30.12.13

Sporting - Porto: Estatística e opinião

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Equilíbrio em posse, desequilíbrio em objectividade - O jogo foi, sob diversas perspectivas, equilibrado. Nomeadamente, no que respeita à presença em posse e domínio territorial, onde nenhuma das equipas foi capaz de se impor claramente no jogo. No entanto, foi claramente o Sporting quem conseguiu maior objectividade na sua abordagem ao jogo, havendo no que respeita à proximidade com o golo uma diferença significativa entre o que as duas equipas conseguiram, sendo que por esta perspectiva se aceitaria melhor a vitória leonina do que propriamente o empate. Em 90 minutos, porém, a eficiência na finalização é quase sempre um factor absolutamente determinante e, nesta ocasião, foi o Sporting quem saiu desfavorecido com essa fatalidade.

Sporting: melhor aplicação estratégica e... Carrillo - De facto, e pegando no ponto anterior, o Sporting conseguiu sobretudo ser mais determinante no último terço. Isto resulta, na minha perspectiva, de dois factores. O primeiro tem a ver com a boa interpretação da estratégia que a equipa trouxe para o jogo, nomeadamente no condicionamento da fase de construção do Porto, de onde o Sporting conseguiu recuperações importantes e que lhe ofereceram situações de elevado potencial ofensivo. Por outro lado, o maior número de ocasiões de golo da equipa surgiu na recta final do jogo, havendo muito peso da capacidade de desequilíbrio que Carrillo trouxe ao jogo. Seja como for, o Sporting voltou a provar a si próprio que as diferenças em relação aos seus mais directos adversários podem não ser tão grandes quanto inicialmente se pensava. A receita para 2014 está dada: dar continuidade ao que foi construído em 2013 em termos de modelo de jogo, acreditando sobretudo na optimização das ideias fundamentais e não se deixando iludir pelos sofismas que o futebol vai sugerindo (como sucedeu frente ao Nacional). Se o Sporting o fizer, mantendo a mesma intensidade que apresentou até aqui, então terá tudo para, no mínimo, lutar pelo título até ao fim.

Porto: um banho de realidade... mais um! - O Porto 13/14 tem-se envolvido numa verdadeira sucessão de fantasias. É fácil perceber que a equipa perdeu capacidade e parecem-me também relativamente evidentes quais são algumas das lacunas essenciais. No entanto, repetidamente são sugeridas soluções imediatas e que fazem elevar de novo as expectativas para patamares desmesurados. Convém não perder de vista aquela que me parece ser a realidade desta equipa: o Porto continua a ser uma boa equipa, perfeitamente capaz de se bater por novo título nacional, mas é incontornável que perdeu mais-valias importantes nos últimos 2 anos e que não as conseguiu substituir em termos de patamar qualitativo, o que lhe retira muito do potencial que já teve. É muito improvável que este problema seja resolvido com alterações simples, que tenham a ver com a descoberta de talentos escondidos no plantel, ou mesmo com alterações estruturais que muitos viram mas que nunca existiram. A solução, no curto prazo, passará por um aperfeiçoamento das dinâmicas colectivas e esta fé em torno de soluções milagrosas através da troca do jogador A pelo jogador B só tem impedido que essa evolução tenha lugar. Este jogo foi, nesse aspecto um bom exemplo. É verdade que o Porto jogou sem as suas duas unidades mais valiosas (Jackson e Lucho), mas também é um facto que foram 90 minutos de grande ineficácia na interpretação das ideias fundamentais do seu jogo. Se me perguntarem que Porto prefiro, o actual ou aquele que iniciou a temporada, eu optaria pela primeira versão. Ou seja, entre tantos avanços e recuos, não consigo ver nenhuma evolução qualitativa nesta equipa. Pelo contrário, há hoje mais confusão e unidades em pior momento de confiança.

Individualidades (Sporting)
Boeck - A modéstia da sua actuação é um elogio à equipa, porque realmente teve muito pouco para fazer.

Cedric - Mais um jogo em que foi dos melhores em campo. Bem a defender e com boa envolvência ofensiva, onde se destaca de novo a sua capacidade de cruzamento. Tem aumentado a sua consistência nos últimos tempos.

Jefferson - Teve algumas boas incursões pelo seu corredor e fez um jogo regular em termos defensivos, mas esteve longe de ser um jogo brilhante.

Dier - Começou com alguns problemas, primeiro com uma perda de bola displicente e depois com algumas dificuldades em controlar a profundidade no lance em que Alex Sandro isola Ghilas. Depois, estabilizou e fez uma exibição regular, evidenciando-se sobretudo nos duelos aéreos mas não rivalizando com Rojo em termos de capacidade de antecipação, o que também não é novo. Voltou a dar sinais de uma sede de protagonismo pouco ajustada ao seu perfil e à fase da sua carreira, primeiro arriscando um envolvimento ofensivo que não parece fazer parte das ideias colectivas (nenhum outro central o faz) e tentando, depois, marcar um golo do meio-campo.

Rojo - Teve uma hesitação que poderia ter tido outras consequências, perante Ghilas, mas à parte disso fez um bom jogo, onde se destaca a capacidade de intervenção no espaço à sua frente, o que ajudou a equipa a controlar o jogo entrelinhas.

William - Bom jogo, mas longe do acerto que já revelou. Foi estrategicamente condicionado por Carlos Eduardo, o que lhe retirou influência em posse. Depois, é possível que esteja a sentir-se pressionado para acrescentar mais à equipa em termos de capacidade de desequilíbrio e verticalização, o que a acontecer poderá retirar critério e segurança à sua presença em posse. Em sentido inverso, parece-me um jogador mais agressivo na sua acção defensiva, o que é positivo.

Adrien - A grande evolução de Adrien é no plano defensivo, onde realizou de novo um jogo fantástico. Curiosamente, parece-me mais competente na acção pressionante sobre as primeiras fases de construção dos adversários, do que no ajustamento posicional em zonas mais próximas da sua área. Seja como for, foi Adrien a grande fonte de intercepções sobre a primeira fase de construção portista, o que ofereceu à equipa algumas jogadas de grande potencial, entre as quais uma ocasião soberana finalizada por Wilson. Com bola, esteve regular, mas de novo sem impressionar.

André Martins - Um pouco à imagem de Adrien, e na sequência de outras exibições, parece-me mais merecedor destaque o seu trabalho defensivo do que propriamente aquilo que acrescentou à equipa com bola. Seja como for, foi um bom jogo, com boa envolvência nos mais variados planos e onde se destaca a missão pressionante, ora condicionando a entrada de bola no duplo-pivot (Fernando), ora pressionando directamente sobre os centrais.

Capel - Não conseguiu ser determinante no último terço, embora tenha estado próximo de marcar num cabeceamento, mas teve uma boa envolvência no jogo, mantendo uma boa intensidade e eficácia nas suas acções.

Wilson - Fez os 90 minutos, o que não é habitual, mas não foi capaz de manter a influência no último terço ao longo do jogo. De resto, as habituais dificuldades em ser uma solução para as primeiras fases ofensivas, não conseguindo grande envolvência ou eficácia em situações distantes da área contrária.

Slimani - Já cá está há meio ano e tem até sido uma figura em muitos momentos da época, mas ainda não tenho uma opinião muito formada sobre ele, sendo que este foi o jogo em que teve uma utilização mais "normal". Representa uma mais valia em relação a Montero para a construção longa, o que já se sabia, e tentou também ser uma solução recorrente para a construção, servindo de apoio frontal. O timing dos seus movimentos foi bom, mas percebe-se também que tem pouco a acrescentar em termos criativos sempre que a bola chega aos seus pés. Não foi uma má exibição, mas também não foi especialmente prometedora. Esperemos por mais...

Montero - Trouxe um perfil diferente ao ataque do Sporting, não sendo capaz de causar impacto no tempo em que jogou, apesar de uma boa ocasião para marcar.

Carrillo - Fantástico impacto no jogo, a relembrar-nos que se há jogador que pode ainda fazer crescer a equipa, esse jogador é Carrillo. É claro que 24 minutos não são suficientes para que se acredite que "agora é de vez", mas também me parece que ainda deve haver esperança para Carrillo.

Vitor - Em pouco tempo conseguiu chamar a si duas boas ocasiões para decidir o jogo. Não foi feliz na finalização, é certo, mas parece-me muito positivo que o tenha conseguido em tão pouco tempo de jogo.

Individualidades (Porto)
Fabiano - Foi a grande figura do jogo, indiscutivelmente, repetindo boas exibições quando é chamado. É evidentemente um sinal positivo quanto às suas capacidades, mas para um guarda-redes (mais do que para qualquer outro jogador) são precisos muitos jogos para que se possam retirar conclusões definitivas. Esteve menos eficaz no jogo de pés.

Danilo - Mais uma vez confirmou a ideia de que é um jogador muito dependente do que faz no último terço. Não tendo conseguido protagonismo nesse capítulo onde habitualmente é forte, acabou por acrescentar pouco em termos qualitativos. Em posse, pouca envolvência e alguns problemas de eficácia (um posicionamento muitas vezes redundante com Herrera, o que facilitou a pressão do Sporting sobre a 1ªfase de construção). Defensivamente, também muitos problemas, com destaque para a forma como se deixou antecipar por Capel.

Alex Sandro - Foi o protagonista da melhor jogada da equipa, onde praticamente todo o mérito lhe assiste. De resto, e mesmo com alguns erros, foi uma exibição regular.

Maicon - Sentiu alguns problemas com o condicionamento que o Sporting impôs com o seu pressing, o que explica a modéstia da sua contribuição para a posse da equipa. Defensivamente, esteve em melhor plano.

Mangala - À margem de Fabiano, terá sido o jogador da equipa em melhor plano. Já me referi aqui ao facto de ser um jogador algo sobrevalorizado, não tendo sempre uma capacidade de intervenção tão boa como aparenta. Desta vez, porém, foi mesmo um jogador dominador na sua área de intervenção.

Fernando - Em posse, foi dos jogadores mais esclarecidos num jogo onde o duplo-pivot foi muito condicionado no inicio de construção. Inclusivamente, notou-se a intenção de o fazer baixar para a linha dos centrais a partir dos 25', altura em que o Sporting quase marcou após uma intercepção nessa fase do jogo ofensivo portista. Defensivamente, teve algumas intercepções importantes, mas no geral foi um jogo pouco conseguido em termos de capacidade interventiva.

Herrera - É um jogador impulsivo, e perante uma equipa bem organizada como foi o Sporting isso deu dois lados à sua exibição. Por um lado, e como todos viram, foi a principal vitima do pressing do Sporting, com algumas perdas de bola muito comprometedoras. Por outro, foi o jogador mais interventivo e solícito da equipa, não se escondendo nunca do jogo. Precisa, claramente, de trabalhar o critério e de pensar mais a sua presença no jogo. Se o conseguir tornar-se-á num médio muito interessante.

Carlos Eduardo - Na pré-época havia mostrado grandes dificuldades em entrar no jogo, e depois de alguns jogos muito positivos voltou a revelar essa faceta. Essas dificuldades podem, aliás, ser uma explicação para as dificuldades que o Porto teve em encontrar linhas de passe dentro do bloco do Sporting, reforçando-se a ideia de que é um jogador que precisa de procurar espaços mais amplos para aparecer, sentindo mais dificuldades quando se lhe exige melhor qualidade de movimentos sem bola. As boas indicações que deixou nos últimos jogos não ficam ofuscadas por este jogo menos conseguido, apenas contextualizam melhor a realidade de um jogador que está ainda em fase de desenvolvimento. Defensivamente, teve a missão estratégica de condicionar a entrada de William no jogo, papel que cumpriu bem.

