31.10.13

William Carvalho, Matic e o critério do pivot

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Como idealizar o papel do pivot no jogo ofensivo da equipa? Talvez seja exagerado fixar um perfil e uma resposta para a questão. Porque, como sempre, cada caso é um caso, e cada equipa, cada modelo, terá de encontrar uma resposta para o seu caso específico. Ainda assim, se a ideia é envolver o pivot no inicio de construção, há preocupações e prioridades que são transversais e incontornáveis em qualquer contexto. Num primeiro impulso, talvez a tentação seja valorizar a capacidade de passe por forma a maximizar o potencial ofensivo nessa fase do jogo. Mas um pivot, digo eu, tem outras preocupações para além do potencial ofensivo, nomeadamente a segurança em posse numa fase ainda bastante atrasada do jogo, e onde um bom passe raramente compensa o risco colectivo que deriva de uma perda de bola. Por isso, mais do que acrescentar um potencial de desequilíbrio imediato, o pivot precisa de fazer a equipa jogar, que é como quem diz, fazer com que a bola fuja com segurança às primeiras zonas de pressão definidas pelos adversários. Precisa, sobretudo, de critério.

E é aqui, no critério, que William Carvalho tem realmente deslumbrado. Não treme perante a presença adversária, mas também não tem a tentação de se tornar no protagonista imediato do jogo da equipa. Simplesmente, faz jogar. O seu grande desafio neste particular, e a meu ver, não é evoluir, mas antes conseguir resistir à tentação de querer ir para além do que é o seu papel. Ou seja, não se deslumbrar com a sua capacidade, mas manter o que mais impressiona no seu jogo, o critério.

Se quisermos, para William, este inicio de temporada de Matic é um bom exemplo do que deve evitar. Porque na sequência de todos os elogios e reconhecimento ao potencial técnico, que o sérvio bem mereceu, surgiu um jogador mais preocupado com os extras (desequilíbrios) do que com o essencial (segurança) da sua função. O resultado, neste inicio de época, foi um risco desnecessário na fase de construção e já um considerável número de golos sofridos na sequência de perdas de bola.

Porque aqui, normalmente, o óptimo é mesmo inimigo do bom.

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30.10.13

Benfica: Cardozo o mais eficiente entre os finalizadores

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Uma análise aos finalizadores do Benfica revela, sem surpresa, o bom inicio de temporada de Cardozo em termos de aproveitamento das oportunidades de golo desfrutadas. Aliás, com a participação nos dois golos frente ao Nacional, Cardozo superou mesmo Lima em termos de envolvimento directo nos golos da equipa (assistências e golos marcados), sendo que o paraguaio se destaca sobretudo pelo maior número de golos marcados, enquanto que Lima vem sendo mais influente no capítulo das assistências.

É no aproveitamento oportunidades finalizadas, porém, que Cardozo mais se tem destacado das demais opções utilizadas por Jesus até ao momento. A inspiração do paraguaio, neste particular, tem contrastado com o menor acerto de Lima e Rodrigo na hora de concluir as ocasiões claras de golo. Algo que tem favorecido muito a popularidade de Cardozo nestes primeiros meses da época, mas que na minha leitura poderá ser precipitado em termos de projecção futura. Como já referi em relação a outros casos, se a eficiência no aproveitamento das ocasiões de golo distingue certamente a qualidade entre os jogadores, também é verdade que dificilmente a diferença com o tempo se poderá manter nos valores actualmente verificados. Neste sentido, diria que a má notícia da falta de acerto de Lima e Rodrigo na hora de finalizar esconde uma outra, bem mais positiva para as cores do Benfica. É que o número de ocasiões dos dois jogadores tem sido bastante elevado e se ambos conseguirem manter essa presença em lances potencialmente decisivos, então será certamente apenas uma questão de tempo até que os possamos ver a festejar golos com mais frequência.

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29.10.13

Porto - Sporting: filme táctico do clássico

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28.10.13

Porto - Sporting: O equilíbrio desfez-se pela qualidade

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Equilíbrio desfeito pela qualidade - Se por um momento nos abstrairmos dos golos e olharmos apenas à generalidade dos restantes indicadores - ocasiões de golo, posse de bola, finalizações - não podemos concluir outra coisa que não seja o equilíbrio entre as duas equipas. É claro que este exercício parte de um pressuposto que lhe retira boa parte da pertinência, sendo o golo não apenas o mais relevante dos indicadores, mas também o único que efectivamente condiciona a postura das equipas ao longo do jogo. E aqui entramos na relativização do equilíbrio, já que olhando para a perspectiva portista o jogo foi quase sempre disputado em vantagem no marcador, sendo que quando isso não aconteceu o Porto foi extremamente célere em causar dano na defensiva contrária.
Tudo considerado, creio que este foi um jogo de facto equilibrado, que inclusivamente não causaria grande surpresa se tivesse terminado com outro desfecho, mas onde também transpareceu a maior força (qualidade) do futebol do Porto. E refiro-me concretamente ao maior potencial oferecido pela qualidade individual dos seus jogadores.

Pressing, a estratégia previsível - Não houve surpresas em termos de abordagem estratégica. Ambos os treinadores apostaram forte no condicionamento pressionante, sobre a fase de construção adversária, com abordagens defensivas que são praticamente gémeas e com bons resultados em qualquer dos casos. A partida definiu-se, portanto, nas excepções à regra de um jogo repetidamente pouco ligado, com muitos duelos e com ambas equipas a recorrerem bastante a uma construção longa por força do condicionalismo pressionante a que foram sujeitas. Mas vamos às excepções a esta regra...
De facto foi quando as equipas conseguiram ligar mais o jogo que conseguiram os seus melhores períodos, sendo que o Porto ganhou grande vantagem neste particular porque o conseguiu fazer logo na fase inicial do jogo, ao passo que o Sporting tardou quase uma hora para se libertar de uma incapacidade gritante de promover circulação com alguma qualidade. E é aqui que provavelmente mais terá pesado a mais valia individual portista.

Individualidades - Voltarei a alguns aspectos mais concretos do jogo, nos próximos dias, mas para já ficam alguns comentários a prestações individuais que, como referi, me parecem ter sido importantes no desequilibrar da balança.

Hélton vs Patrício - Serão muito provavelmente os dois melhores guarda redes do campeonato. Hélton levou a melhor e foi mesmo decisivo no jogo com a defesa ao cabeceamento de Montero. O brasileiro foi também mais competente nas reposições longas, onde o Porto conseguiu muito melhor ligação do que o Sporting. Seja como for, a diferença entre os dois resulta sobretudo do mérito do guarda redes do Porto, porque se Patrício não fez a diferença, também é verdade que tinha muito poucas possibilidades para o conseguir.

Otamendi e Mangala - São dois bons centrais, mas há pontos a rever, porque ambos vêm repetindo erros sem que haja grandes motivos para tal. Sobre o Otamendi, a sua capacidade de intervenção é tremenda e praticamente anulou Montero tendo sido absolutamente dominador nos duelos que travou. O problema de Otamendi é o critério, que por vezes fica completamente desprovido de lucidez. Depois de ter oferecido um golo que Hulk não converteu, a meio da semana, repetiu uma série de perdas de risco frente ao Sporting, sem que houvesse justificação para tal. Parece um pormenor, mas a meu ver é o critério que faz Otamendi oscilar entre a excelência e a mediocridade.
Sobre Mangala, é bem mais vistoso do que o argentino, provavelmente devido à sua capacidade física, mas não é nem de perto tão dominador como o argentino. A meu ver há, aliás, algum exagero em relação à sua real qualidade. De todo o modo, sendo ainda jovem e tendo as características que tem, pode ainda evoluir bastante e isso passará também por uma maior segurança na abordagem a certos lances.

Maurício e Rojo - Nenhum dos dois tem, a meu ver, a qualidade da dupla que estava do outro lado. Ainda assim, e apesar de terem tido um jogo difícil (especialmente para Maurício, quer por ter estado mais perto do lado mais fustigado pelo ataque portista, quer pela qualidade de Jackson com quem travou um grande número de duelos), creio que terão tido um bom desempenho contextualizando com a exigência do jogo. Em particular, não comprometeram a equipa perante o pressing que o Porto sempre exerceu. Já se sabe que na hora das derrotas sobra quase sempre muito para os centrais, e Maurício justificará as criticas no lance do penálti, mas não foi nos centrais que a meu ver se cavou a diferença no jogo.

Alas do Porto - O problema da época foi a solução do jogo. Desta vez foi mesmo pelas alas que o Porto desequilibrou e há alguns pontos que justificam reflexão. Primeiro Varela, porque continuo a não perceber como é que pode perder a titularidade para Licá. Depois para os laterais, que são do melhor que o Porto tem e por onde provavelmente Paulo Fonseca poderá resolver alguns dos problemas de profundidade que a equipa sente nos corredores laterais. Aqui, porém, seria preciso considerar bem as características dos jogadores que tem ao seu dispor, já que Alex Sandro e sobretudo  Danilo têm uma forte propensão para vir para dentro em vez de se manterem abertos ao longo da linha. Sendo honesto, parece-me ser um tema demasiado complexo para que se esperem verdadeiras novidades a esse respeito...

Médios do Sporting - A opinião generalizada em torno do Sporting vive uma série de paradoxos. Um deles está na ideia de que 1) o Sporting não pode ser candidato ao título mas que 2) metade da equipa do Sporting justificaria um lugar na Selecção. É que se os jogadores do Sporting fossem realmente todos tão bons ao ponto de merecerem um lugar na Selecção, então seguramente que o Sporting seria não apenas candidato ao título, mas um forte candidato ao título. A meu ver, porém, essa é uma visão demasiado optimista sobre os actuais valores da equipa, especialmente os médios. E aqui, separo os casos, porque me parecem bem distintos. Primeiro William Carvalho, porque apesar de não ter uma grande capacidade de intervenção defensiva, tem de facto uma fantástica capacidade para ter bola. A esse nível, fez um jogo a meu ver um jogo excepcional no Dragão, num contexto complicado e que mostra com grande clarividência de que se trata de um valor absolutamente seguro da equipa e... da selecção portuguesa. O problema vem a seguir, porque se o Sporting mantivesse na frente de William a mesma consistência e capacidade para ter bola, muito provavelmente teria saído do Dragão com outro resultado. O Sporting nunca conseguiu fazer a sua habitual construção ao longo dos corredores laterais e foi empurrado para dentro pelo pressing portista. Aí, quando Martins e, sobretudo, Adrien foram consequentes, a equipa levou o jogo até à área adversária, mas isso aconteceu de forma apenas descontinuada, com os dois médios do Sporting a revelarem grande dificuldade em ser eficazes ao nível da posse. Este foi, para mim, o principal problema do Sporting no jogo e, provavelmente, o calcanhar de Aquiles da equipa.

