19.2.14

Champions, oitavos-de-final (I)

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Man City - Barcelona
A elevada expectativa em torno deste embate era, do meu ponto de vista, perfeitamente justificada. Em particular, havia a curiosidade de observar a forma como qualquer dos conjuntos reagiria perante a capacidade de circulação do adversário. Porque se nos respectivos campeonatos Man City e Barça estão habituados a fazer "gato-sapato" do pressing alheio, raramente qualquer delas se confrontou com o seu próprio veneno. Neste sentido, o jogo mostrou algumas coisas interessantes, acabando o equilíbrio por ser desfeito pelo lance do primeiro golo. Aqui ficam aqui algumas notas que, a meu ver tacticamente, lançaram os dados do jogo:

- Mais respeito por parte do Pellegrini: Não alterou a estrutura - de novo, mudar as características dos jogadores não implica forçosamente que se mude a estrutura - mas quis 1) claramente manter o controlo sobre a projecção ofensiva dos laterais, abdicando de um ala interior à esquerda, e 2) oferecer maior presença defensiva à linha média, com a inclusão de David Silva na primeira linha de pressão, mas com a missão de baixar para uma linha mais baixa, sempre que a posse do Barça assim o exigisse. Um comportamento que retirou à equipa a primeira referência vertical para o momento de transição, e daí talvez se explique a maior dificuldade de progressão após a recuperação da bola.

- Posse do Barça: Para além das opções no onze - e provavelmente mais importante - notou-se a preocupação do City em baixar as linhas perante a posse do Barça, privilegiando a protecção dos espaços essenciais em detrimento de maior urgência na procura de recuperar a bola. O resultado foi, na minha leitura, bom. Ou seja, é verdade que o Barça teve muito mais bola, mas o facto é que apenas com muito pouca frequência chegou a zonas verdadeiramente problemáticas para o City. Aqui, pode-se questionar a movimentação catalã no último terço, frequentemente com pouca presença para responder às entradas da bola na última linha contrária e, pontualmente também, com alguma redundância de movimentos. Nota, do lado do City, para o comportamento de Demichelis, muito facilmente atraído pelas movimentações contrárias - era uma oportunidade que se abria para o Barça mas, note-se, não foi por este motivo que se deu o lance decisivo.

- Posse do Man City: Muita qualidade na circulação, com menor volume, é certo, mas com mais verticalidade e capacidade de aproveitar espaços essenciais, nomeadamente a zona entrelinhas. Esta diferença resulta, não só da postura de ambas as equipas com bola, mas sobretudo da postura mais pressionante do Barça, relativamente ao City. Este dado fez com que o City fosse mais vezes provocado pelo pressing contrário, definindo-se mais rapidamente situações de definição das jogadas em que, ou o Barça recuperava, ou o City encontrava espaço para progredir. E foi quase sempre assim, enquanto o jogo esteve 11x11. Outro aspecto que me parecia ter algum potencial era o 'overlap' dos laterais do City, um movimento muito forte na equipa de Pellegrini e que o Barça poderia ter dificuldades em controlar, pela velocidade com que é feito e pelo posicionamento habitual dos médios e extremos blaugranas. No entanto, esse movimento nunca chegou a ser testado no jogo.

Perante estes dados, o jogo foi decorrendo com algum equilíbrio, acabando tudo por ficar determinado num lance de transição, e que podia ter acontecido para qualquer lado. É claro que a maior qualidade técnica do Barça ajuda, e que a decisão de Demichelis é, igualmente, questionável. Mas, não tenho dúvidas, também podia ter sido o City a ganhar vantagem numa situação semelhante. O City deverá sair, mais uma vez, de forma permatura desta competição, mas fica clara a sua evolução nesta temporada e, pelo menos para mim, a sua candidatura ao título interno fica reforçada com a saída da Champions.

Leverkusen - PSG
É certo que não ajuda sofrer um golo praticamente na primeira jogada do jogo, mas não creio que isso sirva para explicar tudo o que aconteceu. Confesso que me espanta a abordagem do Leverkusen, nomeadamente a forma como arriscou na sua postura pressionante, perante uma equipa tão forte tecnicamente como é o PSG. Subir linhas para pressionar a todo o campo pode parecer sempre uma boa ideia para dois adeptos, numa conversa de café, mas... para o treinador do Leverkusen, num jogo de Champions frente ao PSG, só muito dificilmente o poderia ser. Muito espaço entre sectores e muito desposicionamento, de um lado. Muita qualidade técnica e capacidade de circulação, do outro. O resultado foi o sentenciar da eliminatória em menos de 45 minutos.

Sobre o Leverkusen, dizer que há, de facto, uma grande diferença entre as 2 principais equipas do futebol alemão - Bayern e Dortmund - e as restantes. Não só no potencial técnico dos seus jogadores, mas também em termos de maturidade táctica na abordagem aos jogos. O Schalke, se repetir esta tipo de receita frente ao Real, poderá seguir o mesmo destino.
Sobre o PSG, reforçar que se trata mesmo de uma das mais fortes equipas do futebol europeu da actualidade. Estará um degrau abaixo de Barça, Real e Bayern, mas esta não é uma equipa do actual "pelotão" do futebol europeu. Convém perceber a diferença (e estou a lembrar-me de algumas coisas que por cá se disseram nos recentes confrontos com o Benfica).

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