Varela - A um extremo exige-se sempre que seja capaz de desequilibrar. Neste jogo, porém, Varela teve um papel diferente, porque com o baixar permanente do duplo-pivot e a incapacidade de Carlos Eduardo, Ghilas e Licá serem soluções para o passe vertical, foi Varela a assumir mais vezes esse papel, o que explica uma envolvência maior do que aquilo que é hábito. Não foi intencional, mas antes algo que resultou das dificuldades da equipa no jogo, parecendo-me por isso que Varela é mais vitima do que réu nas dificuldades que sentiu no jogo.

Licá - Um jogo esforçado, mas modestíssimo em termos de capacidade de resposta, quer ao nível do envolvimento, quer ao nível do desempenho técnico. É questionável que seja titular, mas parece-me ainda mais incrível que dure 90 minutos num jogo com tantos problemas para se impor.

Ghilas - Não pode ser tão responsabilizado como Licá ou Carlos Eduardo, mas também ele contribuiu muito pouco para que a equipa encontrasse linhas de passe nas costas dos médios do Sporting. Aliás, nem na construção longa foi uma solução eficaz. Em termos de zona de finalização, conseguiu um bom movimento que lhe permitiu usufruir da primeira ocasião clara do jogo.

Lucho - Entrou e acrescentou imediatamente qualidade a todos os níveis. No entanto, tinha a curiosidade de o ver colocado mais sobre a zona entrelinhas, onde penso que poderia ter criado mais problemas à linha média do Sporting. Já escrevi várias vezes sobre a forma como o bi enviesa fortemente as análises ao rendimento dos jogadores, e tenho a curiosidade para ver o que o Porto vai fazer com o processo de renovação de uma das suas unidades de maior rendimento.

Defour - Provavelmente, a sua entrada não fazia parte do plano de jogo. Não acrescentou, mas também não retirou nada de relevante à equipa, pelo que a substituição serviu sobretudo para limitar a hipótese de substituir algumas unidades de pálido rendimento.

Jackson - Seria, obviamente, um disparate pedir-lhe que resolvesse em 15 minutos o que a equipa não resolveu em 75. Ainda assim, confesso que me surpreendeu a modéstia do seu impacto no jogo. É um jogador excepcional e exige-se muito mais...


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27.12.13

Porto e o "vírus Champions"

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Frente ao Olhanense o Porto realizou, provavelmente, a melhor exibição de qualquer equipa na Liga até ao momento. Pelo menos, se considerarmos as ocasiões claras de golo a favor e contra, certamente não poderemos chegar a outra conclusão. Como sempre, adeptos e comunicação social precipitaram-se a distinguir causas para este recente e ainda muito breve crescimento no futebol praticado pela equipa de Paulo Fonseca. Já tenho escrito aqui muito sobre a falibilidade e recorrência deste tipo de raciocionio, que teima em reduzir toda a complexidade do jogo a um ou dois factores explicativos (alguns deles nem sequer existem, como é o caso da suposta mudança estrutural da equipa), pelo que não me vou alongar muito sobre isso. De todo o modo, para além da influência de Carlos Eduardo, inegavelmente positiva mas obviamente muito longe de poder explicar tudo o que vemos ou deixamos de ver, parece-me interessante observar a diferença de rendimento do Porto nos jogos da Liga que antecederam ou sucederam os embates europeus, e nos outros, em que a meio da semana (anterior ou seguinte) não estava calendarizado qualquer compromisso da Liga dos Campeões. É que as diferenças são, a todos os níveis, muito significativas.

O "vírus europeu" é um fenómeno que todos observamos e que é muito frequente na generalidade das ligas europeias. Ou seja, o efeito negativo das competições europeias no rendimento interno. Obviamente, este não é um problema que se manifeste de forma homogénea, sendo o caso mais clássico o de uma equipa de aspirações habitualmente modestas que no ano seguinte a um brilharete interno é confrontada com a exigência das provas europeias, acabando por ver afectado o seu rendimento nas competições internas. O Paços desta temporada, por exemplo, é um caso clássico do "virus europeu". Aqui, mais do que explicar, é interessante constatar (porque, e mais uma vez, a complexidade do jogo torna difícil isolar correctamente factores explicativos).

Ora, constatando e não explicando, a hipótese é que o Porto, pela sua menos valia relativamente a anos anteriores, possa estar a ser afectada pelo "vírus europeu", mais concretamente pelo "vírus Champions", estendendo por contágio as suas dificuldades externas para o plano interno. Por agora, e olhando às exibições antes e depois do "ciclo-Champions", este parece ser um factor a ter em conta no desempenho da equipa. Neste plano, os próximos meses serão interessantes de observar.

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26.12.13

Sporting e a ilusão do "Plano B"

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No futebol, cada vez mais me convenço, é sobretudo um jogo de fé e de crenças. E, se no que respeita aos adeptos e comunicação social esta é uma constatação que não gera grande surpresa, o mesmo não poderei dizer relativamente a tantas e tantas decisões que se observam por parte das equipas técnicas. Em particular, e volto a destacar isto, a facilidade com que se sobrevalorizam efeitos de curto prazo, onde o factor aleatório tem um peso avassalador mas que é repetidamente desprezado. O resultado são uma série de conclusões onde se cede à tentação do pensamento indutivo e se abdica de um raciocínio mais lógico e critico sobre a real relação entre as causas e os efeitos.
Tudo isto a propósito do recente Sporting-Nacional e da precoce opção pelo denominado "Plano B", por parte do Sporting. É verdade que Leonardo Jardim conseguiu um excepcional aproveitamento sempre que recorreu a este este recurso nesta temporada, mas como fui aqui escrevendo isso não implica que se parta para a conclusão de que o Sporting terá sempre mais probabilidade de marcar quando opta por este recurso. Porque o tempo de análise é demasiado curto, claro, mas também porque a generalização dessa conclusão acaba por representar uma contradição com a própria ideia central do modelo de jogo do Sporting, e que tão bons resultados tem oferecido à equipa nesta temporada. Ou seja, se o "Plano B" aumenta realmente as possibilidades de marcar da equipa, independentemente do contexto em que é aplicado, então que lógica tem começar com o "Plano A"?
A minha critica, note-se, não tem a ver, nem com a entrada de Slimani, nem com a existência de um "Plano B", mas antes com a alteração da identidade colectiva num contexto que não era diferente daquele com que o jogo havia começado. Ou seja, parece-me lógico que se o Sporting entende que o seu modelo de jogo ("Plano A") é a melhor forma da equipa ser bem sucedida, então só deve abdicar deste com a alteração do contexto específico do jogo. Em particular, nas situações em que se pretenda um jogo mais directo e de apelo a uma referência forte no jogo aéreo, algo que salvo raras excepções só se aconselha nas fases terminais dos jogos. No caso, o Sporting partiu para a segunda parte sem que nada fosse alterado no contexto do jogo, mas preferindo ainda assim acreditar no que lhe fora sugerido pelo sucesso de anteriores experiências com o seu "Plano B", em detrimento da ideia que, de uma forma mais lógica e racional, havia definido como a melhor forma de ser bem sucedido em cada jogo.

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23.12.13

Reflexões a partir do jogo de Setúbal

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O sistema não é um fim em si mesmo
O jogo de Setúbal, parece-me, é um bom exemplo - mais um - do equívoco que é concentrar no sistema toda a discussão em torno dos eventuais problemas tácticos das equipas (o que tem acontecido, quer com o Benfica, quer com o Porto). No caso, o Benfica sentiu de facto muitos problemas na sua fase de construção na primeira parte do jogo, o que impediu a equipa sistematicamente de chegar a fases mais adiantadas do seu jogo. Que solução haveria para o problema? Pois bem, mantendo o paradigma de centralizar tudo no sistema, a única resposta seria retirar uma unidade mais adiantada para acrescentar presença à referida fase de construção. Na verdade, Jesus fez o contrário, retirou uma unidade mais recuada (Fejsa) e introduziu um extremo (Sulejmani). Mas esta não foi a mudança que verdadeiramente mudou o jogo na segunda parte. A solução esteve, como todos viram, na troca de Perez por Matic no papel de segundo médio. Ou seja, com a alteração das características dos jogadores, nomeadamente oferecendo mais presença e capacidade de transporte de bola à fase de construção, o Benfica resolveu o seu problema. Sem alterações estruturais e com a vantagem de manter a elevada presença na zona criativa.
Este caso é interessante porque realça o ponto que tenho tentado passar recentemente: os problemas das equipas nunca residem no sistema táctico, mas sim no desempenho que estas revelam nas diferentes fases do seu jogo. Assim, o sistema é, na melhor das hipóteses, uma possível solução para ajudar a resolver eventuais problemas que possam surgir. Mas não é, nunca, um fim em si mesmo.

Matic "6" vs Matic "8" e a importância de Perez
Entre a primeira e segunda partes do Benfica salta a vista o desempenho da equipa na fase de construção. Aqui, parece-me, importa reflectir sobre as características dos papeis dos médios da equipa. O "6", no modelo de Jesus, tem uma envolvência quase inevitável na fase de construção da equipa, baixando muito e assumindo o jogo de forma confortável muitas vezes mesmo na linha dos centrais e quase sempre de frente para a oposição. O "8", porém, tem outra exigência, necessitando de se movimentar muito mais para oferecer soluções de passe em linhas um pouco mais adiantadas. É aqui, na diferença entre estes dois papeis, que reside o grande problema de Matic quando passa de "6" para "8". Em particular, quando os adversários adiantam um pouco mais a presença pressionante da linha média, como aconteceu por exemplo em Setúbal ou em Guimarães, o médio sérvio  sente muitas dificuldades em manter a sua influência no jogo. E, para uma equipa que joga apenas com dois médios, é fundamental que isso não suceda com o seu "8". Já Enzo revela outra capacidade de envolvência e imunidade às variações na estratégia pressionante dos adversários, e daí o Benfica ter dado um salto qualitativo assim que o fez regressar a uma zona mais central. Uma evidência da importância do argentino na dinâmica do actual futebol do Benfica.

O valor de Rodrigo
Com tanta gente a sugerir a mudança para o 4-3-3, esta parece ser uma posição pouco valorizada em termos mediáticos. A minha opinião, porém, é que o papel de Rodrigo tem sido dos mais valiosos no jogo do Benfica, e parece-me muito questionável que se sugira que a equipa possa abdicar de uma unidade com as suas características e rendimento. Em particular, Rodrigo tem sido o "9-10" que Jesus tardou em encontrar no inicio de época, nomeadamente com o falhanço da aposta em Djuricic. A verdade é que não é fácil encontrar jogadores que possam preencher todos os requisitos desta posição, sendo necessário uma boa capacidade de movimentação para aparecer a jogar de costas em zona entrelinhas e, depois, sendo também importante que exista o instinto e qualidade para fazer a diferença em zonas de finalização. O exemplo que vem à memória no caso do Benfica é, claramente, Saviola, mas na ressaca do eclipse do argentino não tem sido fácil a Jesus encontrar novas soluções. Ora, Rodrigo tem interpretado este papel com grande qualidade, quer aparecendo muito bem entrelinhas, quer sendo uma unidade determinante em termos de presença nas zonas decisivas. Uma dupla influência que, na minha interpretação, acrescenta muito valor ao futebol do Benfica.