Lucho - O jogo não lhe proporcionou a habitual influência entrelinhas, com a equipa a ser forçada a construir de forma mais directa e menos ligada. Mas, ao contrário do perfil que várias vezes lhe vejo atribuído, Lucho não é um jogador que esteja dependente de ter bola para exercer a sua influência no jogo. A sua capacidade de trabalho é tremenda e parece-me ter sido decisiva para fazer a diferença num jogo tão disputado como este. Pressionando na primeira linha, mas tendo depois a capacidade para se juntar a Fernando e Herrera quando o jogo entrava numa zona mais atrasada, e oferecendo-se assim como uma presença extra na zona da bola. Com bola, igualmente sem a ansiedade para se envolver no jogo, porque se os médios de construção são Fernando e Herrera, cabe ao argentino esperar e trabalhar para poder aparecer noutras zonas. Assim o fez, e quando a oportunidade surgiu lá estava ele com o seu notável timing de aproveitamento dos espaços...

Jackson vs Montero - Um duelo muito mediatizado, mas que acabou por redundar em poucas oportunidades para qualquer dos dois ser decisivo. Montero foi quem esteve mais perto de o conseguir, mas desta vez não repetiu a eficiência que vinha revelando. Aliás, como já escrevi, dificilmente a manterá num patamar tão elevado com o decorrer do tempo. De resto, comparativamente com Jackson, Montero teve muito mais dificuldades em aparecer no jogo, em particular em ser uma referência eficaz para a construção mais longa. Já Jackson, mesmo sem o protagonismo habitual, não só participou na construção do terceiro golo como foi impressionante nos duelos aéreos que travou ao longo do jogo com Maurício (habitualmente muito forte neste particular). Aliás, esta capacidade de Jackson faz dele uma arma tremenda e que pode ser melhor aproveitada pela equipa, uma vez que tal como havia sucedido frente ao Zenit, a equipa tirou muito pouco partido das primeiras bolas que Jackson sucessivamente ganhou. De resto, este perfil transversalmente competente de Jackson faz-me pensar que poderia ter um impacto importante em praticamente qualquer equipa do mundo.


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25.10.13

5 Jogadas (Porto e Benfica)

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Jogada 1 - Uma jogada que ajuda a ilustrar o risco que a estratégia de Paulo Fonseca assumiu em termos defensivos. Num primeiro momento, a liberdade oferecida ao lateral do Zenit, com Jackson a ter a responsabilidade de ajustar o posicionamento, sendo ele próprio a tentar condicionar a progressão do seu adversário. Num segundo momento, é Fernando quem se aproxima do corredor, abandonando Jackson o acompanhamento ao lateral. Nesse instante, é visível como o Porto tem apenas 6 jogadores atrás da linha da bola, rivalizando com o mesmo número de adversários do Zenit, apesar de estar em plena organização defensiva. Nota ainda para o desgaste que esta opção implicou em diversas unidades da equipa portista, algo que se percebe pela forma como nesta jogada e apenas por acção do lateral, primeiro Jackson e depois Fernando são obrigados a vir até ao corredor lateral.

Jogada 2 - O golo do Zenit. A primeira nota, claro, vai para o tempo e espaço que é dado a Hulk antes do cruzamento. Mas talvez a parte mais interessante do lance seja o que acontece no centro da área. Mangala é atraído para o corredor lateral, não podendo a equipa contar com a sua presença na área. Depois, vários jogadores se aproximam da área para abordar o cruzamento. Os do Zenit para tentar marcar e os do Porto para tentar o melhor posicionamento, obviamente. Danny vem com Fernando, mas o par desfaz-se à entrada da área. Fernando, ignora completamente essa situação, e apesar da presença de Mangala fora da sua zona, opta por se aproximar do corredor lateral em vez de colmatar a ausência do central no centro da área. Não só o Porto fica com 2x2 na frente de Hélton, como Fernando vai ocupar o primeiro poste, que já estava a ser preenchido por Otamendi, o que exije ainda um reajustamento posicional ao central argentino, mesmo antes do cruzamento. É curioso como Otamendi percebe o desequilíbrio que está a ser criado nas suas costas. No lance, e para justificar o golo, há ainda que falar da perfeição do cruzamento de Hulk, do timing de antecipação de Kerzhakov e da menor reacção de Danilo, que tem como atenuante o facto de ter dois jogadores na sua zona. Ainda assim, o meu ponto principal repete-se de outras ocasiões e tem a ver com a forma como o médio (Fernando) ignorou completamente o que se passava no sector defensivo, na hora de definir o seu posicionamento.

Jogada 3 - O primeiro calafrio do Olympiakos na Luz. A jogada não é nova e resulta, primeiro, de uma dificuldade de controlar o corredor central e, depois, a exposição da linha defensiva quando o jogador em posse de bola passa a ter tempo e espaço para definir o passe. Mais uma vez sublinho que só faz sentido manter uma linha defensiva alta quando isso for complementado com uma boa presença pressionante por parte de quem está à sua frente. Caso contrário, torna-se numa vulnerabilidade.

Jogada 4 - O ponto mais relevante deste demorado extracto do jogo tem a ver com a dificuldade que o Benfica revela em impedir a posse do Olympiakos. Já o haviamos visto frente ao PSG, e mesmo desta vez não foi tão flagrante, lances como este deixam a ideia de que o Benfica até poderá ter sido o principal beneficiado pelo diluvio que entretanto viria a degradar o estado do relvado. Aqui, nota para a já sublinhada abertura dos extremos. Ainda assim, e apesar dessa dificuldade é preciso notar que o desequilíbrio só surge pela forma como o Benfica (e Matic em particular) perde a bola, depois do Benfica finalmente a ter recuperado. É um aspecto paradigmático sobre esta equipa do Benfica e que não acontece apenas nesta temporada. Ou seja, o Benfica pode sentir problemas em vários outros aspectos, mas nada penaliza tanto a equipa como a perda de critério (segurança) em posse.

Jogada 5 - O golo do Olympiakos é mais um exemplo daquilo a que me refiro na última frase que escrevi. Ou seja, nada penaliza ou poderá penalizar mais o Benfica do que a perda de critério em posse. Foi assim noutras épocas, nomeadamente nos piores momentos de 2010/11, e voltará a sê-lo se o Benfica não corrigir rapidamente o que se viu frente ao Olympiakos!

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24.10.13

Benfica: a gritante falta de intensidade e a linha de 6

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Relativizando com o grau de dificuldade, não me parece descabido considerar esta a pior exibição do Benfica na temporada. Ou melhor, os piores 45 minutos, porque as condições de jogo determinaram uma segunda parte de contexto demasiado atípico para ser comparável. Não se trata aqui de subestimar o Olympiakos - que, aliás, até mostrou mais qualidade do que o próprio Benfica - mas antes de considerar que aquilo que fez o Benfica ficou demasiado aquém das suas possibilidades. Em particular, foi absolutamente surpreendente a falta de intensidade revelada pelos jogadores. E por "intensidade", não me refiro à velocidade ou agressividade, mas à concentração e contundência com que os jogadores abordaram cada jogada. Era, por exemplo, difícil projectar que um jogador como Matic pudesse acumular tantas perdas de risco em apenas 45 minutos. A surpresa torna-se ainda mais vincada se considerarmos a competição em causa, sendo que à partida seria mais difícil ver jogadores tão desligados do jogo.

É pela falta de intensidade que tem de passar, sempre, a grande explicação para o mau resultado e, sobretudo, para a paupérrima exibição na primeira parte. Ainda assim, não quero deixar de destacar a forma como o Benfica, mais uma vez, posicionou defensivamente os seus extremos, pedindo-lhes um acompanhamento individualizado aos laterais contrários, nem que para isso terminassem colados à linha defensiva (formando uma linha defensiva de 5 ou 6 elementos, o que é um cenário bastante atípico seja onde for). A ideia de Jesus é óbvia e passa por evitar desequilíbrios nos flancos provocados pelos laterais contrários. O preço a pagar por todo este rigor é que me parece ser mais questionável. Ou seja, várias vezes o Benfica vê os seus extremos atraídos para um posicionamento demasiado aberto e que potencia completamente o espaço para o adversário jogar no corredor central, isolando e limitando a acção defensiva de médios e avançados. Enfim, é uma opção estratégica, que não é observável em todos os jogos, que é até interessante do ponto de vista da análise, mas que, repito, me parece ter um preço excessivo nas limitações que implica para a presença no espaço interior.

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23.10.13

A reacção de Paulo Fonseca à inferioridade numérica

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A perda precoce de Herrera não só trouxe uma nova e inesperada realidade ao jogo, naturalmente desfavorável para as aspirações portistas, como acrescentou também um desafio à equipa de Paulo Fonseca. Como jogar em inferioridade numérica?

Confesso que a opção do treinador me surpreendeu. Esperaria que recuasse Lucho para o lado de Fernando e que se organizasse em 4-4-1, perdendo naturalmente presença pressionante sobre a primeira fase de construção do Zenit, mas mantendo a protecção dos espaços essenciais. Com bola, por outro lado, talvez fosse de esperar que o Porto se mantivesse fiel ao seu ponto forte, mantendo o foco na posse e circulação, mesmo que isso implicasse, obviamente, perda de presença numa fase mais adiantada do jogo ofensivo.

Pois bem, pelo menos a mim, Paulo Fonseca conseguiu surpreender. Pode dizer-se que foi arrojado, porque com menos um passou, paradoxalmente, a ter mais unidades numa primeira linha ofensiva, juntando Licá a Jackson, para tal abdicando da presença nos corredores laterais. Sem dúvida, que o foi! A questão que coloco, porém, tem a ver com a dúvida se esta foi, ou não, a melhor opção para o contexto do jogo? Aqui ficam alguns pontos de opinião sobre o que se viu (sublinho que não há da minha parte uma pretensão de enfatizar a critica, muito menos de estabelecer uma relação causal entre a estratégia de Fonseca e o resultado final, apenas pretendo levantar algumas questões que me parecem pertinentes):

- Defensivamente, o arrojo de manter presença pressionante sobre a construção do adversário teve alguns efeitos secundários menos desejáveis. Primeiro, e mais óbvio, a perda de presença nos corredores laterais. A partir do momento que o Zenit passou a circular à largura, a pressão do Porto deixou de ter resultados, acabando por não evitar o domínio territorial russo. Aqui, nota para a exposição dos laterais portistas, frequentemente atraídos para fora da sua zona.

- Outro efeito secundário foi o desgaste que esta opção provocou nos jogadores, particularmente Jackson, Licá e Lucho, obrigados a percorrer muitos metros em cada acção defensiva. É certo que estes jogadores fizeram um jogo admirável em termos de entrega, mas não terá sido uma estratégia demasiado exigente para aplicar em 85 minutos de jogo?

- Ainda relativamente à opção defensiva, o facto dos avançados serem obrigados a abrir nos corredores para compensar a ausência de extremos, determinou também a perda de uma referência central para o momento de transição. Isto poderá ter contribuído para a dificuldade que o Porto sentiu em ficar com bola após a recuperação, não encontrando uma referência imediata para o primeiro passe vertical.

