26.2.14

Champions, oitavos-de-final (III)

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Zenit - Dortmund
Se este era o dia menos interessante, dos quatro em que se disputam os oitavos-de-final, em grande parte tal se explica pela presença do Zenit. Torna-se até difícil de entender a falta de qualidade colectiva da equipa de Spalletti, e não deixa de me vir à memória a equipa do Zenit que, em 2008, venceu a Taça Uefa e a Supertaça Europeia com um elenco bem mais modesto, mas com um nível futebolístico incomparavelmente superior.

Tudo começou com dois golos madrugadores, ambos a levantar muitas dúvidas sobre a prestação de Criscito mas, por muito pesado que tenha sido, esse duplo-golpe está longe de explicar tudo o que aconteceu. Em particular, as dificuldades na fase de construção russa, constantemente comprometida pela falta de soluções de passe oferecidas ao portador da bola. Um regalo para o pressing do Dortmund, que foi sempre alicerçando grande parte do seu potencial ofensivo nas recuperações que, sucessivamente, ia conseguindo no meio-campo contrário. A única surpresa é, pois, o facto do Zenit ter conseguido marcar dois golos, num jogo onde não criou um grande número de oportunidades, isto mesmo tendo partido o jogo desde muito cedo.

Sobre o Dortmund, o passado recente - nomeadamente a época passada - mostra como pode ser perigoso desprezar a formação de Klopp. É uma equipa bem organizada, que conta com algumas unidades de grande qualidade - particularmente, Lewandowski e Reus - e que terá condições para dar prioridade total a esta competição, já que o título interno está completamente comprometido. E este costuma ser um pormenor importante na fase final da prova...

Olympiakos - Man Utd 
Se o Zenit parece estar a mais nesta competição, também não se vislumbram, nesta altura, grandes possibilidades de qualquer destas equipas chegar muito longe na prova. Mais normal o caso do Olympiakos, que não faz um investimento nem tem qualidade para que se lhe exijam grandes feitos. Mais surpreendente, e por isso também mais interessante, é o caso do Man Utd.

Começando pelo jogo, convém não ser demasiado resultadista nas críticas a fazer à equipa de Moyes. Isto é, foi evidente a falta de qualidade da equipa, sobretudo na forma como não conseguiu responder ao condicionamento defensivo, estrategicamente definido, do Olympiakos. Tanto na fase de construção como em zonas mais adiantadas, a equipa não apresentou movimentações colectivas que a ajudassem a chegar aos seus objectivos, sendo também notório o mau desempenho individual de vários jogadores, provavelmente pouco confiantes naquilo que estão nesta altura a fazer. Seja como for - e é aqui que se deve fazer alguma justiça - o Olympiakos também não esteve minimamente perto de criar o suficiente para justificar os dois golos que marcou. Aconteceu, como pode acontecer sempre no futebol, mas não foi algo que se tornasse evidente por aquilo que o jogo mostrou.

O debate em torno de Moyes é interessante, embora do meu ponto de vista não exista grande margem para discussão. O United cresceu, e é o que é hoje, em grande parte porque teve a felicidade de contar com um dos melhores treinadores da história do jogo. Não me vou alongar, aqui, sobre a história de Ferguson, que é a meu ver um das mais ricas que o futebol já nos ofereceu e não cabe, certamente, como subcapítulo deste texto, mas não quero deixar de sublinhar que foi, durante muito tempo, menosprezado na sua competência táctica, e é por aí que se explica muito do problema que a equipa vive hoje. Mas, voltando a Moyes e à situação actual, é absurdo comparar-se este seu inicio, como o inicio de Ferguson, nos anos 80. Ferguson chegou a um United destroçado, e tinha como objectivo reerguer o gigante, há muito adormecido. Moyes chegou a um United campeão, e tinha como objectivo mantê-lo nesse nível, tendo tido todas as condições para tal. Não há comparação possível. O problema do United, hoje, passa sobretudo pela pobreza do seu jogo, e por aquilo que a equipa perdeu com a mudança no comando técnico. Uma coisa é dar tempo aos treinadores para que realizem o seu trabalho, outra é não reconhecer a perda de valor que representou uma simples troca no comando técnico da equipa. Para já, e até pela forma como têm aberto os cordões à bolsa, os donos do clube aparentemente não reconheceram o erro na escolha do treinador, mas seria para mim uma enorme surpresa se o autismo relativamente à situação do treinador se mantivesse até ao inicio da próxima época.

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