30.9.13

Braga - Sporting: Desfecho justo e história complexa

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O interessante enfoque estratégico - O interesse do jogo estava salvaguardado pelo contexto em que este se inseria, mas tivemos ainda a felicidade de poder contar com a generosidade de ambos os técnicos que, com a sua abordagem estratégica, acrescentaram ainda mais tempero ao sabor que garantidamente o jogo iria ter.
Jardim, já se desconfiava, mexeu nos alas, segundo o próprio por estar preocupado com a presença no meio campo. Introduziu Salomão à esquerda, que baixava para receber em zonas mais interiores, em vez de fazer maior apelo à profundidade, como acontece habitualmente com Carrillo e Wilson. Como complemento a esta dinâmica, inverteu a disposição dos médios, com André Martins a  surgir desta vez mais sobre a esquerda, na tentativa de aproveitar as costas de Baiano, atraído pela tal propensão mais interior de Salomão. À direita, tudo normal, com Carrillo mais aberto e profundo, sendo solicitado de forma mais directa pelo central do mesmo lado (Maurício). Mas, porque é que Jardim trocou Martins de lado e fez ainda passar Carrillo para a direita? Talvez fizesse mais sentido introduzir um elemento mais interior, mas do lado direito, de forma a não alterar tantas unidades relativamente às suas posições habituais. Talvez... mas é também possível que a opção de Jardim tenha a ver com a indisponibilidade de Joãozinho, tentando assim aproveitar mais directamente as fragilidades de Elderson, que o próprio Jardim bem conhecerá. É este o meu palpite, mas só o treinador saberá com rigor o porquê das suas opções.
Quanto a Jesualdo, as alterações foram ainda mais profundas. O Braga apareceu com um triângulo invertido no meio campo, relativamente à sua estrutura habitual. A Mauro, juntou-se Custódio, formando um duplo pivot, nas costas de Micael. A primeira ideia por trás desta opção não é difícil de desvendar. Como o foco do Sporting são as dinâmicas nos corredores laterais, com duas unidades mais baixas no meio campo, Jesualdo conseguia ter os seus médios mais próximos das alas, ajudando assim a controlar essa ameaça. Por outro lado, e ainda no capítulo defensivo, a presença mais fixa de Micael permitia-lhe neutralizar a acção de William, relegando as despesas de construção do Sporting para os centrais, onde a qualidade reconhecidamente não é abundante. Mas, havia ainda um outro alcance, bem mais interessante a meu ver, na estratégia de Jesualdo, e que tinha a ver com a forma como a equipa expunha os médios do Sporting no corredor central. A forte presença em circulação baixa e os movimentos interiores de Alan, juntando-se a Micael no corredor central, eram os dados fundamentais da estratégia ofensiva de Jesualdo.

Jesualdo e a inutilidade da vitória táctica inicial - Suspeito que a minha análise não seja partilhada por muita gente, mas parece-me claro que foi Jesualdo quem venceu este duelo táctico de estratégias iniciais. Apesar do Sporting ter tido, também o mérito, mas sobretudo a felicidade de marcar cedo, isso não impediu que rapidamente o jogo mostrasse que era o Braga quem melhor tirava partido da sua estratégia inicial. A circulação baixa, trazendo muita gente para fase de construção, não só impediu as duas unidades mais adiantadas do Sporting (Montero e André Martins) de serem bem sucedidas na pressão, como também criou dúvidas no posicionamento dos médios mais recuados, nomeadamente atraindo-os para zonas mais adiantas e abrindo os espaços nas suas costas, onde apareciam Micael e, sobretudo, Alan. Assim, o Braga enfatizou um problema que se vem repetindo no Sporting, com as dificuldades de controlo defensivo dos seus médios, tendo sido por aí que conseguiu o espaço para o golo do empate, entre outras jogadas de idêntico potencial. Neste período, há que sublinhar também alguma imprecisão ao nível do passe no Sporting, com Adrien em foco neste realce negativo.

Jardim e o efeito da expulsão - A vertente táctica é certamente muito interessante no futebol, mas como todas os outros factores, também ela não tem uma relação linear de causalidade com o desfecho final. Neste caso, se o Braga estava a levar a melhor no tal duelo táctico inicial, um só lance foi suficiente para inverter essa vantagem que tanto estava desequilibrar os pratos da balança. O azar de uns e o talento de outros, combinados, determinaram a expulsão de Aderlan e, a partir daí sim, o Sporting partiu para um domínio quase total do jogo. De facto, se Jesualdo havia levado a melhor na estratégia inicial, parece-me que foi Jardim quem claramente saiu por cima na reacção à nova circunstância do jogo. Porque ao colocar Wilson conseguiu finalmente expor o lado de Elderson, com o Sporting a criar sucessivas situações de enorme potencial e que só não produziram efeito mais cedo por alguma desinspiração na definição do último passe. Porque, também, me parece que Jesualdo não interpretou bem este novo contexto, mantendo Micael como médio interior esquerdo, mas sem que o madeirense tivesse intensidade ou apetência suficientes para ser um bom auxilio nas acções defensivas sobre o corredor. A meu ver, a entrada de Luis Carlos justificar-se-ia bem mais cedo, e o Braga só não pagou caro a factura dessa exposição pela tal menor capacidade de definição do Sporting no último passe. Curiosamente, já agora, foi numa fase em que o Braga tinha tudo para controlar melhor o jogo que acabou por sofrer o golo. Porque já tinha Luis Carlos e porque não vejo em que é que o Sporting ganhou com a entrada de Slimani, não tendo alterado o seu perfil de jogo, e perdendo capacidade de envolvimento nas suas dinâmicas habituais. Mas, é mesmo por este lado menos lógico que o futebol gera tanto interesse, e foi precisamente quando tal parecia menos provável que Cedric conseguiu, finalmente, traduzir em golo o ascendente da equipa.

Notas individuais - Individualmente, o destaque mais relevante irá para os guarda redes, ambos algo mal batidos em dois golos. Depois, Cedric e Montero, por razões diferentes, justificarão o maior sublinhado no Sporting, enquanto que Alan voltou a confirmar que a idade tem bem mais peso na cabeça das pessoas do que nas pernas dos jogadores (algumas pessoas e alguns jogadores, porque esta não é uma regra absoluta). É um dos melhores jogadores do campeonato, não mostra quaisquer sinais de quebra de rendimento, e pergunto-me mesmo o que seria o Braga se não tivesse Alan? Depois, nota positiva para Maurício, que voltou a dominar completamente a sua área de intervenção, e mais negativa para Adrien e Carrillo, ambos muito inconstantes ao nível da tomada de decisão, ainda que obviamente sendo casos muito diferentes, pelo papel que desempenham no jogo.

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27.9.13

5 jogadas (Sporting, Benfica, Porto e Bayern)

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Jogada 1 - Não é muito comum ver esta opção no jogo do Sporting, e não o foi especialmente frente ao Rio Ave, em que se repetiu a tentativa de ligação entre o central e o extremo do mesmo lado, particularmente na segunda parte. O sublinhado a este lance explica-se, por isso, pela sua raridade, tanto neste jogo como, de uma forma mais geral, no comportamento da equipa. Mesmo que no caso a conclusão não seja a ideal, é fácil de perceber o potencial deste tipo de solução, usando uma construção mais apoiada e que tem como objectivo fazer chegar a bola em boas condições ao espaço entrelinhas, o que dificulta sempre muito a tarefa de quem defende. Obviamente, porém, não é por este bom potencial ofensivo que o Sporting prescinde tantas vezes deste recurso para as suas acções ofensivas mas, antes sim, pelo risco que ele também pode acarretar para a reacção defensiva. Seja como for, deixou a muito a desejar a fase de construção do Sporting neste jogo, e ainda que não tenha tido qualquer consequência prática, esta foi mesmo uma das raras excepções a essa regra.

Jogada 2 - Muito comum este tipo de situação no jogo, com o Rio Ave a iniciar o seu envolvimento do lado direito do seu ataque e depois a conseguir soltar-se da zona de pressão do Sporting para mudar o corredor de jogo. Aliás, o contexto é em tudo semelhante áquele que encontramos na jogada que antecede a falta que dá origem ao golo do empate do Rio Ave, com a diferença de neste caso o desfecho ser até menos controlado pelo Sporting, já que um livre tem menos hipóteses de terminar em golo do que uma jogada como esta. Neste caso, também se pode sublinhar a dificuldade do meio campo do Sporting em filtrar o jogo ofensivo adversário, nomeadamente numa situação em que tinha todas as condições para o fazer. Um problema que no caso do meio campo do Sporting não é novidade. De todo o modo, o ponto que me merece mais destaque, e que já abordei esta semana, tem a ver com a exposição nas costas do segundo médio defensivo - no caso William - havendo apenas 2 médios a ocupar essa linha, mesmo quando a equipa é relegada para zonas mais baixas, William e Adrien. No caso, é notório o posicionamento mais adiantado do terceiro médio (André Martins), assim como do extremo do lado oposto (Carrillo). A meu ver, e repito a ideia, esta situação não tem ajudado o Sporting a controlar este espaço em fases de maior assédio ofensivo dos seus adversários, algo que penalizou a equipa nomeadamente nos jogos em que perdeu pontos, frente a Benfica e Rio Ave. Seria interessante ver o desempenho com uma estrutura alternativa nestes momentos, em que houvesse maior protecção desta zona.