- Com bola, a opção de solicitar directamente Jackson conseguiu obter grande eficácia num primeiro momento, já que o colombiano ganhou a generalidade das primeiras bolas. O problema foi a ligação entre a primeira e segunda bola. A intenção era ter Licá (e depois Varela) a aparecer nas suas costas, mas o facto é que apesar da presença dominadora de Jackson num primeiro momento, quase nunca o Porto conseguiu ficar com a segunda bola.

- Para além da opção da construção longa, parece-me questionável a centralização de Licá e Josué. O Zenit tinha como extremos Arshavin e Danny, que têm uma propensão defensiva muito reduzida, o que seria previsivelmente um foco estratégico a aproveitar pelo Porto quando tivesse a bola. Ao retirar presença dos corredores laterais, a equipa abdicou dessa oportunidade.

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22.10.13

De Patrício a Artur (Ranking dos Guarda Redes)

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Concluo esta série de análises ao que até agora se tem passado na Liga Portuguesa, com um ranking dos guarda redes em prova, tendo no entanto apenas incluído os mais utilizados de cada clube. De esclarecer que a análise é centrada nas ocasiões de golo que são consideradas em cada jogo e não há aqui qualquer introdução de critério de grau de dificuldade para a intervenção do guarda redes. A ideia é que a prazo, os melhores acabarão por defender mais vezes e sofrer menos golos, e por isso quanto mais tempo de jogo houver (e mais ocasiões), maior será a validade da análise. Para além dos elementos aqui apresentados, o ranking contempla também uma penalização quando se considera que a ocasião foi, pelo menos em parte, provocada por uma má abordagem do guarda redes. Aqui ficam alguns destaques:

Adriano - Fez um inicio de temporada incrível, sendo o grande protagonista do pequeno milagre conseguido pelo Gil Vicente nas 3 primeiras jornadas. Esse período catapultou-o para a liderança em termos de defesas em lances decisivos, mas de lá para cá tem perdido rendimento, com alguns erros no jogo em Setúbal e acabando também por ser superado por Patrício em termos de eficiência.

Rui Patrício - É o guarda redes com melhor % nos dois rácios considerados (golos sofridos por ocasião e golos sofridos por ocasião de golo que foi à baliza). Se o Sporting é a equipa com melhor % de sobrevivência a cada ocasião, esta análise confere grande parte desse mérito ao seu guarda redes. De assinalar que o único erro atribuído a Patrício aconteceu no golo sofrido em Braga.

Helton - Para já, e a nível interno, não há nada a apontar-lhe, mesmo se não tem também deslumbrado. Poucas oportunidades de intervenção, como era de esperar, mas mantendo uma boa eficácia, que não é porém ainda excepcional. Helton não averbou qualquer erro em ocasiões de golo nos 7 jogos já disputados, ficando a questão para responder sobre se será capaz de elevar a sua eficiência para os níveis mais altos da Liga, ou se trará para as competições internas alguma irregularidade que vem denotando nos jogo europeus?

Artur - Continua a ser um caso estranho. De facto, não se pode atribuir grandes responsabilidades a Artur nos golos sofridos, mas o guarda redes do Benfica não conseguiu ainda realizar qualquer defesa em ocasiões de golo, em jogos para o campeonato. A atenuante, para Artur, é que o número de ocasiões de golo é baixo, sendo ainda pouco conclusivo e susceptível de proporcionar fenómenos extremos de eficiência sem que isso tenha necessariamente um grande significado. A agravante, porém, é que a tendência se arrasta da pré temporada, ao ponto de eu ter inclusivamente abordado o problema antes mesmo do campeonato ter começado. Cada um retirará as suas conclusões sobre o grau de responsabilidade do guarda redes, o certo é que se o Benfica foi até agora fortemente penalizado por cada ocasião que consentiu, isso aconteceu sobretudo pela incapacidade de intervenção do seu guarda redes, sendo ou não por responsabilidade do próprio.

Eduardo - Um caso relativamente semelhante ao de Artur, com a agravante de já ter cometido mais erros do que o guarda redes do Benfica. O Braga foi durante algum tempo uma das equipas menos permissivas da Liga em termos de ocasiões de golo, acabando por perder esse estatuto nas últimas jornadas. A verdade, no cômputo geral, é que a equipa não tem sido especialmente penalizada em termos de aproveitamento dos adversários, com muitas ocasiões a não encontrarem o enquadramento com a baliza. Ainda assim, espera-se bastante mais de um dos guarda redes mais conceituados da prova.

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21.10.13

Jackson (Porto), o mais claro caso de "dependência"

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O objectivo é perceber o nível de influência dos mais importantes protagonistas em cada uma das equipas da Liga, considerando dois eixos de análise: participação directa nos golos da equipa (assistências e golos, excluindo aqueles que foram marcados de penálti) e ocasiões de golo.

Olhando para os dados apresentados, há 3 jogadores que sobressaem no nível de influência que conseguiram na produção ofensiva das respectivas equipas: Jackson (Porto), Derley (Marítimo) e Cardozo (Setúbal). Quer ao nível da participação directa nos golos, quer nas ocasiões de golo, estas 3 individualidades conseguem uma presença em mais de metade da produção colectiva. Aqui, Jackson consegue um destaque ainda maior, ultrapassando os 60% de influência, em qualquer das perspectivas de análise.
É curioso que o caso provavelmente mais mediatizado, Montero no Sporting, não apareça especialmente destacado nestas tabelas, o que em parte se explica pela sua participação quase exclusiva em acções de finalização. Já no Benfica surge outro caso interessante,  Lima, cuja percepção do rendimento tem sido subestimada devido aos golos perdidos, mas que mantém mesmo assim um nível de influência relevante na produção ofensiva da equipa. Nota, finalmente, para alguns casos que aparecem com grande influência ao nível da participação directa nos golos da equipa, mas que não justificam grande relevância devido ao baixo número de golos conseguido pelas respectivas equipas. Neste aspecto e nesta fase do campeonato, a análise centrada nas ocasiões de golo apresenta resultados mais sólidos, de equipa para equipa.

Sobre a "dependência", que é muitas vezes vista como algo negativo, não tenho pessoalmente uma visão tão negativa sobre o tema. Ou seja, é normal que grandes jogadores sejam responsáveis por alavancar a qualidade das respectivas equipas, caso contrário não seriam grandes jogadores. De uma forma geral, só não está "dependente" de um ou dois jogadores quem não tem mais valias individuais capazes de fazer essa diferença. E, esse sim, parece-me um problema sério!

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18.10.13

Os mais desequilibradores da liga, análise (Jorn. 7)

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Depois dos dados colectivos, actualizo também os dados individuais, numa análise que, recordo, é centrada nas ocasiões de golo e na participação dos vários jogadores nas mesmas. O ranking individual é feito a partir de uma valorização dada a cada ocasião, golo, assistência e mesmo penáltis. Naturalmente, golos e assistências têm o maior peso nesta classificação. Aqui ficam alguns destaques individuais:

Jackson - Continua com um rendimento impressionante justificando, na minha opinião e com grande distância, o estatuto de melhor jogador neste inicio de temporada. Se o Porto é o líder da prova, de facto, deve-o muito ao rendimento do seu avançado. Jackson tem participação em 22 das 36 ocasiões claras de golo da equipa, e em 9 dos 15 golos, reflectindo uma influência próxima dos 60% do total da equipa, em qualquer dos dois indicadores. De notar ainda que Jackson melhorou o aproveitamento das ocasiões finalizadas, comparativamente com as 3 primeiras jornadas.

Montero - É um caso já abordado, sobretudo pelo seu elevadíssimo aproveitamento das ocasiões de que desfrutou. Montero tem conseguido manter uma eficiência incomum, e mesmo se esse valor já não é tão elevado como nas 3 primeiras jornadas, continua em patamares excepcionais e, já agora, que dificilmente poderão ser conservados a prazo. De todo o modo, ainda comparando com Jackson, Montero não tem um peso tão grande, nem nas ocasiões da equipa, nem na participação directa nos golos (mais vez recordo, excluindo penáltis). O avançado do Sporting está ligado a 50% das ocasiões da equipa (12 em 24) e a 42% dos golos (8 dos 19). Curiosamente, a "dependência" de Montero tem sido bem mais sublinhada no Sporting, do que a do seu compatriota, no Porto.

Evandro - O seu impacto mediático resulta em grande parte dos 3 penáltis convertidos, o que o catapulta para os primeiros lugares na lista dos melhores marcadores. É, digamos, um destaque justo, mas pelos motivos errados. É que o mérito de Evandro neste inicio de temporada vai bem para além das grandes penalidades que converteu, sendo uma das principais fontes de desequilíbrios neste inicio de campeonato.

Quintero - Mantém-se como o caso de maior rapidez no que respeita à capacidade desequilíbrio, nomeadamente continuando a ser o jogador com mais ocasiões de golo criadas, apesar do pouco tempo de jogo. Quintero é, por isto, talvez o grande desafio do Porto e de Paulo Fonseca no futuro imediato da equipa...

Djaniny - Não será tão flagrante como Quintero, mas é outro caso de um jogador jovem com enorme capacidade de desequilíbrio neste inicio de temporada, no entanto sem muito tempo de utilização. Resta saber como reagirá Djaniny quando lhe for exigido um rendimento mais regular, mas é sem dúvida um inicio prometedor.

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17.10.13

Análise - dados colectivos defensivos (Jornada 7)

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Depois dos dados ofensivos, reproduzo a mesma análise mas para os indicadores negativos. Em termos gerais e comparando com as primeiras 3 jornadas (quando foi feita a anterior análise), houve um maior controlo (ocasiões de golo) das principais equipas, com excepção do Porto que foi especialmente exposto na visita ao Estoril. Nesta fase, os efeitos do calendário vão-se esbatendo, tornando mais conclusivas as comparações entre as equipas e reduzindo também o impacto do efeito da eficiência na finalização, no desempenho das mesmas. Isto é visível, por exemplo no rácio golos sofridos/ocasiões de golo consentidas, que previsivelmente apresenta menos variações do que no final da 3ªjornada. Já agora, e antes de fazer alguns sublinhados particulares, nota para o facto de Benfica e Sporting serem, respectivamente, as equipas que mais e menos foram penalizadas por cada oportunidade desfrutada pelos seus adversários.

Porto - O Porto mantém-se como a equipa mais forte defensivamente, segundo a generalidade dos indicadores analisados. No entanto, as 5 ocasiões consentidas na visita à Amoreira penalizaram a equipa naquele que será o indicador mais importante, o número de ocasiões de golo consentidas, tendo sido ultrapassado pelo Benfica. Aliás, nesse jogo não só os portistas consentiram 5 das 12 ocasiões em toda prova, como 2 dos 4 golos até agora sofridos.

