19.3.14

Sporting - Porto (III): 5 jogadas

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1. Cruzamento Quaresma - A primeira nota vai, claro, para o mérito de Quaresma na criação do lance. Cedric poderia ter tido outra abordagem mas, face ao que fez Quaresma, parece-me de todo inapropriado centrar as atenções num eventual demérito do lateral. Uma segunda nota para a acção de William, ainda que dificilmente pudesse, também ele, evitar o sucedido. O médio está inicialmente preocupado com o passe interior, numa situação em que a bola circula lateralmente e a toda a largura do terreno, e que por isso exige grande rapidez no ajustamento posicional de quem defende. A critica em relação a William - embora, repito, sem que com isto esteja a estabelecer uma relação de causalidade com este desequilíbrio concreto - tem a ver com alguma lentidão no ajustamento posicional. A celeridade no ajustamento posicional e na definição da cobertura ao lateral, deveria ser uma prioridade estratégica do Sporting perante a presença de um jogador como Quaresma, para quem a cobertura defensiva é uma espécie de kryptonite, como aliás se viu na segunda parte quando o Sporting passou proteger-se melhor dos duelos individuais.
Num segundo momento do lance, e após o desequilíbrio estar já criado por Quaresma, resta ao Sporting tentar controlar o cruzamento. A situação é complicada porque o Porto tem boa presença numérica na área, mas a equipa leonina tinha, ainda assim, boas condições para ser bem sucedida. Os jogadores tentam estabelecer o seu posicionamento na área, e fazem-no bem, com excepção de Jefferson. O lateral esquerdo acaba por parecer alarmado pelo movimento de Carlos Eduardo e, talvez por isso, prolonga excessivamente o seu próprio movimento de ajustamento, acabando - de forma algo difícil de compreender - quase que a defender a baliza, em vez de defender o espaço que era suposto ser seu. A consequência é a desprotecção da zona do segundo poste, precisamente onde devia estar Jefferson, e onde estava Varela.

2. Desmarcação Mané - É uma jogada em organização ofensiva do Sporting, que se inicia com a tentativa do Porto condicionar o adversário em toda a extensão do terreno. Desde logo, saliência para a diferença de abordagem entre as equipas, com o Sporting a responder ao pressing com uma ligação mais directa e ao longo do corredor lateral, para depois tentar jogar a partir da segunda-bola. Uma solução muito característica na equipa de Jardim, em toda a época e não só neste jogo.
Num segundo momento, percebe-se a desprotecção do espaço entrelinhas por parte do Porto, com Fernando algo isolado à frente da linha defensiva. A acção do pivot portista é, no entanto, muito boa, porque condiciona o passe interior e cria condições para que a linha defensiva possa subir, retirando tempo e espaço de decisão a Cedric. Até aqui, a reacção defensiva do Porto parece-me ajustada, discordando no entanto da acção de Alex Sandro, que a meu ver é desfasada do enquadramento colectivo criado. Justificar-se-ia, neste sentido, que pressionasse também ele Cedric, fechando a linha de passe para Mané, enquanto a linha defensiva condicionava a profundidade do extremo do Sporting. Isso não acontece, e por isso Cedric acaba por se libertar de Fernando e recuperar condições para expor as costas da linha defensiva.
Finalmente, no final da jogada, a acção de Slimani carece de maior astucia, em face da valiosa vantagem com que o avançado partiu para a jogada. O argelino abdica, numa decisão que me parece muito questionável, da frente do lance, acabando por se esconder atrás do central portista e facilitando a sua acção.

3. Cruzamento Danilo - De novo Quaresma na génese da jogada, ainda que, desta vez, não do desequilíbrio. O extremo surge em zonas interiores e provoca a linha média do Sporting, ainda a tentar reorganizar-se após a perda da bola. Há uma indefinição entre Capel e Adrien, mas acaba por ser o médio português a fazer contenção sobre Quaresma. A consequência deste movimento é a abertura do espaço entrelinhas, precisamente nas costas de Adrien. Bem, Varela aproveita esse facto e cria uma linha de passe interior, forçando em paralelo a indefinição em Jefferson, também com a ameaça de Danilo sobre a sua zona e por isso impossibilitado de condicionar a presença interior do extremo portista. A minha leitura é que Capel lê mal o lance e, em vez de condicionar a linha de passe para Danilo, deveria ter tido como prioridade fechar o espaço interior, muito exposto face à saída em contenção de Adrien. Ao não o fazer, Capel acaba por ver também esfumar-se o seu controlo sobre Danilo, assim que a bola entra em Varela, definindo-se o 2x1 sobre Jefferson que posteriormente vai desequilibrar toda a defesa do Sporting.

4. Golo Slimani - A minha primeira nota na jogada decisiva do clássico vai para a circunstância em que ela acontece, ou seja, na sequência de circulação lateral. Este pormenor potencia, momentaneamente, os espaços laterais intra-linhas (isto é, entre os jogadores das próprias linhas defensivas), e exige um reajustamento posicional de todo o bloco defensivo. A consequência deste contexto é que a linha média do Porto não tem condições para pressionar imediatamente William, devendo na minha leitura dar prioridade ao ajustamento posicional antes de voltar a assumir uma postura mais pressionante. E é isso que efectivamente faz. Menos correcto - mas determinante na jogada - parece-me ser o comportamento da linha defensiva, que perante a liberdade oferecida a William assume um risco elevado ao não cortar a profundidade. Este é, aliás, um comportamento que venho identificando e criticando na equipa portista em comentários recentes, por entender ser desajustado e excessivamente arriscado em situações deste tipo. Nota ainda para o movimento clássico, e tantas vezes aqui referenciado, de André Martins, aproveitando a atracção do lateral pela movimentação interior do extremo. Uma situação que, curiosamente, foi muito explorada pelo Porto de Villas-Boas, no caso através de Belluschi ou Guarin, e que resultou em golos importantes contra Benfica e Villarreal.
Mais à frente, a tarefa de Abdoulaye é muito complicada e, por isso, parece-me muito injusto pegar neste lance para criticar o central. Em recuperação, o defesa fica isolado no duelo com Slimani e na iminência do cruzamento. Abdoulaye tem de garantir a frente do lance, mas tentar paralelamente diminuir a distância para Slimani, ao mesmo tempo que recupera no terreno e mantém o contacto visual com a bola. Como se não bastasse, Abdoulaye acaba por ser também vitima do timing perfeito da jogada, já que o cruzamento acontece, não só na medida certa, mas também no tempo exacto em que o avançado faz o seu movimento de afastamento.

5. Jogada Jackson - Terá sido, provavelmente, a grande ocasião do Porto para chegar ao empate. É um lance simples, em que entram em confronto avançado e central, Jackson e Dier, no caso. Primeiro, Jackson solicita o apoio frontal, estando no entanto relativamente isolado para poder dar continuidade à progressão da jogada. Dier tem, aqui, uma primeira oportunidade para intervir no lance, mas não consegue antecipar nem, depois, evitar o passe de Jackson para Varela. A vantagem do avançado sobre o defesa ganha outras proporções quando Jackson vira e, depois de ganhar a frente, ganha também as costas de Dier. O passe de Varela é bom, mas a jogada tem todas as condições por ser controlada pelo central, com Dier a voltar a evidenciar algumas limitações na capacidade de reacção no espaço, tanto na antecipação com na recuperação. Posteriormente, fica a ideia que o próprio Patrício poderia ter feito mais, hesitando talvez pelo risco de fazer falta numa saída menos calculada, e também pelo facto de Dier se manter na jogada. O central acaba, finalmente, por conseguir evitar danos maiores na fase terminal do lance.

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