Mudança estrutural quando em vantagem
Para finalizar, uma pequena nota critica à intenção de Jesus em "congelar" os jogos assim chegue à vantagem no marcador. A ideia parece ser mudar de estrutura, nomeadamente retirando uma unidade mais ofensiva para garantir mais presença na linha média. "Congelar" o jogo parece ser uma redução do risco, mas não tem forçosamente se ser. Ou seja, se uma equipa tem dificuldades em controlar o jogo ofensivo do adversário, de facto, fará sentido em concentrar energias na correcção dessa vulnerabilidade mas se, pelo contrário, não for esse o caso, então a equipa estará sobretudo a desperdiçar a oportunidade de materializar a sua superioridade e aumentar a vantagem, o que dilata a exposição ao risco de um golo que no futebol, como sabemos, pode acontecer mesmo quando menos se espera. Em resumo, não discordo da ideia de ter uma alternativa para o melhor controlo defensivo do jogo, mas acho equivocado aplicar estratégias por defeito e sem ter em conta a especificidade de cada situação. E é por defeito que Jesus tem aplicado este plano de jogo.

Nos próximos dois dias farei uma pausa na actualização do blogue, planeando retomar antes do fim-de-semana com algumas notas sobre os jogos dos outros dois "grandes". 
Um Bom Natal a todos!

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19.12.13

5 jogadas (Sporting, Porto, Man City e Tottenham)

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Sporting - Belenenses - Só tenho boas coisas a dizer sobre estas duas equipas. Começo pelo Belenenses, para dizer que apesar dos 3 golos sofridos, esta é provavelmente a equipa da Liga cujo comportamento em organização defensiva mais aprecio neste momento. Pouca exposição da linha defensiva, bom ajuste posicional do duplo-pivot (nomeadamente nas coberturas feitas sobre os corredores laterais), boa noção da missão defensiva dos dois homens mais adiantados, boa percepção colectiva dos momentos/situações de pressão e boa intensidade defensiva de praticamente todos os jogadores. Com bola, é verdade que sentiu sempre muitas dificuldades, mas esta será seguramente uma equipa muito complicada de ultrapassar para qualquer adversário, caso mantenha a qualidade defensiva que tem apresentado.
Também o Sporting merece elogios, porque se o Belenenses foi extremamente competente defensivamente, o Sporting respondeu com uma qualidade igualmente elevada. Esbarrou quase sempre no bom ajuste posicional do seu adversário, é verdade, mas revelou sempre grande intensidade e acerto nas suas acções. A julgar pela resposta que deu, o Sporting estará mesmo na sua melhor fase da época.
Sobre a jogada que trouxe, foi praticamente o único lance de envolvimento colectivo em que o Sporting conseguiu superar a organização defensiva do Belenenses, na primeira parte (houve mais uma iniciativa individual de Carrillo e um lance que culmina no isolamento de Montero, mas que resulta de um ressalto de bola). Muito bom, novamente, o jogo pelos flancos do Sporting, com Capel e Cedric como protagonistas. Bom, também, o ajuste posicional do Belenenses, com o extremo (Fredy) mais interior, mas com o médio (Danielsson) a compensar nas suas costas, sendo que rapidamente a equipa coloca 3 jogadores na zona da bola. Aqui, porém, valeu o mérito dos dois jogadores do Sporting e algum descontrolo da profundidade, na acção individual de Danielsson.

Rio Ave - Porto - O lance do golo do empate do Rio Ave tem, em primeiro lugar, muito mérito por parte de Edimar. Não conhecendo pormenorizadamente o jogador, penso que tem feito o suficiente para que justifique pelo menos atenção de clubes de maior dimensão, em especial pela sua capacidade de cruzamento e também pelo poder que denota quando em transporte de bola. E é precisamente esta última virtude que está na origem do golo, conduzindo e aguentando a pressão dos jogadores do Porto.
De resto, a principal evidência no lance tem a ver com o posicionamento de Alex Sandro, que permanece demasiado aberto numa jogada que se inicia num lançamento lateral do seu lado, o que ajuda a acentuar o espaço entre o lateral e os centrais. É obviamente correcta esta critica, mas mesmo com um posicionamento interior, Alex Sandro não poderia ter evitado o desequilíbrio na jogada, já que a partir do momento em que a bola entra em Diego Lopes, estão criadas 2 soluções de passe de elevado potencial. Parece-me, portanto, que a montante do mau ajustante posicional do lateral esquerdo, há também alguma falta de agressividade na forma como a equipa portista lidou com a acção de Edimar, em especial Danilo.

Man City - Arsenal (I) - Foi provavelmente o grande jogo do fim-de-semana. São, obviamente, duas equipas de enorme qualidade, mas em qualquer dos casos penso que não estão completamente potenciadas, sobretudo no que respeita à organização defensiva.
Neste primeiro lance, temos uma situação em evidência durante a primeira parte do jogo, sendo a par do momento de transição, a circunstância de jogo que mais problemas causou ao Arsenal. É um movimento típico do City que, como já comentei aqui noutras ocasiões, aproveita muito bem a profundidade dos seus laterais. A grande fragilidade posicional do Arsenal reside, a meu ver, no comportamento da linha média, particularmente no posicionamento dos médios interiores. Neste caso, é visível o tempo que Touré permanece solto em zona central, com um dos médios interiores atraído para o corredor lateral e o outro encostado à linha defensiva. Também se percebe, não só neste lance, a constante indefinição do extremo (Wilshere) perante a presença de Zabaleta. Percebe-se que não há a intenção de fazer um acompanhamento individualizado, mas a verdade é que a indefinição é tanta que o jogador acaba por nem conseguir pressionar por dentro, nem auxiliar em nada no controlo sobre a acção de Zabaleta.

Man City - Arsenal (II) - Do outro lado do campo, também o City revela problemas de desempenho defensivo, a meu ver até mais do que o próprio Arsenal. É uma equipa que não tem uma grande vocação defensiva, nomeadamente nas suas 2 unidades mais adiantadas, o que acaba até por ser benéfico para o momento de transição, onde de facto esta equipa é muito forte. De todo o modo, tanto ao nível de controlo do espaço entrelinhas como da exposição na profundidade, o City apresenta notórias vulnerabilidades. No que respeita ao espaço entrelinhas, a acção de Fernandinho acabou por, neste jogo, atenuar bastante o problema. Mas ao nível do comportamento da linha defensiva, continua a verificar-se um comportamento que não me parece ser o ideal (embora, até certo ponto, esta seja uma questão que tem mais a ver com o ideal de jogo de cada um do que com outra coisa). O risco assumido pela linha defensiva é quase permanente e mesmo com o bloco mais baixo se identificam oportunidades para explorar a profundidade.
O caso desta jogada tem a ver com a resposta aos cruzamentos, em que a equipa o City mantém a linha defensiva praticamente na linha da bola, o que me parece oferecer grandes condições para que os avançados ataquem o espaço, tanto mais que é muito complicado para os defesas manter "sangue frio" no posicionamento antes do cruzamento, o que desde logo compromete a eficácia da equipa no objectivo de colocar os avançados em fora de jogo. O Arsenal só aos 94' marcou um golo por esta via, mas já antes havia ameaçado da mesma forma.
Outra situação em que foi notória a vulnerabilidade da linha defensiva do City é na resposta a um passe lateral interior, a partir de um dos flancos. Aqui, importa também sublinhar a preparação do Arsenal para aproveitar ofensivamente este tipo de situação, com o médio que recebe a procurar imediatamente a diagonal do extremo nas costas dos centrais, algo para que Walcott está muito vocacionado. Desta vez, o Arsenal não conseguiu eficácia neste movimento, mas certamente que veremos golos por esta via noutras ocasiões. Tanto marcados pelo Arsenal, como sofridos pelo City.

Tottenham - Liverpool - O fim da carreira de Villas-Boas em White Hart Lane não era necessariamente um fado anunciado, mas como fui escrevendo desde o inicio da época - e os jogos que vi nem foram muitos - eram identificáveis muitos problemas de resposta defensiva, isto mesmo na fase em que esta equipa era a melhor defesa do campeonato. Desta vez, frente ao Liverpool, o problema esteve também na confiança e numa série de factores que, combinados, ditaram novo descalabro. É claro que o mau desempenho de qualquer equipa nunca pode ser reduzido a um só factor - é a consequência da complexidade do jogo - mas parece-me que a resposta defensiva terá tido um peso importante neste caso. Nunca saberemos que capacidade teria Villas-Boas para inverter a situação, mas o Tottenham acaba por até nem ficar numa posição muito má se considerarmos a Liga dos Campeões como objectivo principal da equipa. O problema terão sido mesmo as duas goleadas num curto espaço de tempo.
Quanto ao lance que trouxe, o sublinhado vai, de novo, para a forma como a equipa do Tottenham rapidamente fica completamente exposta na sua linha defensiva. Os jogadores do sector mais recuado são sucessivamente atraídos para fora das respectivas zonas, acabando por ter de abordar a parte final do lance em posições completamente distintas daquelas que idealmente deveriam ocupar. Aqui, nota mais uma vez para a relação intersectorial, com os médios a mostrarem pouca sensibilidade para a exposição criada nas suas costas. Um problema que não é um exclusivo do Tottenham e que praticamente todas as semanas identifico nos lances que aqui tenho trazido. Finalmente, o mérito de Suarez, que é simultaneamente o criador e finalizador da jogada. É sublime a simulação que antecede a finalização, mas eu destaco também a forma como ele antecipa o ressalto, partindo de uma posição muito atrasada mas superando uma linha média do Tottenham que fica estática na abordagem à segunda bola. Sobre Suarez, atingiu um patamar em que falar dele não é mais do que uma banalidade, tal o nível em que se situa o seu rendimento. Há uns anos analisei-o quando estava no Ajax e se na altura o destaquei como um jogador de elevadíssimo potencial, capaz de jogar em qualquer equipa, confesso que até essas óptimas expectativas foram já superadas.

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18.12.13

Fernando e a discriminação racial

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Não é propriamente o tipo de temática em que pretendo centrar o blogue, mas parece-me que é uma questão importante e que tem sido muito mal tratada em termos mediáticos, por isso faço aqui um parêntesis para tratar, não tanto do caso de Fernando em especifico, mas da questão do acesso de jogadores naturalizados à Selecção.

Para tentar simplificar o meu ponto, começo com uma pergunta: Concorda com a distinção/exclusão entre cidadãos de nacionalidade portuguesa por critérios arbitrários centrados na etnicidade de cada um?

Não tenho dúvidas, felizmente, que muito poucas pessoas responderiam afirmativamente a esta questão genérica. Até porque, olhando à definição das Nações Unidas, isso significaria que se concordaria com a "discriminação racial" entre cidadãos de nacionalidade portuguesa. Paradoxalmente, porém, muita gente afirma concordar com a exclusão de "jogadores naturalizados" da Selecção Nacional, sendo que realmente esta questão não é mais do que uma aplicação concreta da pergunta que primeiramente coloquei. Temos cidadãos da mesma nacionalidade e a sugestão da aplicação arbitrária de um critério de exclusão, centrado apenas e só na etnicidade dos candidatos. "Discriminação racial", de acordo com a definição das Nações Unidas.

Naturalmente, a generalidade das pessoas que defende a exclusão de jogadores naturalizados não o faz com a total consciência desta implicação discriminatória, resultando essa posição de uma reflexão menos aprofundada sobre o verdadeiro alcance da questão (eu próprio nem sempre tive a mesma percepção sobre o tema). Parece-me normal que isso possa acontecer no público em geral, mas já não posso dizer o mesmo das pessoas que têm influência sobre a opinião pública e que continuam de forma irresponsável a defender que a Selecção Nacional - provavelmente o maior símbolo mediático do país na actualidade - se preste a tão reles acto.