Jogada 3 - Mais um lance em que o destaque se explica pela raridade da situação. No caso do Benfica, foi notória a precaução no risco assumido em posse, o que conjugado com a intenção do Vitória em bloquear o corredor central, resultou numa quase completa neutralização do jogo ofensivo da equipa de Jorge Jesus. E o termo "quase" aplica-se sobretudo por este lance. A explicação do desequilíbrio começa no condicionamento dos médios do Vitória, que quase sempre teve um bom timing de pressão sobre o portador da bola no corredor central, mas que nesta situação falha nesse propósito, permitindo alguma liberdade a Fejsa e Matic, o que é decisivo para que a bola entre em boas condições nas costas dos médios. Mais à frente, a intenção de Enzo Perez e Markovic procurarem espaços em zonas mais centrais não é novidade, já que esse é um comportamento dos extremos do Benfica, nomeadamente para a abrir espaço à projecção dos laterais. Ainda assim, o movimento dos dois jogadores, muito amplo e bem coordenado, quer entre si, quer com a abertura de Djuricic à direita, ajuda a potenciar ainda mais as dificuldades de controlo circunstancial por parte do Vitória. Assim, e com o apoio de Cardozo, Markovic fica imediatamente livre e em condições de encarar de frente a linha defensiva do Vitória, estando criadas as condições para o desequilíbrio que se segue, e onde emerge, quer a boa decisão de Enzo Perez, quer o bom timing de Siqueira.

Jogada 4 - Entre as dificuldades do Porto na Amoreira, surgiram as excepções habituais: O espaço entrelinhas, Lucho e Jackson. De facto, foi sempre por aqui que o Porto se conseguiu aproximar do golo, e mesmo consegui-lo. O destaque para a boa movimentação e capacidade técnica dos dois jogadores já foi feito, e continuará quase inevitavelmente a merecê-lo no futuro, pelo que não interessará muito enfatizar também aqui esse sublinhado. O meu foco centrar-se-ia mais na forma como o Estoril se tornou especialmente vulnerável a esta situação. Ou seja, a equipa não permitiu que o Porto entrasse muitas vezes nesse espaço, por mérito próprio e do bom condicionamento que fez da fase de construção do seu adversário, mas sempre que tal sucedeu, a exposição tornou-se muito grande. Isto porque, tal como acontece neste caso, o posicionamento da sua linha defensiva oferece uma exposição assinalável em termos de profundidade (espaço nas costas), mesmo quando a linha média perde presença pressionante sobre o portador da bola. Para além deste lance, com má finalização de Varela, também os golos tiveram como bose o mesmo tipo de construção, passando primeiro pelo espaço entrelinhas e aproveitando em seguida as costas da linha defensiva.

Jogada 5 - Um pequeno destaque para o Bayern de Guardiola. De facto, será muito difícil encontrar outro treinador com tanta apetência para procurar novas situações ofensivas e bem diferentes do que é habitual ver seja onde for. Desta vez a nota vai para o posicionamento dos laterais, invulgarmente propensos a integrar o corredor central, actuando por dentro e não se limitando ao comportamento mais tradicional dos jogadores da sua posição, que se movimentam quase invariavelmente ao longo da linha lateral. Não a tendo ainda visto em dose suficiente, não me é completamente claro se a equipa ficará a perder ou a ganhar em relação às suas hipóteses de sucesso, comparativamente com o passado recente. Porque toda esta criatividade táctica de Guardiola acarreta, naturalmente, uma série de riscos para a equipa. Ainda assim, poucas coisas justificarão tanto interesse no futebol actual como o novo laboratório de Pep.

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26.9.13

De Quintero a A.Martins: o tempo para desequilibrar

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Os dados dizem respeito a todos os jogos oficiais da época 13/14 e incluem apenas jogadores dos 3 "grandes". Importa relativizar a importância dos resultados devido ao ainda escasso tempo jogado, o que oferece um grande potencial a um só jogo, bom ou mau, para influenciar este tipo de análise. Por outro lado, porém, há jogadores que já têm uma quantidade importante de minutos jogados, o que é especialmente válido para o Porto que, com a presença na supertaça, foi a equipa com mais jogos até ao momento. Outro dado importante a ter em conta é o caso das bolas paradas, já que há jogadores que podem ser beneficiados nesta análise pela oportunidade que tiveram de marcar cantos ou livres indirectos nas respectivas equipas. Já as grandes penalidades não estão aqui incluídas.

Relativamente aos resultados, destaque para as unidades mais desequilibradoras do Porto. Quintero, pelo pouquíssimo tempo que precisou para criar impacto nos jogos em que interveio, mas sobretudo Jackson e Lucho, por manterem uma elevadíssima capacidade de influência ao fim de uma quantidade de tempo já algo relevante. No Sporting, sem surpresa, a boa prestação dos extremos e de Montero, enquanto que no Benfica o protagonismo está mais diversificado, o que se compreende pelas mudanças já operadas no onze base de Jorge Jesus. Destaque ainda para a presença de jogadores mais defensivos neste "ranking", como Danilo, Jefferson e Garay, sendo o caso de Siqueira menos relevante pelo pouco tempo jogado.

A minha principal nota, porém, vai para a divergência entre esta análise e o que me parece ser a percepção geral ao fim destes primeiros jogos. Em particular, creio existir um impacto muito forte da eficácia na apreciação que é formulada sobre cada jogador, o que gera depois uma ideia errada relativamente à sua real frequência desequilibradora. Ou seja, os jogadores que marcaram golos tiveram uma projecção muito maior do que aqueles que não o fizeram, mesmo que no total não tenham contribuído tanto para uma maior proximidade das respectivas equipas com o golo. E esta percepção parece-me equivocada porque, a prazo, a eficácia tende a estabilizar de jogador para jogador. Ou seja, perante a escassez de tempo ainda jogado diz-nos bem mais sobre o futuro a frequência com que um jogador cria ou finaliza ocasiões, do que a sua eficácia no mesmo período. Por exemplo, Lima surgiu algo penalizado por não ter feito mais golos nas primeiras jornadas, mas a sua capacidade desequilibradora foi bastante boa, sendo provavelmente uma questão de tempo até que a sua eficácia venha a estabilizar. Por outro lado, casos como Licá, André Martins ou mesmo Djuricic ganharam grande notoriedade pela participação directa em golos das suas equipas, mas tal justifica-se apenas por um bom aproveitamento das ocasiões em que foram intervenientes, não havendo correspondência real na frequência com que aproximaram as respectivas equipas do golo.

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25.9.13

Sporting: 3 pontos a rever, após o Rio Ave

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Apatia perante condicionamento do jogo ofensivo - O Rio Ave pode só ter conseguido aproximar-se do golo na segunda parte, mas já na primeira havia conseguido neutralizar por completo o jogo ofensivo do Sporting, sendo interessante perceber o que conseguiu causar tantas dificuldades, comparativamente com jogos anteriores. Neste ponto, sublinharia o encaixe que o Rio Ave promoveu nas principais unidades ofensivas do Sporting, com uma relevância importante dada às referências individuais. Esta estratégia dos vilacondenses condicionou as principais formas como o Sporting vinha criando espaço no último terço, tirando partido de mudanças rápidas de centro de jogo, nomeadamente através da ligação de corredores. Aqui, a critica e o ponto a rever vai para incapacidade da equipa em reagir ao problema que lhe foi colocado. Perante este tipo de estratégia, aconselhar-se-ia provavelmente maior mobilidade das principais unidades ofensivas do Sporting, de forma a atrair os seus marcadores para zonas menos desejadas, e potenciando assim espaço para outras unidades. Isso, porém, não aconteceu, nem no comportamento dos extremos nem dos médios, e o Sporting permaneceu "encaixado" durante 90 minutos.

Circulação baixa, qualidade e critério - A grande diferença da primeira para a segunda parte explica-se, a meu ver, pelo comportamento pressionante do Rio Ave. Enquanto que na primeira parte Diego Lopes estava mais preocupado com William Carvalho, isolando Hassan no pressing sobre os centrais, na segunda o 10 do Rio Ave juntou-se ao avançado, criando uma presença mais agressiva na primeira linha de pressão. Assim, na primeira parte, e mesmo sem retirar grande partido ofensivo, o Sporting conseguiu ter mais bola porque os seus centrais usufruíam de tempo e espaço para decidir. Na segunda, por outro lado, o condicionamento do Rio Ave teve como reacção uma verticalização mais constante do jogo, com o Sporting a ficar pouco tempo com a bola e a não ter depois eficácia na ligação directa com os elementos mais adiantados. Aqui, a nota vai para dois aspectos que, obviamente, se cruzam entre si: qualidade e critério. O Sporting pareceu eleger Dier como principal referência para o primeiro passe vertical. O jovem central respondeu com carácter, é certo, mas sem a qualidade correspondente, sendo sistematicamente impreciso nas suas solicitações verticais. Ora, não havendo qualidade nesta solução, exigir-se-ia pelo menos outro critério na circulação baixa, de forma a que a equipa não esbanjasse sucessivamente a sua presença em posse. Recuperando a ideia do ponto anterior, a dinâmica dos médios não foi a melhor, embora se possa também antecipar a relutância do Sporting em construir por esta via, tendo em conta o que se conhece da equipa. Outra solução seria o recurso a Rui Patrício, bastante solicitado e com algum sucesso noutras ocasiões, mas não tendo havido, desta vez, paciência suficiente para envolver o guarda redes na fuga ao pressing mais agressivo do Rio Ave. E assim, o Sporting ficou sem qualidade, sem critério e, consequentemente, sem bola.

