27.9.13

5 jogadas (Sporting, Benfica, Porto e Bayern)

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Jogada 1 - Não é muito comum ver esta opção no jogo do Sporting, e não o foi especialmente frente ao Rio Ave, em que se repetiu a tentativa de ligação entre o central e o extremo do mesmo lado, particularmente na segunda parte. O sublinhado a este lance explica-se, por isso, pela sua raridade, tanto neste jogo como, de uma forma mais geral, no comportamento da equipa. Mesmo que no caso a conclusão não seja a ideal, é fácil de perceber o potencial deste tipo de solução, usando uma construção mais apoiada e que tem como objectivo fazer chegar a bola em boas condições ao espaço entrelinhas, o que dificulta sempre muito a tarefa de quem defende. Obviamente, porém, não é por este bom potencial ofensivo que o Sporting prescinde tantas vezes deste recurso para as suas acções ofensivas mas, antes sim, pelo risco que ele também pode acarretar para a reacção defensiva. Seja como for, deixou a muito a desejar a fase de construção do Sporting neste jogo, e ainda que não tenha tido qualquer consequência prática, esta foi mesmo uma das raras excepções a essa regra.

Jogada 2 - Muito comum este tipo de situação no jogo, com o Rio Ave a iniciar o seu envolvimento do lado direito do seu ataque e depois a conseguir soltar-se da zona de pressão do Sporting para mudar o corredor de jogo. Aliás, o contexto é em tudo semelhante áquele que encontramos na jogada que antecede a falta que dá origem ao golo do empate do Rio Ave, com a diferença de neste caso o desfecho ser até menos controlado pelo Sporting, já que um livre tem menos hipóteses de terminar em golo do que uma jogada como esta. Neste caso, também se pode sublinhar a dificuldade do meio campo do Sporting em filtrar o jogo ofensivo adversário, nomeadamente numa situação em que tinha todas as condições para o fazer. Um problema que no caso do meio campo do Sporting não é novidade. De todo o modo, o ponto que me merece mais destaque, e que já abordei esta semana, tem a ver com a exposição nas costas do segundo médio defensivo - no caso William - havendo apenas 2 médios a ocupar essa linha, mesmo quando a equipa é relegada para zonas mais baixas, William e Adrien. No caso, é notório o posicionamento mais adiantado do terceiro médio (André Martins), assim como do extremo do lado oposto (Carrillo). A meu ver, e repito a ideia, esta situação não tem ajudado o Sporting a controlar este espaço em fases de maior assédio ofensivo dos seus adversários, algo que penalizou a equipa nomeadamente nos jogos em que perdeu pontos, frente a Benfica e Rio Ave. Seria interessante ver o desempenho com uma estrutura alternativa nestes momentos, em que houvesse maior protecção desta zona.

Jogada 3 - Mais um lance em que o destaque se explica pela raridade da situação. No caso do Benfica, foi notória a precaução no risco assumido em posse, o que conjugado com a intenção do Vitória em bloquear o corredor central, resultou numa quase completa neutralização do jogo ofensivo da equipa de Jorge Jesus. E o termo "quase" aplica-se sobretudo por este lance. A explicação do desequilíbrio começa no condicionamento dos médios do Vitória, que quase sempre teve um bom timing de pressão sobre o portador da bola no corredor central, mas que nesta situação falha nesse propósito, permitindo alguma liberdade a Fejsa e Matic, o que é decisivo para que a bola entre em boas condições nas costas dos médios. Mais à frente, a intenção de Enzo Perez e Markovic procurarem espaços em zonas mais centrais não é novidade, já que esse é um comportamento dos extremos do Benfica, nomeadamente para a abrir espaço à projecção dos laterais. Ainda assim, o movimento dos dois jogadores, muito amplo e bem coordenado, quer entre si, quer com a abertura de Djuricic à direita, ajuda a potenciar ainda mais as dificuldades de controlo circunstancial por parte do Vitória. Assim, e com o apoio de Cardozo, Markovic fica imediatamente livre e em condições de encarar de frente a linha defensiva do Vitória, estando criadas as condições para o desequilíbrio que se segue, e onde emerge, quer a boa decisão de Enzo Perez, quer o bom timing de Siqueira.

Jogada 4 - Entre as dificuldades do Porto na Amoreira, surgiram as excepções habituais: O espaço entrelinhas, Lucho e Jackson. De facto, foi sempre por aqui que o Porto se conseguiu aproximar do golo, e mesmo consegui-lo. O destaque para a boa movimentação e capacidade técnica dos dois jogadores já foi feito, e continuará quase inevitavelmente a merecê-lo no futuro, pelo que não interessará muito enfatizar também aqui esse sublinhado. O meu foco centrar-se-ia mais na forma como o Estoril se tornou especialmente vulnerável a esta situação. Ou seja, a equipa não permitiu que o Porto entrasse muitas vezes nesse espaço, por mérito próprio e do bom condicionamento que fez da fase de construção do seu adversário, mas sempre que tal sucedeu, a exposição tornou-se muito grande. Isto porque, tal como acontece neste caso, o posicionamento da sua linha defensiva oferece uma exposição assinalável em termos de profundidade (espaço nas costas), mesmo quando a linha média perde presença pressionante sobre o portador da bola. Para além deste lance, com má finalização de Varela, também os golos tiveram como bose o mesmo tipo de construção, passando primeiro pelo espaço entrelinhas e aproveitando em seguida as costas da linha defensiva.

Jogada 5 - Um pequeno destaque para o Bayern de Guardiola. De facto, será muito difícil encontrar outro treinador com tanta apetência para procurar novas situações ofensivas e bem diferentes do que é habitual ver seja onde for. Desta vez a nota vai para o posicionamento dos laterais, invulgarmente propensos a integrar o corredor central, actuando por dentro e não se limitando ao comportamento mais tradicional dos jogadores da sua posição, que se movimentam quase invariavelmente ao longo da linha lateral. Não a tendo ainda visto em dose suficiente, não me é completamente claro se a equipa ficará a perder ou a ganhar em relação às suas hipóteses de sucesso, comparativamente com o passado recente. Porque toda esta criatividade táctica de Guardiola acarreta, naturalmente, uma série de riscos para a equipa. Ainda assim, poucas coisas justificarão tanto interesse no futebol actual como o novo laboratório de Pep.

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