Posto isto, convém aqui separar duas situações: 1) a discriminação positiva de jogadores de futebol no acesso à nacionalidade portuguesa e 2) a discriminação negativa de jogadores portugueses no acesso à Selecção Nacional. O primeiro caso tem a ver com a aceleração e tratamento especial do processo de naturalização de cidadãos estrangeiros de forma a que possam representar a Selecção. Pessoalmente, sou contra, mas não se pode confundir a rejeição de uma discriminação positiva com a discriminação negativa do segundo caso. O acesso à nacionalidade portuguesa deve obedecer a regras claras e que devem ser iguais para todos. No limite, podemos discutir essas regras, mas nunca e em nenhuma circunstância, devemos permitir que qualquer entidade possa acrescentar de forma arbitrária critérios de exclusão relacionados com raça, origem genética ou etnicidade. Sendo coerente, aliás, a FIFA deveria mesmo excluir das suas competições as Federações que se prestassem a semelhantes práticas, sob pena dos anúncios e mensagens que se repetem a repudiar o racismo não passarem de actos de mera hipocrisia.

Dito tudo isto, convém referir que apesar de todo o ruído em torno desta questão, a Federação tem mantido até ver uma postura 100% correcta sobre o tema, não se intrometendo no processo de naturalização do jogador (algo que, no passado, aconteceu com outros jogadores) e declarando que qualquer jogador pode ser convocado, a partir do momento que lhe seja concedida a nacionalidade portuguesa. Acrescento eu que não apenas "pode" como "deve" de ser convocado, assim se considere que tenha condições técnicas, disciplinares e, claro, seja essa a sua vontade.

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17.12.13

Com ou sem Artur? Pior não fica...

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A lesão de Artur abre a hipótese de uma mudança na baliza do Benfica. Apesar do estatuto concedido ao guarda-redes brasileiro, a verdade é que a valorização das suas exibições parece ser tudo menos consensual entre os adeptos. Para quem tem acompanhado as análises que venho partilhando, só é de estranhar que não haja maior foco na questão da eficácia do guarda-redes, no que ao Benfica diz respeito.

O tema não é novo, e na verdade já na análise de pré-época havia comentado sobre a péssima eficácia dos guarda-redes do Benfica nos jogos de preparação. Nesse momento, porém, o tempo ainda era demasiado escasso para estarmos a salvo do efeito aleatório de uma má fase, uma hipótese que entretanto o tempo se encarregou de afastar. Ao fim de quase metade da prova, e olhando ao desempenho de todos os guarda-redes da liga em ocasiões claras de golo, o Benfica é a equipa que menos contributo percentual teve do seu guarda-redes. Curiosamente, o Benfica é precisamente a equipa que menos ocasiões de golo consentiu até agora, algo que não é praticamente percepcionado, sobretudo por este problema de (in)eficácia.

Riscada a possibilidade de um acaso de curto-prazo, restam apenas duas hipóteses para o problema: 1) o problema está relacionado com a forma de defender do Benfica. 2) Artur. Pessoalmente, inclino-me muito mais para a segunda hipótese, uma vez que me parece pouco provável que a forma de defender de uma equipa possa condicionar de forma tão marcante o desempenho do seu guarda-redes. Ainda assim, não é uma hipótese que consiga excluir completamente nesta altura.

Uma coisa é certa: seja, com ou sem Artur, o Benfica tem muito pouco a perder no que respeita à utilidade do seu guarda-redes.

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16.12.13

Sobre Carlos Eduardo

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É o nome do momento no Porto, com a sua aparição na equipa a atrair atenções, tanto pelo entusiasmo em redor das suas primeiras exibições, como pela discussão em torno das implicações tácticas que supostamente trouxe para o meio-campo portista. Aqui ficam as minhas notas sobre estes dois pontos:

Implicações tácticas: dinâmicas diferentes, mesmo sistema
Tem-se generalizado um erro de análise algo flagrante e que apesar de corrigido pelo próprio Paulo Fonseca, teima em permanecer nas discussões sobre o tema. É que, de facto, o Porto nunca alterou o seu sistema com a entrada de Carlos Eduardo. Nem na segunda parte frente ao Braga, nem na recente vitória em Vila do Conde. Em organização defensiva isso é mais evidente, porque o Porto mantém uma linha de quatro elementos, muito clara, por trás de Jackson e de Carlos Eduardo. Em organização ofensiva é possível que haja alguma confusão, mas também aqui não se justifica concluir seja o que for sobre eventuais alterações estruturais.

O que existe, de facto, é uma alteração na especificidade que é oferecida pelas características naturais dos jogadores. Algo que, por exemplo, já se havia observado quando Quintero foi opção no lugar de médio mais ofensivo, pelo que pessoalmente ainda estranho mais o reavivar desta confusão, nesta altura. Voltando dinâmica e às diferenças entre jogar com Lucho ou Carlos Eduardo como médio mais ofensivo, elas resultam sobretudo da especificidade de Lucho e da sua invulgar capacidade para se movimentar sem bola, procurando sistematicamente soluções de passe no espaço entrelinhas. Esta é uma característica rara nos médios ofensivos, que são geralmente jogadores muito dotados tecnicamente e que por isso anseiam o contacto rápido com esta em vez de trabalhar pacientemente o aparecimento num espaço vazio e de costas para a baliza, como sucede com Lucho. Assim, a tendência é que estes jogadores procurarem espaços mais amplos para aparecer, seja nos corredores laterais ou mesmo através de um envolvimento mais precoce no jogo, baixando até linhas mais recuadas.

A consequência disto é que, sem Lucho, o Porto terá sempre menos jogo entrelinhas e necessitará de procurar outras dinâmicas alternativas, em especial o envolvimento do médio ofensivo nos corredores laterais. Já o movimento de recuo deste elemento não se apresenta como solução muito lógica dentro da natureza táctica do Porto, uma vez que com dois médios defensivos, o aparecimento de mais um jogador na fase de construção irá gerar redundância nessa fase do jogo, retirando paralelamente soluções de passe verticais.

Ou seja, para o Porto a alteração da característica abre-lhe uma oportunidade de corrigir uma das suas principais lacunas, que é a falta de qualidade no envolvimento colectivo nos corredores laterais, mas retirar-lhe-á também aquele que tem sido provavelmente o seu ponto mais forte em termos ofensivos, o jogo entrelinhas. Um pau de dois bicos, portanto

Bons sinais, mas sem precipitações
Tenho alguma dificuldade em assumir uma opinião sólida sobre o jogador, porque de facto o conheço ainda pouco. Na pré-época fiquei mal impressionado, sobretudo pela dificuldade em aparecer no jogo, em ocasiões em que claramente apareceu mais fixo entrelinhas. Nestas últimas exibições, porém, apareceu com outra mobilidade e conseguiu de facto bons jogos, onde se nota a maior propensão para o transporte de bola e sobretudo a sua qualidade de definição com o pé direito. Ainda assim, parece-me que possa estar a surgir mais um caso de entusiasmo prematuro em torno de um jogador ainda com pouco tempo de jogo. Recordo as expectativas criadas em torno dos primeiros minutos de Licá, Herrera e mesmo Quintero, sendo que nenhum destes conseguiu depois sequer agarram um lugar no onze base de Paulo Fonseca. Não estou com isto a projectar idêntico fado para o destino de Carlos Eduardo - até porque me parece que o seu timing de entrada na equipa é bem melhor - mas parece-me prudente dar tempo ao tempo.

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12.12.13

A eliminação do Porto

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Parece-me interessante o paralelismo entre a eliminação do Porto e do Benfica, sobre a qual escrevi ontem. São dois casos que encontram várias semelhanças, tanto na forma como a incerteza se prolongou até ao último jogo, como na importância decisiva dos confrontos directos com a segunda equipa qualificada, num caso o Zenit e no outro o Olympiakos.
As semelhanças, porém, não devem em meu entender estender-se à avaliação qualitativa do que as equipas fizeram nos respectivos trajectos ao longo desta prova. Porque se no caso do Benfica, e pelo escrevi ontem, a eliminação não significa que a equipa tenha tido, globalmente, uma má prestação - muito pelo contrário, se nos distanciamos de uma perspectiva mais resultadista - no caso do Porto, o balanço não pode, de todo, ser o mesmo. O Porto fez apenas 5 pontos, ficando aquém das suas possibilidades em praticamente todos os patamares de avaliação. É verdade que a qualificação, e tal como aconteceu com o Benfica, ficou à distância de um outro pormenor, mas tal só se deve ao facto do Zenit ter tido uma prestação extremamente medíocre, sendo seguramente a equipa que menos justifica uma presença na fase seguinte, entre os 16 apurados.

Falando ainda de Paulo Fonseca, a sua posição fica obviamente fragilizada, sobretudo perante os adeptos. Para além das dificuldades que tem tido em manter a equipa no mesmo patamar qualitativo de épocas recentes - dificuldades que, como já escrevi, não me parecem ter na liderança técnica a principal responsabilidade - Paulo Fonseca confronta-se ainda com o problema da herança e da memória ainda muito presente do que conseguiram Mourinho e Villas Boas, o que eleva sempre a fasquia dos adeptos para um grau de exigência que vai muito para além do sucesso nas provas internas. Assim, aos olhos dos adeptos, Paulo Fonseca tenderá sempre a ser o grande responsável por tudo aquilo que a equipa não conseguiu. Uma carga negativa de que dificilmente se libertará, mesmo que venha a revalidar o título de campeão.

Em relação ao futuro próximo, e tal como escrevi para o Benfica, também me parece que o Porto poderá entrar num ciclo de maior estabilidade exibicional, especialmente após o jogo com o Rio Ave. A meu ver, e mesmo se é claro que poderia e deveria ter feito mais na Champions, o Porto 13/14 não tem potencial suficiente para aspirar a grandes voos europeus (Champions, bem entendido), sendo porém uma equipa perfeitamente à altura das exigências do 'consumo interno'. Veremos se a exclusividade doméstica dos meses que se seguem devolve à equipa o conforto e a confiança que muito claramente perdeu nos últimos tempos.

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11.12.13

Benfica - PSG: Opinião e Estatística

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A Champions e o desgaste do treinador - A moda é bater no Benfica, um pouco por tudo e mais alguma coisa. No Benfica, que é como quem diz no seu treinador, porque é nele que se centram a generalidade das atenções nesta altura. Pessoalmente, não adiro minimamente a esta tendência. Por exemplo, não em parece de todo que o Benfica tenha tido uma má prestação na Champions 13/14. A equipa foi melhor no campo do que 2 dos 3 adversários do grupo, o que normalmente dever-lhe-ia garantir a qualificação. Porque é que não a conseguiu? Essencialmente, porque o futebol é um desporto interessante. Ou seja, não é sempre o melhor que ganha e, sobretudo em provas curtas como é o caso da Champions, pequenos pormenores podem fazer toda a diferença nas classificações finais. É claro que o Benfica não fez só bons jogos neste trajecto, mas as suas exibições foram mais do que suficientes para que se justificasse a qualificação, e não me parece que sejam alguns detalhes menos controláveis a mudar radicalmente a avaliação global do que a equipa fez.
Sobre Jorge Jesus, não creio que possa recuperar mais a sua relação com os adeptos, mesmo que venha a ter sucesso no final da época. Não porque não tenha competência - tem de sobra para treinar o Benfica, ou qualquer clube português - mas simplesmente porque a cultura do futebol português não é compatível com ciclos tão longos na orientação técnica. Há um desgaste notório, e a emotividade dos adeptos (não de todos, mas seguramente da maioria) leva a uma embirração constante com a figura do treinador. Ou é o discurso, ou são as opções técnicas, ou é o sistema... qualquer coisa serve para fazer do treinador um bode expiatório permanente, e as criticas mais justas - que as há - já quase não se distinguem das outras. O tempo levou consigo grande parte desta memória colectiva, mas sobre a relação entre Benfica e Jorge Jesus é bom que fique claro que só conhecemos o 'antes' e o 'durante'. Um dia, que me parece não muito distante, saberemos qual será o 'depois'.
Num outro ponto, e antes de passar ao comentário ao jogo propriamente dito, quero referir que me parece provável que o Benfica possa entrar agora numa fase de crescimento, e sobretudo maior regularidade, na performance interna. Pelo menos, a equipa sempre me pareceu muito condicionada pelos jogos da Champions. Veremos se se confirma, ou não, esta minha leitura...