Alternativa na estrutura defensiva - Não é a primeira vez que o Sporting sente dificuldades de controlo na zona dos seus médios. Em parte, e como desta vez também destacou Jardim, há algum défice de capacidade agressiva da dupla William-Adrien, um problema que pode ser facilmente atenuado com a presença de Rinaudo, tal como foi fez o treinador (nota, já agora, para o facto de pelo terceiro jogo consecutivo Jardim ter feito uma substituição como reacção imediata a uma ocasião do adversário). O problema, porém, pode não se esgotar na capacidade defensiva dos médios. Defensivamente, o Sporting organiza sempre o seu meio campo com 2 unidades mais recuadas e 1 mais adiantada. Ora, isto nem sempre garante um bom equilíbrio posicional na zona à frente da defesa, nomeadamente quando o adversário aproxima um dos extremos do corredor central, como foi o caso do Rio Ave ou como já o havia sido frente ao Benfica. Aqui, para além da introdução de um elemento mais agressivo, talvez fosse aconselhável oferecer maior apoio aos médios mais defensivos, ou pela alteração da estrutura defensiva da equipa (baixando o terceiro médio para uma linha mais próxima dos outros dois), ou simplesmente pelo posicionamento mais interior dos extremos, encurtando a distância para o médio mais próximo, e não permanecendo aberto e apenas em função do lateral adversário. O certo é que até agora o Sporting não contemplou nunca essa alteração estrutural, e tanto frente ao Benfica como frente ao Rio Ave acabou por pagar caro as dificuldades de controlo sobre o seu corredor central.

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24.9.13

Porto: bem mais do que um tropeção

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O verdadeiro feito do Estoril - A primeira nota sobre o jogo tem forçosamente de ir para o Estoril. Porque uma coisa é ser o primeiro a não perder com o Porto 13/14, outra é consegui-lo com uma estratégia que tanto serviria para defrontar o Porto como outra equipa qualquer. E isso, tendo em conta o contexto das duas equipas, é extraordinário. Praticamente todos os indicadores estatísticos do jogo saíram fora daquilo que seria esperado, desde o número de ocasiões claras de golo às dificuldades de intervenção defensiva dos médios portistas, mas nenhum dado me merece tanto espanto como o número de passes que a equipa conseguiu. Ou melhor, que não conseguiu. Em todos os jogos até agora, incluindo os da pré época, o Porto conseguiu sempre impor o seu domínio através da circulação baixa, o que tem uma implicação directa no elevado número de passes completados (perto dos 500) e numa elevada % de acerto em posse (acima dos 80%). Pois bem, contra todas as expectativas, foi o Estoril a primeira equipa a vulgarizar estes indicadores, o que equivale a dizer que a equipa de Marco Silva não foi apenas a primeira a roubar pontos ao Porto, mas também aquela que primeiro conseguiu neutralizar o ponto mais marcante da equipa portista, a sua circulação baixa.

Dificuldades dos médios - A principal consequência do sucesso da abordagem estratégica estorilista vai para a enorme exposição das linhas defensivas, quer de um lado, quer do outro. Do lado do Estoril, porque esse é um risco que faz parte da sua ideia de jogo, acabando por ser por aí que a equipa foi sempre exposta, com passes a surgir nas costas dos seus defensores. Do lado do Porto, porque os médios tiveram um jogo invulgarmente pouco participativo, não só perdendo a habitual envolvência em posse, como também sentindo muitas dificuldades para filtrar o jogo na sua zona. O Estoril conseguiu frequentemente ficar com as segundas bolas (uma parte importante na explicação das dificuldades que conseguiu criar), mas mesmo quando saiu de forma mais apoiada, nunca os médios portistas tiveram capacidade de filtrar o jogo, o que se reflecte num número invulgarmente baixo de intervenções defensivas, quer de Fernando, quer de Defour.

Insensibilidade dos treinadores - Esta dificuldade de protecção de ambas as linhas defensivas tinha como consequência óbvia o risco e a volatilidade do resultado, algo que se tornou mais claro na segunda parte do jogo. Primeiro Marco Silva e depois Paulo Fonseca tiveram a oportunidade de pelo menos tentar controlar mais o jogo, de acordo com os respectivos objectivos, mas tanto um como outro revelaram-se insensíveis ao problema. No caso de Marco Silva, talvez fosse aconselhável tê-lo feito antes do segundo golo portista. No caso de Paulo Fonseca, sê-lo-ia seguramente, assim que a sua equipa se colocou em vantagem. Nenhum o fez, restando saber se, num caso e noutro, esta insensibilidade foi, ou não, consciente.

O problema dos extremos - É, na minha leitura, um problema anunciado no Porto. A equipa parece hoje ter duas formas dominantes de se aproximar do golo: as aparições de Lucho entrelinhas e os lances de bola parada. Não quer isto dizer que não existam outras vias, mas antes que estas não surgem com a fluidez desejável numa equipa como o Porto. E aqui, claro, sobressai o problema dos corredores laterais, onde a produtividade dos extremos tem sido bastante reduzida, quando comparada quer com outros jogadores da equipa, quer mesmo com extremos de Benfica e Sporting. É um problema que, a meu ver, resulta em parte da incapacidade de substituir unidades como Hulk e James, nos últimos dois anos, mas também da incapacidade colectiva de potenciar movimentos colectivos, que pudessem ajudar a contornar essa lacuna. Quer Varela, quer Licá têm tido uma boa presença em zona de finalização, mas no que respeita a criar oportunidades, os dois juntos conseguiram a presença em apenas 4 lances desde o inicio da época. Ou seja, em média o Porto precisou de cerca de 150 minutos até que 1 oportunidade fosse criada por qualquer dos seus extremos. Mesmo ignorando outros pontos, onde o seu envolvimento no jogo me parece bastante criticável (sobretudo de Licá), é muito pouco e provavelmente insuficiente.

Otamendi, Lucho e Jackson - Destaque para estes três jogadores, os grandes pilares do jogo portista no momento actual. Os dados de Otamendi no jogo são impressionantes, com um volume de participação no jogo que está completamente desfasado com os restantes companheiros. Um indicador que mostra de forma clara como o argentino é cada vez mais a grande referência para a construção baixa da equipa. Lucho e Jackson, porque são, neste momento e de forma bastante nitida, os jogadores que conseguem resolver os problemas ofensivos que a equipa vem sentindo. Paradoxalmente, é interessante que o primeiro tenha sido dos poucos a ser preterido no onze, e que o segundo tenha sido praticamente o único a receber reparos públicos por parte do treinador. Não tendo sido ironias, só podem ser classificados como disparates.

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23.9.13

Benfica: Mais ruído do que sinal

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Mais ruído do que sinal - A vitória é sempre o mais importante. Porque se nunca é tarde demais para melhorar, depressa deixará de haver tempo para grandes escaladas classificativas. Percebem-se, por isso, as cautelas de Jesus na abordagem ao jogo. Ou melhor, percebem-se parcialmente. Porque, e pegando nas palavras do próprio treinador do Benfica, se era obviamente importante não sofrer golos, nem vejo que isso sirva de desculpa para o que a equipa não fez com bola, nem tão pouco me parece aconselhável pendurar as suas aspirações ofensivas na fé de que "o Benfica faz sempre um golo", só porque sim. Correu bem, é certo, mas volto a sublinhar a ideia que partilhei no rescaldo do jogo com o Anderlecht: nem o Benfica era pior pelos pontos que perdeu no inicio da época, nem é agora melhor só porque deixou de os perder. No futebol, o curto prazo tem mais ruído do que sinal.

Jogo fechado - O Benfica venceu, mas foi a estratégia do Vitória que mais resultados produziu. Para bloquear a construção do Benfica, Rui Vitória apresentou um bloco curto, que não pressionava a todo o campo, mas que a partir da zona média convidava o adversário a sair pelos corredores laterais, onde depois os extremos baixavam e diminuiam o espaço. Com bola, a ideia passava sobretudo por construir longo, na expectativa de ficar com as segundas bolas, já dentro do meio campo contrário, ou em caso de uma saída mais curta, optar sempre por explorar uma ligação mais directa ao longo dos corredores laterais. A evitar, claro, o risco do corredor central. O destaque nesta estratégia vai para a inversão da estrutura do meio campo relativamente a outras ocasiões, com o papel dos dois médios mais adiantados a ser preponderante, quer para o inicio do condicionamento pressionante (sem bola), quer para a disputa das segundas bolas (com bola). E assim, o jogo fechou-se, porque interessava ao Vitória fechá-lo, e porque o Benfica pouco fez para o contrariar.

Eficácia - As cautelas do Benfica tornam-se sobretudo visíveis na forma como encarou os problemas que lhe foram colocados. Frequentemente, preferiu construir longo para Cardozo, mesmo que isso nunca lhe tivesse trazido grande eficácia. Quando assim não fez, também não revelou grande arrojo na sua progressão apoiada. Era importante conseguir aproveitar o espaço entrelinhas, nas costas dos tais dois médios do Vitória, mas salvo raras excepções isso não foi conseguido. Em alternativa, poderia explorar a profundidade, sobretudo nos corredores laterais, porque a linha defensiva do Vitória tentava encurtar o espaço na sua frente. Também não o conseguiu. Mesmo com o adversário reduzido, a equipa não se aproximou nunca do golo, aproveitando apenas a vantagem numérica para conseguir um melhor controlo do jogo, especialmente enfatizado após ter obtido o seu golo. Assim, voltou a valer ao Benfica o que lhe faltou nos primeiros jogos, a eficácia.

