20.5.14

Os convocados, Van Gaal e Luis Enrique

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Duas notas de opinião sobre temas da actualidade: a convocatória final da Selecção e os novos treinadores de Man Utd e Barcelona.

Convocatória da Selecção
A escolha dos 23, a partir da lista de 30 anunciada, parece-me ter sido bastante previsível, nomeadamente em face daquelas que já haviam sido as indicações deixadas pelo próprio Paulo Bento, em declarações prévias. Em particular, o recurso a um lateral mais polivalente e a procura de um extremo que possa jogar em duas posições na estrutura alternativa da Selecção. Tanto num caso, como noutro, isso praticamente implicava as chamadas de André Almeida e Rafa aos eleitos finais. Quanto ao resto, parecem-me perfeitamente naturais as ausências de André Gomes, João Mário, Ivan Cavaleiro e Ricardo Quaresma, que honestamente não penso sequer que justificassem uma presença nos 30 eleitos. Quanto ao caso mais contestado, o de Quaresma, a discórdia era previsível à luz da projecção mediática que as suas principais jogadas conseguem (por mérito do próprio, que não discuto), mas também penso que qualquer pessoa que analise o jogo como um todo não terá dificuldades em perceber que por trás de toda a sua qualidade de execução, Quaresma tem características muito débeis e que o tornam num caso muito difícil de integrar em qualquer modelo de jogo em que próprio não seja tratado de forma especial. Um caso que já comentei bastante ao longo da temporada, e que serve de condicionante tanto para a Selecção como para o Porto da próxima época.

De resto, creio que à margem das primeiras figuras, Portugal tem um conjunto de soluções de qualidade bastante modesta, e que tem vindo a decair com o passar dos anos. Aqui, há duas perspectivas a ter em conta. A primeira, que é circunstancial, tem a ver com a capacidade de procurar alternativas nas soluções existentes. E, neste ponto, sou relativamente critico em relação ao trabalho feito pela actual estrutura técnica nacional, já que me parece pouco provável que não existam soluções mais sólidas do que casos como André Gomes, João Mário ou Ivan Cavaleiro, jogadores que podem vir a ter outra capacidade de resposta no futuro, mas cujo patamar de evolução ainda me parece estar muito longe de justificar o destaque que lhes foi dado. A outra perspectiva é mais estruturante e tem a ver com a base de recrutamento que, indiscutivelmente, não é vasta. Este é um problema a que Portugal se tem esquivado nos últimos 25 anos, mas que em princípio deverá determinar alguma oscilação de qualidade nos diversos ciclos geracionais. Não é um problema fácil de resolver ou sequer atenuar, mas não me parece também muito perspicaz centrar as responsabilidades nos clubes - que têm os seus objectivos próprios -, devendo ser a Federação a ter uma estratégia de médio-longo prazo a este respeito, sendo que esta terá de ser forçosamente distinta da que é adoptada pelas principais potências do futebol mundial, todas elas com uma base de recrutamento incomparavelmente superior, e portanto sem o mesmo tipo de problema.

Van Gaal e Luis Enrique
Duas escolhas importantes no contexto do futebol europeu da próxima época, ainda que o United vá estar restringido ao plano interno.

Começando pelos ingleses, como introdução devo dizer que nem tudo o que aconteceu esta época - e por muito demérito que Moyes possa ter tido - foi um fatalidade. O Man Utd tem, obviamente, uma qualidade de recursos que lhe permitirá naturalmente aspirar a um patamar classificativo superior ao conseguido, e mesmo que tudo continuasse na mesma em Old Trafford creio que esse seria sempre o cenário mais provável na próxima temporada. O desafio que se coloca a Van Gaal, porém, não é o de apenas melhorar o patamar actual, mas sim de devolver ao clube o nível qualitativo em que Ferguson deixou o clube. A este respeito, não estou certo de que Van Gaal seja a escolha ideal, mas reservo uma opinião mais firme sobre isto para o ínicio de época, porque há aspectos que tenho de confirmar. Para já, fica a curiosidade sobre a estrutura táctica que o treinador holandês possa vir a utilizar, já que me parece que no mundial irá apresentar-se em 3-4-3. Seria interessante ver isso testado na Premier League, mas duvido que tal venha a suceder.

No Barcelona, Luis Enrique é uma escolha com o perfil que me parece fazer todo o sentido. Há dias, e a propósito da contratação de Lopetegui, escrevia sobre a hipótese dos clubes apostarem na formação dos seus próprios treinadores. Ora, se esta é uma ideia que se pode ajustar a qualquer clube, em nenhum caso ela fará mais sentido do que no Barça. Aliás, parece-me até um paradoxo que um clube aposte tanto na afirmação de uma ideia de jogo próprio para no final dessa cadeia de formação estar a submeter-se ao risco da adaptação de treinadores externos à filosofia que o clube vem implementando desde as suas bases. Dito isto, não creio que todos os treinadores formados internamente possam ser iguais, e mesmo que tenham partilhado da mesma escola, Luis Enrique e Guardiola serão seguramente treinadores com especificidades bastante diferentes. Não acompanhei o seu trabalho no Celta, mas fi-lo quando esteva na Roma e essa não foi uma experiência propriamente bem sucedida para Luis Enrique, parecendo-me que lhe terá faltado alguma criatividade nas dinâmicas tácticas implementadas. Precisamente, este será o ponto mais forte e característico de Guardiola, enquanto treinador. Seja como for, o Barça é naturalmente um caso muito diferente e mais ajustado às ideias de Luis Enrique, pelo que esta será uma história obviamente diferente daquela que o treinador viveu na capital italiana.

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