8.11.13

5 jogadas (Sporting, Benfica e Porto)

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Jogada 1 - O primeiro golo do Sporting na recepção ao Marítimo. O mérito principal vai, claro, para a acção de Capel, mas ainda antes do rasgo individual do extremo espanhol há alguns pontos de interesse a destacar na jogada. Primeiro, o facto do Sporting progredir em direcção ao corredor central, algo que não acontece com muita frequência no jogo ofensivo da equipa de Leonardo Jardim. Depois, o comportamento do Marítimo, que no fundo acaba por ser também parte da explicação para esta súbita propensão interior. Como referi no comentário ao jogo, há bastante a rever no desempenho defensivo da equipa de Pedro Martins, sendo neste caso visível a estratégia por um bloco baixo e expectante, sem assumir grandes riscos em termos de pressão mais alta, mas nem por isso conseguindo manter uma protecção óptima dos espaços mais próximos da sua área. Em particular, neste lance é perceptível o equivoco do posicionamento da linha média, fortemente atraída por referências individuais, mas sem que tenha um enquadramento colectivo para o fazer com sucesso, terminando por potenciar o espaço por onde Jefferson acaba por entrar. Nota também para a passividade da dupla de centrais, cortando na profundidade, mas mantendo-se sem capacidade de intervenção no espaço à sua frente, o que permitiu a finalização de Capel em zona frontal. Ainda na jogada, nota para o papel de Montero, que aproveita bem o espaço entrelinhas para se apresentar como um presença extra nessa zona, sendo decisivo para abrir o espaço por onde depois entra Jefferson.

Jogada 2 - O lado mais preocupante do Sporting continua a ser a meu ver o capítulo defensivo, em particular na capacidade de resposta de algumas das suas unidades. A equipa protege-se bem, com bola, da exposição do momento de transição, fazendo uma boa gestão da posse, mas depois continua a sentir dificuldades na resposta em algumas situações e quase sempre pelo corredor central. No lance que termina no penálti que dá origem ao segundo golo, uma transição simples do Marítimo consegue levar a bola de uma ponta à outra do campo e precisando apenas de envolver dois jogadores para o conseguir. Em particular, nota para a incapacidade de Jefferson e William em controlar a jogada. Uma espécie de aviso em vésperas de defrontar o Benfica, onde as acções de Gaitan ou Markovic se adivinham como sérias ameaças para este problema da equipa de Leonardo Jardim.

Jogada 3 - Foram várias as ocasiões do Benfica no infeliz jogo do Pireu, mas provavelmente nenhuma será tão explicativa do que foi o jogo com esta, finalizada por Sílvio no inicio da segunda parte. Primeiro, o bom critério de construção do Benfica, fazendo o seu jogo progredir com paciência e segurança (algo que com frequência faltou ao Benfica noutros jogos). Estruturalmente, o destaque para o menor protagonismo de Matic em fases mais adiantadas do jogo ofensivo, aparecendo Amorim e Perez no papel de ligação do jogo ofensivo, com o a equipa a dispor-se muitas vezes em 3-4-3 com bola, onde também se evidencia a propensão interior dos extremos, Gaitan (mais entrelinhas) e Markovic (mais na profundidade). Ao mérito do Benfica, porém, há que juntar o demérito grego no desempenho defensivo, porque a equipa de Michel não conseguiu ser competente em praticamente nenhuma das fases do seu processo defensivo. Sempre com problemas no controlo do espaço entre sectores, e como documenta a jogada, o Olympiakos teve muitas vezes presença suficiente para ser mais contundente na zona da bola, mas frequentemente não conseguiu tirar partido dessa situação, acabando por lhe valer apenas a extraordinária eficácia de Roberto.

Jogada 4 - A primeira parte do jogo de São Petersburgo começou por mostrar um Porto mais autoritário em posse, conseguindo alguns momentos de boa circulação e domínio do jogo. Neste caso, o destaque vai para o jogo entrelinhas da equipa, e novamente para a qualidade da movimentação de Lucho nesse particular. Outro elemento que se manteve em permanência sobre o corredor central foi Josué. Esta presença interior de um dos extremos parece-me fazer todo o sentido na equipa do Porto, tendo em conta a qualidade que os laterais oferecem em termos de envolvimento ofensivo. Para potenciar esta dinâmica, provavelmente Paulo Fonseca terá de pedir mais arrojo ofensivo a Danilo, usando os médios para garantir maior equilíbrio posicional. Do outro lado, a especificidade de Alex Sandro parece-me diferente, já que se apresenta mais forte quando intervém na fase de construção, não sendo por outro lado tão forte como Danilo na definição no último terço. Na minha leitura, a potenciação dos laterais afigura-se como o caminho mais óbvio para que o Porto possa finalmente potenciar melhor o seu jogo ofensivo, o que no entanto exigirá algum ajustamento nas dinâmicas do modelo actual. Resta esperar para ver como a equipa evolui.

Jogada 5 - Provavelmente a jogada mais bem construída pelo Zenit em termos ofensivos, mas nem por isso fugindo à regra da transição. Noutros casos, a origem da perda de controlo defensivo do Porto tem origem num mau desempenho em posse e numa perda de bola a condicionar a reacção defensiva imediata, mas nesta situação não é isso que acontece. A jogada tem origem num livre ofensivo favorável ao Porto, e embora a equipa esteja normalmente posicionada para este tipo de situação, acaba por ser batida pela qualidade e maior velocidade de reacção da equipa russa. E aqui parece-me justo assinalar a facilidade com que o Zenit faz as suas unidades progredir no terreno, superando claramente a reacção defensiva do Porto. Uma propensão para o momento de transição que contrasta com o perfil do jogo portista e, como escrevi ontem, explica as dificuldades que o Porto sentiu na segunda parte, quando o Zenit potenciou esse tipo de jogo.

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