De Fejsa a Djuricic - O jogo de Guimarães foi, também, uma oportunidade renovada para continuar a acompanhar as várias unidades recentemente promovidas a um papel de maior protagonismo. Nas laterais, muito melhor André Almeida do que Siqueira. O ex-Granada teve muitas dificuldades nos duelos aéreos (Cortez é bem mais forte neste particular) e mesmo com bola não se salvou de alguma inconstância. Fejsa voltou a fazer um bom jogo. Aliás, dir-se-ia fazer esquecer Matic, não fosse o compatriota estar ali ao lado. Matic, aliás, terá feito provavelmente o jogo mais discreto com a camisola do Benfica, o que tem sobretudo a ver com o seu novo posicionamento, onde a envolvência não lhe é garantida, mas tem de ser conquistada. Se queria novos desafios, aqui tem um bem interessante. A nota mais negativa vai, porém, para Djuricic. Não é novo que uma ideia preconcebida faça mais pela opinião que se tem de um jogador do que aquilo que ele realmente oferece à equipa. Djuricic, reforço, parece-me ter potencial e boas características, nomeadamente o instinto que tem para aparecer em zonas de finalização. No entanto, até agora não revelou grande capacidade para ligar o jogo da equipa, aparentemente o principal propósito da sua inclusão no onze. Aliás, se o Benfica pouco conseguiu para contornar os problemas que o Vitória lhe colocou, muito se deve a esta incapacidade do sérvio.
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20.9.13

5 jogadas (Benfica, Sporting, Porto e Chelsea)

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Jogada 1 - O tema não é novo, e recupero-o, quer do rescaldo do mais recente derbi, quer do comentário que fiz ao jogo com o Anderlecht: o critério posicional dos médios do Benfica. Na realidade, não é uma situação simples visto que o Benfica tem um grande intencionalidade pressionante, adiantando para tal as suas linhas de forma assinalável, e correndo consequentemente o risco de exposição dos espaços que ficam nas costas da primeira zona de pressão. Assim, várias vezes os dois médios são colocados perante o dilema de pressionar ou equilibrar posicionalmente, e a constatação é que quase sempre optam pela primeira solução. Particularmente, Matic. Ora, esta opção parece-me questionável em vários contextos, já que a exposição do espaço entrelinhas, como acontece nesta jogada, ou mesmo da última linha, como sucedeu no lance do golo sofrido no derbi, podem ter um custo muito elevado para a equipa. Relativamente ao espaço entrelinhas, e no caso específico do Benfica, nota para a tendência deste espaço ser exposto em simultâneo com o adiantamento da linha defensiva (já que essa é uma característica forte da forma como o Benfica defende), o que cria uma situação muito difícil para a linha defensiva, confrontada com a necessidade de baixar e, simultaneamente, fazer contenção sobre o portador da bola. Neste jogo e para além deste lance, também o golo sofrido o Benfica tem origem no mesmo tipo de exposição, igualmente com Sérgio Oliveira no papel de "invasor".

Jogada 2 - Já não é a primeira vez que destaco a variação de flanco do Sporting 13/14, embora nos casos anteriores o sublinhado tenha recaído sobre o movimento no sentido oposto, da direita para a esquerda, e para o timing de Jefferson. Desta vez, para além da inversão do sentido da circulação, há também o destaque para o médio (André Martins), que é quem aproveita o espaço criado. A título de curiosidade, este tipo de posicionamento, com o médio oposto ao lado da bola a permanecer aberto, é muito típico nas equipas de Guardiola, precisamente para tentar aproveitar o espaço criado pela abertura do extremo, quando a bola circula à largura. No caso específico do Sporting e de André Martins, parece-me poder ser um movimento a desenvolver, não só pelo bom propósito que tem, mas também porque a meu ver é quando aparece neste espaço que o médio do Sporting mais consegue criar impacto no jogo, não revelando a mesma eficácia quando permanece em zonas mais interiores.

Jogada 3 - O lance que quase dava ao jogo um final de maior emoção. A jogada tem origem num lance de bola parada, o que explica a elevada densidade numérica dentro da área. Aqui, o destaque vai para o aparente défice de preocupação da linha média, relativamente à compensação em zonas mais baixas. Particularmente, Adrien. Com Jefferson adiantado, Adrien permanece (correctamente) mais próximo dos centrais para o primeiro cruzamento, mas quando este sai a sua preocupação com esta compensação dilui-se por completo, afastando-se de forma precipitada e não conseguindo, por isso, reagir a tempo num segundo momento. Em boa verdade, a apatia é generalizada, o que se pode compreender até certo ponto pela forma atípica como o lance foi construído, mas ainda assim penso que se exigiria maior concentração no lance específico. Curioso notar ainda que depois de, no derbi, Jardim ter reagido a um cabeceamento de Cardozo com a entrada de Dier, desta vez pareceu haver uma relação directa entre este lance e a entrada de Rinaudo, logo a seguir.

Jogada 4 - Um pormenor para o lance do golo portista em Viena, e para a movimentação de Lucho. Mesmo perante um forte condicionamento dos médios do Áustria, o capitão portista foi conseguindo ser a grande referência para a primeira fase de construção da equipa. Neste caso, percebe-se como Lucho sai fora do campo de visão do pivot e percebe que o seu adversário não está momentaneamente atento à sua acção, encontrando assim o timing ideal para baixar e oferecer uma linha de passe que surpreende a oposição. Recuperando o tema abordado no inicio da semana, é por este tipo de percepção que será sempre muito complicado substituir Lucho nesta posição especifica.

Jogada 5 - O caso do Chelsea de Mourinho. As derrotas numa equipa como o Chelsea, nunca são algo inevitável e têm de contar sempre com algum tipo de alinhamento astrológico. Não desfazendo, este inicio do Chelsea não pode ser muito surpreendente para quem viu os primeiros jogos. De facto, há muito trabalho pela frente para Mourinho (e, confesso, esse é um dos meus principais pontos de interesse neste momento), com dificuldades em praticamente todas as fases do seu jogo ofensivo. Tanto no duplo pivot, onde não encontrou ainda uma dupla que produza o rendimento ideal, como mais à frente onde a liberdade do tridente criativo se continua a confundir com alguma anarquia, nomeadamente pela forma como a equipa perde largura em repetidos momentos do seu jogo, acabando por ficar confinada ao corredor central (são raros os cruzamentos, o que no futebol inglês é algo raro). Já o havia referido, no rescaldo da supertaça europeia, que este Chelsea parece sobretudo mais forte nos jogos em que não tenha de assumir o domínio territorial.
No caso que recupero é visível a dificuldade de construção da equipa, sobretudo a sua aparente obsessão pelo corredor central, acabando por redundar numa perda de bola de grande potencial para a transição. Outra nota, mais positiva, para a capacidade recuperação de Ivanovic, que no inicio do lance está aberto e na linha da bola, mas que ainda assim consegue chegar a tempo de condicionar a finalização de Jelavic.

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19.9.13

Porto: Vitórias e reticências

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Duas vitórias, com sinais idênticos - Poderá fazer sentido, parece-me, agrupar os dois últimos jogos da equipa. Primeiro o Gil Vicente, depois o Áustria de Viena. Nos dois casos, o resultado faz esquecer alguns problemas que a equipa sentiu, e que provavelmente não eram muito esperados, sobretudo reflectidos na dificuldade em criar situações claras de golo e, ainda que mais pontualmente, em problemas de controlo defensivo. Há também que fazer alguma justiça, e traçar as diferenças entre estes dois casos, porque em Viena as dificuldades foram mais pronunciadas, e ao contrário do que sucedeu na recepção ao Gil, não tiveram de esperar pelo conforto do marcador para fazer a sua aparição. São, enfim, sinais para continuar a acompanhar, até porque se seguem alguns embates de maior exigência do que aqueles que já ficaram para trás.

 Dificuldades no último terço - O Áustria apareceu estruturado em 4-1-4-1, a servir de esqueleto para um estratégia muito prudente em termos de exposição espacial. De ínicio ainda pareceu que os seus médios pudessem ser atraídos pelo baixar do duplo-pivot (já agora, este terá sido o jogo em que o comportamento dos dois médios foi mais assimétrico), abrindo espaço nas suas costas e isolando o elemento mais defensivo do meio campo austríaco. Mas isso acabou por não se confirmar também, parece-me, porque o Porto não teve paciência suficiente para o potenciar. Há, no entanto, muito mérito alheio nas dificuldades que o Porto sentiu em entrar no último reduto contrário, porque o posicionamento do Áustria foi sempre muito eficaz, conseguindo ajustar repetidamente a sua linha média de forma a manter uma boa presença numérica na zona da bola e nunca expor a sua linha defensiva. Ainda dentro deste problema, e no que respeita a culpas próprias, destacaria 2 pontos: 1) o critério em posse, talvez faltando alguma paciência para circular ainda mais e criar condições antes de entrar no bloco contrário; 2) a incapacidade que a generalidade dos jogadores criativos teve em encontrar soluções para o problema que lhes foi colocado, salvando-se Lucho e as suas habituais movimentações dentro do bloco adversário.

Dificuldades de controlo defensivo - Se o comportamento defensivo do Áustria justifica ser elogiado, também me parece interessante o outro lado da sua estratégia. Particularmente, a forma como abriu os extremos em profundidade, fixando os laterais portistas e impedindo-os de intervir mais por dentro. Ainda que não me pareça a única, esta poderá ser uma explicação para a dificuldade de intervenção do duplo pivot, mais isolado por este condicionamento dos laterais. Com alguma frequência o Áustria conseguiu sair de zonas de pressão, encontrando depois espaço para enfrentar a linha defensiva em condições de algum potencial. Aqui, não pode deixar de ser creditado algum mérito aos jogadores austríacos, mas é também bom sublinhar que problemas semelhantes haviam já emergido na segunda parte da recepção ao Gil Vicente.

Posse, Posse, Posse - Ao ouvir alguns comentários, parece há algum cansaço relativamente ao jogo pausado e algo repetitivo do Porto. O certo é que esta capacidade de ter bola e promover uma circulação baixa por períodos prolongados não é só uma opção, mas é também uma força. Nem é fácil de contrariar e nem, tão pouco, é fácil encontrar muitos casos com que se possa estabelecer paralelo qualitativo. O grande desafio do Porto vem depois, na capacidade que a equipa terá para melhorar a sua consequência no último terço, mas isso não deverá nunca passar por um retrocesso nesta capacidade de ter e valorizar a posse de bola.

