9.4.14

Champions, quartos-de-final (III)

ver comentários...
Chelsea - Paris SG
Mourinho e o Chelsea conseguiram resgatar a difícil reviravolta, mantendo viva a esperança de uma grande época para o Chelsea. O mais provável continua a ser que os 'blues' acabem 2013/14 de mãos vazias, mas o facto é que continuam com possibilidades reais de conquistar os dois mais apetecíveis troféus ao seu dispor. E isso, só por si, já deve ser visto como um pequeno feito. Quanto ao PSG, mais uma vez foi eliminado pela regra dos golos fora, ficando perto das meias-finais, é certo, mas novamente longe do feito europeu tão ambicionado. Para o futebol francês, as competições europeias - Champions, em particular - continuam a ser uma espécie de adamastor futebolístico, e não foi ainda desta vez que as tormentas se transformaram em boa esperança.

Relativamente aos pontos de interesse que havia levantado na semana passada a respeito deste jogo, há vários aspectos a sublinhar. Primeiro, a forma como o Chelsea abordou estrategicamente o jogo. Havia a hipótese de Mourinho arriscar mais de início, nomeadamente na presença pressionante perante a circulação baixa do PSG. A verdade é que o Chelsea se apresentou da mesma forma que habitualmente faz, ou seja, oferecendo prioridade máxima ao posicionamento e aos espaços esseciais e não se precipitando nas acções pressionantes. A ideia era esperar, pacientemente, pelas oportunidades que o jogo lhe fosse oferecendo, correndo o risco de que isso não fosse suficiente para a desvantagem com que partia, mas evitando também que o PSG pudesse tirar partido do espaço para sentenciar a eliminatória. É verdade que o Chelsea apenas chegou ao resultado que queria já muito perto do final, e numa altura em que a sua postura no jogo era já completamente diferente, mas também me parece claro que esta abordagem mais prudente acabou por se revelar bastante acertada. Primeiro, porque o PSG pareceu sempre acreditar que teria no relógio um aliado incondicional, acabando por revelar muito pouco arrojo ofensivo, apesar de ter tido tempo de posse de bola para o fazer. Depois, porque o próprio Chelsea conseguiu a eficácia necessária nos momentos certos, sendo verdade que enviou 2 bolas ao poste, mas também parecendo claro que qualquer dos seus golos aconteceu no tempo certo (o primeiro a relançar a crença, e o segundo a dar muito pouca margem de reacção ao PSG) e em alturas em que o PSG parecia relativamente confortável em termos defensivos. Nesta, como em quase todas as histórias deste género, a eficácia foi um elemento decisivo.

Do ponto de vista do PSG, é interessante notar a ironia da equipa ter iniciado o jogo com 3 unidades muito fortes para o aproveitamento da profundidade, mas ter passado a generalidade do jogo com essa oportunidade castrada pela postura do Chelsea. Mais tarde - e a ironia dá-se aqui - Blanc trocou Lavezzi por Pastore, invertendo as características dos protagonistas mas em sentido contrário daquilo que o jogo estava a pedir. No que respeita a características e individualidades, de resto, nenhuma ausência terá pesado tanto como a de Ibrahimovic, em especial num jogo que acabou por ter um Chelsea mais fechado do que inicialmente se poderia supor.

Dortumund - Real Madrid 
Se na semana passada escrevia sobre o desapontamento da exibição do Borussia, hoje tenho de manifestar o completo contraste em relação a esse sentimento. De facto, foi muito bom o jogo do Dortmund, que só por manifesto desacerto no último toque (holófotes sobre Mkhitaryan, neste particular) não foi mais além nesta sua tentativa de desafiar o impossível.

Na equipa de Klopp, o meu destaque vai para a forma como a equipa pressionou o Real, conseguindo a difícil tarefa - onde, por exemplo, o Schalke falhou redondamente - de provocar o erro na construção do Real sem que isso implicasse grande exposição para o seu sector mais recuado. Em particular, sublinharia o papel da primeira linha de pressão, formada por Lewandowski e Reus, que foi capaz de condicionar muito bem o espaço e as linhas de passe, criando condições favoráveis para que todo o bloco subisse e pressionasse. Como quase sempre acontece, a eficácia neste aspecto não surgiu de uma pressão impulsiva e sem critério, mas antes de uma boa preparação e identificação dos momentos de pressão. Aqui, Reus merece-me ainda maior destaque, porque mesmo quando a bola ultrapassava a primeira fase de pressão, o seu papel continuou a ser determinante, baixando com muito propósito para uma linha entre Lewandowski e os médios, e conseguindo ter uma acção inibidora sobre a circulação exterior do Real. Frequentemente tende-se a valorizar apenas agressividade como factor determinante na capacidade pressionante dos jogadores, mas na minha visão, a eficiência neste particular depende também muito da capacidade de leitura do jogo dos jogadores, e é por isso que jogadores como Lucho ou Aimar - só para falar de exemplos do futebol português - foram também dos jogadores que mais utilidade criavam para a acção pressionante das suas equipas.

Do lado do Real, o ponto que me parece mais preocupante - por ser uma constatação que se repete, nomeadamente do jogo frente ao Barça - é a aparente má preparação específica para o desafio que a equipa tinha pela frente. Em particular, era previsível que o Dortmund surgisse no jogo a pressionar a todo o campo, sendo perfeitamente conhecida a forma como o faz. Ainda assim, o Real acabou aparentemente surpreendido por esta especificidade do seu adversário, acumulando uma série de erros comprometedores na primeira parte. Depois do intervalo, é verdade que corrigiu o risco da sua circulação baixa, nomeadamente fazendo melhor uso da largura com a presença de Isco, mas também se tornaram mais evidentes os problemas de controlo sobre a organização ofensiva do Dortmund, com a linha média a sentir muitos problemas em controlar o elevado número de jogadores que os alemães colocavam à frente da linha da bola. Mais uma vez, esta era uma situação previsível, mas nem por isso a linha média do Real se mostrou especialmente precavida (isto, note-se, apesar dos médios interiores terem permanecido mais posicionais do que é hábito). É verdade que o Real foi quem teve a primeira e as últimas ocasiões do jogo, e que um golo bastaria para reduzir a missão do Dortumund a um domínio utópico, mas o que se passou entre esses dois momentos foi também suficiente para que a vantagem da primeira mão se tivesse esfumado por completo. E isso é certamente muito pouco para aquelas que eram as expectativas da equipa.

AddThis