspectivas) e claramente com todas as possibilidades de vencer a Costa Rica. Mas, naturalmente, esta derrota não ajuda.

Mais interessante o caso da Itália. A esmagadora maioria das equipas neste Mundial recorre ao papel do duplo-pivot para dinamizar a sua primeira fase de construção. A Itália, e como havia escrito na antevisão sobre a equipa, vai mais longe e envolve 3 médios na circulação baixa, o que lhe confere uma grande capacidade nessa fase do jogo. E é nessa capacidade para ter bola que reside a grande força desta equipa. Defensivamente, a equipa opta por um bloco muito expectante, e se confesso não gostar muito dessa abordagem, também não é difícil de concluir que Prandelli não poderia fugir muito dessa abordagem, tendo na equipa jogadores como Balotelli ou Pirlo. Ainda assim, e mesmo definindo uma zona de pressão baixa, a Itália parece-me algo permissiva dentro do seu bloco, e talvez fosse possível subir um pouco mais a linha defensiva, de forma a conseguir maior encurtamento de espaços dentro do seu bloco. Outra limitação da equipa italiana, na minha óptica, reside nas dificuldades que tem na fase criativa. A ideia de Prandelli, claramente, é projectar muito os laterais, embora se perceba pouco que tendo essa ideia de jogo, depois apareça no Mundial com Chiellini como a alternativa para a lateral esquerda. Depois, e de um perspectiva conceptual, parece-me que face aos recursos que tinha ao seu dispor, Prandelli teria muito a ganhar em conceber um ataque com 2 unidades, já que essa é uma posição para qual o futebol italiano apresenta muitas soluções. Enfim, tinha incluído a Itália no lote das equipas que me pareciam subvalorizadas, e este primeiro jogo acabou por dar alguma razão a essa ideia. No entanto, confesso também que esta me parece uma equipa muito volátil em vários aspectos, e se podemos estar seguros da sua boa presença em posse, há outros pontos que facilmente poderão comprometer as aspirações da equipa.

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14.6.14

A caminho do Maracanã #2

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México - Camarões
Nas antevisões que partilhei na véspera da competição, apenas não incluí duas formações, tendo uma delas sido os Camarões, não tanto pelo facto de apenas ter visto um jogo da equipa, mas sobretudo porque essa partida foi frente à Alemanha, o que ofereceu um contexto muito próprio e complicado para analisar certos aspectos tácticos. A verdade, porém, é que muito do que se viu nesse jogo voltou a repetir-se frente ao México. Ou seja, uma equipa muito expectante, e combinando essa postura com uma quase obsessão pela linha do fora de jogo, que parece ter prioridade sobre tudo o resto, o que leva a comportamentos tácticos que me parecem, no mínimo, muito discutíveis. É pena, porque os Camarões terão na minha opinião até um conjunto bastante razoável de jogadores, nomeadamente com maior equilíbrio do que outras formações africanas. Assim, porém, vai ser difícil...

Quanto ao México, justificou plenamente a vitória, apesar de ter acabado por não criar um número de ocasiões correspondente ao domínio territorial que exerceu. É uma selecção interessante, como já havia escrito, pela especificidade da sua proposta de jogo, nomeadamente na forma como se impõe na primeira fase de construção, tornando-se difícil de contrariar a largura da sua primeira linha. Depois, terá algumas fragilidades tácticas sobre as quais também já escrevi, mas será curioso ver como o Brasil e a Croácia se adaptarão a esta forma de jogar. Para já, o México tem pelo menos garantida a discussão do apuramento até à última jornada.

Espanha - Holanda
Aí está o primeiro choque!
Começando pela selecção espanhola, referir que foi precisamente, e a par dos Camarões, a outra selecção sobre a qual não escrevi antes da competição. O motivo é o mesmo da formação africana, e tem a ver com o facto de apenas ter visto jogos muito pouco conclusivos sobre as suas características tácticas, sendo que daqui resulta a minha primeira crítica em relação à equipa espanhola, que tem que ver com a sua fase de preparação. É que a Espanha apenas realizou dois jogos antes do Mundial, sendo que o primeiro foi "esbanjado" para escolher o 23º jogador (que provavelmente não fará qualquer minuto neste Mundial) e o segundo foi frente a uma formação de um nível quase amador. Isto, numa equipa que começava logo contra uma das selecções mais fortes da prova, e que inclusivamente partia para este Mundial com algumas alterações no seu onze base. Não vou aqui prestar-me ao papel que tanto critico e estabelecer relações causais depois de conhecer os resultados, mas indepentemente da derrota, é-me bastante difícil de entender este plano de preparação espanhol...