Os suplentes - De facto, parece-me que boa parte das dificuldades que o Porto sentiu no jogo derivam de algum défice de critério em posse, quer porque a densidade do bloco austríaco aconselharia um pouco mais de paciência antes de entrar, quer porque as precipitações em posse seriam sempre a origem do outro lado da estratégia adversária: a transição. Aqui, as substituições produziram um efeito positivo e muito visível no jogo portista. Izmailov, pela enorme diferença que marcou relativamente a Licá. Herrera, porque trouxe outra capacidade de movimentação àquela zona (um atributo que já havia revelado na pré época, sendo claramente o jogador que mais se aproxima de Defour neste aspecto). Com a entrada destes dois, o Porto como que agarrou na bola e não mais a largou. Já sobre a entrada de Quintero, tenho alguma dificuldade em compreender, porque é um jogador com características exactamente opostas ao que o jogo pedia: mais risco em posse e menor intensidade defensiva.

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18.9.13

Notas do Benfica - Anderlecht

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Eficácia normalizada e o exagero resultadista - No futebol, e por mais que se diga o contrário, é sempre assim... os resultados são avassaladores na apreciação qualitativa que se faz das equipas. No caso do Benfica, as duas vitórias recentes arrastam consigo uma série de diagnósticos a propósito das melhorias que equipa terá denotado nos seus últimos 180 minutos. E todos têm por onde escolher: pode ser dos laterais (especialmente a ausência de Cortez, claro), pode ser dos médios (com a introdução de Fejsa), pode ser dos extremos (Enzo Perez), ou dos avançados (Djuricic e Cardozo). São tantos e tão variados os possíveis bodes expiatórios, que dará para o gosto de quase todos.
Pessoalmente, não partilho da ideia de que o Benfica tenha melhorado globalmente. Haverá pontos positivos, claro, e deixarei a minha opinião sobre eles, mas globalmente não me parece justo dizer que o Benfica fez melhores exibições nestes dois jogos caseiros do que havia feito, por exemplo, frente ao Gil Vicente. Pelo contrário, até. Como fui referindo, o Benfica foi sobretudo penalizado por um aproveitamento anormalmente desfavoráveis das ocasiões de golo nos seus jogos. Os adversários marcavam praticamente em cada oportunidade que conseguiam criar, e o próprio Benfica precisava de várias para o conseguir. O registo de eficácia não era apenas anormal, mas insustentável a prazo, e a principal explicação para as diferenças nos resultados destes dois jogos para os anteriores passa precisamente por aqui, pela eficácia. Em ambos os jogos o Benfica marcou cedo e na primeira oportunidade, e isso só por si faz toda a diferença.

O jogo - O Anderlecht apresentou-se na Luz com uma estratégia notoriamente cautelosa, mas sobretudo nos momentos sem bola, acabando por ser, a meu ver, naquilo que fez com bola que acabou por ser mais penalizado. Sobretudo, na primeira parte. É que, e apesar da facilidade em sair da sua fase de construção, o Benfica raramente conseguiu entrar com perigo no extremo reduto belga, acabando por alicerçar o domínio inicial no condicionamento defensivo que fez, quer na reacção à perda, quer na pressão sobre a fase de construção do Anderlecht. A este propósito, o facto dos belgas terem tentado sair a jogar pelos centrais, havendo aparentemente pouca qualidade para o fazer, parece-me ter sido um erro estratégico importante, e assim que a construção longa (nota para o longo pontapé do guarda redes) passou a ser opção, o jogo entrou numa toada de equilíbrio, já que o Benfica sentiu sempre muitas dificuldades em controlar a segunda bola na zona média. E, reforço, esta perda de domínio do Benfica não teve de esperar pela segunda parte, surgiu antes do intervalo.
Na segunda parte, o Anderlecht alterou a sua estrutura, colocou mais gente na frente e partiu o jogo. Aqui, percebe-se a necessidade do Benfica se resguardar, mas parece-me manifestamente pouco o que a equipa conseguiu fazer com bola. Também em organização, passando a preferir reposições longas ao contrário do que havia sucedido na primeira parte, mas sobretudo em transição, porque com o adversário partido, ao Benfica dever-se-ia exigir mais critério e qualidade para tirar partido do espaço que lhe era episodicamente oferecido. E isso raramente aconteceu.

André Almeida e Siqueira - Foi um jogo de grande exigência defensiva para ambos, e embora estivessem longe de estar perfeitos, estiveram ambos bem. De Siqueira não se espera outra coisa que não seja a titularidade, mas o caso de André Almeida pode ser até mais interessante, ainda que menos badalado. As exibições de Maxi vinham sendo muito pouco conseguidas, e a meu ver até mais comprometedoras em termos defensivos do que as de Cortez, e André Almeida poderá ser uma solução a ter em conta para o lugar, sobretudo por poder oferecer menos volatilidade a uma equipa que já sofre demasiado com esse mal.

Fejsa e Matic - A exibição do primeiro deverá implicar a manutenção da dupla, pelo menos no curto prazo. O jogo de Fejsa foi, de facto, impressionante pela capacidade de trabalho que revelou, podendo perspectivar-se uma dupla de grande capacidade defensiva a formar com Matic (a minha perspectiva é que adiantar Matic para uma fase mais alta do pressing deverá trazer resultados interessantes e recorrentes). No entanto, e possivelmente irei voltar a este tema, parece-me que o meio campo do Benfica tem algo a rever em termos de critério posicional, nomeadamente na protecção do espaço entrelinhas. De todo o modo, numa equipa que pede normalmente muito aos seus médios, pode estar aqui a melhor novidade para o Benfica 13/14.

Extremos - A principal reticência que tenho em relação ao Benfica vem da ausência de Gaitan e Salvio. Markovic é um jogador de enorme potencial, capaz até de conseguir coisas fora do alcance de qualquer dos argentinos, mas a sua consistência está ainda longe de ser a ideal e pode ter também períodos de continuada ineficácia nas suas acções. Por seu lado, Enzo Perez tem qualidades que aprecio e pode dar de facto outra característica ao jogo do Benfica, mas a meu ver esbarra na parede do talento, quando comparado com Salvio ou Gaitan. Não é, portanto, um problema das alternativas serem más ou insuficientes, é apenas a constatação de que o que ofereciam Salvio e Gaitan é muito difícil de igualar, tanto pela capacidade de desequilíbrio, como pela maturidade táctica que ambos têm.

Djuricic e Cardozo - O golo do primeiro retira-lhe alguma pressão, e confirma a sua vocação para aparecer com propósito em zonas de finalização, mas não é suficiente para apagar as dificuldades que continua a revelar na integração no jogo colectivo da equipa. Jesus conta com Djuricic para que este possa ser um elemento de ligação do jogo ofensivo, na linha do que foram Aimar ou Saviola no passado, mas o sérvio está ainda longe de conseguir ser esse jogador e não é o golo ou o número 10 nas costas que alteram essa constatação. Rodrigo, ou mesmo Lima, por exemplo, não terão uma qualidade de envolvimento inferior nesta altura.
Quanto a Cardozo, não marcou, e se é verdade que o poderia ter feito em duas ocasiões, também é um facto que a equipa não produziu suficiente para que lhe fosse exigido muito nesse aspecto. De todo o modo, a exibição do paraguaio foi globalmente positiva, conseguindo um bom envolvimento no jogo e uma eficácia assinalável nas suas aparições no jogo. A Champions e os jogos mais importantes não são nem nunca foram o problema de Cardozo.

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17.9.13

Quintero "e" Lucho? Porque não?

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Ao quinto jogo oficial, eis que chegou finalmente a vez de Quintero! As sucessivas aparições, sempre a impressionar a partir do banco, como que encurralaram o treinador, praticamente forçado a entregar uma oportunidade no onze ao talento colombiano. E assim aconteceu, frente ao Gil Vicente, tivemos Quintero e... não tivemos Lucho.
Mas, ao virar desta página, da ascensão de Quintero até à titularidade, eis que surge novo problema. Paradoxalmente, foi quando teve mais tempo para o fazer que o colombiano menos impressionou. Sem os rasgos que o haviam catapultado para o topo das preferências entre os adeptos, e mesmo com alguns reparos - ainda que subtis - do treinador, relativamente à sua capacidade de pressão. Por outro lado, relembro... não tivemos Lucho.

Quintero "ou" Lucho? A "posição 10"
Afinal, qual a diferença entre Quintero e Lucho, no desempenho da denominada "posição 10"? 
Pois bem, primeiro há que enquadrar a própria função da posição no modelo colectivo. Quem joga nesta posição tem, sucintamente, duas missões: com bola, procurar movimentar-se sobretudo dentro do bloco (e sublinho "dentro do bloco"!) defensivo adversário de forma a encontrar soluções de passe para a construção, especialmente no já famoso espaço entrelinhas, nas costas da linha média e na frente da linha defensiva. Sem bola, cabe-lhe juntar-se ao avançado de forma a condicionar a primeira fase de construção contrária em praticamente todo o campo, mas tendo também de baixar para auxiliar a linha média, sempre que o adversário progride para uma fase mais adiantada do seu jogo.
Resumindo, e para ser claro, para este jogador estão destinados, quer a atacar, quer a defender, provavelmente as missões mais difíceis de desempenhar. Ou, pelo menos é essa a minha opinião. A atacar, porque tem de jogar quase sempre de costas para a baliza e dentro do bloco adversário, o que oferece toda a vantagem a quem defende. E a defender, porque há uma imensidão de espaço a controlar, e quase sempre em inferioridade numérica. Em ambos os casos, ofensivo e defensivo, o atributo fundamental é a capacidade de leitura do jogo e, especialmente, dos espaços. Não é fácil!

