18.11.13

Portugal - Suécia (III) - análise de jogadas

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5' - A primeira ocasião portuguesa no jogo. Infelizmente, foi um tipo de solução pouco explorada durante o jogo, onde se sucederam os cruzamentos perante uma equipa sueca quase sempre bem posicionada. É claro que não é evidente conseguir ser bem sucedido entrando apenas pelo corredor central, muito poucas equipas o conseguem fazer com eficácia constante e seria falacioso da minha parte estar a usar 1 lance isolado para defender o contrário. Aliás, o sucesso deste movimento só é possível por uma série de factores dificilmente conciliáveis: 1) O facto de ser Ronaldo quem inicia a jogada, o que aumenta a preocupação do jogador que está a fazer a cobertura e liberta Meireles. 2) a qualidade e apetência de Meireles para este tipo de jogada, antecipando a oportunidade (inclusivamente pedindo a bola) e executando de primeira. 3) o movimento de rotura de Moutinho, que acaba por ter um timing perfeito com tudo o resto, algo que é muito difícil de repetir intensionalmente.
Ainda que este lance deva ser usado com alguma cautela, parece-me claro que Portugal poderia e deveria ter envolvido mais o seu jogo no último terço, criando dificuldades de posicionamento à linha defensiva sueca e não se limitando a cruzar repetidamente, como quase sempre sucedeu.

6' - Talvez a melhor ocasião da Suécia, numa jogada que resulta, primeiro, do risco natural de quem tenta pressionar para recuperar a bola e não o consegue e, depois, do problema mais fácil de identificar na equipa portuguesa: o controlo do lateral que joga do lado de Ronaldo. Aqui, é preciso notar que a ausência de acompanhamento de Ronaldo é intencional na equipa portuguesa, por forma a potenciar depois a sua qualidade no momento de transição. Portugal consegue colmatar essa ausência de forma razoável em situações em que a bola entra directamente nesse corredor, porque a linha média consegue ajustar o seu posicionamento e fechar junto de Coentrão. O problema torna-se quase sempre mais grave quando a bola entra primeiro no corredor oposto, fazendo a equipa portuguesa 'bascular' para esse lado, e circulando depois para o corredor oposto, aproveitando o espaço criado nas costas de Ronaldo. Algo que, por exemplo, a Dinamarca soube aproveitar muito bem no Euro'2012 e que a meu ver deve ser trabalhado futuramente (no tempo que Portugal irá ter antes do Mundial, caso se qualifique). Talvez deva ser pedido a Ronaldo outra resposta defensiva em situações deste tipo, onde previsivelmente é mais difícil aos médios fechar no seu corredor.

29' - Uma jogada semelhante à primeira aqui abordada, embora com muito menos probabilidade de sucesso. A nota aqui vai para o instinto dos dois protagonistas da jogada, Meireles e Ronaldo. Meireles, de novo, a revelar a rapidez com que antecipa este tipo de movimento, recebendo e executando imediatamente. É uma qualidade importante no médio porque este tipo de movimento tem geralmente muito potencial uma vez que a linha defensiva está normalmente a ajustar-se posicionalmente à circulação lateral da bola e não necessariamente a controlar a profundidade. Mais à frente, também Ronaldo antecipa a oportunidade, posicionando-se para o movimento de rotura mesmo antes da bola chegar a Meireles. Os jogadores não têm muitas oportunidades por acaso, e Ronaldo tem-nas fundamentalmente porque, para além do capítulo técnico, é também muito forte a movimentar-se sem bola. Aqui, o sucesso acaba por não acontecer porque a linha defensiva sueca se expôs pouco e não cometeu o erro de se adiantar muito numa situação em que a linha média não tinha condições para pressionar o portador da bola.

49' - Uma das melhores ocasiões de Portugal no jogo, num cruzamento que até nem acontece numa posição muito favorável mas que conta com o detalhe de ser antecedido por uma mudança de corredor. Este facto explica a menor preparação da linha defensiva sueca para a resposta a este lance, mesmo tendo uma forte presença numérica dentro da área. Mais uma vez, reforço a ideia sobre a importância de não tornar previsível a situação do cruzamento, o que pode ser decisivo mesmo perante uma grande presença numérica do adversário.

62' - Mais uma excepção áquilo que foi a regra do jogo português no último terço, desta vez com uma penetração interior que resulta da opção de circular por dentro em vez de forçar o cruzamento a partir do corredor lateral. Ainda para mais, parece-me que Portugal tem vários jogadores fortes neste tipo de movimento, quer ao nível do passe, quer ao nível das movimentações de rotura.

82' - O grande destaque no golo português é, a meu ver, a acção de Hugo Almeida e Veloso. Não há nenhum golpe de génio escondido nisto, apenas a simplicidade trivial da rapidez com que ambos reagiram ao lançamento lateral. Sobretudo Hugo Almeida, que sai inclusivamente da zona onde era mais expectável ele estar para criar uma vantagem instantânea no corredor lateral. O facto de se reagir mais rápido em situações "mortas", como lançamentos laterais, faltas ou mesmo pontapés de baliza pode transformar um lance aparentemente inocente em vantagens potencialmente decisivas num jogo que se define tantas e tantas vezes nos pormenores. É também por aqui que se mede a "intensidade" com que os jogadores estão no jogo, e se Portugal construiu esta jogada foi precisamente por se ter mantido intenso no jogo.

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