Ainda relativamente à selecção espanhola (permitam-me que me alongue um pouco...), o tema Diego Costa está na ordem do dia, servindo o resultado de mote para as tais relações causais que considero intelectualmente abomináveis. É verdade que Diego Costa não é um jogador forte em posse, que tem outras características, mas não vejo em que é que isso possa afectar negativamente o modelo de jogo espanhol. Desde logo, porque pela qualidade que tem ao seu dispor, não é necessário que a Espanha tenha todos os jogadores a envolverem-se na circulação de bola, para manter a sua identidade. Aliás, nem necessário, nem aconselhável, no meu entender. Para quem tem Xavi, Iniesta, David Silva, Xabi Alonso e outros jogadores excepcionalmente fortes no jogo interior, o que faz sentido é que haja alguém que esteja em campo essencialmente para oferecer profundidade e obrigar o adversário a abrir espaço para potenciar a tal característica que é marcante na equipa. Se tal não acontecer, torna-se mais fácil reduzir o espaço e atenuar o ponto forte da equipa espanhola. Aliás, se olharmos para o Barça de Guardiola, vemos sempre a presença de unidades muito pouco interventivas no jogo da equipa, como Villa, Pedro ou Alexis, mas que tinham a importante tarefa de potenciar o espaço por onde os outros jogavam. O argumento contra a utilização de Diego Costa é que este retira coerência à equipa, mas eu diria que se não tiver quem lhe ofereça profundidade (seja Diego Costa ou outro qualquer), mais do que perder coerência, a Espanha ganhará redundância!

Passando, finalmente, à Holanda, confesso que quando vi o primeiro jogo de preparação fiquei mal impressionado com a equipa de Van Gaal. No entanto, os jogos seguintes fizeram-me rever essa opinião ao ponto de ter escrito, na antevisão final que fiz, que esta me parecia uma das equipas possivelmente mais subestimadas. De resto, é interessante como Holanda e Espanha são casos antagónicos no que respeita ao aproveitamento do período preparatório, sendo que a equipa holandesa retirou grande utilidade dos seus jogos particulares para chegar a este Mundial com uma identidade nova e muito clara. Neste aspecto, tenho de tirar o meu chapéu a Van Gaal: a sua Holanda não é - nem podia ser, de resto - uma das principais candidatas ao título, mas tem certamente hoje uma identidade clara e mais ajustada, tanto relativamente ao contexto competitivo como às características dos seus recursos, sendo que para isso foi preciso alterar orientações tácticas importantes e que já vinham de há muito tempo a esta parte, com a selecção holandesa. Não ficou preso aos preconceitos e idiossincrasias, e foi de encontro à especificidade do seu contexto, e isso é menos comum do que pode parecer à primeira vista. Em particular, destacaria o foco pressionante sobre o corredor central e o facto de exigir uma envolvência muito activa de todos os jogadores no processo defensivo, sendo que a centralização de Robben, Sneijder e Van Persie oferece à equipa muito maior potencial no momento em que ganha a bola.

Para terminar, e sobre o jogo propriamente dito, não seria muito efusivo em relação ao volume do marcador, nem às conclusões a retirar a partir deste surpreendente placard. Cada jogo tem a sua história e se a deste contou, sem dúvida, com uma enorme exposição da defensiva espanhola na parte final da partida (assim como com erros em todo o jogo, que existiram também do outro lado note-se), também havia mostrado uma Espanha mais competente na primeira parte, capaz de se impor no jogo com bola, apesar da boa exibição e de todo o esforço feito pela equipa holandesa. A Holanda passará agora a ser mais respeitada e tem praticamente carimbada a presença nos oitvavos de final, mas o seu pior erro será deslumbrar-se com este resultado. Quanto à Espanha, não a retiraria do lote dos favoritos. Creio que tem todas as condições para se apurar, e se conseguir aproveitar a derrota para corrigir alguns aspectos, rapidamente se tornará de novo numa potência muito difícil de contrariar, até porque tem virtudes que mais nenhuma selecção possui.