Ora, é neste contexto, e sobretudo perante adversários mais fechados, que Lucho ganha vantagem em praticamente todos os parâmetros, relativamente a Quintero. Movimenta-se como ninguém entrelinhas, sabendo esperar e procurar o timing certo para aparecer nas costas da linha média. Defensivamente, e já o destaquei também várias vezes neste particular, tem um tempo de pressão notável, sendo extremamente útil para o desempenho defensivo de toda a equipa.
Já Quintero é diferente. Tem o perfil daquilo que apelidaria de "10 clássico", procurando sempre ser o farol da equipa através de um envolvimento constante no jogo, nem que para isso seja obrigado a baixar para uma fase mais precoce da construção. Defensivamente, por outro lado, não tem nem intensidade nem vocação para ser muito útil à pressão colectiva.

Quintero "e" Lucho? Porque não?
É evidente Quintero pode evoluir dentro da tal função que descrevi, ou mesmo a equipa poder-se-á adaptar ela própria às características do talento colombiano. Mas porquê ter de optar entre Lucho e Quintero? Porquê ter de escolher entre a leitura de jogo de um, e a capacidade de desequilíbrio do outro? Porque não manter Lucho num papel que tão bem tem desempenhado? Porque não enquadrar antes Quintero à direita, onde poderá encontrar melhor enquadramento para o transporte a bola, da ala para dentro, e aí criar os seus desequilíbrios, sem ter de correr quilómetros para defender ou oferecer uma linha de passe à primeira fase de construção?
É uma convicção que já vem de trás, mas continua a parecer-me a melhor opção...

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16.9.13

Notas do Olhanense - Sporting

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Será assim tão impossível lutar pelo título? - À quarta jornada, o Sporting é o contra exemplo da sua própria teoria. Ou melhor, da teoria construída em seu redor, de que não poderia ser candidato ao título. Para ser objectivo, candidatos ao título, por definição, todos são, assim participem na prova, a questão tem a ver com a probabilidade de efectivamente a vencer. No caso do Sporting, é evidente que as suas aspirações não podem ser as mesmas dos rivais, mas isso não quer dizer que seja irrazoável a hipótese de que se venha a incluir na corrida. Afinal, será assim tão improvável que a equipa continue a levar a melhor em duelos directos frente adversários notoriamente menos capazes, como foram Arouca, Académica e Olhanense? É que se o fizer, o Sporting acabará inevitavelmente por prolongar a esperança de atingir o que lhe foi projectado como impossível.

Novo jogo, mesmos sinais - Nenhum jogo é absolutamente igual aos anteriores, já se sabe, mas no Algarve o Sporting voltou a revelar as mesmas características de outras partidas. A saber, uma construção orientada para os corredores laterais do campo e com pouca incidência na progressão através dos médios, a afirmação do domínio territorial mas com algumas dificuldades em transformar directamente a posse em proximidade com o golo, extraindo ao invés as suas principais ocasiões dos pormenores do jogo, como bolas paradas ou a saída rápida a partir de jogadas divididas que tiram partido da menor organização pontual do adversário, e tendo nos cruzamentos e nas dinâmicas dos corredores laterais a sua principal arma ofensiva (com Jefferson, de novo em evidência, ainda que desta vez sem ter causado danos práticos no opositor).
Foi novamente dentro desta linha exibicional que o Sporting alicerçou o seu terceiro triunfo na Liga, tendo sido inegavelmente mais forte do que a oposição, mas - é importante notar - contando também com a indispensável contribuição da eficácia, porque o Olhanense criou ocasiões suficientes para ter feito um golo, o que num contexto de menor felicidade para o Sporting, poderia até ter complicado a obtenção dos três pontos.

As novas dúvidas de Jardim - A quarta jornada trouxe ao Sporting um novo onze, e terá trazido também novas dúvidas para as escolhas de Jardim. Os centrais, os extremos e, já agora, o médio ofensivo, poderão estar em causa.
No caso dos centrais, a lesão de Rojo forçou uma alteração, com a entrada de Dier. Para ser sincero, parece-me já existir uma ansiedade (sobretudo vinda do exterior) para lançar Dier na equipa. Algo que para mim é de certa forma estranho, porque só o vi como central na pré época e as indicações com que fiquei não foram especialmente entusiasmantes. Mas, o que fará Jardim quando Rojo regressar? Esta é uma questão que me suscita interesse especial porque tenho a sensação de que ela se envolve por uma série de predisposições que condicionam a avaliação mais objectiva dos jogadores em causa. Relativamente a Dier, porque no Sporting, mais do que em qualquer outro lado, há algum maniqueísmo a envolver os jogadores da formação, ora transformando-os naquilo em que ainda não são, ora desvalorizando completamente o que ainda poderiam vir a ser. Relativamente a Rojo, porque é presença habitual na selecção argentina, logo fica um pouco difícil defender que não tem qualidade ou que não merece um lugar na equipa. E, finalmente, relativamente a Maurício que é quem sai a perder neste balanço já que não só não é um produto da formação nem uma presença habitual na selecção argentina, como ainda por cima vem da segunda divisão do Brasil, o que lhe valeu logo uma colecção de narizes torcidos à sua contratação, ainda antes de ter começado sequer a jogar. Perante isto, não tenho a menor dúvida de que Maurício (que, a propósito, teve um erro quase comprometedor neste jogo) será entre os três aquele que menor margem de erro terá. Se não for assim para Jardim, sê-lo-á seguramente para a opinião generalizada.
À quarta jornada, houve também mexidas nos extremos, com a viagem de Carrillo a ser a oportunidade de Capel. O extremo espanhol respondeu bem, dentro do seu estilo, sendo dos jogadores mais activos no ataque da equipa enquanto esteve em campo. A questão coloca-se agora sobre o que fazer no final de uma semana em que todos estarão em pé de igualdade? A meu ver e por razões diversas, justificar-se-ia recuperar a aposta em Carrillo e Wilson, e penso que poderá ser também essa a ideia de Jardim.
Finalmente, o caso de Vitor e André Martins. Convém, em primeiro lugar, voltar a sublinhar que na equipa que vem jogando o papel confinado a Adrien não é o mesmo que aquele que está a ser desempenhado por André Martins, e mesmo na pré época os dois nunca ocuparam o lugar um do outro, ainda que seja da opinião de que o puderiam ter feito. Ou seja, esta não deve ser uma luta a 3. Frente ao Olhanense, André Martins justificará o destaque principal do jogo, sobretudo pela sua envolvência decisiva, mas mesmo assim deu o lugar a Vitor a 20 minutos do fim, o que pode indicar que Leonardo Jardim não fecha a porta à possibilidade de incluir o novo reforço nas contas da titularidade. Para já, porém, Martins deverá estar a salvo dessa ameaça, pela envolvência decisiva que conseguiu nos últimos dois jogos e por surgir mais enquadrado nos movimentos em que me parece ser mais forte, surgindo sobre o corredor direito a partir da zona central. A questão da capacidade de desequilíbrio tem de ser central na questão em torno desta posição, já que a sua envolvência no jogo está reservada para as zonas mais próximas da baliza e não tanto para a fase de construção. Afinal, de que serve aparecer entrelinhas e em zonas terminais do terreno se depois isso não tem consequência prática? E é esse o desafio de André Martins para que se possa afirmar neste papel especifico, tornar mais consistente a sua influência decisiva. Quanto a Vitor, foram a meu ver 20 minutos positivos, não tendo dado para muito em termos ofensivos, mas revelando uma assinalável percepção dos espaços a ocupar, algo que se traduziu por exemplo na efectividade da sua presença pressionante, que é outro aspecto algo menosprezado mas que tem a meu ver grande relevância nesta posição.

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13.9.13

Sobre Eusébio

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Naturalmente, não o vi ao vivo ou em tempo real. Não vivi o seu tempo, por isso há certamente muito que me escapa sobre o que foi realmente Eusébio. Mas, porque o futebol me suscita essa curiosidade, já vi na íntegra vários jogos de Eusébio. Vi de Eusébio, como vi de Pelé, Charlton, Beckenbauer, Cruyff e muitos outros. E, devo dizer, se tivesse de escolher um jogador que me impressionou entre estas glórias de outras décadas, escolheria seguramente Eusébio. Não me esqueço do que fez ao Brasil em 1966, ao Real Madrid em 1962, ou de um simples remate à barra, vindo do nada, na final de 1968. Admito que possa haver alguma parcialidade na minha escolha, e não quero com isto dizer que Eusébio terá sido melhor do que os outros, mas foi aquele que mais impressionou.

A grande figura dos anos 60 - Não sendo eu o melhor juiz para tal apreciação, quer-me parecer que a distância temporal tem feito esbater a consciência do real impacto de Eusébio nos anos 60. Do Eusébio e do Benfica, porque ambos estão umbilicalmente ligados. É que mais importante do que as 2 Taças dos Campeões Europeus, parece-me bem mais relevante sublinhar que o Benfica chegou a 5 finais em apenas 8 anos da competição, um feito raro em toda história da prova (em parte porque o novo formato da Champions o tornou muito mais difícil, bem entendido), e que conferia ao clube português um protagonismo invulgarmente continuado dentro do panorama europeu da época. Sendo a principal figura da equipa mais bem sucedida da década, Eusébio chega ao Mundial de 66 e confirma-se como o destaque individual da prova, num estilo quase 'hollywoodesco' e vergando pelo meio o "papão" Brasil, à altura bi-campeão mundial em título (embora numa versão muito diferente das anteriores). Com tudo isto, e contando ainda com o não desprezível facto do Mundial de 1966 ter sido disputado em Inglaterra, pondo término a uma sucessão edições em países periféricos, é fácil perceber o impacto que teve a figura de Eusébio, e como muito poucos nomes puderam verdadeiramente rivalizar com aquilo que conseguiu o Pantera Negra nesse período, entre Benfica e Selecção.


