10.2.14

O "onze" de Leonardo Jardim

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O adiamento do derby terá poucos pontos positivos, mas oferece-nos pelo menos a possibilidade de comentar as opções iniciais dos treinadores antes do apito inicial, o que é sempre um exercício mais interessante do que fazê-lo depois do jogo. Aqui, obviamente, há uma enorme diferença entre as duas equipas, contrastando a previsibilidade das opções de Jesus com a pequena revolução que Leonardo Jardim encetou no seu onze. A primeira ideia passa por uma aposta num jogo mais directo, por parte do treinador madeirense, com Slimani como referência aérea. Mas há, na minha opinião, outras questões a levantar em torno das implicações de algumas opções, nomeadamente no que respeita ao jogo exterior. Aqui ficam algumas notas sobre as opções de Jardim, salvaguardando que este cenário poderá, agora, ser alterado antes do inicio do jogo.

Onde vão jogar Montero e Martins? - A primeira ideia sugere que a única alteração no meio-campo de Jardim é a substituição directa de William por Dier. Mas será mesmo assim? Na minha leitura, não. Olhando para o passado, sempre que Jardim utilizou, em simultâneo, Slimani, Montero e Martins, foi sempre o médio português a derivar para uma posição mais lateral. No mesmo sentido, não é a primeira vez que Jardim recorre a um ala de características mais interiores (aliás, foi essa a sua primeira opção na pré-época, com Magrão ou o próprio Martins), nem tão pouco a primeira vez que encosta André Martins a uma das linhas. Mas seria, isso sim, a primeira vez que utilizaria Montero numa posição mais exterior...

Construção mais directa, com Slimani 
Este tipo de jogos apresentam problemas obviamente diferentes para o Sporting, em relação à generalidade dos outros opositores internos. Em particular, ao nível da fase de construção, sendo muito mais difícil (e arriscado) ter bola. A opção passa, recorrentemente, por construir de forma mais directa, usando uma referência frontal que faça o jogo "saltar" o risco da primeira fase de construção. No jogo para a Taça, foi o Benfica quem melhor proveito tirou desta alternativa, com Cardozo a ter um desempenho muito forte nesse plano, em contraste com as maiores dificuldades de Montero. Desta vez, os papeis podem-se inverter, com Jardim a apostar em Slimani e, a meu ver, a pensar muito naquilo que o argelino pode oferecer em termos de soluções para uma construção mais longa.

Desvirtuar das dinâmicas dos corredores laterais?
A grande interrogação, na minha leitura, sobre aquilo que implicam as opções de Jardim tem a ver com a capacidade do jogo exterior, habitualmente o ponto mais forte do futebol leonino. Ora vejamos, assumindo que Martins joga sobre a direita e Montero ao meio, o Sporting colocará mais foco no corredor central, com Martins a oferecer mais capacidade no jogo interior do que a generalidade dos extremos da equipa, e com Montero a permitir uma presença mais constante no espaço entrelinhas e, sobretudo, a potenciar mais duelos directos, 2x2, com os centrais (provavelmente jogando muito a partir da segunda-bola). Esta parece-me ser a intenção de Jardim, mas há um outro lado para esta opção. Desde logo, o Sporting perderá um dos movimentos mais eficazes da sua fase de construção, que contempla o baixar do extremo-direito e a entrada de Martins, em diagonal, no espaço aberto nas suas costas. Para além disso, perderá profundidade com Martins como extremo, e perderá também o apoio que o próprio Martins oferece habitualmente ao extremo quando joga como médio, sendo expectável que Montero se fixe mais sobre o corredor central.
Do outro lado, à esquerda, também há muitas limitações em relação à dinâmica habitual. Mesmo que Piris protagonize bem os movimentos de profundidade - habitualmente muito fortes, com Jefferson - dificilmente conseguirá os mesmos timings de execução, uma vez que o seu pé preferencial é o direito. Aliás, com Piris e Heldon, o Sporting não tem nenhum canhoto no seu corredor esquerdo. Finalmente, e tal como acontece à direita, a utilização da dupla Slimani-Montero, sugere menor presença em apoio sobre os corredores laterais, sendo possivelmente Adrien o maior suporte a vir do corredor central, não se esperando porém que possa surgir daí grande alternativa em termos de profundidade, ja que Adrien tem uma missão de bastantes exigências em termos posicionais.

Dier - Não surpreende a opção por Dier - embora talvez surpreenda que Vitor tivesse sido relegado para a bancada. Jardim manterá uma boa presença no jogo aéreo, o que será provavelmente importante neste jogo, já que o Benfica facilmente recorrerá a uma construção mais longa. Em termos defensivos, também creio que a equipa passar sem se ressentir muito, sendo um jogador fisicamente com virtudes e defeitos semelhantes às de William. O risco, neste capítulo, estará mais no posicionamento, tendo em conta a pouca habituação do jogador à posição. A grande diferença surgirá, claro, quando a equipa tiver a bola. A vantagem para Dier reside no facto de, previsivelmente, Jardim não lhe exigir muito neste plano, com a entrada de Slimani a sugerir uma aposta mais declarada na construção longa. Ainda assim, é importante que o inglês conserve grande lucidez no seu critério com bola, um capítulo em que revelou alguma irregularidade quando foi utilizado como central e que num jogo desta natureza poderá ser um factor decisivo, sabendo-se do condicionamento que o Benfica habitualmente faz no seu pressing mais alto e, claro, na capacidade que os seus jogadores terão para "punir" eventuais perdas em zonas de risco. Em suma, diria que é perfeitamente possível que o Sporting não se ressinta da ausência de William, mas que para tal aconteça é preciso que exista uma resposta colectiva, e não apenas individual, à ausência do médio.

Heldon - Estive para escrever sobre ele na semana que passou, mas acabei por não o fazer. Não é um jogador que tenha alguma vez observado com grande detalhe, e por isso tenho ainda algumas dúvidas sobre alguns aspectos. Ainda assim, sei o suficiente para afirmar que o Sporting contratou aquele que é, fora dos "grandes", a individualidade de maior destaque em termos ofensivos da primeira metade da época. Não apenas pelos golos que marcou - onde se incluem penáltis - mas também pela capacidade de, em jogo corrido, desequilibrar e aproximar a sua equipa do golo. É verdade que foi apenas meia época e que nos outros anos não conseguira o mesmo protagonismo, mas é incontornável que o seu rendimento foi extraordinário. Em particular, destaca-se o seu sentido de baliza, tanto na capacidade de aparecer em zonas de finalização como na qualidade de execução (é provável, inclusivamente, que seja protagonista nas bolas paradas). A minha maior dúvida reside na sua capacidade de envolvimento em fases mais precoces do jogo, nomeadamente ao nível da decisão/percepção em zonas mais distantes da área adversária.

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