13.8.13

Benfica: revisão de pré época (aspectos colectivos)

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Fase defensiva (descrição) - A opção pela continuidade no Benfica determina, como era previsível, a manutenção das suas orientações tácticas. Assim, defensivamente, e em organização, a equipa terá na maior parte dos jogos a intenção de ser muito pressionante sobre a construção contrária. Embora a estrutura tenha por base o 4-4-2, quando a equipa tenta pressionar em zonas mais altas o papel dos médios torna-se assimétrico (4-1-3-2), com o objectivo de criar mais linhas defensivas e contornar o problema do espaço entre sectores. O ponto principal do comportamento da equipa perante este tipo de pressão é, no entanto, a forma como a equipa arrisca em termos posicionais, adiantando muito os extremos e um dos médios, para além, claro, dos dois avançados. Isto expõe, naturalmente, o espaço nas costas deste primeiro bloco de jogadores, exigindo dos elementos mais recuados uma grande capacidade de intervir nesse espaço. Assim, os defensores são frequentemente solicitados a sair da última linha para pressionar mais à frente, uma exigência que acumulam com a necessidade, igualmente óbvia, de manter uma boa coordenação da linha de fora de jogo. Em zonas mais recuadas, o bloco junta-se em 3 linhas, exibindo um 4-4-2 mais clássico, mas conservando a intenção de subir a última linha defensiva o máximo possível, através da coordenação constante entre os seus jogadores. É possível que em determinados jogos o comportamento da equipa não se assuma tão pressionante sobre a construção contrária, mantendo os extremos mais próximos dos laterais e protegendo mais o corredor central. Neste caso, geralmente, a equipa exibe uma estrutura diferente, possivelmente para 4-4-1-1 ou 4-1-4-1.
O momento de transição ataque-defesa é possivelmente um dos pontos fortes da equipa, com uma reacção muito forte à perda (desde que ela aconteça numa fase adiantada do processo ofensivo, claro) e com os jogadores a estarem bem preparados para responder a este momento (estrutura de recuperação, normalmente distribuida em 2 linhas 3+2).
Nas bolas paradas defensivas, o Benfica opta por uma distribuição zonal dos seus jogadores.

Fase defensiva (opinião) - Começando pelos dados objectivos da pré época, o ponto mais realçado tem sido a frequência com que a equipa foi batida, sofrendo golos em todos os jogos. Este dado, no entanto, carece de uma explicação relativamente à eficácia. Isto porque o Benfica sofreu golos em praticamente 50% das oportunidades que consentiu aos seus adversários, sendo este um valor bastante elevado e que muito dificilmente se manterá com o tempo. Ou seja, o número de oportunidades que o Benfica consentiu na pré época não é tão elevado como o número de golos sofridos sugere. Dito isto, também não podem ser contornados alguns problemas que a equipa efectivamente revelou. Particularmente, no jogo de maior exigência, frente ao Nápoles, a incapacidade da equipa em condicionar a construção do adversário foi clara, ficando a ideia de que este Benfica poderá não ter eficácia suficiente para tentar uma abordagem mais pressionante perante adversários de maior valia.
Por outro lado, 12 das 26 ocasiões consentidas pela equipa resultaram de situações de cruzamento, o que sugere uma grande vulnerabilidade para este tipo de situação. Em particular, parece-me mais problemático o controlo dos corredores laterais do que propriamente a resposta dentro da área.
Relativamente à transição, e tal como em anos anteriores, o desempenho tem muito que ver com a zona da perda da bola, sendo que uma boa gestão do risco em posse é decisivo neste aspecto. Se este for bem gerido (o que nem sempre acontece), a equipa mostra-se bastante eficaz na resposta à perda, mesmo que não tenha jogadores invulgarmente fortes na recuperação defensiva.
Referidos estes pontos, convém assinalar que face à exigência da sua própria proposta de jogo, a resposta da equipa me parece muito boa, com os jogadores a perceberem bastante bem o que é suposto fazer em cada situação (algo que sempre aconteceu com Jesus). O risco deriva, na minha opinião, muito mais da natureza do modelo do que da sua interpretação.
Outro ponto a realçar tem a ver com o factor psicológico. O Benfica teve um final de pré época com duas derrotas, e se me parece que muitos dos indicadores não são preocupantes para aquilo que a equipa terá pela frente, também penso que esse feedback negativo pode não ser benéfico para a confiança colectiva, algo que no passado se revelou decisivo para o desempenho da equipa. Para mais, o calendário competitivo arranca logo com um grau de exigência elevado.

Fase ofensiva (descrição) - Tal como acontece defensivamente, o Benfica distingue o papel dos seus médios de forma assimétrica, quando em posse da bola. Em organização, a tendência é para um dos médios (sempre o mesmo) baixar, definindo três apoios na primeira linha de construção, com os centrais a ficar mais abertos. A consequência desta disposição é que fica apenas um médio no corredor central, exigindo por isso que haja mais movimentos de aproximação a esse corredor por parte de outros jogadores, nomeadamente dos dois extremos e de pelo menos um dos avançados. A equipa é paciente na sua circulação ao longo da última linha, mas raramente deixa de tentar forçar a progressão assim que escolhe um corredor para o fazer. No último terço, a opção passa normalmente por tentar entrar na área através de combinações a partir dos corredores laterais, havendo menor propensão para cruzamentos mais largos ou remates exteriores. Relativamente à opção pela construção longa, e ainda que essa não seja a via preferencial, a equipa está normalmente bem preparada para essa opção, procurando uma referência forte para disputar a primeira bola.
O momento de transição caracteriza-se pela forma célere como a equipa se desdobra ofensivamente, tendo em regra pelo menos dois jogadores à frente da linha da bola e contando ainda com diversas unidades fortes no transporte de bola em velocidade.
Relativamente às bolas paradas, há diversas variantes preparadas para livres e pontapés de canto, onde as características dos jogadores, fortes no jogo aéreo, favorecem bastante a eficácia neste tipo de situação. Também nos lançamentos laterais a equipa tenta tirar partido imediato do jogo aéreo dentro da área contrária.

Fase ofensiva (opinião) - Tal como já escrevi, parece-me que a eficácia do processo ofensivo do Benfica está ainda longe de ser a ideal. A dinâmica colectiva exige um bom entendimento entre os jogadores, e parece-me que isso ainda não foi bem conseguido em relação às unidades mais novas da equipa, havendo alguma discrepância no rendimento da equipa em função da presença de algumas unidades. Paralelamente, há alguns pormenores que importa considerar, nomeadamente em relação ao papel de extremos e avançados na ligação do jogo ofensivo. Jesus tem procurado dividir o papel dos avançados entre um elemento mais fixo e profundo, e outro mais baixo e solicito para o apoio à construção, mas isso ainda não foi totalmente conseguido, quer pela falta de entrosamento, quer pela característica individual das soluções em causa. O mesmo relativamente aos extremos, com a necessidade, diria mesmo genética, do modelo de não ter dois extremos excessivamente colados à linha e de os envolver no processo ofensivo, pela falta de soluções de apoio no corredor central.
Referidos estes pontos, convém assinalar que o rendimento ofensivo da equipa em termos de oportunidades criadas foi globalmente bom na pré época, embora tenha sentido grandes dificuldades no último teste, frente ao Nápoles. Do mesmo modo, parece provável que equipa (ou pelo menos, o rendimento das unidades mais novas) venha a evoluir significativamente com o tempo, tal como aconteceu em épocas anteriores. O risco, porém, reside no preço que a equipa possa vir a pagar até que isso aconteça.

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