Eclipse internacional, aos 26 anos - Eusébio chegou ao Benfica, já campeão europeu em título, em 1961, com 19 anos. Depois de 7 épocas extraordinárias, Eusébio disputa a sua última final europeia, em 1968, tinha apenas 26 anos. A partir daí, o máximo que atinge em termos internacionais é uma meia final da Taça dos Campeões Europeus, em 1972, onde inclusivamente o próprio Eusébio tem uma prestação muito modesta, com apenas 1 golo em todo o percurso da equipa. Ou seja, e mesmo continuando a assumir um protagonismo importante, o certo é que este passou a restringir-se exclusivamente ao contexto interno. E se num país ainda bastante virado para dentro, talvez isso não fizesse diminuir o entusiasmo em seu redor, a verdade é que o que Eusébio fazia do lado de cá da fronteira nunca poderia ser suficiente para sustentar o brilho global que a sua estrela alcançara até 1968. E aqui, convém não nos restringirmos apenas ao Benfica, porque se há coisa difícil de compreender para quem, como eu, olha para tudo isto em retrospectiva, é como é que a Selecção Nacional conseguiu apenas 1 presença em grandes competições internacionais num período tão de vasto protagonismo europeu de um Benfica apenas composto por jogadores portugueses. Mesmo no rendimento do próprio Eusébio podemos encontrar uma disparidade atípica entre o que fez na campanha de 66 e no resto da sua carreira. Em jogos oficias, Eusébio acumula 38 jogos e 26 golos pela Selecção, mas se retirarmos o registo de 66 (incluindo a qualificação), ficamos com uns bem menos impressionantes 10 golos em 26 jogos, distribuídos por 6 fases de apuramento, onde Portugal não conseguiu sucesso algum.


Eusébio vs Ronaldo - A comparação tornou-se tema de conversa, em parte pelo golo 41 de Ronaldo, mas também, parece-me, muito por falta de assunto, numa semana de selecções e apenas com 1 jogo oficial da equipa portuguesa. De facto, não vislumbro grande pertinência em discutir a altura do pedestal de cada um, acima de tudo porque qualquer comparação entre jogadores de gerações tão diferentes tem sempre de incluir uma enorme dose de subjectividade. Há uma coisa que, porém, me parece imprescindível referir: é que Eusébio e Ronaldo só podem ser comparados em termos de projecção relativa e nunca na sua dimensão absoluta. Isto é, não se pode comparar a qualidade de jogadores dos anos 50, 60 ou 70 com aquilo que fazem os jogadores actuais. Essa é a vantagem que assiste a quem, como eu, vê com olhos de hoje os jogos de outros tempos, porque quem o fez apenas em tempo real, estará sempre mais susceptível a enviesamentos e floreados de memória. Recorrendo a uma analogia, seria como comparar os 100m de Usain Bolt com qualquer outro sprinter de outros tempos. Só que se no atletismo os registos não deixam espaço a sofismas, no futebol não há cronometragens individuais que nos salvem de comparações igualmente incomparáveis. Eusébio e Ronaldo, Pelé e Messi, Brasil de 82 e Barcelona de Guardiola, estes ou qualquer outro emparelhamento anacrónico, só fará algum sentido numa perspectiva relativa.


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12.9.13

Os mais desequilibradores da liga, análise (Jorn. 3)

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Como nota prévia, convém definir o critério utilizado para a contabilização das assistências, que pode ter diferentes interpretações. Aqui, a ideia é considerar como "assistência" toda a acção cuja implicação directa seja colocar um jogador da mesma equipa numa situação privilegiada de finalização. Assim, "ganhar" um penalti é contabilizado como assistência, assim como uma finalização que preceda um golo de recarga simples. Por outro lado, o último passe que antecede uma jogada individual ou um remate de longa distância que resulte em golo não é considerado como assistência, por não ser considerada um situação privilegiada de finalização.



Jackson - Não teve uma grande eficácia face às ocasiões que teve ao seu dispor, e esse parece ser sempre o critério mais valorizado pelos adeptos. Eu, pessoalmente, acho que essa é uma visão errada do rendimento dos avançados, não porque a eficácia não seja relevante, mas porque um bom avançado se distingue também pela capacidade de criar ou chamar a si mais ocasiões de golo. Aliás, creio que esse seja mesmo o ponto mais relevante, já que a eficácia tem tendência a ser volátil no curto prazo e relativamente estável no longo prazo, mesmo numa comparação jogador-a-jogador.
Os números de Jackson atestam da sua qualidade, sobretudo nesse aspecto de chamar a si várias ocasiões, e revelam também a sua enorme importância no modelo de jogo, já que é o jogador referência para as acções colectivas. Jackson, sozinho, finalizou mais de metade das ocasiões que a equipa criou, incluindo as que culminaram em penaltis. A sua capacidade individual e as características da sua função no contexto colectivo tornam-no no mais forte candidato, e a meu ver com alguma diferença, a melhor marcador do campeonato (penaltis à parte, claro).

Quintero e Markovic - São os dois grandes talentos revelados nestes primeiros jogos. Não se pode dizer que seja totalmente inesperado, para quem viu o Mundial sub 20 de Quintero, ou a pré época de Markovic, no entanto o rendimento de ambos tem de superar qualquer expectativa, se tivermos em conta o escasso tempo de jogo a que os dois tiveram acesso. Quintero, com apenas 90' jogados, aparece mesmo já destacado entre todos os jogadores da liga no número de ocasiões criadas, tendo para além disso marcado um importante golo em Setúbal. Markovic não terá sido protagonista de um número tão elevado de jogadas de grande perigo, mas teve ainda menos tempo para o fazer. Ambos deverão passar a ter mais minutos nas próximas jornadas, e se é improvável que mantenham o rendimento em termos de média por minuto jogados, há certamente a expectativa de afirmem o seu estatuto entre as principais figuras da prova.

Alas do Sporting - Já havia referido nas diversas análises aos jogos do Sporting que no excelente desempenho ofensivo da equipa há uma forte relevância das acções pelos corredores laterais do campo, em particular dos cruzamentos. Entre os jogadores que ocuparam essa zona do terreno, apenas Cedric não justifica destaque ofensivo, sendo que o próprio Montero conseguiu os seus golos na sequência de cruzamentos.

Cardozo - É a grande revelação entre os jogadores das equipas de menor projecção. De facto, enquanto o seu homónimo, e também paraguaio, faz manchetes por outros motivos, é o Cardozo do Bonfim quem tem impressionado dentro do campo nestas três primeiras jornadas. Depois de ter dado nas vistas logo no arranque do campeonato, com uma grande exibição na recepção ao Porto, Cardozo voltou a ter uma grande tarde, desta vez em Guimarães, com envolvimento directo em 3 dos 4 golos da equipa. É um jogador que chega tarde a Portugal, mas que poderá pelo menos vir a ter um lugar especial entre os adeptos sadinos, sucedendo a Meyong como grande referência da equipa.

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11.9.13

Análise - dados colectivos defensivos (Jornada 3)

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Porto - Se relativamente aos indicadores ofensivos, o Porto já se havia destacado, essa diferença é ainda mais acentuada no capítulo defensivo. O calendário será um factor importante a ter em conta, naturalmente, mas mesmo assim parece ser no controlo defensivo que a equipa de Paulo Fonseca leva mais vantagem neste arranque de temporada.

Benfica - Se no capítulo ofensivo, o inicio de época pecou pela ineficácia no aproveitamento das ocasiões criadas, no lado defensivo esse aspecto ainda é mais flagrante, com o Benfica a ser a equipa da Liga que, nestes primeiros jogos, menos ocasiões teve de consentir para sofrer um golo. Este é um aspecto que já transita da pré temporada, onde a equipa teve também um registo invulgarmente negativo neste particular. Há outros pontos interessantes relativamente à equipa de Jorge Jesus, como a discrepância entre o número de ataques permitidos (chegada do adversário ao último terço ofensivo), onde o Benfica aparece com o segundo melhor registo, e o número de finalizações daí resultantes, onde é apenas o 5º. O calendário é uma forte atenuante, mas será sobretudo importante não ser tão penalizado a cada ofensiva contrária.

Sporting - O jogo com o Benfica tem um peso grande no número total de ocasiões da equipa, já que 4 das 8 consentidas nestes 3 primeiros jogos aconteceram precisamente na recepção ao seu rival. Ainda assim, mesmo noutros indicadores, para além das ocasiões de golo, seria de esperar um controlo defensivo um pouco superior, especialmente se tivermos em conta o elevado tempo de posse de bola que equipa teve, apenas superada pela performance portista nesse particular. Em número de ataques (chegada do adversário ao último terço ofensivo), por exemplo, o Sporting tem apenas o 7º melhor registo nestas três jornadas.

Estoril - Tal como no capítulo ofensivo, o Estoril aparece de forma muito consistente no topo da tabela dos indicadores defensivos. Reforço de novo a curiosidade de ver a resposta da equipa nos desafios que se seguem.

Gil Vicente - Mais uma vez um sublinhado para o extraordinário caso das 3 primeiras jornadas do Gil Vicente. Se combinarmos os indicadores acumulados, ofensivos e defensivos, temos:
Ocasiões de Golo (7-20)
Finalizações (19-70)
Ataques (58-168)
Cantos (4-35)
Posse de Bola (35%-65%)
Posse de Bola no Último Terço (9%-28%)

 Culminando tudo isto em 4 golos marcados e 2 sofridos, com 6 pontos conquistados, em 9 possíveis. Não será fácil repetir o feito!

