17.3.14

Sporting - Porto (I): Aspectos colectivos

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O Sporting venceu, e em jogos com esta carga emocional o resultado enviesa, inevitavelmente, a apreciação qualitativa sobre aquilo que as equipas fizeram. Naturalmente, com benefício para os vencedores. Frequentemente, discordo desta radicalização da percepção que se generaliza após estes jogos, quase sempre equilibrados e definidos em pormenores, sendo este mais um desses casos. Mais concretamente, não creio que o Sporting tenha desmerecido a vitória, sobretudo porque foi quem melhor potenciou os erros alheios, de acordo com aquelas que eram as suas intenções. Mas, se o Sporting pode chamar a si a superioridade na implementação do plano estratégico, também me parece incontornável que foi o Porto quem se aproximou do golo com mais frequência, e que o desfecho poderia, de forma igualmente natural, ter sido diferente. Aqui, há dois pontos que me parecem determinantes explorar, para efeitos de análise: 1) o confronto entre a fase de construção portista e o pressing do Sporting, por onde se definiu o balanceamento do jogo e onde os visitados ganharam clara vantagem; 2) a qualidade de definição no último terço, onde o Porto foi quem esteve globalmente melhor, apesar da má segunda-parte e com o Sporting a desperdiçar, consecutivamente, as oportunidades ofensivas que o seu pressing lhe proporcionava.

Sporting
A fórmula aplicada por Jardim não foi diferente de nenhum outro jogo, nomeadamente no enfase dado à presença pressionante e ao condicionamento da fase de construção do adversário. Por essa via, o Sporting tentou - como sempre tenta - não só impedir o adversário de ter bola, como também potenciar momentos de desorganização do adversário. O sucesso desta estratégia depende, obviamente, da capacidade de resposta da oposição, e foi por isso, por exemplo, que o Sporting sentiu tantas dificuldades no jogo da Luz. Neste caso, e em sentido totalmente inverso, o sucesso foi tremendo - maior, até, do que no jogo da Taça da Liga - com inúmeras intercepções a serem conseguidas e várias situações de transição para explorar. O problema, porém, surgiu na definição no último terço, onde a equipa voltou a não estar especialmente inspirada, o que determinou um enorme desperdício de jogadas potencialmente perigosas, mas que raramente chegaram realmente a ameaçar Helton ou, depois, Fabiano.
À margem destes dois aspectos do jogo - a meu ver, e como escrevi acima, os mais determinantes na definição do mesmo - há que realçar ainda a repetição das tendências desde sempre verificadas na equipa de Jardim, nomeadamente a pouca exposição ao risco na fase de construção e a dependência quase total dos corredores laterais na criação ofensiva, ignorando quase que por completo o espaço interior. Num âmbito mais estratégico, importa também sublinhar a má preparação para os duelos individuais com Quaresma, nomeadamente na definição de coberturas defensivas à acção de Cedric, algo que aparentemente terá sido corrigido ao intervalo.
Em relação ao que resta da temporada, esta foi uma vitória obviamente muito importante para o objectivo do 2º lugar. 5 pontos em 7 jogos são sem dúvida uma vantagem significativa, mas de forma nenhuma uma garantia. Desde logo, porque basta 1 deslize para que a sensação de conforto se esfume, mas sobretudo pelos sinais que a equipa vem deixando nos últimos tempos. O conforto para o Sporting, parece-me, não vem tanto da confiança na sua própria performance, mas antes da expectativa de que também o Porto terá os seus pontos a perder até ao final da competição.

Porto
No rescaldo do jogo frente ao Nápoles tinha alertado para a perspectiva de problemas na fase de construção, para este jogo. Essa expectativa confirmou-se em pleno, com uma quantidade, diria, pornográfica de perdas de bola em zona normalmente proibida. A factura foi, neste sentido, extremamente generosa para os riscos que a equipa correu, mas isso tem mais a ver com demérito alheio do que com mérito próprio, não servindo por isso de atenuante. Em particular, parece-me que o Porto tenta forçar a progressão em apoio a todo o custo, não revelando porém uma preparação colectiva para responder aos problemas que uma atitude mais pressionante lhe possa colocar. A consequência é um desfasamento significativo entre o risco assumido e a qualidade apresentada, tal como ficou bem patente neste jogo. Mas este é apenas um dos aspectos que há para corrigir no novo Porto de Luís Castro, com outros indícios, identificados na partida da Liga Europa, a serem igualmente confirmados no teste de Alvalade. A saber, e para além da fase de construção 1) o comportamento da linha defensiva, frequentemente exposta em situações questionáveis; 2) o posicionamento defensivo dos médios interiores, com Fernando a aparecer frequentemente isolado "entrelinhas"; 3) a dinâmica ofensiva, novamente com os médios interiores em foco, e com a dificuldade de explorar o jogo interior a manter-se desde a saída de Lucho.

São motivos de sobra para que exista alguma apreensão em relação ao futuro imediato, com a agravante da equipa atravessar nesta altura um ciclo competitivo muito apertado e não haver propriamente condições para que, através do treino, se possam corrigir muitos destes aspectos. Aliás, é no plano estratégico que Luís Castro justificará mais criticas relativamente ao que se passou neste jogo, porque se os sinais eram - tal como escrevi - identificáveis, as consequências eram também elas perfeitamente antecipáveis e, logo, possíveis de evitar ou atenuar através do plano estratégico. É bom que tudo isto seja bem equacionado para o jogo de Nápoles, porque se Benitez apostar numa abordagem mais agressiva, ao contrário do que fez na primeira mão, o Porto poderá passar por grandes dificuldades, já que o potencial técnico dos dianteiros napolitanos não é certamente igual aos do Sporting.

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