Chile - Austrália
Já me havia referido ao risco, enorme, desta equipa chilena, e parece-me que Sampaoli terá ido ainda mais longe no seu aventureirismo, provavelmente pela modéstia do adversário, e duvido que venhamos a ver outra equipa tão ofensiva como esta equipa chilena. Neste aspecto, fica-me a dúvida sobre a estrutura a adoptar nos próximos jogos, porque foi diferente daquilo que havia visto na preparação, mas creio que será reforçada com mais uma unidade no eixo da defesa. De resto, e apesar de toda essa intencionalidade ofensiva, a verdade é que não foi um jogo muito conseguido por parte do Chile, que apesar de ser claramente superior, alicerçou fundamentalmente o seu triunfo no bom aproveitamento que fez das ocasiões que criou. O Chile tem a vantagem, que pode ser importante, de jogar com a Holanda no último jogo do grupo, já que face ao cenário agora definido não é de excluir a hipótese de haver uma poupança holandesa, que se tornará um dado praticamente adquirido caso os holandeses goleiem a Austrália. Neste cenário, e mesmo vencendo o Chile, os espanhóis terão de fazer uma autêntica corrida ao golo, já que o segundo factor de desempate é a diferença de golos.

Quanto à Austrália, há pouco a dizer. É uma equipa muito limitada e penso até que faz um bom aproveitamento dos recursos que tem. Mas, e em face do que escrevi antes, não é de excluir a hipótese de esta ser uma equipa decisiva nas contas finais do grupo, mesmo que... termine com zero pontos!

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13.6.14

A caminho do Maracanã #1

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Brasil - Croácia
Face aos receios existentes, diria que o jogo de abertura correu bastante bem. A cerimónia inicial, o estádio, um jogo com golos e até um desfecho que ajuda a anestesiar os perigosos e ameaçadores descontentamentos populares (raramente faltam teorias da conspiração em torno deste tipo de eventos, mas depois de 1978 não consigo pensar num Mundial onde interesse tanto à organização que o país anfitrião possa ser bem sucedido!). Quanto ao jogo propriamente dito, que é o que mais interessa para este comentário, o que se viu não foi assim tão agradável, e de parte a parte...

Talvez seja injusto da minha parte, mas entre Brasil e Croácia, sou bem mais critico da abordagem táctica definida por Kovac. Não querendo comparar o potencial técnico de ambos os conjuntos, ainda assim parece-me ser do lado croata onde há uma maior fuga das principais características da equipa. Mas vamos por partes. Quanto ao Brasil, Scolari trouxe apenas a surpresa da dinâmica ofensiva, que resultou relativamente bem na primeira parte, nomeadamente pela capacidade de Neymar aparecer no corredor central, assim como pela atractividade que Óscar provocou ao lateral esquerdo croata, abrindo um espaço por onde o Brasil criou algumas das suas melhores jogadas do primeiro tempo. O lado negativo da exibição brasileira, na minha leitura, resulta sobretudo de um invulgar desacerto no plano individual. Algo que se viu em alguns passes perdidos, apesar do baixo grau de dificuldade, e também em algumas intervenções defensivas desastradas, com evidência para o lance do golo, onde na minha leitura David Luiz perde de forma algo displicente a frente do lance para Jelavic, quando essa deveria ser a sua primeira prioridade na abordagem ao cruzamento. Mas houve outras situações que, apesar de não terem tido as mesmas consequências, sugerem o mesmo diagnóstico. E é por aqui que me parece que o Brasil complicou as suas aspirações no jogo, na sua algo inesperada volatilidade defensiva, já que tudo o resto era mais ou menos previsível: a dificuldade de encontrar espaços num bloco tão baixo, as dificuldades específicas de Hulk a este nível, a dependência de Neymar como elemento de maior capacidade criativa, o foco nos corredores laterais para iniciar as jogadas, mas também a elevada probabilidade de que o domínio, mesmo sendo insípido, pudesse ser tanto que acabasse por produzir resultados concretos.

