12.4.14

Sevilha - Porto: Estatística e opinião

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Já com alguns dias de atraso - não me foi possível fazê-lo mais cedo - deixo alguns pontos de opinião e a análise estatística ao jogo de Sevilha, que determinou a eliminação portista da Liga Europa.

- Na sequência do jogo da 2ª mão da eliminatória com o Nápoles havia escrito sobre a importância da eficácia no apuramento da equipa, numa exibição que facilmente poderia ter culminado num desfecho radicalmente diferente. Desta vez, em Sevilha, a equipa viu o capricho da eficácia vestir as cores do seu adversário, e mesmo estando longe de ter tido o volume ofensivo do Nápoles naquela ocasião, o Sevilha conseguiu fazer o que os italianos já haviam ameaçado: não só colocar o Porto fora das contas europeias, mas fazê-lo com um resultado volumoso.

- Na verdade, e mantendo-me dentro deste registo comparativo com o jogo de Nápoles, creio até que o Porto seja hoje uma equipa com menos fragilidades do que era nessa altura. Nomeadamente, a equipa parece hoje menos vulnerável no controlo das costas da sua defesa, relativamente ao que acontecia há umas semanas a esta parte. Mas há outros aspectos na ideia de jogo portista que continuam a ter uma eficácia bastante questionável, com especial evidência para o risco em posse, na primeira fase de construção. A equipa tenta forçar a saída, quase a todo custo, em apoio a partir de trás, mas frequentemente não se revela capaz de apresentar soluções para as dificuldades que o pressing contrário coloca, assumindo um nível de risco nada aconselhável, o que resulta na sucessão de sobressaltos a que todos podemos assistir. Há, aqui, um aspecto que acrescenta algum interesse - pelo menos, para mim - a este problema, e que tem a ver com o efeito aparente do factor casa, com claro prejuízo para o desempenho em jogos fora de portas, onde a equipa tem sentido muito mais problemas neste particular. É claro que poderá haver aqui diversas explicações para esta diferença de desempenho, desde a tradicional aleatoriedade do jogo, à própria diferença de postura dos adversários quando jogam no seu reduto. Seja como for, é mais um alerta a ter e conta, e um que terá novo teste naquele que se configura agora no grande desafio da equipa para o pouco que já resta da temporada: a 2ª mão da meia-final da Taça, a jogar no estádio da Luz.

- Ainda do ponto de vista das opções colectivas, parece-me interessante explorar a estratégia da equipa enquanto em vantagem numérica, condição de que usufruiu durante um dilatado período de tempo, mas da qual não foi capaz de retirar partido, criando muito poucas ocasiões de golo. Parecem-me questionáveis as alterações feitas na equipa, que incidiram no reforço da criatividade individual a partir de zonas exteriores e negligenciaram por completo a possibilidade de aumentar a presença na área. Por exemplo, não creio que ofensivamente a equipa tivesse ganho muito em retirar Danilo para ter Ricardo como lateral-direito, deixando no banco Licá, que na ausência de Jackson era o recurso mais óbvio para acrescentar presença junto de Ghilas. O Porto tentou forçar a criação de espaços numa zona muito densa, e abdicou por completo de cruzar. Mais uma vez, e tal como no capítulo da construção, a equipa pareceu querer agarrar-se à ideologia de evitar a todo custo uma abordagem mais directa, mas também aqui não revelou qualquer eficácia no caminho alternativo. O resultado foi que, em vez de cruzar, o Porto acabou a tentar sucessivas finalizações exteriores, também elas de probabilidade de sucesso muito reduzida (isto, apesar do golo ter acontecido precisamente por essa via).

- Passsando para o domínio das prestações individuais, o caso mais interessante é, de novo, Quaresma. É curioso como as suas exibições são tão idênticas e pouco dependentes do desempenho colectivo. Quaresma cria invariavelmente ocasiões de golo, sendo regularmente bem sucedido no objectivo de marcar ou assistir, e fazendo-o frequentemente através de lances de grande grau de dificuldade, o que lhe acrescenta uma boa dose de mérito, concordo, mas não numa dimensão proporcional ao impacto mediático que essas acções lhe conferem. Negar o valor dessa capacidade é, do meu ponto de vista, tão injusto como ignorar a quase nulidade do seu contributo em tudo o resto. Quer ao nível das suas decisões em situações menos favoráveis para o desequilíbrio individual, quer ao nível do desempenho defensivo. Já seria muito difícil encontrar jogadores com características tão extraordinárias, quer num sentido quer noutro, mas no caso de Quaresma todo este contraste fica reunido num só jogador, o que faz dele um caso quase único. E daí que não surpreenda toda a pluridade de opiniões sobre o jogador.

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