Benfica - O Benfica continua a ser um caso muito estranho. A equipa passa uma imagem de descontrolo defensivo pelo número de golos que tem sofrido, mas uma análise mais cuidada mostrará que esse mau desempenho resulta fundamentalmente do facto do Benfica ser a equipa que mais é penalizada por cada ocasião de golo consentida. Aliás, se o Benfica continua a ser a equipa com pior registo nesse rácio, a verdade é que as coisas até melhoraram neste período, face ao que se verificava no final da 3ªjornada. Nessa altura, o Benfica tinha sido penalizado com golos em 80% das ocasiões consentidas, baixando nesta altura esse indicador para 64%, o que não deixa de ser o pior valor entre todas as equipas da prova. Ainda neste ponto, um foco para os golos de bola parada, que comprometeram o desempenho da equipa nos últimos 2 jogos (Belenenses e Estoril), mas que resultam precisamente de um aproveitamento pleno por parte das equipas adversárias, já que estas foram as únicas ocasiões que o Benfica consentiu por esta via. Também ao nível dos ataques consentidos, o Benfica está num patamar muito bom, apenas superado pelo Porto.

Sporting - Em contraponto com o Benfica, o Sporting é a equipa que menos foi penalizada por cada ocasião consentida, superando mesmo nesta altura o Gil Vicente, que teve um inicio de campeonato quase miraculoso neste aspecto específico. Aliás, recuperando a análise feita para os dados ofensivos, vemos que o Sporting é a equipa que melhor tira proveito das ocasiões de golo, tanto a nível ofensivo como defensivo, o que ajuda a explicar o melhor desempenho tanto a nível de golos marcados como sofridos. A grande ameaça, aqui, é que será difícil manter estes níveis de aproveitamento, e mesmo se o Sporting permanece no topo da generalidade dos indicadores analisados, o mais provável é que só consiga manter a liderança, quer nos golos marcados, quer nos golos sofridos, se melhorar ainda mais o seu desempenho, para não ficar dependente da eficiência.

Braga - A equipa de Jesualdo Ferreira confirma, também nos indicadores defensivos, o mau período entre a 3ª e 7ª jornadas. Algo que arrasta a equipa para registos bastante modestos e numa altura em que ainda terá de jogar com Porto e Benfica. Há algum trabalho a fazer em Braga para poder realisticamente aspirar a diferenciar-se de outras equipas, nesta altura com patamares exibicionais que não lhe são inferiores.

Rio Ave - Uma nota breve para o Rio Ave, que dentro de um bom desempenho defensivo generalizado, sobressai no capítulo das bolas paradas, onde foi a única equipa que não sofreu golos por essa via. 

Paços F. - Em sentido inverso do Rio Ave, foi o Paços quem mais foi penalizado pelas bolas paradas, representando 7 dos 13 golos sofridos e 11 das 14 ocasiões consentidas. Costinha já alterou, até, o método de defender os pontapés de cantos (de hxh para zona), mas a verdade é que o Paços foi muito penalizado neste capítulo específico e mais do que qualquer outra equipa da Liga.

Belenenses - Uma nota muito positiva para a equipa do Restelo, que vem melhorando muito as suas prestações defensivas. A subida na tabela classificativa não foi um acaso e as perspectivas são hoje bem melhores do que eram ao fim da 3ª jornada.

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16.10.13

Selecção (II) - Playoff e a sensibilidade da equipa

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Playoff- O presente da Selecção resume-se, por agora, ao playoff de apuramento para o Mundial. Um desafio suficientemente relevante só por si, mas que cresce ainda de importância se considerarmos a incerteza em torno da evolução do potencial da equipa... pode dar-se o caso de que seja, em muitos anos, a derradeira oportunidade de partir para um Mundial com hipóteses realistas de fazer figura. Sobre o playoff, já me referi à incerteza (e aos "unknown unknowns") que existe em torno de uma decisão definida em apenas 180 minutos de futebol, pelo que para além do mérito próprio, também estamos já dependentes da boa vontade dos astros. A começar pelo sorteio, onde desde logo boa parte das probabilidades de apuramento ficarão definidas.

A sensibilidade da equipa - Interessa-me também falar da equipa. Todos realçam a falta de soluções da Selecção, o que não só é verdade, como deve ser encarado como uma situação normal e não como um mal circunstancial. Um país com a base de recrutamento de Portugal pode sonhar com individualidades de excelência e, como tem acontecido, até com uma equipa capaz de ombrear com as melhores do planeta. Mas muito dificilmente poderá perspectivar manter um leque de 30-40 jogadores com a qualidade de rivais que recrutam a partir de bases de formação 5 a 10 vezes superiores. Não bastasse esta condicionante, acresce ainda o problema da singularidade do futebol português, sempre cheio de jogadores envolvidos em "casos" ou precocemente retirados de uma equipa que, pela sua natureza, precisava de contar com o máximo de disponibilidade por parte de todos.

O que decorre daqui, naturalmente, é o acentuar dos danos sempre que se tem de mexer numa unidade da estrutura base. E, em cima desta limitação, surge ainda a especificidade do modelo que foi construída no Euro 2012 em torno de uma equipa base. Portugal conseguiu uma trajectória notável, mas praticamente sempre com o mesmo 11, podendo repeti-lo por inteiro apenas nos 2 primeiros jogos do actual apuramento. Não sendo obviamente um raciocínio linear, é minha convicção de que a equipa poderá render muito mais se puder contar com a totalidade das suas unidades base, sendo este mais um factor de incerteza para o playoff. Há questões tácticas que merecem ser discutidas, mas dado o tempo de treino que existe, parece-me que Portugal fará melhor em manter-se fiel à sua identidade e ao seu modelo, revendo-o se possível apenas no período preparativo pré-Mundial. Assim, esperemos que ele venha mesmo a acontecer...

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15.10.13

Análise - dados colectivos ofensivos (Jornada 7)

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Aproveito esta paragem de competição na Liga para actualizar a Análise que havia feito na terceira jornada. Começo com os Dados Colectivos Ofensivos, e nos próximos dias acrescentarei os dados defensivos e também os dados individuais, nomeadamente relativamente aos jogadores mais desequilibradores e aos guarda redes da Liga 13/14.

Relativamente a esta primeira análise, destaque para alguma perda de fulgor ofensivo das principais equipas, comparativamente ao que se havia registado no final da terceira jornada. Aqui ficam alguns destaques:

Porto - A variação dos indicadores nestas últimas 4 jornadas, quer de ocasiões de golo quer de posse de bola, confirmam a ideia de uma perda de qualidade em termos exibicionais. Apesar disso, o Porto continua a justificar claramente a liderança no campeonato, sendo a equipa que mais ocasiões de golo criou e também aquela que mais domínio impôs nos seus jogos.

Sporting - O melhor ataque da prova explica-se fundamentalmente pela excelente eficiência do seu ataque, sendo a equipa com melhor rácio golos/ocasiões. Para este rendimento contribui, como já vimos, o desempenho de Montero, mas também o bom aproveitamento nos lances de bola parada (Montero é também aqui um protagonista).  Mesmo assim, o Sporting manteve-se como o clube mais próximo do Porto na generalidade dos indicadores, o que confirma que o seu rendimento ofensivo tem consistência para se manter entre os melhores da prova.

Benfica - Caiu mais do que os rivais em termos de ocasiões de golo. No entanto, teve um melhor aproveitamento das ocasiões criadas, o que já era previsível em face do baixíssimo valor que esse rácio apresentava à terceira jornada. Neste particular, destaque para os golos de bola parada, que apareceram neste período, ao contrário das primeiras 3 jornadas. E o Benfica é a equipa que mais ocasiões criou por esta via. De todo modo, face às suas próprias exigências, este é ainda um desempenho ofensivo abaixo do esperado.

Braga - Se ao fim dos primeiros 3 jogos, o Braga mantinha um rendimento ofensivo muito próximo dos "grandes" em praticamente todos os indicadores, essa avaliação não pode já ser feita nesta altura, com uma série bastante negativa nas últimas 4 jornadas. O dado mais preocupante para o Braga vai para o facto de ter ainda de defrontar algumas das principais equipas nesta primeira volta, o que não confere um cenário favorável.

Paços Ferreira - O último classificado do campeonato melhorou em praticamente todos os indicadores, acabando mesmo por ser a quarta equipa em termos de volume de posse de bola e finalizações. Estes indicadores, porém, carecem de correspondência qualitativa. Ou seja, às finalizações não corresponde um grande volume de ocasiões, e à posse de bola não corresponde uma grande presença no último terço adversário. Seja como for, é um desempenho que indica haver capacidade mais do que suficiente para retirar a equipa da posição onde está.

V.Guimarães - Uma nota para a modéstia do desempenho do Vitória em termos ofensivos, algo que se explica em parte pelos confrontos com Benfica e Porto neste ciclo, mas também pelo perfil que tem caracterizado os seus jogos, com poucas ocasiões de parte a parte. Ou seja, o Vitória justifica o bom desempenho na liga pelo lado defensivo, como veremos na próxima análise. Seja como for, é de esperar que a equipa possa produzir mais, nomeadamente ao nível das ocasiões de golo.

Olhanense - Temos o caso do Gil Vicente, já destacado nas primeiras 3 jornadas, mas cujo instinto de sobrevivência não só menorizou os danos para a equipa de Barcelos, como potenciou ganhos. Temos também o caso da Académica, que tem um aproveitamento muito baixo das oportunidades criadas e tem ainda de defrontar Benfica e Porto nesta primeira volta. Mas será talvez o caso do Olhanense que mais apreensão justificará. As dificuldades da equipa foram já muitas nestes primeiros 7 jogos, sendo que o calendário inclui ainda alguns embates muito complicados nesta primeira volta, compondo um cenário de expectativas preocupantes.

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14.10.13

Selecção (I) - Erros, sistema e opções

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Erros que acontecem ou... que não podem acontecer? - Sobre o erro de Rui Patrício, estou obviamente de acordo de que é um disparate fazer a diabolização de um lapso pontual, mas parece-me igualmente uma hipocrisia que se desvalorize a sua importância na definição do resultado, ou que depois se dramatize em torno do mau resultado da Selecção, afinal em grande parte definido por esse lance. Porque, se é verdade que Portugal não fez um grande jogo sob vários aspectos, ninguém tenha a menor dúvida de que se a vitória tivesse sido conseguida, o volume das críticas seria nesta altura infinitamente inferior. Ou seja, se a carga negativa do erro de Rui Patrício não foi directamente descarregada no guarda redes, foi seguramente transferida para a avaliação colectiva, o que me parece igualmente errado.
Sobre a exibição portuguesa, de facto, ficou a dever a si própria maior inspiração no último terço e também maior controlo sobre a construção israelita, no inicio da segunda parte. De resto, porém, Portugal fez o suficiente para justificar a vitória, ao contrário do que sugerem as criticas pós-jogo. Ou, melhor, as criticas pós-erro. Conseguiu um domínio assinalável no jogo, chegando repetidamente ao último terço contrário, e conseguiu também um diferencial importante ao nível de ocasiões claras de golo, mesmo se nesse aspecto a inspiração ofensiva portuguesa foi bem menor do que seria desejável. Neste ponto, destaque para a repetida canalização do jogo para o corredor direito e para a ineficácia dos muitos cruzamentos tentados sobre esse flanco. Aqui, uma nota individual para Nani, não apenas pelos cruzamentos, mas porque parece de realmente atravessar um período menos positivo em termos de confiança, o que se reflecte ao nível da decisão. Um perda importante, porque se trata de uma das principais mais valias da equipa.
Mas, parece-me importante falar sobre os erros. É certo que, como todos dizem, "são coisas que acontecem", não se justificando à partida a sobrevalorização de situações que serão, em princípio, episódicas. O ponto aqui é que os erros na campanha da Selecção não foram apenas episódicos, e provavelmente se não fossem esses mesmos erros, Portugal estaria já com presença confirmada no próximo Mundial. É bom recordar que depois do primeiro deslize, frente à Rússia, também desvalorizávamos o erro pontual de Ruben Micael, na origem do golo russo, ou que no empate frente à Irlanda do Norte, também começamos a condicionar as nossas aspirações com um erro em posse de Miguel Veloso. Os erros individuais, acontecem de facto, mas parece-me perigoso subestimar a sua importância como vem sendo feito desde o ínicio desta campanha, e talvez por detrás daquilo que aparenta ser um mero acaso possa estar escondido algo mais. Um algo mais que nesta altura coloca Portugal numa posição bastante complicada no que respeita ao apuramento. Erros que acontecem, sem dúvida, mas principalmente... erros que não podem acontecer!