Quanto à Croácia, já o havia escrito na antevisão que se trata de uma equipa muito cautelosa na sua abordagem defensiva, baixando a meu ver em demasia e sem grande qualidade na aplicação de um pressing defensivo que faz da densidade numérica a sua grande, e praticamente única, mais-valia. Depois, a Croácia pode não ter os recursos das principais equipas, mas tem seguramente um conjunto de médios com que poucas selecções poderão rivalizar, fazendo por isso todo o sentido que esta seja uma equipa especialmente arrojada na tentativa de fazer da posse uma arma. Porque, pergunto-me, se com Rakitic e Modric a Croácia não conseguir ser forte na valorização da posse, vai ser forte em quê? A verdade é que não foi por essa via que a equipa tentou gerir o jogo e, especialmente na primeira parte, acabou mesmo por actuar quase exclusivamente em transição, o que determinou que as suas aspirações passassem sobretudo pela capacidade de sofrimento que a equipa tivesse, sem bola. Convém aqui, e no meu desta minha perspectiva crítica, fazer duas ressalvas que servem de atenuante: a primeira, para referir que apesar do domínio exercido o Brasil teve de contar com uma grande dose de eficácia para materializar a reviravolta; a segunda, para contextualizar o valor do opositor, sendo que evidentemente que se esperará outra capacidade da equipa croata (mais não seja, pelos valores individuais que tem) nos próximos jogos. Mas, se concordo que esta será a segunda equipa mais forte do grupo, continuo a não ver com grande surpresa a hipótese de um eventual não apuramento croata para a fase seguinte da competição.

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12.6.14

Antevisão Mundial #30: O meu ranking... e algo mais

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Às portas do Mundial, e como balanço da antevisão que fiz nas últimas semanas, deixo aquele que seria o meu ranking de selecções, antes da prova. Para esclarecer, trata-se de uma classificação que traduz a minha opinião sobre o valor das equipas, e não a probabilidade de vencerem a prova (ou seja, não tive em conta o trajecto que cada equipa terá de realizar até à final). Do mesmo modo, a minha avaliação centrou-se nas equipas que mais provavelmente irão jogar, e não nos 23 seleccionados de cada país.

Relativamente aos favoritos, não discordo da apreciação geral, que tende a identificar 4 selecções como as mais fortes candidatas à vitória, sendo que na minha opinião este tipo de prova e a proximidade de valor entre as equipas faz com que seja praticamente impossível distinguir grandes discrepâncias entre as hipóteses de vitória destas 4 selecções, abrindo paralelamente hipóteses reais a mais um conjunto de selecções, onde incluo Portugal.

Depois, e de uma forma geral, diria que as equipas europeias tendem a ser mais organizadas tacticamente, o que não garante nada numa competição de tão curta duração, mas que na minha opinião acaba por determinar maiores possibilidades de sucesso para estas selecções. Mais concretamente, e comparativamente com aquela que é apreciação geral, vejo com melhores olhos selecções como a Itália, Holanda, Bósnia (como já escrevi, é uma equipa sobre a qual tenho algumas expectativas, por aquilo que mostrou na preparação) e Suíça. Em sentido contrário, penso que selecções como Chile, Croácia, Colômbia, Japão ou Estados Unidos possam estar sobrevalorizadas.

Por fim, queria referir-me ao contexto em que este Mundial se irá realizar. Aquando do anúncio do Brasil como país organizador, confesso que pensei que não poderia haver melhor cenário. Um país enorme, apaixonado pelo futebol, com uma identidade cultural ideal para ser anfitrião de um evento que se pretende que seja também uma festa. Aparentemente, perfeito! No entanto, desde a taça das confederações que existe a ameaça real de que o paraíso se torne num pesadelo para os organizadores. Sobre este tema, que ameaça ultrapassar largamente a importância que o evento em si tem, queria apenas desejar não voltar a ver protagonistas a colocarem-se do lado daqueles que tentam usar o mediatismo do jogo para branquear a discussão de temas bem mais sérios e certamente incovenientes para muita gente. Isso sim, seria o pior que poderia acontecer ao futebol neste Campeonato do Mundo!

Um bom Mundial para todos!