Bom jogo e nova versão táctica - O Benfica fez, de facto, um jogo muito bom contra o PSG, justificando provavelmente um resultado mais confortável. É claro que há aqui uma relativização importante a fazer, não tanto a meu ver pelas ausências do lado parisiense, mas mais pela atitude da equipa de Laurent Blanc, que não me pareceu a melhor. Do ponto de vista táctico, Jesus voltou a fazer de Perez a sua unidade fundamental para conseguir maior presença em posse, mas não recorreu exactamente à mesma fórmula de outros jogos. Desta vez, Perez não partiu do corredor direito, como aconteceu por exemplo em Bruxelas ou em Vila do Conde, mas jogou sempre no corredor central, relegando Markovic para um dos flancos. Assim, com bola, Perez baixou para a linha média intervindo constantemente na fase construção, e sem bola manteve-se perto de Lima, conservando o 4-4-2 em organização defensiva (algo que foi alterado apenas nos últimos minutos). Jesus tem variado bastante nas opções a este respeito, parecendo procurar ainda a melhor forma de acrescentar uma unidade às fases mais recuadas do jogo, sem que para isso tenha de perder a presença pressionante que tanto caracteriza a fase defensiva do seu modelo de jogo.

Individualidades (Benfica)
Artur - Teve algumas intervenções importantes, mas no golo parece-me que não terá tido a melhor abordagem. Não tanto a sua saída inicial da baliza, mas sobretudo a forma como nesse momento se lançou despropositadamente para o chão, perdendo depois capacidade para reagir a tempo e retomar o seu posto na baliza.

Maxi - Um jogo com boa envolvência ofensiva, algo que não tem sido assim tão frequente nos últimos tempos. Em particular destaque, claro, a jogada que dá origem ao segundo golo.

Sílvio - A meu ver, bastante melhor do que Maxi em termos globais, ainda que ofensivamente não tenha tido o mesmo fulgor. Bastante competente na pressão, muitas vezes impedindo que o PSG se soltasse do pressing colectivo do Benfica. Acabou por ter também uma participação importante na definição do resultado, já que foi sobre ele que foi cometida a grande penalidade.

Luisão - Não foi um jogo muito fácil para os centrais, porque o PSG saiu quase sempre curto proporcionando poucos duelos aéreos, onde Luisão e Garay costumam tirar vantagem. Por outro lado, o facto do Benfica ter sido atraído para pressionar em zonas altas proporcionava situações de grande exigência para os centrais, sempre que o PSG saía dessa primeira zona pressionante. Luisão esteve bem, com algumas intervenções vistosas e decisivas. Podia ter marcado na sequência de um livre de Gaitan.

Garay - As mesmas condições de Luisão, com intervenções menos vistosas, mas com maior volume de trabalho.

Fejsa - Mais um grande jogo a este nível. Em particular, é um jogador que confirma uma notável capacidade de trabalho, sendo muito eficaz sempre que "encosta" num adversário. Foi o jogador com mais intervenções defensivas e mais passes completados, conseguindo ainda um excelente passe para Ivan Cavaleiro, já na recta final da partida. Tem muita capacidade e tudo para ser um grande médio defensivo do Benfica nos próximos anos, sendo para isso especialmente importante que saiba gerir o critério das suas intervenções, quer com bola, quer em termos posicionais.

Matic - Defensivamente, jogou muitas vezes na mesma linha do que Fejsa, mas assumiu outras responsabilidades com bola. Matic tem capacidade para jogar em praticamente todas as posições do meio-campo, mas é óbvio que em acções criativas deixa de conseguir o mesmo grau de excelência, que está ao seu alcance como médio mais defensivo. Como nota negativa, nova perda de risco, o que nele vem sendo recorrente.

Gaitan - Normalmente é a criar oportunidades de golo que se destaca, mas neste jogo foi sobretudo como finalizador que apareceu. Aproveitou bem para marcar um golo e tornar-se, merecidamente, no principal destaque individual no jogo.

Markovic - Tem ainda muito tempo, mas não se pode dizer que esteja propriamente a dar sinais de evolução. Em particular, parece demasiado preocupado em protagonizar jogadas 'maradonianas' cada vez que se lhe oferece um pouco de espaço, e isso retira tanto critério como propósito às suas intervenções. No lance em que se lesiona tinha tudo para finalizar a jogada e era isso que deveria ter feito.

Enzo Perez - Apareceu a defender praticamente ao lado de Lima, num jogo de grande desgaste em termos de pressão alta, pela qualidade de circulação baixa do PSG. Ainda assim, conseguiu oferecer-se como unidade muito útil em termos de intervenção defensiva, aproximando-se da linha média sempre que necessário. Com bola foi dos mais interventivos, assumindo o papel de jogador mais influente na fase criativa da equipa. Esteve no segundo golo e ainda na origem de mais duas ocasiões, uma finalizada por Lima e a outra por Matic. Em suma, um grande jogo!

Lima - O penálti que marcou faz entrar o seu nome na ficha dos marcadores, mas pessoalmente isso diz-me pouco. Conseguiu um envolvimento razoável, mas não se demonstrou muito inspirado nas suas acções, acabando por desperdiçar a oportunidade para fazer uma exibição marcante num jogo importante e que lhe permitia essa possibilidade.

Ivan - Não foi deslumbrante, mas foi uma boa entrada, sobretudo pela capacidade de trabalho que apresentou. Teve ainda uma oportunidade para marcar, que no entanto não conseguiu aproveitar.

Sulejmani - Entrou numa fase difícil em que o Benfica recuou muito no terreno e teve pouco jogo. Essa é a atenuante para mais de 15 minutos de pouquíssimas intervenções.

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10.12.13

Jesus, Paulo Fonseca e os sistemas tácticos

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Nos dias que correm parece não haver maneira de abordar o futebol de Benfica ou Porto sem se ouvir falar da questão do sistema. Que o Benfica devia jogar em 4-3-3, e que o Porto devia assumir uma estrutura de apenas 1 pivot. Em ambos os casos, o sistema é dado como um factor decisivo de inibição/potenciação do rendimento colectivo, sendo que aparentemente os treinadores são precisamente as únicas pessoas que parecem não perceber aquilo que é óbvio para centenas de milhares de adeptos.
Ora, vamos assumir então que tudo isto é verdade. Que uma mudança do sistema mudaria tudo na performance qualitativa das duas equipas e que isso é evidente para uma imensidão de pessoas, mas não para os treinadores das respectivas equipas. Dando como boa a ideia e sendo consequente com ela, há uma série de conclusões que inevitavelmente lhe têm de seguir. A saber: 1) Ambos os treinadores, Jesus e Paulo Fonseca, devem ser imediatamente demitidos porque estão a ser o entrave para uma melhoria significativa e imediata das respectivas equipas. 2) O treino é muito pouco relevante para a qualidade do desempenho táctico, porque se uma equipa que anda a desenvolver há meses/anos um modelo de jogo melhoraria tanto e de forma tão repentina (praticamente sem treinar) pela simples mudança de sistema, então só se pode concluir que o treino serve de muito pouco quando comparado com a importância do sistema. 3) Dos dois pontos anteriores decorre, trivialmente, que o perfil táctico do treinador também deve ser seriamente repensado, sendo muito mais importante que o treinador seja capaz de ter a "sabedoria das massas", nomeadamente a capacidade de mudar rapidamente para o sistema certo, tal como é sugerido por todos, do que propriamente ser capaz de desenvolver um modelo de jogo de características específicas através da sistematização e do treino.

Em filosofia e em matemática há um método de prova conhecido como "Reducio ad absurdum", que em latim significa 'redução ao absurdo'. Ora, não estou aqui a tratar de filosofia ou matemática, nem tão pouco tenho a pretensão de provar seja o que for a alguém, mas o seguimento deste raciocínio encerra em conclusões que, pelo menos para mim, são bastante absurdas. E aqui convém separar situações, porque se não estranho que a emoção sugira este tipo de raciocínios simplistas e falaciosos nos adeptos, já me é mais difícil de entender como é que o mesmo equívoco se instala de forma tão generalizada em quem tem como principal ocupação tentar entender o futebol de uma forma lúcida e imparcial.

Concluindo com a minha visão sobre este tema dos sistemas, dizer que os dois casos, de Benfica e Porto, são diferentes. No caso do Benfica, existe uma lacuna que é oferecida não tanto pelo sistema, mas pela sua dinâmica e que tem a ver com o número reduzido de soluções de passe no corredor central, que decorre do recuar permanente de um médio para a linha dos centrais. Isto pode ser corrigido com a inversão dessa dinâmica, ou pela introdução de mais unidades no corredor central, o que não implica forçosamente a mudança de sistema. Por exemplo, em alguns jogos recentes Enzo tem partido da direita mas aparecido recorrentemente sobre o corredor central em vez de permanecer aberto. O problema é assim atenuado sem mudança de sistema, mas com uma dinâmica que abre também outro tipo de lacunas, nomeadamente a perda de largura.
No caso do Porto, o problema tem a ver com a ausência de dinâmicas que consigam criar desequilíbrios sobre os corredores laterais, havendo nesta altura uma dependência excessiva em torno daquilo que a equipa consegue construir através do corredor central. Ora, neste caso o foco no sistema ainda é mais equivocado, porque se no caso do Benfica podemos identificar realmente uma perda de presença numérica no corredor central, por via da tal dinâmica de recuo de um dos médios, no Porto a equipa não deixa de ter profundidade nos corredores laterais por mera falta de presença numérica. Seja qual for a ordem do triângulo de meio campo, o problema só poderá ser colmatado pela dinâmica que for introduzida, nomeadamente na capacidade de envolvimento dos médios sobre os corredores laterais, algo que pode ser conseguido tanto dentro de uma estrutura de um pivot como de dois.
Em qualquer dos casos, porém, é claro que as equipas podem melhorar pela correcção destas lacunas no seu jogo, mas é - ou deveria ser - ainda mais claro que o potencial de ambos os conjuntos é muito mais limitado do que aquilo que os seus adeptos querem crer.

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9.12.13

Gil Vicente - Sporting: Opinião e Estatística

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Oportunidade é no presente - Antes de entrar no jogo propriamente dito, aproveito para comentar sobre a oportunidade que esta equipa do Sporting está, por mérito próprio, a criar para si própria. No futebol, e repito esta ideia, quem ganha faz festas, e quem perde faz... "projectos". Talvez seja a força do hábito de um passado recente com bem mais "projectos" do que festas, mas no Sporting parece que se passou a dar mais importância ao "projecto" do que à festa (que é com quem diz, vencer). Sei bem que nem sempre tudo o que se diz espelha verdadeiramente o que se pensa ou sente (não vou falar outra vez da 'candidatura ao título'), mas mesmo assim não resisto a recentralizar aquele que é o verdadeiro contexto desta oportunidade. É que a vantagem pontual que o Sporting até agora construiu permite-lhe colocar-se numa posição pouco comum nos últimos 30 anos da sua História e perspectivar de forma realista a possibilidade de finalmente deixar de falar em "projectos". Mas esta oportunidade não vai para além desta época e deste campeonato, sendo que se o Sporting não a capitalizar, terá de voltar a construir tudo de novo e a partir estaca zero. Porque é daí - do zero - que todos campeonatos começam, ao contrário do que parecem sugerir os "projectos" sempre a prometer vantagens douradas para o futuro. Resumindo, o futebol está cansado de nos provar que nele o destino se faz do presente e do curto-prazo e que nenhum "projecto", por mais bem intencionado que seja, alguma vez resistirá à ausência de vitórias. É por isso que para o Sporting esta oportunidade e este campeonato são neste momento aquilo que verdadeiramente interessa.