O sistema: os problemas de libertar Ronaldo no 4-3-3 - Voltarei ao tema da Selecção após o jogo com o Luxemburgo, não tanto para comentar essa partida em concreto, mas para trazer outros pontos de opinião - e, essencialmente, de apreensão - relativamente ao futuro próximo. Uma das questões que me parecem importantes e que claramente emergiu neste jogo, é a questão do sistema táctico. Já me referi à propensão portuguesa para fazer incidir os seus ataques sobre a direita, mas a assimetria no jogo de Portugal esteve também presente no capítulo defensivo, e em parte está na origem das dificuldades de controlo sobre a construção israelita, no inicio da segunda parte. Tem tudo que ver com o posicionamento de Ronaldo, que de certa forma descaracteriza aquilo que é o comportamento normal do 4-3-3. Com bola, e bem na minha opinião, Ronaldo tem grande liberdade de acção, aparecendo com enorme frequência sobre o corredor central. O problema é que não há complementaridade para este comportamento, e Portugal ficou com pouca presença no corredor esquerdo. Aqui, é importante sublinhar as implicações que podem ter tido as mudanças naquela que é a equipa habitual, já que Meireles tem normalmente um papel importante nesta dinâmica, abrindo sobre a esquerda perante a ausência de Ronaldo, o que não sucedeu com Micael. Mas é defensivamente que mais dúvidas me suscitam. A presença mais alta de Ronaldo faz com que Portugal defenda muitas vezes em 4-4-2, mas com alguma falta de equilíbrio na linha média, em particular na presença sobre o seu lado esquerdo. O resultado disso foi, num primeiro momento, a liberdade quase sempre oferecida ao lateral direito contrário e, num segundo instante, a consequente atracção dos restantes elementos da linha média para esse corredor (nomeadamente o pivot), o que implicava o desguarnecimento de outros espaços.
Todos estarão lembrados da liberdade desfrutada pelo lateral direito da Dinamarca no jogo do Euro 2012, e essa fragilidade parece subsistir no jogo defensivo português.

Opções: Danny, Adrien e William - Começo pelo único caso que me parece realmente justificar alguma apreensão nesta altura: Danny. Portugal não tem muitos jogadores como ele, e mesmo se não é evidente a forma de o potenciar na actual estrutura da Selecção, também me parece um luxo excessivo prescindir dos seus serviços, como tem acontecido. A critica poderia ir, neste sentido, inteiramente para a opção de Paulo Bento, mas o caso de Danny parece-me um pouco mais complexo do que isso. É que o próprio Danny tem uma carreira estranha na Selecção, aparecendo quase sempre lesionado quando é preciso dar o seu contributo à equipa nacional. E, se nuns casos as lesões foram graves de mais para levantar qualquer tipo de dúvida, noutros casos o tipo de lesão associado ao timing da mesma, faz pensar que talvez o problema não seja apenas a prioridade que Danny tem para a Selecção, mas também a prioridade que a Selecção tem para o próprio Danny. É pena, e como escrevi acima, julgo que é um luxo excessivo nada ser feito para conseguir um melhor aproveitamento do jogador.
Outros casos muito discutidos têm sido os médios, nomeadamente a substituição de Meireles e as ausências de Adrien e William Carvalho, em favor por exemplo de Rúben Micael. São casos distintos. No caso de Adrien, acho muito perigoso que se confundam momentos colectivos com momentos individuais. Adrien tem tido um bom rendimento, mas a meu ver fundamentalmente porque tem estado incluído numa equipa que tem sido colectivamente bem potenciada. Sobre a sua mais valia individual, que é o que o interessa ao seleccionador (e o seleccionador em causa conhecerá, como poucos, os pontos fracos e fortes de Adrien), não estou minimamente convencido de que Arien seja a melhor alternativa para a Selecção. Rúben Micael, na minha opinião, tem fragilidades que o distanciam de uma solução ideal para uma equipa que ambiciona chegar às fases terminais das grandes competições, mas parece-me também ter algumas mais valias importantes, relativamente a Adrien. Aliás, fez um jogo muito bem conseguido frente a Israel, tanto no capítulo ofensivo, como defensivo (o que não costuma acontecer, diga-se), e acabou a meu ver por justificar completamente a aposta que nele foi feita para este jogo.
Um caso diferente é o de William Carvalho. Já me referi às limitações que ainda apresenta na resposta defensiva, mas também me parece um caso claramente capaz de vir a fazer carreira na Selecção principal, justificando até já essa chamada. A grande questão no caso de William, porém, é a sua presença nos sub21. Ou seja, se não for para ser utilizado - o que nesta altura será difícil, dada a aposta em Miguel Veloso - fará mais sentido contar com o jogador nos sub 21, utilizando outra solução como alternativa a Veloso, na equipa principal. Na minha leitura, é esta a gestão que está a ser feita por parte da equipa técnica portuguesa, ainda que tal não possa obviamente ser reconhecido publicamente, por uma questão de consideração pelo jogadores que são chamados em vez de William.

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11.10.13

5 jogadas (Benfica, Sporting, Bayern e Tottenham)

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Jogada 1 - Começo pelo lance do golo do Benfica, que surge na sequência de um bom entendimento sobre o corredor esquerdo, entre Gaitan e Siqueira. O movimento de Gaitan, baixando para a linha média, é essencial porque atrai o acompanhamento do lateral, abrindo o espaço que depois Siqueira irá aproveitar. Aqui, nota também para a dificuldade de cobertura sobre a área potenciada por esta dinâmica, por parte do Estoril, em particular para a linha média, incapaz de reagir a tempo de auxiliar a zona defensiva, quer sobre o corredor lateral, quer também na zona central. Uma fragilidade que decorre da tentativa da equipa de Marco Silva em fazer um condicionamento alto do jogo, usando para isso um bloco curto e com poucas linhas. Outro pormenor interessante no lance é a decisão do jogador do Estoril em evitar o canto, mesmo quando a sua equipa não estava em condições ideais para reagir a novo cruzamento. Um instinto que acabou por ter um alto custo.
De sublinhar também o ganho de qualidade no corredor esquerdo do Benfica. Gaitan acrescenta à equipa não só qualidade na definição mas também imprevisibilidade e variedade de movimentos. Siqueira, por seu lado, acrescenta em relação a Cortez esta capacidade de se envolver em acções de combinação colectiva e não estando tão dependente do transporte individual de bola. O ex-São Paulo foi muito criticado pela sua fragilidade nos aspectos defensivos, mas pessoalmente sou da opinião de que Siqueira veio acrescentar algo sobretudo na dinâmica ofensiva.

Jogada 2 - Um sublinhado à jogada do terceiro golo do Sporting, que tem uma génese pouco comum, entre os muitos golos já conseguidos pela formação de Jardim. De notar que esta jogada acontece já no segundo tempo, onde a postura do Setúbal foi bem mais frágil do que na primeira parte, quando as dificuldades do Sporting em entrar no bloco contrário haviam sido assinaláveis. Outro ponto interessante é a forma como o envolvimento de Carrillo numa fase mais baixa do jogo acaba por precipitar a acção na primeira zona de pressão do Vitória, com o jogador a sair em contenção sobre o central do Sporting e, sem condições para ser bem sucedido, permitir que Carrillo inicie a sua progressão em posse. Um lance bem sucedido mas que, porém, não será muito aconselhável que "faça escola" nas soluções da equipa, já que a presença de Carrillo numa fase tão atrasada do jogo ofensivo acrescentaria previsivelmente uma dose indesejável de risco à construção da equipa.

Jogada 3 - De novo, o Bayern de Guardiola! A equipa fez, no fim de semana passado, um jogo estupendo em Leverkusen, que terminou com um empate a 1 golo, mas que poderia ter terminado, com bem maior probabilidade, numa goleada. Dando sequência à exibição feita em Manchester, o Bayern pareceu-me bem mais consistente do que em outras ocasiões. A inclusão de Muller no lugar de Mandzukic pode ser uma das explicações para este crescimento, com a equipa a revelar mais ordem nos movimentos dos seus três elementos ofensivos, ao invés de esconder permanentemente o 9 do jogo. Ainda assim, sobram-me ainda dúvidas se será Muller o elemento ideal para esta função de falso 9, ainda que de repente não vislumbre melhor solução no plantel actual. Talvez essa tenha sido precisamente a dificuldade de Guardiola e o porquê de ter começado por utilizar Mandzukic. Seja como for, foi um festival de futebol ofensivo, encontrando sucessivamente espaços quer nos corredores laterais, quer entrelinhas, e também com melhor segurança em posse do que em outras ocasiões. O empate só se explica por um enorme desacerto na finalização, com Muller em tarde especialmente desinspirada nesse aspecto particular. Entre todas as jogadas, talvez esta seja a mais perfeita, com construção desde o seu último reduto, ligando sucessivamente corredores, e terminando com uma finalização de baliza aberta, ainda que mal sucedida.

Jogada 4 - O outro lado do Bayern! Não que justifique o empate, tal o caudal ofensivo da equipa, mas realmente a equipa de Guardiola assume um risco assinalável no seu jogo, acabando por se expor defensivamente. No lance do golo do empate do Leverkusen, que sucede na primeira e única jogada que o jogo conheceu com 0-1 no marcador, é visível a exposição da zona defensiva do Bayern, assim que a bola ultrapassa a sua linha média. Em particular, destaque para o posicionamento dos médios, muito propensos a pressionar a primeira fase de construção do adversário, mas sendo depois incapazes de auxiliar a sua zona mais recuada. Com este adiantamento dos dois interiores, o pivot (Lahm) é facilmente atraído para o corredor lateral, havendo imediatamente uma exposição do corredor central. Mais adiante na jogada, o central é também ele atraído para o corredor lateral, acabando a equipa com muito pouca presença numérica para responder ao cruzamento. O golo não era inevitável, mas com toda esta exposição, tornou-se bastante provável.

