19.5.14

Benfica - Rio Ave (Taça): estatística e opinião

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Uma final, entre as mesmas equipas e com poucos dias de distância. Para a história ficará a repetição do vencedor, mas para quem viu sobressaem sobretudo as diferenças entre os dois jogos. Para ser mais preciso, aliás, o que sobressai mesmo é o contraste entre a segunda parte e tudo aquilo que se havia visto, até então, entre estas duas equipas. E é principalmente sobre isso que gostaria de me debruçar...

Relativamente à final da Taça da Liga, a primeira parte não mostrou grandes diferenças. O Rio Ave apresentou algumas alterações que não podem ser desprezadas. Começando pela baliza, o regresso de Ederson oferecia à equipa a possibilidade de ter um pontapé excepcionalmente longo para as suas reposições de bola em jogo, e isso foi um dado que Nuno não ignorou na definição da estratégia da equipa. A introdução de Braga foi outra novidade, oferecendo maior mobilidade à frente do ataque e menos referência da marcação, relativamente a Hassan. Dentro do comportamento defensivo, a equipa pareceu menos concentrada em limitar a acção de Enzo, no corredor central, oferecendo maior importância ao controlo da variação do corredor de jogo, na circulação baixa do Benfica, um aspecto que havia sido decisivo para o domínio imposto pelo Benfica no jogo anterior.

A verdade, porém, é que o Benfica voltou a exercer um grande ascende territorial na primeira parte, remetendo o Rio Ave para zonas muito baixas e de onde era depois muito difícil de sair de forma útil com bola. Um dos factores que mais contribuiu para esta situação foi o comportamento da linha média do Rio Ave, muito relutante em assumir uma presença pressionante, nomeadamente ao permitir que Amorim pudesse, de novo e na sequência do que havia acontecido em Leiria, progredir com bola sem que ninguém saísse em contenção. Esta opção compreende-se pelo receio de perder equilíbrio posicional em zonas mais recuadas, mas a factura a pagar era a tal submissão territorial que tanto condicionava as aspirações ofensivas dos vilacondenses. A tudo isto, e fazendo aqui justiça ao Rio Ave, há que acrescentar que apesar de todo o domínio territorial, o Benfica nunca conseguiu ultrapassar verdadeiramente a organização defensiva contrária, chegando inclusivamente à vantagem num lance bastante fortuito.

Mas vamos, então, à segunda parte e ao ponto mais interessante da análise deste jogo, que tem a ver com a mudança de características do jogo. A minha explicação, adianto já, não é especialmente interessante, porque na minha avaliação há maior peso das condicionantes circunstanciais do jogo do que de alterações tácticas ou estratégicas por parte de Nuno Espiríto Santo, de uma parte para a outra. O que aconteceu, basicamente, foi que o jogo passou a ter mais situações de bola dividida na génese das jogadas, o que permitiu ao Rio Ave sair com bola de zonas intermédias e não apenas a partir de zonas muito baixas do terreno. Depois, ao conseguir chegar mais vezes ao último terço ofensivo, o Rio Ave pôde fazer o mesmo que o Benfica lhe havia feito durante tanto tempo, ou seja, usar a presença posicional para dificultar muito a saída do adversário com bola a partir do recuperações em zonas muito recuadas, e garantir alguns períodos de ascendente territorial no jogo.

Quanto aos "porquês" desta alteração de tendência de jogo, é inegável que o Rio Ave foi intencionalmente mais agressivo na sua primeira linha de pressão, e que houve alguns movimentos ofensivamente bem conseguidos, nomeadamente que exploravam as costas dos laterais encarnados. No entanto, penso que houve mais demérito do Benfica nas diferenças observadas. Vejamos, até aí o Benfica havia controlado o seu adversário fundamentalmente pela gestão do seu jogo em posse, mas na segunda parte a equipa deixou de o fazer, havendo uma clara perda de lucidez na gestão da circulação, por parte do Benfica, nomeadamente fazendo mais vezes recurso do pontapé longo de Oblak para as suas reposições de bola em jogo e entrando mais rapidamente por zonas de maior densidade de jogadores, em vez de envolver o pressing do Rio Ave através do uso da largura da sua última linha, como havia sucedido até aí. E foi tudo isto que implicou que houvesse a tal maior preponderância de bolas divididas na génese das jogadas, em vez de um jogo mais organizado e que tão notoriamente havia favorecido o Benfica. Há, finalmente, que falar do peso do desgaste no lado do Benfica, um factor que obviamente tem de assumir muito relevo nesta análise de desempenho, e que afecta uma multitude de aspectos que depois influenciam a eficácia da equipa nas mais diversas acções de jogo. Ao nível da tomada de decisão com bola, ao nível da abordagem defensiva (que passou também a perder algum critério), ao nível da resposta nos duelos directos (onde o Rio Ave claramente levou vantagem), e finalmente também ao nível da qualidade de algumas soluções (a saída precoce de Amorim também terá retirado alguma lucidez à gestão da posse da equipa). De resto, e face a tão grande contraste no desempenho, parece evidente o peso que o desgaste competitivo pode ter nas aspirações de uma equipa, sendo que o Benfica escapou desta vez a nova surpresa, depois de no ano passado ter perdido uma final em circunstâncias que, à partida, eram altamente improváveis.

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