Cruzamentos e especificidade - Relativamente ao jogo, e não querendo entrar em demasiados detalhes sobre o mesmo, há que dizer que foi uma boa vitória do Sporting, tendo realizado um jogo muito mais conseguido do que havia feito na sua última deslocação, em Guimarães. Especial destaque, e novamente, para a capacidade da equipa potenciar sucessivas situações de cruzamento, tanto após variações de flanco como na sequência de combinações ao longo dos corredores laterais. Leonardo Jardim está a fazer no Sporting o mesmo que havia feito em Braga, ou seja, mostrar que mais importante do que variar muito as soluções ofensivas, o importante é conseguir fazer-se as coisas com qualidade. E para a qualidade nada como ir de encontro à especificidade dos intérpretes ao seu dispor. Algo que comentei no primeiro 'post' sobre esta equipa, na pré época.
Nota também para o Gil Vicente, que sentiu muitas dificuldades para controlar o Sporting. Ainda assim, posicionalmente, não desgostei da equipa de João de Deus, embora me pareça que existiram alguns factores que estrategicamente não favoreceram muito as aspirações da equipa. Em particular, o Sporting tirou partido do posicionamento interior dos laterais para solicitar em permanência a abertura dos seus extremos, e também me parece que o Gil não teve grande sucesso no inicio de construção, tanto ofensivamente como defensivamente. Fazendo justiça a esta equipa, é preciso também referir que a expulsão de Pecks surgiu num momento em que a equipa parecia ser finalmente capaz de criar mais dificuldades ao Sporting, nomeadamente pela introdução de maior presença entrelinhas, zona onde o Sporting tem sentido repetidas dificuldades ao longo desta temporada.

Notas individuais (Sporting)
Rui Patrício - Exibição praticamente imaculada. Sem muito para fazer, é certo, mas com uma defesa potencialmente decisiva num momento chave. É para isto que servem os grandes guarda-redes.

Cedric - Um desempenho de contrastes. Em termos de presença em posse e mesmo defensivamente foi provavelmente o jogador menos inspirado da equipa. Destaque para 2 perdas de bola de algum risco e para o mau posicionamento na melhor ocasião do Gil. Por outro lado, porém, esteve em 3 ocasiões da equipa, sendo inclusivamente o protagonista do cruzamento que antecede o golo.

Jefferson - Desta vez foi ele a estar mais interventivo, relativamente a Cedric. Aliás, foi mesmo o jogador com mais passes completados da equipa, tendo igualmente conseguido uma eficácia assinalável nos duelos defensivos ao longo do seu corredor. Ofensivamente, e mesmo sem a exuberância de outros jogos, foi protagonista do primeiro susto junto da baliza de Adriano (canto) e iniciou a jogada do segundo golo. Tudo somado, fez um grande jogo.

Maurício - Mais um bom jogo. Sem riscos desnecessários e com uma eficácia importante na sua zona de intervenção e em todos os momentos de jogo. Um registo que nele encontra especial mérito pela regularidade com que é repetido. Apenas sentiu mais dificuldades na parte final, com a entrada de Simy. Faltou o capítulo ofensivo para um jogo em cheio.

Rojo - É mais volátil do que Maurício e isso nota-se mesmo num jogo em que há poucos reparos a fazer. No capítulo ofensivo, porém, Rojo foi desta vez o principal protagonista entre os centrais da equipa, com duas bolas ganhas na área do Gil, uma delas quase redundando em golo.

William - Novo jogo bem conseguido, embora não tenha atingido o brilhantismo de outras ocasiões. Boa presença na sua zona, quer com bola quer sem ela. Teve uma boa abertura para Montero, numa altura em que o jogo já aconselhava mais verticalização e, como ponto negativo, parece-me ter responsabilidades na última ocasião do Gil, concedendo demasiado espaço interior.

Adrien - Defensivamente foi, simplesmente, tremendo! Impressionante a sua capacidade de intervenção, em especial na primeira parte, atingindo um nível de contribuição defensiva invulgar seja para que médio for, e em boa parte responsável pela conservação do jogo no meio campo ofensivo do Gil. Com bola, por outro lado, voltou a ser apenas uma presença regular.

André Martins - Talvez tenha sido o jogo onde os seus movimentos encontraram melhor enquadramento, começando inclusivamente por aparecer bem entrelinhas e ajudar a equipa a ligar o jogo lateralmente e por dentro do bloco gilista. Depois, combinou sempre bem quer com os movimentos do extremo, quer com o próprio Montero, o que lhe valeu um invulgar protagonismo na zona de finalização. O problema é que o resultado de tudo isto é, na prática, algo escasso. Ou seja, a sua definição no último terço não foi suficientemente contundente para acrescentar muito à equipa em termos de proximidade real com o golo. E esse não é também um problema novo.

Wilson - Esteve bastante em jogo, mas não tão inspirado no último terço, comparativamente com o que lhe é costume. Para além de alguns cruzamentos menos conseguidos, desperdiçou ainda uma ocasião soberana que podia ter ajudado a resolver o jogo mais cedo. Sobre esse lance, dizer que me parece decisivo que a bola lhe tenha caído para o pé esquerdo porque, e como já aqui escrevi, creio ter um nível de desempenho racicalmente diferente do pé direito para o esquerdo. Foi novidade como referência para as reposições longas de Patrício, tendo conseguido um bom desempenho nesse aspecto.

Capel - Tal como Wilson, teve muito jogo, mas nem sempre com a melhor inspiração no desempenho técnico no último terço. Em termos de capacidade de aproximar a equipa do golo, acabou por salvar a face na jogada do segundo golo.

Montero - Para quem joga na sua posição, a relação com o golo é quase tudo, seja marcando, criando ou assistindo. Nesse sentido, os dois golos que marcou são suficientes para fazer dele a principal figura do jogo. Para além desses dois momentos, teve outras apariações, quer em movimentos interiores quer, mais tarde, aproveitando alguma exposição da linha defensiva do Gil Vicente. Foi num desses movimentos que proporcionou uma boa finalização a Carrillo.

Carrillo - O jogo estava bom para ele e teve uma ou outra iniciativa com algum potencial, em particular uma finalização em boa posição mas que saiu à figura. Mas acabou por não aproveitar em pleno a oportunidade que o jogo lhe oferecia, em parte também devido a algum conformismo da equipa na parte final.

Salomão - Um pouco o mesmo do que Carrillo, só que com menos tempo e muito menos protagonismo.

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6.12.13

5 Jogadas (Tottenham e Barcelona)

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Tottenham - Villas Boas arrancou mal para uma série complicada de jogos, e ficou bastante pressionado após a derrota frente ao Man City. A reacção no jogo seguinte, frente ao outro Manchester mas em casa seria, senão decisiva, pelo menos muito importante. A verdade é que o Tottenham respondeu bem, num jogo que, no entanto, foi muito diferente daquele que terminou na traumatizante goleada. E, evidentemente, não me refiro apenas ao resultado mas sobretudo à forma como o jogo foi conduzido, já que foi o United quem se assumiu mais em posse, permitindo que o Tottenham realizasse assumisse uma postura diferente daquilo que lhe é hábito, implicando nomeadamente uma maior necessidade de focalização nos momentos defensivos do jogo. Como escrevi aqui há 1 semana, a goleada no Etihad Stadium teve como origem, e para além do mérito individual do City, uma abordagem defensiva repleta de erros, com especial enfoque nas dificuldades de ajuste posicional. Desta vez, e perante a imposição em posse do United, o Tottenham beneficiou do facto de poder definir um posicionamento mais fixo e por isso menos exigente em termos de ajustamentos, acabando mesmo por ser a equipa que esteve mais próximo de vencer, complementando o bom controlo defensivo com algumas chegadas que aproveitavam a maior exposição territorial do United, com Soldado e Paulinho em destaque. O 2-2, de resto, parece-me um resultado excessivo para o número de ocasiões que as equipas construiram, especialmente o United. Enfim, Villas Boas conseguiu para já contornar o momento de maior aperto, até porque venceu também a meio da semana, mas esta época do Tottenham continua a poder parecer cair para qualquer lado.

Barcelona - Outro tema da semana foi a crise do Barça, particularmente com a derrota em Bilbao, sucedendo a uma outra em Amesterdão. No vídeo, incluo 4 jogadas do jogo de San Mamés, que me parecem resumir bem a opinião que mantenho sobre este Barça. Ou seja, que esta equipa não passa, de facto, pelo seu melhor momento, mas que continua a ser uma potência incontornável do futebol europeu, mantendo a meu ver o melhor conjunto de jogadores do planeta, não apenas pela qualidade mas também pela coerência das suas características. E, mesmo no tão criticado jogo de Bilbao, o Barça continuou a produzir jogadas de enorme qualidade e com um envolvimento colectivo que está ao alcance de muito poucos conjuntos do futebol mundial. Perdeu? É verdade que sim, mas o resultado esteve longe de ser uma inevitabilidade, como sugere a excessiva dramatização em torno do momento actual da equipa.
Então qual é o problema deste Barça? Há várias diferenças para os anos anteriores, nomeadamente para a era-Guardiola, embora o estilo e grande parte da identidade se mantenha, porque essa está enraizada na cultura dos jogadores e seria praticamente impossível fazê-la desaparecer, fosse qual fosse o treinador. Há diferenças nos momentos defensivos, na forma como a equipa pressiona e até nas bolas paradas. Mas, sem dúvida, o ponto de maior realce tem a ver com a perda de uma intencionalidade colectiva mais claramente identificada, quando em posse da bola. Ou seja, hoje o Barça continua a ser uma equipa que priveligia a posse e progressão em apoio, mas que responde aos problemas de forma mais intuitiva e espontânea e não com a lucidez colectiva que a caracterizou noutros anos. Isso vê-se, por exemplo, na forma como a equipa sai de zonas de pressão mais altas (algo que o Bilbao estrategicamente potenciou neste jogo), na perda momentânea de linhas de passe que permitam à equipa conservar a segurança na circulação, e na ausência de algumas dinâmicas no último terço, que no tempo de Guardiola eram minuciosamente trabalhadas. Paralelamente a estes pontos, parece-me que o Barça se prepara de forma algo débil para a resposta a cruzamentos, como evidencia de resto uma das jogadas no vídeo.
Finalmente, falar de uma outra diferença incontornável: Messi. Porque uma coisa é ter Messi e outra é não o ter, e isso seria uma debilidade importante para qualquer equipa, fosse ela treinada por Tata Martino, Guardiola ou qualquer outro treinador.