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Antevisão Mundial #29 Rússia

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Sistema táctico
4-1-4-1

Orientações defensivas
Ao contrário daquela que será, certamente, a expectativa em torno de um conjunto orientado por Capello, a verdade é que durante a preparação para o Mundial poucas equipas se revelaram tão arrojadas relativamente à sua postura pressionante do que a Rússia. Não dou como certo que venha a manter esta abordagem em todos os jogos do Mundial, mas para já a equipa russa promete condicionar a posse do adversário em praticamente toda a extensão do terreno, nomeadamente com uma presença muito forte sobre o corredor central, através do adiantamento dos 2 médios interiores. O risco desta abordagem é canalizado para o espaço entrelinhas, já que a linha defensiva arrisca pouco relativamente à exposição das suas costas. Aqui, nota para o papel fulcral de Denisov, que é o jogador que fica entre estes dois blocos, tendo de gerir o seu posicionamento geralmente numa área bastante extensa de terreno. Para já, e salvaguardando que nos jogos de preparação o nível de exigência não foi muito elevado, a equipa respondeu relativamente bem dentro deste comportamento.

Orientações ofensivas
Se sem bola a equipa procura rapidamente apoderar-se da mesma, com bola a Rússia faz igualmente um jogo de valorização da posse, nomeadamente através de uma construção apoiada e que procura tirar muito partido da presença ofensiva dos médios interiores. Na circulação baixa, e devido ao facto de ter apenas um pivot, os centrais tendem a assumir um papel importante, inclusivamente tentando progredir com bola, ou mesmo ligar com os laterais opostos. Aqui, há que assinalar, poderá estar um risco potencial da equipa, já que há alguma exposição à possibilidade de perda. O grande problema da equipa russa, pelo menos naquilo que deu a entender na preparação para o Mundial, é a falta de capacidade de desequilíbrio na zona criativa, com a equipa a ter um grande volume de presença em posse, a conseguir bons períodos de circulação, mas a ter bastante dificuldade em criar ocasiões claras de golo. Nota, do ponto de vista individual, para o papel que Dzagoev pode ter pela sua capacidade criativa, e também para a aparente opção por Kokorin, um jogador mais posicional mas menos incisivo, relativamente a Kerzhakov.

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Antevisão Mundial #28 Brasil

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Sistema táctico
4-1-4-1

Orientações defensivas
Uma das características de Scolari, diria, é o pouco risco que assume na sua organização defensiva. A equipa conta com jogadores de boa capacidade de trabalho, na linha média, assim como defensores de grande qualidade, o que em principio tornará o Brasil numa equipa difícil de bater em termos defensivos, mesmo que os detalhes da sua organização colectiva sejam simples e muito dependentes da resposta individual dos jogadores. No mesmo sentido, não teremos uma equipa brasileira a fazer da recuperação rápida da bola uma grande prioridade do seu jogo. De referir ainda que, estruturalmente, a equipa deverá defender em 4-2-3-1, promovendo uma simetria posicional entre os dois jogadores mais defensivos do meio campo.

Orientações ofensivas
Tal como no que respeita à sua identidade defensiva, o Brasil não deverá ser uma equipa muito arrojada nas suas dinâmicas ofensivas, tendo como principal mérito o facto de ir de encontro às principais virtudes dos seus recursos individuais, em especial os extremos, com Neymar como grande desequilibrador da equipa. Assim, a tendência será para que o Brasil procure os corredores laterais nas suas acções ofensivas, sendo que o corredor central, e o espaço entrelinhas, deverão geralmente ser apenas explorados num segundo momento, nomeadamente através das diagonais interiores dos extremos, naquele que será o movimento mais forte da equipa. Naturalmente, o Brasil será também uma equipa temível no momento de transição, em particular através de Hulk e Neymar, sendo Fred um jogador diferente e mais forte no jogo posicional, nomeadamente na capacidade de finalização dentro da área.

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11.6.14

Antevisão Mundial #27 Argentina

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Sistema táctico
4-4-2

Orientações defensivas
Apesar do potencial técnico da sua equipa, não se espera que Sabella venha a definir um plano muito arrojado para recuperar rapidamente a bola. Em organização, a equipa deverá apresentar-se distribuída em 3 linhas, com alguma prudência na definição da zona de pressão e também na exposição da sua última linha. É uma ideia que retirará, certamente, algum potencial à equipa para controlar o jogo mais tempo com bola, mas que lhe retirará também boa parte dos riscos que tanto penalizaram as aspirações argentinas em 2010. Na reacção à perda, é de esperar boa atitude e agressividade dos jogadores, dadas as suas características, pelo que neste momento táctico também poderá estar um ponto forte desta equipa.