Jogada 5 - Para terminar, o tema do posicionamento da linha defensiva. O que deve fazer perante uma situação de ameaça? Arriscar e subir para tentar o condicionamento através do fora de jogo em toda e qualquer situação? Ou, na ausência de presença pressionante sobre o portador da bola, cortar a profundidade, baixando? Pessoalmente, tenho aqui diversas vezes defendido que a opção certa é a segunda, mas este tema não é consensual e nem todas as equipas assumem esse comportamento. Um exemplo muito claro é o do Tottenham de Villas Boas, que arrisca muito na agressividade do posicionamento da sua linha defensiva, sempre tentando usar o fora de jogo, por vezes mesmo posicionando-se na mesma linha do jogador que faz contenção. Embora haja até outros lances mais evidentes para ilustrar este comportamento, parece-me que a jogada do segundo golo sofrido pode servir de exemplo. No caso, a transição do Tottenham é interrompida, o meio campo do West Ham reassume a posse de bola, ficando sem oposição sobre o portador da bola e com o lateral direito do Tottenham momentaneamente fora de posição. Uma situação de risco total, portanto, porque a defesa não tem, nem controlo sobre o tempo de passe, nem tão pouco possibilidade de interceptar a linha de passe. Ainda assim, o instinto da linha defensiva passa por continuar a subir, quase como se a equipa não tivesse acabado de perder a bola, preferindo a opção mais arriscada de tentar o fora de jogo, do que a mais segura, de imediatamente cobrir o espaço e assim condicionar a progressão do jogador que vai receber o passe (Vaz Te, na ocasião). A pergunta que resume o dilema é, no fundo, quantos foras de jogo valem um golo?

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10.10.13

Só o Gil tem surpreendido mais do que o Sporting!

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Recupero este de tipo de análise de outras ocasiões. A ideia é comparar a performance real das equipas com a expectativa que sobre elas havia a cada jogo. Para tal, recorro aos prémios médios oferecidos pelas casas de apostas para cada jogo, sendo possível a partir dessa avaliação retirar quer as expectativas, quer de pontos, quer de golos marcados e sofridos por cada equipa. No passado, fiz esta análise centrada nos treinadores, e poderei voltar a essa abordagem no futuro, até porque me parece ser mais interessante. Nesta altura, porém, ainda não houve jogos após alterações no comando técnico das equipas (à excepção do caso de Van der Gaag, claro), sendo por isso indiferente centrar a análise nas equipas ou nos treinadores.

Relativamente aos resultados, é interessante o caso do Gil Vicente, que foi uma equipa já aqui destacada pelo bom aproveitamento pontual que tinha tido nas primeiras jornadas, apesar das enormes dificuldades sentidas durante os jogos. Também em destaque, e de forma menos surpreendente, surgem Sporting, Estoril, Nacional e Guimarães. Em sentido inverso, os casos de Paços de Ferreira e Académica confirmam as dificuldades neste inicio de temporada.

No que respeita aos "grandes", o caso do Sporting é naturalmente o que justifica maior realce, tanto pela superação das expectativas pontuais, como na óptima produtividade ofensiva, com quase mais 7 golos marcados, relativamente ao que seria esperado. O caso do Porto aparece algo condicionado pelas elevadas expectativas que já existem sobre a equipa de Paulo Fonseca. Por exemplo, mesmo que o Porto tivesse somado os 21 pontos possíveis, esse registo não seria suficiente para superar a performance relativa do Gil Vicente. Já para o Benfica, as expectativas não justificam tudo, e mesmo com um inicio de época complicado, a performance da equipa de Jesus tem ficado aquém do esperado em todos os indicadores, com especial realce para o número de golos marcados, muito inferior ao que se pensava ser possível.

Finalmente, nota para a primeira "chicotada" na Liga, de José Mota no Setúbal. A meu ver, é uma decisão difícil de entender. Ou seja, é legítima a preferência por um estilo diferente do ex-treinador pacense, mas se essa fosse a explicação, então não faria sentido ter iniciado a temporada, porque se há estilo que não representa novidade é precisamente o de José Mota. Nesta altura, o desempenho do Setúbal não era brilhante, com dificuldades sobretudo ao nível do desempenho defensivo, mas se formos argumentar sobre um "falhanço" de José Mota, então também teríamos de entender o mesmo para um grupo bastante mais vasto de casos na primeira liga portuguesa.

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9.10.13

Fredy vs Jackson: Montero muito mais eficiente, mas...

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À margem da performance colectiva, este inicio de campeonato proporcionou um interessante despique na tabela dos melhores marcadores, com Montero na frente desde a primeira jornada, mas com Jackson Martinez sempre por perto, sendo que ambos os avançados colombianos têm mantido uma frequência de concretização extremamente elevada.

Montero muito mais eficiente
Para efeitos de análise, e como sempre, parece-me bastante mais útil ignorar os golos obtidos da marca de grande penalidade, e a esse condicionalismo junto ainda a comparação com o número de ocasiões finalizadas. É recorrendo a este último indicador que percebemos que, embora Montero e Jackson pareçam casos quase gémeos quando olhamos apenas para os golos marcados, na verdade a elevada frequência goleadora dos dois colombianos tem explicações bem distintas. Enquanto que Jackson conseguiu chamar a si um número avassalador de ocasiões para marcar, Montero alicerçou a sua excepcional frequência goleadora num aproveitamento avassalador das ocasiões de que desfrutou, superando mesmo o registo do seu compatriota, apesar de ter tido muito menos ocasiões.

E a seguir?
Não há dúvida que o feito de Montero, olhando a estes indicadores, sobressai como o mais extraordinário. A pergunta seguinte, porém, tem a ver com o que será razoável esperar nas jornadas que faltam jogar?

Já aqui tenho escrito noutras ocasiões que sou da opinião de que a eficiência (aproveitamento das ocasiões de golo) é altamente sobrevalorizada no curto prazo. Porque, embora esse indicador possa ter valores radicalmente dispares num curto espaço de tempo, a tendência, no longo prazo, é para que a eficiência de jogador para jogador acabe por estabilizar. E é nesta perspectiva que a vantagem de Montero na lista dos melhores marcadores se torna de muito improvável sustentação, caso o número de ocasiões de golo de Jackson continue a ser tão elevado como foi até aqui.

Por isso, e sem desfazer o enorme feito que tem sido o seu rendimento até aqui, bater Jackson na corrida dos marcadores continua a parecer um desafio hercúleo para Montero.

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8.10.13

A estreia de Herrera e o não-problema do meio campo

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Após a primeira derrota na temporada, a estreia de Herrera. Sobre o grau de causalidade entre as duas situações, apenas Paulo Fonseca poderá precisar, mas o facto é que essa foi a única medida vísivel por parte do treinador no jogo que imediatamente se seguiu à recepção ao Atlético de Madrid.

Herrera fez um jogo positivo, sem dúvida, mas sem que acrescentasse nada de novo ao que já se havia visto na pré época - e conheço o jogador apenas da pré época - mantendo, por isso, o que sobre ele havia escrito no final do ciclo preparativo da equipa. Ou seja, Herrera será a solução mais próxima de Defour na capacidade de oferecer mobilidade à posição, sendo igualmente um jogador que me parece ter uma boa capacidade de intervenção defensiva. Agora, se Herrera é uma mais valia em relação a Defour? Pode ser até que o venha a mostrar com maior tempo de jogo, mas para já não vejo qualquer fundamento para essa conclusão.

Sobre o meio campo do Porto, aliás, parece-me que o plantel oferece boas soluções e de qualidade não muito dispar. Fernando será a unidade com um perfil mais posicional, e a sua presença numa estrutura que contempla dois médios defensivos, e não apenas um como até aqui, acaba por exigir um elemento que o consiga complementar, oferecendo maior mobilidade à posição. Daí este enfoque dado à movimentação do segundo médio. O que não concordo, porém, é com a ideia de que seja a partir da dupla de médios que o Porto pode evoluir a partir do ponto em que se encontra. A não ser que Paulo Fonseca reveja o seu modelo, o que dificilmente acontecerá, a primeira prioridade de qualquer dos dois médios será sempre o equilíbrio posicional e a primeira fase de construção, seja com Defour, Herrera, Lucho ou Josué. O problema do Porto, a meu ver, continua a ser demasiado óbvio para ser confundido ou ignorado, e tem a ver com aquilo que a equipa não consegue extrair dos seus extremos. A esmagadora maioria das ocasiões tem a marca de Jackson, Lucho e Quintero, mas muito poucas continuam a ser protagonizadas pelos extremos. Olhar para o meio campo perante o rendimento presente dos extremos, na equipa do Porto, é como ir à procura da pulga quando ainda não se conseguiu encontrar o elefante.

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7.10.13

Estoril - Benfica: Sofrimento não tem de ser defeito

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O desgaste de Jesus - O Benfica, e Jorge Jesus, estão enredados numa teia da qual já será muito difícil escapar. Não, não se trata de nenhuma nova teoria conspirativa, mas antes da pressão mediática que coloca o treinador em constante ponto de mira por parte de cada vez mais adeptos e críticos. Existem, obviamente, pontos em que esses reparos são justificáveis, mas há também toda uma série de análises que se vão generalizando e que tendem a estabelecer todo e qualquer nexo de culpabilidade do treinador relativamente ao que de menos positivo possa suceder. Tem tudo que ver com o lado emocional do futebol, enquanto fenómeno social, e quanto maior vai sendo o desgaste mediático do treinador, mais forçada e sofismável se torna a argumentação dos seus críticos. Da minha parte, mais do que lamentar, resta-me constatar, porque se o impacto do futebol se explica pelo lado emocional, não podemos depois desejar que seja a razão a conduzir os raciocínios colectivos.

Sofrimento não é, necessariamente, defeito - Abordando mais concretamente o jogo, mas mantendo-me ainda no campo das emoções que passam de dentro para fora do campo, o sofrimento que o Benfica sentiu nos instantes finais do jogo induz a crítica pela forma como a equipa geriu a vantagem que cedo conseguiu no marcador. Tanto mais, que esteve mais de 30 minutos em vantagem numérica. Não digo que não pudesse ter feito mais, mas não estou de acordo que o Benfica tenha gerido mal o jogo, parecendo-me aliás que terá feito uma das melhores partidas dos últimos tempos. E afirmo-o tendo em conta a qualidade do adversário, que será provavelmente a quinta equipa do futebol português no momento presente.
O Benfica nunca conseguiu um grande volume de posse de bola, nem era previsível que o fizesse, mas controlou praticamente sempre o Estoril, apenas acabando por sentir desconforto no inevitável jogo directo dos minutos finais. Particularmente, na segunda parte Jesus alterou a sua estrutura, integrando Gaitan no corredor central, por troca com Rodrigo, tantando retirar assim do argentino uma presença que oferecesse mais apoio à linha média, tanto defensivamente como na gestão da posse. E esta estratégia, mesmo antes da expulsão de Filipe Gonçalves, foi bem conseguida. É trivial que seria desejável ter evitado o aperto final, mas seria igualmente desproporcionado fazer do objectivo de dilatar o marcador uma prioridade ao ponto de colocar em risco a vantagem de que a equipa já usufruía. E, mais importante ainda, não é também justo afirmar que o Benfica não resolveu ofensivamente o jogo, porque o fez com o golo do Cardozo... o problema é o que continua a passar-se lá atrás!