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5.12.13

Quaresma: 3 pontos sobre o regresso

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É a primeira novidade para Janeiro, e também o primeiro sinal da mais do que esperada incursão invernal portista a esse mercado. Aqui fica a minha opinião, divida em 3 pontos:

Um jogador especial
O meu prognóstico sobre esta segunda vida de Quaresma no Porto não é propriamente optimista, por motivos que explicarei no ponto seguinte. Ainda assim, começo por dizer que Quaresma é um caso especial e um jogador que ficará sempre na memória de quem o viu como um dos mais espectaculares executantes do futebol mundial. Se o futebol tivesse uma nota artística seguramente que Quaresma não estaria agora na situação em que se encontra. O problema é que no futebol, e por muito que por vezes se faça essa confusão, a arte não é um fim em si mesmo.

O problema da idade
Para quem lê o que escrevo, pode parecer estranho que aborde a idade como um factor negativo. De facto, várias vezes me referi ao que considero ser um preconceito perante jogadores acima dos 30 anos, frequentemente desvalorizados precipitada e erradamente apenas e só pela data que vem no seu bilhete de identidade. Mas, e como em quase tudo, cada caso é um caso...
Resumidamente, o problema que vejo em Quaresma não passa pela resistência (nem para Quaresma, nem para nenhum jogador, porque se não é um problema para um maratonista, custa-me perceber como é que para um futebolista a idade se torna tão rapidamente num problema de resistência, como é repetidamente sugerido nas análises que vejo feitas), ou por outros factores clássicos como a recorrência de lesões. Passa, isso sim, por me parecer um jogador que evoluiu pouco com o tempo, ganhando quase nada em termos de maturidade na tomada de decisão e mantendo-se excessivamente dependente de iniciativas individuais, que paralelamente se tornaram menos eficientes, em parte por não ter a mesma agilidade de outros tempos (este sim, um atributo que se perde rapidamente com a idade e que afecta vários jogadores). Foi essa a ideia com que fiquei dos últimos jogos que vi de Quaresma - e já foram há mais de 2 anos, entre Selecção e Besiktas - e é a partir dessa imagem que, infelizmente, se me levantam muitas dúvidas sobre a capacidade de Quaresma conseguir ser, neste regresso, sequer uma sombra do jogador que deixou o Dragão em 2008.

Mais um sinal de incapacidade da gestão?
Podemos escolher agrupar este regresso de Quaresma em duas categorias diferentes. Uma, comparando-a com casos como Rui Barros, Baía, Domingos, Sérgio Conceição ou mais recentemente Lucho. Ou seja, jogadores emblemáticos do clube que regressam, em parte, para ajudar a equipa, mas também muito pelo estatuto que haviam adquirido na sua anterior passagem. Outra hipótese, é integrá-lo no tipo de aquisições recentes de Liedson ou Izmailov. Ou seja, a procura de uma resposta desportiva imediata num jogador que se conhece sobretudo pelo que fez no passado, mas sobre o qual há muito poucas garantias sobre o que possa valer no presente ou futuro.
Onde definitivamente não podemos incluir a aquisição de Quaresma é no vastíssimo leque de casos que fizeram história no Dragão, e onde desde logo surge a contratação do próprio Quaresma em 2004, mas também outros nomes como Lisandro, James, Hulk, Falcao ou Jackson, só para elencar os mais recentes. Ou seja, jogadores que podem oferecer assistências, golos, vitórias e troféus durante muitos e bons anos. Um tipo de aposta que não é trivial, porque quase todos estes jogadores não eram propriamente valores seguros quando chegaram ao clube, mas que repetidamente foi conseguida com extraordinário acerto, sendo na minha leitura esse o grande alicerce do sucesso continuado que o Porto vem conseguindo ao longo de tantos e tantos anos. Ora, se esse tipo de aposta tem aparentemente perdido preponderância na gestão portista, não é certamente com Quaresma que ela será reavivada.

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4.12.13

Ocasiões de golo criadas: Jefferson chega ao topo

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Estou certo que poucos arriscariam, no inicio da época, semelhante grau de protagonismo, mas o facto é que após o jogo com o Paços, Jefferson chega mesmo ao topo da tabela dos jogadores que mais ocasiões claras de golo criaram. Embora com menos minutos jogados, Jefferson igualou o ex-companheiro de equipa, Evandro, também ele um dos grandes destaques desta liga, sendo inclusivamente o jogador que mais assistências para golo conseguiu até ao momento.

Ainda dentro desta classificação, e para além de Jefferson e Evandro, mais alguns casos justificam destaque:
- Danilo e, especialmente, Nelson Pedroso, por se tratarem de defesas laterais.

- Quintero e Avto, que conseguem este nível de protagonismo com um número reduzido de minutos, sendo que se tratam de dois jovens jogadores. No caso de Quintero, porém, há que recordar que já liderou esta tabela, acabando por perder protagonismo nas últimas jornadas, em parte pela lesão contraída.

- Destaque também para os jogadores que conseguem maior impacto em situações de bola corrida: Lucho, Gaitan, Jackson, Wilson e Fredy. Em particular, assinalar a presença de Jackson, o único ponta-de-lança nesta tabela, o que diz bem do alcance qualitativo do jogador, mas também de Wilson e Fredy, que não têm o estatuto ou reconhecimento mediático de Lucho ou Gaitan, mas que vêm conseguindo também um rendimento objectivamente muito elevado no que respeita à capacidade de construção de jogadas de elevado potencial.

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3.12.13

Paulo Fonseca e o exemplo de Vítor Pereira

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Há cerca de 2 anos, o Porto saía de Coimbra debaixo de grande contestação por parte dos adeptos, com os jogadores a serem esperados junto ao autocarro e o treinador, Vítor Pereira, a ser acompanhado pelo Presidente. A situação era quase gémea da actual, com o Porto a ver uma vantagem pontual anulada no campeonato, com a Liga dos Campeões praticamente comprometida e com a saída da Taça de Portugal após um terrível 3-0 em Coimbra.

Ora, talvez seja interessante, hoje, rever o que fez Vítor Pereira num contexto tão semelhante ao que tem hoje Paulo Fonseca (curiosamente, o jogo seguinte para o campeonato também era uma recepção ao Braga, embora pelo meio o Porto tivesse uma deslocação para fazer a Donetsk). Há dois pontos que saltam imediatamente à vista:

- Estabilização de um onze, apostando nomeadamente em Maicon na direita, Djalma como extremo e Hulk como referência central do ataque.
- Alteração do triângulo de meio-campo, colocando Defour mais entrelinhas e fixando um duplo-pivot, composto por Fernando e Moutinho.

Foi após estas alterações que o Porto venceu em Donetsk e frente ao Braga, não evitando depois a despromoção para a Liga Europa, mas conseguindo pelo menos aliviar a pressão que na altura existia sobre o seu treinador, ganhando tempo para mudar depois muita coisa no mercado de Inverno.

Que lição podemos então retirar? Analisando retrospectivamente, a verdade é que nenhuma das mudanças se afigura como brilhante. Maicon não vingou à direita, Djalma não vingou como extremo, Hulk regressaria mais tarde à ala e a opção de inverter o triângulo do meio-campo também acabaria mais tarde por ser revertida pelo próprio Vítor Pereira.

Esta é uma situação interessante, do meu ponto de vista, porque espelha como tantas coisas são sobrestimadas no futebol, especialmente no que toca ao curto prazo. O mais importante, tanto para Vítor Pereira em Novembro de 2011 como para Paulo Fonseca em Dezembro de 2013, é ganhar e recuperar a confiança dos jogadores. Talvez para tal seja favorável dar um sinal interno de mudança, o que tem a ver muito mais com o aspecto motivacional do que propriamente com a qualidade de opções técnicas ou tácticas.

Esta crise hipotecará certamente as hipóteses de que Paulo Fonseca caia alguma vez nas graças dos adeptos. Tal como Vítor Pereira, se o Porto voltar a ganhar, para a maioria será sempre mais uma vitória da estrutura. Uma vitória 'apesar' do treinador. E, já agora, um tremendo equívoco, na minha opinião.

O caso de Vitor Pereira em 2011, mesmo com todas as suas semelhanças, nada nos diz sobre o destino imediato do Porto de Paulo Fonseca, e seria um disparate concluir o contrário. Tudo pode acontecer. De todo o modo, é um exemplo de como o acerto das opções tácticas ou técnicas poderão contar muito pouco para a forma como esta história acabará. Uma ideia que contrasta radicalmente com o fatalismo que nos é vendido pelas análises de segunda-feira, mas que me parece ser a que mais se aproxima sobre a verdade deste jogo.

Porque no futebol só no longo-prazo se distingue verdadeiramente a competência da sorte.

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2.12.13

Rio Ave - Benfica: A volatilidade da eficácia

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A importância da eficácia - O aproveitamento das oportunidades de golo parece-me, cada vez mais, ter um peso desmesurado futebol. Não apenas na sua importância para os resultados, que é óbvia, mas também na influência que tem sobre a opinião que depois é formulada. No caso, o Benfica sai de Vila do Conde com um bom resultado e uma exibição a sugerir controlo e segurança do seu jogo. A pergunta, porém, é que sensação teríamos tido se não fosse o aproveitamento de dois golos em duas ocasiões, em 70' de jogo? Provavelmente, seria algo muito diferente. Uma boa ou má fase em termos de eficácia pode fazer variar quase tudo na época de uma equipa, de um treinador ou de um jogador. O problema é que a eficácia é também o factor mais aleatório, e por isso menos controlável, que existe no futebol.

Variações tácticas - O Benfica entrou decididamente num período errático em termos tácticos. Ora é o 4-4-2, ora é a versão hibrida com Enzo a deixar de ser extremo com bola, ora é o 4-3-3 quer a defender quer a atacar, como vimos na segunda parte. Deixo dois comentários a partir deste jogo: 1) não entendi o porquê de mudar da 1ª para a 2ª parte, quando a equipa havia controlado o jogo e tinha, em particular, retirado um bom proveito do papel mais móvel de Rodrigo. 2) o 4-3-3 tem claramente muito caminho para percorrer em termos de dinâmicas. Em particular pelo papel dos médios, que fazem poucos movimentos sem bola em zonas mais profundas. Assim, se o Benfica fixar os extremos, fica sem jogo entrelinhas, como se viu na segunda parte deste jogo. Se pelo contrário os aproximar do corredor central, fica com pouca capacidade de aproveitamento dos corredores laterais, como se viu em Bruxelas.

Fejsa, Lima e Rodrigo - Sobre o primeiro, Fejsa, apenas para comentar alguma perda de segurança em posse, o que é um aspecto a continuar a acompanhar porque é muito importante para quem joga na sua posição. De todo o modo, continuo a apreciar a sua presença em termos posicionais e capacidade de trabalho.
Lima foi o herói do jogo, confirmando aquilo que fui escrevendo sobre ele aqui no período em que não acertava com a baliza. Pegando no primeiro ponto deste comentário, aqui está um exemplo de como a eficácia pode, de repente, colocar tudo em causa em relação ao valor de um jogador. O que no caso de Lima não só é precipitado (porque a eficácia, repito, não é conclusiva no curto prazo), como é injusto porque mesmo não marcando vinha sendo um jogador importante em termos de assistências (outro dado a meu ver subestimado na análise dos avançados).
Rodrigo fez também um grande jogo. Não apenas pela participação directa nos golos, mas também pelo tipo de movimentos que ofereceu, em especial antes de Jesus o encostar às alas. Foi, a meu ver, o jogador mais influente e desestabilizador nessa primeira parte. Não creio que seja tão valioso quanto Lima em termos de capacidade desequilibradora, mas é um jogador que justifica certamente mais tempo do que aquele que teve até aqui, nomeadamente neste papel de avançado mais móvel, onde apesar de tudo me continua a parecer a melhor solução no plantel. E, depois, é também outro caso onde a eficácia vai e vem, sem que existam grandes explicações para tal...

