18.3.14

Sporting - Porto (II): Análise individual

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Sporting
Rui Patrício - Foi determinante na defesa que realizou, a remate de Varela, e esteve também bem no jogo de pés, particularmente na ligação com Jefferson, ajudando a evitar o pressing portista. O lance que, obviamente, mancha a sua exibição é a hesitação que permite a Jackson ficar muito perto de marcar. Fica a ideia de que a comunicação entre Dier e o próprio Patrício poderá não ter sido a melhor.

Cedric - A sua exibição ficou marcada pela dificuldade nos duelos perante Quaresma, nomeadamente no primeiro tempo. Em parte, revela a dificuldade do próprio jogador em situações deste tipo, não podendo jogar em antecipação, onde é mais forte. Por outro lado, e como já escrevera ontem, foi vitima da pouca protecção colectiva da equipa perante a ameaça que representava Quarema, algo corrigido após o intervalo. Do ponto de vista ofensivo, não conseguiu o protagonismo habitual.

Jefferson - A meu ver, é questionável a forma como reagiu ao cruzamento de Quaresma, na primeira parte, acabando por perder o controlo sobre Varela. De resto, fez um jogo regular, com alguns problemas no controlo defensivo do seu corredor (o que vem sendo habitual), e sem grande capacidade para protagonizar os movimentos ofensivos que o caracterizam.

E.Dier - Fez um jogo sóbrio, longe do protagonismo de Rojo, mas quase sempre regular e a cumprir com aquilo que lhe foi sendo solicitado. Isto, tanto defensivamente como ofensivamente, o que no seu caso é novo sinal positivo, após a boa exibição de Vila do Conde, que interrompeu uma série de aparições onde constantemente expunha a equipa através de uma gestão pouco adequada do critério. O lance a justificar mais atenção é aquele em Jackson ganha as suas costas e acaba por evitar Patrício antes de ser contrariado pelo próprio Dier. É um lance muito semelhante àquele em que Ghilas se isolou, no jogo para a Taça da Liga, e uma situação que se repete de outros jogos (por exemplo, em Guimarães), sendo por isso um aspecto que deve rever e trabalhar.

Rojo - Um jogo de grande protagonismo no capítulo defensivo, com grande capacidade de intervenção em praticamente todos os capítulos do jogo defensivo. Com bola, não teve tanto protagonismo.

William - Voltou a fazer um jogo excepcional no que respeita à capacidade de gestão da posse, sobretudo em situações mais complicadas, onde a sua capacidade - fora-de-série - já encanta todos os que o vêem jogar. Repito, porém, que a sua virtude reside na qualidade do envolvimento, e não tanto na quantidade, com William a não ser um ponto de passagem obrigatório do jogo da equipa (pela própria natureza das orientações colectivas). No mesmo sentido, no capítulo defensivo - e ao contrário do que é tantas vezes sugerido - a sua prestação também não é excepcional. Por exemplo, neste jogo Adrien teve uma capacidade de intervenção bem mais expressiva, o que não me pareceu ter sido percepcionado. A sua grande dificuldade reside na dificuldade de ajuste posicional em lances de maior rapidez, e na primeira parte deveria ter sido mais previdente relativamente ao duelo entre Quaresma e Cedric, oferecendo poucas coberturas ao lateral do seu lado, algo que corrigiu após o intervalo. Para completar mais uma boa exibição, fez ainda a abertura para André Martins, no lance do golo.

Adrien - Tal como no jogo da Taça da Liga, tornou-se protagonista principal do pressing da equipa. Aliás, parece sentir-se muito confortável quando lhe é pedido que pressione em linhas mais adiantadas, sendo a capacidade pressionante, na minha leitura, o aspecto onde a sua época justifica mais elogios. Em posse, também esteve bastante bem, nomeadamente no momento de transição defesa-ataque (consequência da tal boa presença pressionante) onde realizou uns notáveis 11 passes completos. Apontou o canto para a finalização de Mané, na melhor ocasião da equipa para além do golo de Slimani.

André Martins - Foi, também ele, uma presença muito importante no pressing alto, isto apesar de em termos estatísticos isso não se ter reflectido tanto como acontece normalmente. Em termos de envolvimento ofensivo, o grande (e único, diga-se também) destaque vai, claro, para o golo, obtido através do tal movimento nas costas do lateral que tanto repete nas suas acções e que, curiosamente, esteve na origem dos golos contra Benfica e Porto (aliás, os dois parecem tirados a papel-químico).

Capel - Teve a rara oportunidade de jogar os 90 minutos, mas nem por isso se pode dizer que tenha tido um impacto especialmente relevante no jogo. Há que separar a sua prestação entre os momentos de organização e transição. Em organização (e mesmo sem que isso trouxesse grandes mais-valias ofensivas), conseguiu uma boa eficácia nas suas aparições no jogo. Em transição, por outro lado, foi bastante inconsequente, não conseguindo tirar partido das suas tentativas de aceleração do jogo.

Mané - O seu repentismo permite-lhe causar alguns estragos nas defesas contrárias, mas precisa claramente de evoluir no capítulo decisional, para se tornar um jogador mais consequente e útil em todas as circunstâncias do jogo. Algo que ainda não acontece. A grande nota de destaque da sua exibição vai para o cabeceamento, na sequência de um canto, que quase deu em golo.