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10.9.13

Análise - dados colectivos ofensivos (Jornada 3)

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Vou aproveitar a paragem no campeonato para fazer um resumo dos dados estatísticos que tenho recolhido sobre a Liga Portuguesa. Hoje, começo com os dados colectivos ofensivos, farei o mesmo para a fase defensiva, e depois uma análise individual centrada nas ocasiões de golo, nomeadamente nos jogadores mais desequilibradores, e nos guarda redes mais/menos eficazes até ao momento. Relativamente às ocasiões e golos, todos os jogos estão incluídos, devendo reforçar que poderá haver um prejuízo na análise dos jogos que não são transmitidos na íntegra (poderá haver ocasiões que não são consideradas, aumentando também a % eficácia dessas equipas). No que respeita aos restantes indicadores (remates, faltas, posse de bola, ataques, cantos, etc), o jogo Arouca-Rio Ave não está incluído por me ter sido impossível obter informação sobre esse jogo.



Porto, líder também nos indicadores estatísticos - Não poderá constituir grande surpresa, até pelo calendário, que o Porto lidere a generalidade dos indicadores ofensivos na Liga. Não tem mais golos, mas teve mais ocasiões, mais ataques, mais posse de bola  e mais tempo em zona ofensiva do que qualquer outra equipa. Os registos apresentados, aliás, terão tendência a manter-se, restando saber se as restantes equipas terão capacidade para se aproximar.

Benfica, o preço da ineficácia - Não é o caso de maior ineficácia relativamente às ocasiões criadas, mas fica claro que os poucos golos marcados resultam sobretudo de um aproveitamento relativamente baixo das oportunidades criadas. Em especial destaque, neste particular, o Benfica pode lamentar-se pelo baixo aproveitamento nas bolas paradas, tendo sido a equipa que mais ocasiões de golo conseguiu criar por essa via (7), mas sem qualquer concretização efectiva desse registo.

Sporting, eficácia e posse de bola - O ataque mais concretizador da liga explica-se sobretudo pelo elevado aproveitamento das ocasiões criadas. Nem será possível ao Sporting manter este nível de eficácia face às ocasiões criadas, nem será provável que qualquer equipa mantenha uma média de golos tão elevada como aquela com que o Sporting chegou ao final da 3ªjornada. O que mais merecerá destaque, obviamente para além dos golos marcados, é a presença em posse do Sporting, muito elevada apesar de um dos três jogos ter sido frente ao Benfica.

Braga, baixa eficácia e muitos remates - Um pouco à imagem do Benfica, o Braga chega ao final da 3ªjornada algo penalizado pela modesta eficácia. Por outro lado, surpreenderá que seja a equipa com mais finalizações, sendo que para esse registo terá contribuído o jogo frente ao Gil Vicente, onde protagonizou 27 finalizações. Curiosamente, esse volume não é extensível aos indicadores de posse de bola.

Estoril, a quinta potência? - Olhando para os indicadores até agora recolhidos, sobressai a forma coerente com que o Estoril surge colado às quatro equipas mais fortes da actualidade. Sobretudo ao nível de ocasiões (provavelemente, o indicador mais relevante), há uma grande distância para a sexta equipa, e se é claro que o calendário terá até agora ajudado, também me parece justo depositar alguma expectativa em torno desta equipa, desde logo para os testes que se seguem.

Gil Vicente, um pequeno milagre - O lanterna vermelha em praticamente todos os indicadores, não tem porém idêntica tradução na tabela classificativa, com 6 pontos em 9 possíveis. É importante contextualizar o que se terá passado, com um calendário complicado e muito tempo a jogar em inferioridade numérica. Naturalmente, nada disto é normal ou possível de perpetuar no tempo (tanto que, como veremos, o mesmo se passa para os indicadores defensivos), mas fica a curiosidade sobre este pequeno milagre protagonizado em Barcelos.

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9.9.13

Portugal e os "known unknowns" de Belfast

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Com a vitória em Belfast e o empate em Ramat Gan, a hipótese de Portugal não disputar sequer o playoff ficou reduzida a pó. É certo que dificilmente dará para o apuramento directo, mas isso não parece preocupar. Afinal, tudo isto não passa de um cenário mais do que previsível, de um déjà vu, e está na "nossa natureza" complicar, porque só jogamos quando sentimos verdadeiramente a pressão de ter de ganhar. Então, já não sabemos como são os playoff? Sai-nos "uma Bósnia", e a gente resolve!
Que Portugal será quase inevitavelmente favorito, caso se confirme a necessidade do playoff, parece-me incontornável. É a sina, traçada no ranking da FIFA. Agora, também me parece que as experiências de 2010 e 2012 vêm acentuar a ilusão colectiva, que resulta do menosprezo pelos riscos escondidos por detrás do mais do que certo favoritismo para uma eliminatória a duas mãos. E, para quem quis ver, esses riscos foram-nos todos relembrados em Belfast.
Segundo Daniel Kahneman, quando avaliamos uma situação temos a tendência para considerar primeiramente o que sabemos que sabemos ("known knowns"), mas frequentemente ignoramos ou menosprezamos o que sabemos que não sabemos ("known unknowns"), alimentando assim o lado mais falacioso do nosso optimismo. Aqui, o que sabemos que sabemos, são o nosso mais do que provável favoritismo, e o facto de termos superado o mesmo tipo de obstáculo das duas vezes que se nos deparou semelhante destino. Mas também sabemos que não sabemos se outro árbitro irá ser sensível a um qualquer encosto de cabeça de um jogador português, se outro auxiliar irá ignorar um fora de jogo crucial, ou se Ronaldo irá ter de passar por nova ressonância magnética, desta vez com prognóstico ainda mais reservado. Tudo isto aconteceu em Belfast, e se é certo que ainda assim redundou num final feliz, também me parece claro que, numa qualquer Atenas ou Estocolmo, um destes "known unknowns" terá um potencial bem superior para colocar tudo em causa.


- Relativamente ao jogo, começo por elogiar a Irlanda do Norte. Pela forma como condicionou o jogo ofensivo português, este nunca poderia ter sido um jogo fácil, e mesmo podendo estar a cometer um erro por não ter visto esse jogo, não me custa imaginar esta equipa a vencer a Rússia, num dia um pouco mais favorável. De facto, os irlandeses, conseguiram controlar sempre muito bem os espaços fundamentais da sua zona defensiva, nomeadamente as costas da sua defesa, o espaço entrelinhas e os corredores laterais. Tudo isto era complementado pela presença de duas unidades mais adiantadas e que iam conseguindo condicionar a fase de construção portuguesa. O papel deste duo, aliás, foi fundamental nas dificuldades criadas, ficando isso bem claro quando o jogo foi relegado para um 10x10.

- Com duas linhas de quatro muito compactas, a meu ver era importante que Portugal tivesse conseguido outro desempenho na sua fase de construção, nomeadamente para tentar atrair os médios irlandeses para fora da sua zona de conforto. Portugal começou por ensair a ligação rapida dos corredores (a ligação entre Pepe e Coentrão, foi repetidamente tentada), mas mesmo havendo eficácia no desempenho técnico, esta iniciativa produzia poucos efeitos práticos, porque as 4 unidades da linha média irlandesa permitiam uma boa presença à largura. Depois, a equipa portuguesa foi tentando maior envolvimento dos extremos no corredor central, o que poderia ser uma alternativa, mas revelou sempre pouca paciência e pouco envolvimento na fase de construção, o que penalizou a ligação do seu jogo. Veloso, por exemplo, envolveu-se muito pouco, deixando-se neutralizar pela acção defensiva dos dois homens mais adiantados da Irlanda. Este tipo de dificuldade de envolvimento no jogo de Veloso, de resto, não é novidade. Também os médios poderiam ter baixado para assumir o jogo e criar a dúvida na acção do duplo pivot, mas tal raramente aconteceu, com a sua acção a estar fundamentalmente orientada para as habituais dinâmicas nos corredores laterais. No entanto, como eram sempre acompanhados pelos médios contrários quando entravam nesse espaço, também os Moutinho e Meireles não encontraram grande sucesso nas suas iniciativas. Sobra-me a dúvida do porquê desta abordagem, mas será também possível que Portugal não quisesse deliberadamente assumir grandes riscos na sua primeira fase de construção, o que não pode deixar de ser compreensível, tendo em conta o preço que alguns erros já custaram para as contas deste apuramento.

- Perante esta dificuldade de Portugal em entrar no último terço, e com a Irlanda do Norte também a não se aventurar com frequência em termos ofensivos, a expressividade do marcador só se explica por um aproveitamento absolutamente invulgar das ocasiões criadas, nomeadamente dos pontapés de canto (4 golos!). Neste particular, e não sendo de todo inédito ou irrepetível, também não será seguramente fácil recordar muitos jogos em que tal tenha acontecido. Se considerarmos que, em média, haverá 1 golo por cada 20 cantos, então poderá ser normal ter de esperar mais de 500 jogos só para assistir a outro fenómeno deste tipo.

- Face à estratégia que havia montado, as expulsões acabaram por ser tudo menos benéficas para as aspirações da Irlanda do Norte. Não que Portugal tenha feito um jogo extraordinário, assim que voltou a estar em igualdade numérica, mas porque perdendo uma unidade na frente, a Irlanda deixava de conseguir condicionar a primeira fase de construção portuguesa, passando o jogo a instalar-se com muito maior facilidade no último terço ofensivo português. Isto explica o domínio territorial conseguido nessa fase, e sobretudo a diferença em relação ao que sucedeu na primeira parte. O resto, só explica pela eficácia de Ronaldo.

- Sobre Ronaldo, terá sido o seu primeiro hat-trick ao serviço da Selecção, mas não foi seguramente a sua melhor exibição. A mais eficaz, talvez, mas de forma nenhuma, a melhor. Aliás, a constatação mais impressionante sobre este caso à parte do futebol português é que mesmo depois de um hat-trick em que resgata uma vitória em 15 minutos, é possível encontrar, só ao serviço da Selecção, um punhado de exibições que conseguem rivalizar com esta. Para mim, a mais extraordinária de todas terá sido contra a Holanda, no último europeu.


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