Orientações ofensivas
Apesar de ser uma equipa com poucas linhas na sua distribuição estrutural, a Argentina deverá apresentar uma grande mobilidade em organização ofensiva, tendo em conta as características dos seus jogadores. Di Maria, com capacidade para jogar por dentro (assim como por fora, obviamente), Lavezzi mais colado à linha, mas com grande capacidade para protagonizar movimentos de rotura, junto dos avançados, Aguero também com grande propensão para oferecer mobilidade (tal como Palacio ou Higuain, caso Aguero não esteja disponível), e sobretudo Messi, que é sem dúvida a grande referência ofensiva da equipa, oferecendo-lhe uma enorme capacidade de desequilíbrio individual, e normalmente sobre o corredor central. Ou seja, diria que com tamanha riqueza de recursos a qualidade do jogo colectivo argentino é quase uma inevitabilidade. Depois, a Argentina será também uma equipa fortíssima no momento de transição, já que se a sua linha avançada já é difícil de parar em organização, o seu potencial torna-se ainda maior se lhe for dado espaço para progredir.

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Antevisão Mundial #26 Argélia

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Sistema táctico
4-1-4-1

Orientações defensivas
Se as indicações deixadas nos jogos de preparação se mantiverem no Mundial, então a Argélia poderá passar por dificuldades. A equipa tende a adoptar um pressing bastante impulsivo, beneficiando do facto de o fazer com um sistema que já prevê 4 linhas defensivas, mas mesmo assim com grande propensão para o desequilíbrio posicional, com exposição potencial, tanto entrelinhas, como nas costas da última linha. Do mesmo modo, a construção assume algum risco, com uma aparente propensão para a perda de bola em zona recuada, o que complica muito a resposta no momento de transição.

Orientações ofensivas
A fase de construção assume algum risco, tentando sair em apoio, mas sem grande qualidade para o fazer. A equipa tende a sair pelos laterais, que permanecem bastante baixos, mas facilmente a sua acção pode ser condicionada, nomeadamente se o adversário fechar a entrada de bola pelo pivot, forçando a verticalização ao longo da linha. Dentro desta característica, a aposta acaba por passar muito pela solicitação dos extremos na profundidade, para depois conseguir colocar a bola na área.

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Antevisão Mundial #25 Itália

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Sistema táctico
4-1-4-1

Orientações defensivas
Um dos pontos mais característicos da equipa italiana é a prudência com que aborda a posse de bola do adversário. O bloco, ao que tudo indica, irá manter-se baixo, como que esperando pelo adversário no seu meio-terreno. A ideia, claro, passará por correr o mínimo risco na exposição espacial e definir zonas de pressão mais apertadas, onde em princípio será mais difícil aos adversários entrar. O outro lado desta opção, claro, é que a Itália se arrisca a passar muito tempo sem a bola, o que para uma equipa com as suas aspirações é sempre uma limitação…

Orientações ofensivas
A Itália pode ser uma equipa de pouco risco na sua postura defensiva, mas não é uma equipa de transição, como tantas vezes é catalogada. Pelo contrário, como poucas equipas neste Mundial será uma equipa que se prepara para a valorização da posse, nomeadamente através da presença e qualidade na circulação baixa. Aqui, destaque para o trio de médios, com De Rossi a ser, previsivelmente, o homem mais recuado, mas com mais duas unidades com grande foco nesta primeira fase do jogo ofensivo italiano (Pirlo e Verrati, em principio). Depois, os extremos tendem a jogar por dentro, com grande verticalidade, abrindo espaço para as subidas dos laterais, que adoptam um comportamento muito ofensivo. Há uma grande tendência, até pelas características dos médios de construção, para aberturas longas, seja para as costas da linha defensiva contrária, seja para as laterais. Aqui, Pirlo será o jogador com mais propensão para este tipo de recurso. De resto, o jogo italiano tende a sair pelo corredor central, mas a abrir para os flancos numa segunda fase.

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