Slimani - Segue na sua impressionante caminhada de bom aproveitamento ofensivo, desta vez com um golo a decidir um jogo de grande importância. Para além desse lance capital, mostrou muito empenho e conseguiu emprestar alguma utilidade à equipa com isso. Mas, claro, também se percebem todas as suas limitações.

Porto
Hélton - Sem hipóteses no golo, tinha evitado outro anteriormente. Mas a grande nota de destaque do jogo é, claro, a sua lesão. Fabiano conquistou um grande crédito nos últimos tempos, mas não será nada fácil substituir a qualidade que Hélton regularmente emprestava à equipa.

Danilo - Sempre com grande vocação ofensiva, projectou-se muito no seu corredor e conseguiu causar alguns estragos, nomeadamente quase oferecendo um golo a Jackson. Defensivamente, por outro lado, não tem grande intensidade e, sem surpresa, voltou a ter um desempenho bastante modesto.

Alex Sandro - Defensivamente, e à margem de um ou outro ajustamento posicional que tem de ser revisto colectivamente, esteve bem. Com bola, porém, foi dos elementos que mais expôs a equipa através de passes perdidos em zona defensiva.

Abdoulaye - Ficou na fotografia do golo, e isso valeu-lhe a crucificação popular. A meu ver, porém, será muito injusto apontar o dedo a Abdoulaye neste jogo, quando outros elementos estiveram bem pior. Aliás, Abdoulaye foi dos jogadores que menos errou dos elementos do quarteto defensivo, sendo por outro lado o jogador com mais intervenções defensivas em todo o jogo, algumas delas bastante importantes. Relativamente ao lance do golo, a sua acção era muito difícil, porque o lance se desenrola em velocidade e Abdoulaye é relegado para uma situação de 1x1 com Slimani, com toda a área por defender. Teria de garantir a frente do lance - que fez - mas em simultâneo manter proximidade espacial com o avançado, tudo isto sem perder contacto visual com a bola.

Mangala - É constantemente elogiado, sendo colocado num patamar que, como tantas vezes escrevi, não tem correspondência naquilo que objectivamente faz em campo (isto, à margem da capacidade aérea nos lances ofensivos). Em posse, foi um desastre, repetindo erros e um mau ajuste do critério, que vem de outras ocasiões. E, mesmo no que respeita à capacidade de intervenção defensiva, onde quase sempre é visto como um fora-de-série, a verdade é que o seu registo é muito pouco impressionante, sendo repetidamente menos eficaz do que os seus parceiros de sector.

Fernando - É certo que ganha bastante no regresso à função de pivot, mas tem feito uma época bem abaixo do que já fez, e este jogo é mais um exemplo disso mesmo. Particularmente, em posse, não tem capacidade para ser a resposta aos problemas da equipa, sendo necessário que o seu envolvimento seja facilitado pela qualidade colectiva - que actualmente é escassa.

Defour - Apesar de já não actuar a seu lado, fez um jogo bastante semelhante ao de Fernando, com grande envolvimento em posse, mas sem ser a resposta que a equipa precisava para evitar o pressing do Sporting. Ofensivamente, não conseguiu um grande envolvimento.

Carlos Eduardo - Mais um jogo onde a sua capacidade de envolvimento deixou muito a desejar, isto mesmo já não actuando numa posição tão escondida como acontecia com Paulo Fonseca. Essa é a sua principal lacuna, e quando os adversários bloqueiam a primeira fase de construção da equipa, Carlos Eduardo simplesmente desaparece do jogo.

Quaresma - Pareceu muito determinado e, até certo momento, inspirado. Com um pouco mais de sorte, aliás, poderia ter sido mesmo o grande protagonista da partida. Quaresma surgiu melhor do que eu próprio pensava neste regresso ao clube, nomeadamente em termos físicos. Este jogo, de resto, é bem revelador do impacto contrastante que pode ter. É um tremendo executante, e isso pode sempre causar estragos se lhe for concedido espaço para colocar a bola na área. Por outro lado, porém, as suas acções não têm qualquer enquadramento colectivo, e sempre que há uma reacção colectiva à sua presença, a sua utilidade reduz-se praticamente a zero, como aconteceu na segunda-parte. Pessoalmente, confesso, acho muito perigoso que uma equipa da dimensão do Porto se possa construir em redor de um jogador como Quaresma. No mesmo sentido, tenho muitas dúvidas sobre a sua utilidade para a Selecção.

Varela - Não terá sido um jogo extraordinário, mas em termos práticos foi claramente a unidade de maior rendimento da equipa. Muito útil defensivamente, com boa capacidade e eficácia no seu envolvimento, e estando presente em 3 das 4 principais ocasiões da equipa.

Jackson - O eclipse do jogo interior da equipa reduziu muito a sua envolvência na dinâmica colectiva. Hoje, é mais do que nunca um jogador de área e dependente da resposta a cruzamentos. Creio que ele e a equipa perdem com isso. Poderia ter marcado após cruzamento de Danilo, ou mais tarde quando ganhou as costas de Dier. Não foi feliz, em nenhuma dessas situações, mas creio que onde se poderá mais censurar a acção do colombiano é num cabeceamento falhado, na sequência de um pontapé de canto, e quando estava em muito boa posição.

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