O verdadeiro problema defensivo do Benfica! - É um ponto que se arrasta desde a pré época, que já várias vezes o abordei, mas para o qual permaneço sem uma boa explicação. Ou seja, o Benfica continua a sofrer golos com enorme regularidade, mas isso não resulta tanto de uma grande permeabilidade defensiva ao nível das ocasiões de golo consentidas, mas antes de um nível assustador de eficácia por parte dos adversários. Para se ter uma ideia, rapidamente, o Benfica sofreu 10 golos em 17 ocasiões (58% de aproveitamento dos adversários), enquanto que Porto e Sporting sofreram, respectivamente, 6 em 18 (33%) e 4 em 14 (29%). E este é, a meu ver e de forma muito flagrante, o grande problema defensivo do Benfica.
 
Gaitan, Matic e Cardozo - Gaitan, Matic e Cardozo serão, para mim, os grandes destaques do jogo. Gaitan, porque oferece uma qualidade enorme à equipa e que, na ausência de Salvio, não existe em mais nenhum extremo do plantel. Pelo desempenho técnico, claro, mas também pela sua maturidade em muitos outros aspectos, como no posicionamento defensivo ou na capacidade de ocupar outras zonas que não apenas os corredores laterais. Continua a ter algum instabilidade ao nível da segurança em posse, é verdade, mas para mim é um jogador absolutamente essencial na equipa, pela diferença que marca em relação às outras soluções. Matic, regressado a um papel que lhe é mais familiar, voltou a ter a preponderância habitual, com a capacidade de complementar essa influência com uma boa capacidade desequilibradora no último terço. Cardozo, porque entrou de facto muito bem no jogo, a oferecer outra resposta nas primeiras bolas e com influência relevante no último terço, pelo golo que marcou e por outra ocasião que criou para Lima. Parece motivado, e quando isso acontece, a utilidade do paraguaio é de facto muito elevada... o problema é que isso nem sempre acontece com Cardozo. Uma referência também para Lima, que vai continuar a ser criticado pelas ocasiões falhadas, um aspecto altamente sobrestimado em termos mediáticos. Lima, porém, tem uma capacidade muito boa de envolvimento ofensivo, conseguindo ser protagonista em vários desequilíbrios da equipa, quer finalizando, quer assistindo, e isso tem um enorme valor. A meu ver, com ou sem Cardozo, Jesus faria bem em dar mais minutos ao brasileiro.

O Estoril - Importa fazer, novamente, um elogio ao Estoril. Já não é surpresa que crie dificuldades a qualquer equipa que encontre, fazendo-o sempre com uma identidade muito própria e que não necessita de grandes ajustamentos estratégicos perante adversários diferentes e de maior qualidade. Isso é apenas possível pela qualidade. Qualidade no modelo de jogo implementado, mas também qualidade nos recursos individuais que o interpretam. Porque se Marco Silva merece obviamente destaque, também não me parece justo que o foco colocado sobre o treinador ofusque os méritos de outros protagonistas.



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4.10.13

5 jogadas (Benfica, Porto, Sporting e Man City)

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Jogada 1 - Começo com a jogada do primeiro golo do PSG, até porque discordo da análise que vi ser feita, em particular relativamente à responsabilização atribuída a Gaitan. E, começando por esse ponto, aquilo que não me parece fazer sentido é pedir que um jogador mantenha o acompanhamento individual, neste caso a Van der Wiel, quando o comportamento colectivo passa por subir imediatamente após o passe atrasado, de forma a fazer uso da linha de fora de jogo. Ou seja, ou se pede ao jogador para manter esse acompanhamento individual, e aí tem de se desprezar o comportamento colectivo, ou para manter o comportamento colectivo, não se pode depois questionar o acompanhamento individual. No caso do Benfica, não tenho dúvidas de que a prioridade que lhe é transmitida passa por fazer o que Gaitan fez, ou seja, subir rapidamente após o passe atrasado.
Há dentro do lance, mais 3 pontos que identifico e que me parecem poder ser mais censuráveis do que a acção de Gaitan. Isto, claro, já saltando por cima das dificuldades que ontem abordei. 1) Primeiro, a presença pressionante da linha média, que não é suficiente para impedir o passe vertical para Van der Wiel. 2) Depois, a distância dos jogadores que estão na área para o corredor lateral, o que impede a cobertura de ser feita atempadamente. Aqui, duas notas: uma para a elevada presença numérica no centro da área, o que permitiria maior proximidade do primeiro elemento da zona lateral sem perda de equilíbrio no centro; a outra para o facto de Siqueira, o tal primeiro elemento na zona central, estar fixado em Cavani, sendo essa a explicação para estar tão atraído para dentro, o que implicará depois uma cobertura tardia no lance. 3) Finalmente, o comportamento de André Almeida no centro da área, inicialmente com Ibrahimovic, mas sem reacção durante a jogada.

Jogada 2 - Provavelmente a melhor jogada no embate entre Porto e Atlético de Madrid. Vale a pena olhar para o lance desde o seu inicio, porque nele se encontram as principais virtudes do Atlético. Nomeadamente, primeiro, o notável ajustamento posicional da sua linha média, mantendo presença pressionante sobre o portador da bola e rapidamente conseguindo criar superioridade no flanco em que a bola entra. Depois, a forma como sai para o momento de transição, não procurando retirar a bola do mesmo flanco onde a recupera - o comportamento característico da esmagadora maioria das equipas - mas progredindo verticalmente em apoios curtos e sucessivos, de onde emerge a qualidade de algumas das suas unidades, sobretudo Arda Turan.
O meu realce, na parte final do lance, vai para o comportamento de Defour, que não tem a preocupação de colmatar a ausência de unidades na zona central da defesa. Ou seja, mesmo sem centrais, ele continua a posicionar-se como um médio, o que obviamente não faz qualquer sentido dentro de uma perspectiva de equilíbrio colectivo. E não faço com isto uma critica muito individualizada a Defour, porque me parece que esta falta de "retrovisor" dos elementos da linha média é comum à maioria das equipas.

Jogada 3 - De regresso à liga portuguesa e ao interessante Braga-Sporting, para recuperar o lance do golo do empate. O fundamental da jogada é facilmente identificável. Ou seja, há um aproveitamento por parte do Braga das dificuldades de controlo dos dois médios do Sporting, atraindo-os para depois aproveitar o espaço nas suas costas. Como referi no comentário ao jogo, a exploração deste espaço pareceu ser um foco de estratégico de Jesualdo Ferreira, reflectido quer na forma como o Braga envolveu muita gente na circulação baixa (atraindo para aí os médios do Sporting), quer como Alan se apareceu sobre o corredor central, acrescentando a sua presença à de Micael, nas costas dos médios do Sporting. Nota ainda no Braga para os movimentos de Eder, com enorme propensão a abrir sobre as alas, o que neste caso serve de complementaridade ao movimento interior de Alan e ajuda a fixar a linha defensiva do Sporting.
No que respeita ao Sporting, praticamente todas as semanas me refiro aos problemas que a equipa vai sentindo nesta zona, e tem de facto sido por aqui que o Sporting mais tem sido penalizado. Existe, repito a ideia, tanto um problema de resposta individual como de equilíbrio colectivo (falta de protecção de outros elementos a esta zona). No caso concreto desta jogada, realçaria o posicionamento em paralelo dos dois médios (Adrien e William). Esta é uma situação comum nas equipas que assumem este tipo de estrutura em organização defensiva (2 médios no corredor central), mas que geralmente acaba por se revelar numa oportunidade para a exploração do espaço entrelinhas por parte dos seus adversários, visto que um passe vertical acaba por retirar os dois jogadores da jogada, tal como sucede aqui. Parece-me que este posicionamento, em paralelo, apenas é desejável quando há uma grande proximidade com a linha defensiva, caso contrário é preferível a assimetria.

Jogada 4 - Mais à frente no jogo, foi o Braga quem sentiu problemas de controlo defensivo. Particularmente, a habitual dinâmica do Sporting sobre os corredores foi causando sucessivos estragos ao longo da segunda parte, em especial sobre o corredor direito. Neste lance sobressai a habitual dinâmica de André Martins sobre a ala, que aproveitando as limitações na resposta do Braga. Em particular, a pouca intensidade defensiva de Micael, que baixou para o duplo-pivot após a expulsão de Aderlan, ainda para mais sobre o lado de Elderson. Uma situação que, parece-me, poderia ter sido corrigida mais cedo por Jesualdo. Ainda no Braga, nota para algumas dificuldades de ajustamento lateral da linha média, o que conduziu depois à exposição da linha defensiva - profundidade - em algumas situações.
Ainda relativamente a este lance, nota para a boa decisão de André Martins, que mesmo sem ângulo para finalizar manteve a condução em direcção à baliza. Esta opção forçou Eduardo a sair da baliza, acrescentando um enorme potencial ao passe seguinte.

Jogada 5 - Finalmente, o interessante jogo entre Man City e Bayern. Um passeio bávaro no campo de uma das mais apetrechadas equipas da actualidade, o que em princípio seria uma surpresa, mas que dado o contexto recente da equipa de Pellegrini, não pode deixar ninguém de boca aberta. O Bayern fez o jogo mais sólido que lhe vi fazer este ano (vi apenas alguns, alerto), conseguindo também controlar por completo o seu adversário, e não intervalando o seu domínio com uma série de desequilíbrios, como aconteceu noutras ocasiões. Mas é o City e o futebol inglês que mais quero destacar, e em particular a mediocridade que as principais equipas do mais interessante campeonato do mundo (opinião própria) apresentam actualmente. Diria mesmo que, e apesar das fragilidades que ainda se lhe reconhecem, será o Chelsea de Mourinho aquela que mais hipóteses terá de disputar a Champions até uma fase mais adiantada.
Sobre o lance em concreto, trata-se de um tipo de situação já várias vezes comentado e que tem a ver com o risco assumido na profundidade quando não há pressão sobre o jogador que faz o passe (no caso, Dante). Nesta situação, a vantagem fica toda do lado de quem ataca, e percebe-se isso ao ver a dificuldade que existe em controlar o movimento de Muller. Todos sabemos o quão importante é diminuir o espaço entrelinhas (já agora, uma das fragilidades do City), mas pior do que ser exposto à frente dos defesas, é ser exposto atrás dos defesas. Uma questão de prioridade, portanto.

