29.11.13

Análise jogadas (Golos do Anderlecht e Sporting)

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1º golo Anderlecht - Voltando ao Anderlecht-Benfica, e em particular aos golos dos belgas, parece-me que ambos resultam de um mau posicionamento circunstancial da zona defensiva do Benfica. Neste primeiro caso, o golo resulta de uma insistência após a bola ter saído da área. A primeira preocupação dos defensores é sair para a linha de área, não havendo por isso a possibilidade de ajustar imediatamente as distâncias laterais entre os jogadores, e é precisamente por aí que o desequilíbrio acontece. Sendo previsível que a bola ia ser recolocada na área e não havendo uma distância ideal entre Luisão e André Almeida, a decisão de Matic em abandonar aquela zona é, no mínimo, imprudente. E acaba por ser por aí que Benfica é exposto.

2º golo Anderlecht - No caso do 2º golo, começo por dizer, o movimento do Anderlecht é muito bem conseguido, sendo justo destacar em primeiro lugar o mérito dos belgas nesta jogada. De todo o modo, a defesa do Benfica não fica isenta de responsabilidades, nomeadamente no que respeita ao ajuste posicional que é feito quando a bola entra no lateral direito do Anderlecht. Como é visível, apenas Sulejmani se aproxima do portador da bola, saindo em contenção, mas sem que qualquer dos outros jogadores o acompanhasse no sentido de fazer a cobertura. O instinto, tanto de André Almeida como de Matic é aproximar de uma zona central já suficientemente povoada por defensores do Benfica. Matic percebe o erro e reage, mas não a tempo de controlar o movimento interior do lateral belga. Note-se que já no jogo com o PSG, o primeiro golo surge de uma movimentação semelhante, em que também não há uma reacção suficientemente rápida dos médios e onde o lateral (Siqueira nesse caso) fica atraído pelo extremo e não faz a cobertura. Tal como nesse lance de Paris, aliás, há a tentação de responsabilizar o extremo (agora Sulejmani, na altura Gaitan), que me parece incorrecta. Uma última nota para a forma como Luisão está a travar o duelo individual com Mitrovic no centro (é mais evidente numa repetição que não está no vídeo), ficando atrás da linha defensiva e retirando qualquer dúvida em relação a um possível fora-de-jogo no momento do passe.

Sporting e o espaço entrelinhas - Recupero algumas jogadas do jogo de Guimarães, onde é notório, por um lado, a exposição do Vitória em termos de espaço entrelinhas, com o adiantamento dos dois médios e atracção do pivot para zonas laterais, e por outro o instinto colectivo do Sporting que praticamente ignora a possibilidade de explorar esse espaço, mesmo quando ele se torna tão evidente como acontece nestas jogadas. Trata-se sobretudo de uma questão de identidade, sendo trivial que qualquer equipa perde quando não é capaz de explorar um determinado movimento ou espaço do campo, mas não subscrevendo eu a teoria de que os cruzamentos são um recurso menor no futebol comparativamente com o corredor central, como é um pouco moda hoje em dia defender. Essa é uma teoria que, a meu ver, ignora vários pontos de vista relevantes, desde logo a segurança que existe em atacar pelos corredores laterais em termos de reacção à perda, e o potencial que representa o cruzamento enquanto arma ofensiva (basta que alguém se dê ao trabalho de analisar a % de golos que resulta de cruzamentos). Desde logo o caso do Sporting é um exemplo do potencial que pode representar atacar pelos corredores laterais, sendo a equipa com melhor ataque do campeonato e tendo alicerçado essa diferença no facto de ser, comparativamente com os outros dois "grandes", aquela que mais golos conseguiu através de cruzamentos. Isto, é claro, não invalida que a "cegueira" relativamente ao espaço entrelinhas seja uma lacuna a corrigir.

 Dormund - Bayern - Era minha intenção incluir algumas jogadas deste jogo, assim como do Man City - Tottenham, mas isso não me foi possível. Ainda assim, deixo algumas notas sobre estes dois jogos. No grande jogo da Bundesliga, o resultado parece-me algo enganador, porque as dificuldades do Bayern foram assinaláveis na primeira parte, onde inclusivamente foi o Dortmund quem melhor tirou partido da estratégia que levou para o jogo. De todo o modo, o interesse do jogo a meu ver, está na equipa de Guardiola. Estrategicamente, foi algo estranha a forma como abordou o jogo, parecendo abdicar da progressão em apoio relativamente ao que é hábito e procurando forçar muito as aberturas longas, procurando as costas da linha defensiva amarela, ou a presença invariavelmente aberta de Mandzukic (movimento que já comentei aqui). Depois, foi também curioso observar as sucessivas alterações promovidas por Guardiola ao longo do jogo, sendo que a equipa pareceu ir ganhando com isso. Primeiro, o papel de Javi Martinez, que começou por se posicionar muito próximo dos avançados, passando depois para primeiro pivot e até para central. Finalmente, o tema de jogar, ou não, com um 9 clássico. Naturalmente que o ideal é poder explorar as duas soluções em função das circunstâncias, até pela diferença no tipo de problemas que pode levantar a quem defende, mas parece também evidente que a tendência passará por afirmar um modelo que utilize um jogador mais móvel nessa função ("falso 9"), já que tem sido assim que a equipa se tem encontrado melhor (nos jogos que vi, ressalvo).

Man City - Tottenham - Já aqui tinha destacado alguns problemas defensivos do Tottenham, e pelos jogos que fui vendo (não foram muitos) o facto de ser a melhor defesa do campeonato não encaixava com essas indicações. Mesmo assim, porém, estava longe de projectar a performance da equipa frente ao City. É claro que há muito mérito da qualidade individual da equipa de Pellegrini, mas também tem de ser dito que o que se passou não foi um acaso, com o Tottenham a cometer erros sucessivos e a ser constantemente exposto no seu último reduto. E isto, tanto em organização (com enfoque no mau ajuste posicional de várias unidades) como em transição (aqui, sobretudo realce para a exposição posicional, com o adiantamento dos laterais e pouco controlo sobre a referência para o primeiro passe vertical do City). Enfim, muito trabalho para Villas Boas.

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