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3.10.13

A estranha estratégia de Jesus!

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Não está em causa a derrota, nem sequer a superioridade do PSG. Perder em Paris, nos dias que correm, tem de facto de ser considerado normal. O que é mais preocupante, porém, é a impotência gritante que o Benfica revelou perante o seu adversário. E, aqui, mais do que uma chuva de oportunidades do PSG, há que sublinhar a facilidade com que os parisienses jogaram, como e onde quiseram. Porque se é verdade que as oportunidades até nem foram assim tantas, também me parece indiscutível que essa nunca foi a prioridade da equipa de Laurent Blanc, a partir do momento em que se viu em vantagem, logo aos 4'.

E aqui, entramos na estratégia de Jesus, que é o que torna tudo um pouco mais grave para o Benfica. Porque se o PSG teve uma enorme capacidade em circular a bola, terminando com um número assustador de passes, isso aconteceu quando o Benfica tentou precisamente fazer um condicionamento, forte e a todo o campo, da posse adversária. Ou seja, o que aterroriza não é tanto o domínio do PSG, mas a incapacidade do Benfica para o anular, tendo-o tentado fazer desde a primeira hora.

Confesso que não me surpreendeu a alteração na estrutura defensiva, nomeadamente com a inclusão de 3 médios, porque fiquei com a convicção de que Jesus o faria nesta ocasião, desde a sua reacção após o jogo em Nápoles na pré época. Também não surpreende o acompanhamento individual dos extremos aos laterais adversários, porque não é a primeira vez que o treinador recorre a essa estratégia. O que me surpreende, porém, é a postura pressionante que foi pedida aos 2 médios mais adiantados (Matic e Djuricic), muito arrojada e expondo completamente o pivot nas suas costas. Os resultados estão à vista de todos, com uma incapacidade tremenda do Benfica em retirar eficácia dessa estratégia, o que abriu depois uma imensidão de espaço para jogar nas costas dessas unidades mais adiantadas. Mas há aqui que fazer duas constatações para além da identificação do que era pretendido: a primeira é a qualidade da circulação baixa do PSG, com um grande envolvimento dos médios; a segunda é a incapacidade pressionante dos 3 elementos do Benfica. É claro que é fácil criticar uma estratégia depois desta não ter resultado, mas a questão aqui passa mais por perguntar se 1) Jesus esperava grande eficácia pressionante ao isolar um tridente que incluía Cardozo e Djuricic? 2) Pode o treinador lamentar-se da equipa não ter sido capaz de controlar os movimentos de Ibrahimovic, quando a sua estratégia passou precisamente por abrir o espaço onde este gosta de aparecer?

E, daí, a estranheza por esta opção...



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2.10.13

Porto - Atlético - Um "David" transformado em "Golias"

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O "Golias" Atlético - Parece-me importante, antes de mais, contextualizar o adversário que o Porto teve pela frente. O Atlético não tem o prestigio, nem tão pouco as figuras de pelo menos uma dezena de equipas do futebol europeu actual. Para mais, o Porto habituou-se a dar-se bem com este adversário, até quando nas suas fileiras surgiam nomes bem mais assustadores, como Aguero e Forlan. É normal, por tudo isto, que a ideia errada passe facilmente. Na minha opinião, porém, o Atlético tem de figurar entre as 5 melhores equipas mundiais da actualidade. Não pelo valor individual ao seu dispor, nem tão pouco pelo lado estético do seu jogo, mas antes porque não consigo creditar a mais equipas a capacidade de fazer os resultados que o Atlético vem fazendo, num trajectória que se iniciou com a chegada de Diego Simeone ao clube e não no inicio desta época, o que também é relevante. Sobre esta equipa, há ainda que acrescentar que não consigo encontrar um caso mais interessante de analisar para quem procura boas ideias para equipas "terrestres". Porque uma coisa é deslumbrarmo-nos com o futebol do Barça ou as ideias de Guardiola, alicerçadas numa superioridade técnica quase sempre avassaladora sobre os seus opositores. Outra, bem diferente, é perceber como é que uma equipa consegue manter-se "na roda" de Barça e Real sem ter, nem de perto, os recursos técnicos dos dois gigantes, nem tão pouco precisando de fazer da posse de bola um recurso constante para ter sucesso.
Entre os "David e Golias" da primeira linha do futebol mundial, diria que o Atlético é um "David" tão competente, que se transformou num "Golias".

Relativizar, também, a exibição do Porto - Do mesmo modo que me parece importante relativizar o grau de dificuldade imposto pelo seu adversário, parece-me também necessário não exagerar nos elogios que são feitos à exibição do Porto. É verdade que a equipa fez um jogo de enorme entrega e intensidade, conseguindo um domínio inicial alicerçado numa fortíssima reacção à perda. É igualmente verdade que voltou a assumir as rédeas do jogo assim que foi devolvida a igualdade ao marcador, e que só terminou batida pelos pormenores das bolas paradas. O problema do uso destas constatações como fundamento para grandes elogios ao jogo do Porto é que não faz propriamente parte da estratégia do Atlético ter uma grande presença em posse. O Atlético tem, antes sim, como prioridade fundamental o controlo dos espaços essenciais, o que foi sempre conseguido pela equipa de Simeone, também ela apenas batida num lance de bola parada, e tendo conseguido chamar a si o domínio territorial no período em que dele precisou. Ou seja, o Porto pode ter tido mais ascendente territorial na totalidade do jogo, mas isso só poderia ser encarado como um grande triunfo da equipa caso interferisse com a estratégia do seu adversário, o que não foi o caso.

Alguns apontamentos tácticos - Do ponto de vista táctico, parece-me mais interessante ver o jogo pelo lado do Atlético, até porque no Porto as alterações ao longo do jogo foram menores. Assim, o principal destaque tem a ver com a alteração da estrutura defensiva do Atlético, que começou a defender com 2 unidades mais adiantadas, na frente de uma linha de 4 elementos, passando depois a usar apenas 1 unidade mais adiantada, e 5 nas suas costas. Os princípios defensivos do Atlético são sempre os mesmos (sublinhando, sem entrar em pormenores, o notável ajustamento posicional da sua linha média), mas a elevada presença portista na circulação ajudou a neutralizar o efeito da primeira linha de pressão, o que permitia à construção portista chegar com algum conforto até à linha média do Atlético, composta "apenas" por 4 unidades. É verdade que o Porto pouco fez a partir desta fase do jogo, já que o Atlético foi sempre muito pouco permeável no último terço, mas as dificuldades tornaram-se bem maiores quando Simeone fez baixar 1 unidade para a sua linha média. E, aí sim, o Atlético tornou-se praticamente invulnerável.
É igualmente interessante olhar os indicadores estatísticos do jogo, em particular dois pontos. Primeiro, a invulgar frequência de intervenção defensiva do Porto, o que vai de encontro à ideia de um jogo de elevada intensidade e entrega, mas também ao número elevadíssimo de duelos que o Atlético forçou. Depois, o enorme diferencial no desempenho técnico das unidades individuais da equipa portista, com os centrais e os médios defensivos a terem uma elevada % de certeza em posse, contrastando com as enormes dficuldades sentidas pelos elementos mais ofensivos neste mesmo aspecto, com destaque para os alas. Ou seja, o Porto jogou mais, mas jogou sobretudo onde o Atlético permitiu.

Notas individuais - Dentro do que foi descrito, relativamente ao perfil do jogo, não é difícil adivinhar as unidades que mais e menos conseguiram sobressair. Entre os jogadores mais defensivos, Fernando será o que mais destaque justifica, embora Otamendi e Alex Sandro e Defour também tenham estado em bom nível. Mais à frente, quase todos tiveram grandes dificuldades em jogar. Lucho um pouco melhor do que os alas, mas mesmo ele não conseguiu a sua habitual influência, muito porque para o Atlético o espaço entrelinhas praticamente não existe. Josué terá sido aquele que mais dificuldades sentiu no desempenho técnico, mas foi também figura presente nas duas ocasiões que o Porto construiu, assistindo Jackson no golo, e interceptando a bola que na sequência dá a oportunidade a Varela. De novo, um sublinhado para a fragilidade dos alas do Porto. O maior destaque, porém, será Jackson, que foi novamente o grande protagonista ofensivo da equipa, mesmo num jogo onde isso era muito difícil de conseguir. Finalmente, nota para Hélton que viu uma boa exibição manchada por um erro decisivo, algo que é raro no guarda redes do Porto, mas que se torna estranhamente frequente quando nos circunscrevemos aos jogos europeus. Mistérios, portanto.

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1.10.13

Benfica, e o mito do crescimento exibicional

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O empate caseiro do Benfica tem de surgir como uma surpresa particularmente difícil de explicar, à luz do "crescimento" que recentemente foi sendo creditado à equipa, durante a série de vitórias que se iniciou após o derbi. Não há dúvidas quanto à reduzida previsibilidade deste resultado, e seria uma hipocrisia da minha parte afirmar o contrário perante um jogo entre equipas de valor tão dispar, mas fui sempre aqui discordando da ideia de uma melhoria exibicional comparativamente com os primeiros jogos da temporada, e creio mesmo que essa imagem que erradamente foi passando poderá não ter favorecido a equipa neste novo deslize pontual.

Reforçando que não há da minha parte uma visão fatalista do resultado, aliás muito pelo contrário, parece-me que há uma série de factores que, combinados, potenciaram muito a possibilidade de uma surpresa como a que se verificou. A começar pela sombra do jogo com o PSG, passando pela forma como o próprio Belenenses abordou o jogo, e terminando na ideia de facilitismo por parte do próprio Benfica, acentuada pelo golo inaugural de Cardozo. Entre todos estes factores, parece-me que é este último que mais justificaria uma auto censura por parte dos responsáveis da equipa. E utilizo o tempo verbal, "justificaria", porque não vislumbro grandes sinais de que isso tenha verdadeiramente acontecido.

O Benfica não vinha, de facto, conseguindo um crescimento na sua capacidade exibicional, explicando-se o maior número de pontos conseguidos essencialmente pelo maior aproveitamento das ocasiões claras de golo que foi construindo. Porque o número médio de ocasiões criadas, esse, foi sempre decrescendo durante este ciclo vitorioso, como tento ilustrar no gráfico. Ora, esta constatação deveria ter servido de alerta para a equipa, e não ser ignorada em favor de avaliações resultadistas, que insistem em inventar explicações para as vitórias, no típico pressuposto de que o resultado é suficiente para sustentar o mais sofismável dos raciocíonios.

Enfim, não é uma ideia nova, e mesmo não podendo passar de uma convicção própria, parece-me que o Benfica, como qualquer equipa, ganharia mais em fazer uma avaliação objectiva do que realmente mostra no campo, e não passar para dentro a ideia pouco sustentada de um crescimento exibicional, ou como agora parece suceder, a desculpabilização própria através de factores externos.

É que, pelo menos para mim, a maneira de ganhar mais, ainda é jogar melhor.

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