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29.11.13

Análise jogadas (Golos do Anderlecht e Sporting)

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1º golo Anderlecht - Voltando ao Anderlecht-Benfica, e em particular aos golos dos belgas, parece-me que ambos resultam de um mau posicionamento circunstancial da zona defensiva do Benfica. Neste primeiro caso, o golo resulta de uma insistência após a bola ter saído da área. A primeira preocupação dos defensores é sair para a linha de área, não havendo por isso a possibilidade de ajustar imediatamente as distâncias laterais entre os jogadores, e é precisamente por aí que o desequilíbrio acontece. Sendo previsível que a bola ia ser recolocada na área e não havendo uma distância ideal entre Luisão e André Almeida, a decisão de Matic em abandonar aquela zona é, no mínimo, imprudente. E acaba por ser por aí que Benfica é exposto.

2º golo Anderlecht - No caso do 2º golo, começo por dizer, o movimento do Anderlecht é muito bem conseguido, sendo justo destacar em primeiro lugar o mérito dos belgas nesta jogada. De todo o modo, a defesa do Benfica não fica isenta de responsabilidades, nomeadamente no que respeita ao ajuste posicional que é feito quando a bola entra no lateral direito do Anderlecht. Como é visível, apenas Sulejmani se aproxima do portador da bola, saindo em contenção, mas sem que qualquer dos outros jogadores o acompanhasse no sentido de fazer a cobertura. O instinto, tanto de André Almeida como de Matic é aproximar de uma zona central já suficientemente povoada por defensores do Benfica. Matic percebe o erro e reage, mas não a tempo de controlar o movimento interior do lateral belga. Note-se que já no jogo com o PSG, o primeiro golo surge de uma movimentação semelhante, em que também não há uma reacção suficientemente rápida dos médios e onde o lateral (Siqueira nesse caso) fica atraído pelo extremo e não faz a cobertura. Tal como nesse lance de Paris, aliás, há a tentação de responsabilizar o extremo (agora Sulejmani, na altura Gaitan), que me parece incorrecta. Uma última nota para a forma como Luisão está a travar o duelo individual com Mitrovic no centro (é mais evidente numa repetição que não está no vídeo), ficando atrás da linha defensiva e retirando qualquer dúvida em relação a um possível fora-de-jogo no momento do passe.

Sporting e o espaço entrelinhas - Recupero algumas jogadas do jogo de Guimarães, onde é notório, por um lado, a exposição do Vitória em termos de espaço entrelinhas, com o adiantamento dos dois médios e atracção do pivot para zonas laterais, e por outro o instinto colectivo do Sporting que praticamente ignora a possibilidade de explorar esse espaço, mesmo quando ele se torna tão evidente como acontece nestas jogadas. Trata-se sobretudo de uma questão de identidade, sendo trivial que qualquer equipa perde quando não é capaz de explorar um determinado movimento ou espaço do campo, mas não subscrevendo eu a teoria de que os cruzamentos são um recurso menor no futebol comparativamente com o corredor central, como é um pouco moda hoje em dia defender. Essa é uma teoria que, a meu ver, ignora vários pontos de vista relevantes, desde logo a segurança que existe em atacar pelos corredores laterais em termos de reacção à perda, e o potencial que representa o cruzamento enquanto arma ofensiva (basta que alguém se dê ao trabalho de analisar a % de golos que resulta de cruzamentos). Desde logo o caso do Sporting é um exemplo do potencial que pode representar atacar pelos corredores laterais, sendo a equipa com melhor ataque do campeonato e tendo alicerçado essa diferença no facto de ser, comparativamente com os outros dois "grandes", aquela que mais golos conseguiu através de cruzamentos. Isto, é claro, não invalida que a "cegueira" relativamente ao espaço entrelinhas seja uma lacuna a corrigir.

 Dormund - Bayern - Era minha intenção incluir algumas jogadas deste jogo, assim como do Man City - Tottenham, mas isso não me foi possível. Ainda assim, deixo algumas notas sobre estes dois jogos. No grande jogo da Bundesliga, o resultado parece-me algo enganador, porque as dificuldades do Bayern foram assinaláveis na primeira parte, onde inclusivamente foi o Dortmund quem melhor tirou partido da estratégia que levou para o jogo. De todo o modo, o interesse do jogo a meu ver, está na equipa de Guardiola. Estrategicamente, foi algo estranha a forma como abordou o jogo, parecendo abdicar da progressão em apoio relativamente ao que é hábito e procurando forçar muito as aberturas longas, procurando as costas da linha defensiva amarela, ou a presença invariavelmente aberta de Mandzukic (movimento que já comentei aqui). Depois, foi também curioso observar as sucessivas alterações promovidas por Guardiola ao longo do jogo, sendo que a equipa pareceu ir ganhando com isso. Primeiro, o papel de Javi Martinez, que começou por se posicionar muito próximo dos avançados, passando depois para primeiro pivot e até para central. Finalmente, o tema de jogar, ou não, com um 9 clássico. Naturalmente que o ideal é poder explorar as duas soluções em função das circunstâncias, até pela diferença no tipo de problemas que pode levantar a quem defende, mas parece também evidente que a tendência passará por afirmar um modelo que utilize um jogador mais móvel nessa função ("falso 9"), já que tem sido assim que a equipa se tem encontrado melhor (nos jogos que vi, ressalvo).

Man City - Tottenham - Já aqui tinha destacado alguns problemas defensivos do Tottenham, e pelos jogos que fui vendo (não foram muitos) o facto de ser a melhor defesa do campeonato não encaixava com essas indicações. Mesmo assim, porém, estava longe de projectar a performance da equipa frente ao City. É claro que há muito mérito da qualidade individual da equipa de Pellegrini, mas também tem de ser dito que o que se passou não foi um acaso, com o Tottenham a cometer erros sucessivos e a ser constantemente exposto no seu último reduto. E isto, tanto em organização (com enfoque no mau ajuste posicional de várias unidades) como em transição (aqui, sobretudo realce para a exposição posicional, com o adiantamento dos laterais e pouco controlo sobre a referência para o primeiro passe vertical do City). Enfim, muito trabalho para Villas Boas.

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28.11.13

Anderlecht - Benfica: Opinião e estatística

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Desta vez, melhor o resultado - Não que tenha sido uma má exibição, mas não foi seguramente uma vitória construída ao lado de uma imagem de controlo e superioridade sobre o adversário. Sem entrar muito nos pormenores, parece-me que o Benfica foi penalizado pelo desaproveitamento de 3 pontos essenciais no seu jogo: 1) a facilidade com que sofreu o primeiro golo, bastando ao Anderlecht chegar praticamente 1 vez à área do Benfica para que se pusesse em vantagem; 2) a dificuldade que a equipa teve, no momento de organização ofensiva, em traduzir a sua posse de bola em proximidade real com o golo, destacando-se o pouco uso dos corredores laterais; 3) a má gestão do jogo em situação de vantagem, numa fase em que o Anderlecht arriscava muito e em que para além de ser rigoroso defensivamente era essencial ser também contundente no aproveitamento dos espaços que eram oferecidos pela exposição do adversário, coisa que o Benfica teve muita dificuldade em conseguir.

O sistema, 4-4-2 ou 4-3-3? Um bocado dos dois!- Confesso que ainda não percebi bem porque é que as pessoas querem tanto o 4-3-3. Isto é, se é pelo que a equipa faz com bola, ou se é pelo que a equipa faz sem ela? Assim, não fiquei a perceber se Jesus fez, ou não, o que dele tanto pedem, porque desta vez o treinador apresentou uma versão que incluiu, durante a esmagadora maioria do tempo, uma parte do 4-4-2, e outra do 4-3-3. Ou seja, sem bola o Benfica apresentou uma estrutura idêntica à habitual, 4-4-2, com Enzo e Markovic a trocarem de posição da primeira para a segunda parte. Com bola, porém, o Benfica recuperou a mesma ideia apresentada frente a Olympiakos e Sporting, mantendo Markovic próximo do avançado, e incluindo Enzo Perez no corredor central, à frente de Fejsa e ao lado de Matic. A meu ver, parece-me que faz algum sentido esta opção defensiva, mantendo uma estrutura em que a equipa se apresenta muito mais rotinada. Em particular, é complicado para o Benfica manter a intenção de pressionar alto - uma ideia fundamental do modelo de Jesus - com apenas 1 jogador na primeira linha de pressão.

Individualidades (Benfica)
Artur - Algumas boas intervenções, é certo, nomeadamente uma defesa vistosa na primeira parte e uma boa saída a um cruzamento, na segunda. No entanto, foram também dois golos concedidos sem que o adversário tivesse de criar muito para o conseguir, e sobretudo um erro comprometedor numa saída a um pontapé-de-canto, e que só por felicidade não resultou em golo.

Maxi - Fez um jogo regular - apesar de se deixar levar com facilidade pelas movimentações do extremo do seu lado - com boa capacidade de intervenção defensiva, mas também sem capacidade de envolvimento no último terço ofensivo, algo que seria importante ter conseguido porque a equipa jogou praticamente sempre sem extremo no seu corredor.

André Almeida - Exibição de utilidade semelhante à de Maxi, embora sejam jogadores de perfil bem diferente.

Luisão - Defensivamente, esteve bem melhor na segunda do que na primeira parte, onde havia sentido algumas dificuldades para definir o seu timing de intervenção. No aspecto defensivo, aliás, não foi dos seus melhores jogos muito devido a esse problema. No entanto, conseguiu ser também um protagonista em termos ofensivos, ganhando alguns duelos na área adversária, um deles culminando numa boa ocasião para marcar.

Garay - Comparativamente com Luisão, esteve muito mais capaz do ponto de vista defensivo, realizando um jogo muito bom em termos de capacidade de intervenção e domínio da sua zona de acção. Com bola, cometeu 1 erro potencialmente comprometedor e não teve também a mesma capacidade de envolvimento ofensivo do seu parceiro de sector.

Fejsa - Regressou para deixar a mesma imagem, ou seja, que o Benfica tem nele, e ao que tudo indica, um valor muito seguro. Voltei a gostar da sua percepção posicional - nomeadamente na relação com a última linha - também da sua capacidade de intervenção defensiva e ainda do critério em posse, que me parece bem mais ajustado à posição do que, por exemplo, o de Matic. Ainda assim, creio que teve mais dificuldades na segunda parte.

Matic - Voltou a uma posição diferente, sobretudo com bola, sendo-lhe dada mais liberdade ofensiva, mas também exigindo-se-lhe outro tipo de movimentação para aparecer no jogo. Matic tem atributos extraordinários, nomeadamente a sua capacidade de intervenção defensiva e também a sua capacidade de passe. No entanto, continua a ser o principal protagonista em termos de perdas potencialmente perigosas (e a equipa já sofreu alguns golos por isso), mantendo um critério que parece mais ajustado a um criativo do que a um jogador de primeira fase de construção. Para além disso, está a meu ver ligado aos dois golos sofridos, saindo precipitadamente da linha defensiva no 1º golo, e demorando demasiado tempo a posicionar-se para fazer cobertura a Sulejmani, no 2º. Apesar destes pontos negativos, é claro, marcou um golo, e foi também dos jogadores mais influentes, quer em posse, quer em termos de intervenção defensiva.

Enzo Perez - Tal como Markovic, teve uma função diferente com e sem bola. Com bola, porém, apresentou-se sempre com grande liberdade, o que aproveitou para garantir um grande envolvimento no jogo ofensivo da equipa, tal como Fejsa e Matic. A sua entrega e presença nos diferentes momentos do jogo são já uma imagem forte da equipa e com o envolvimento nos dois primeiros golos acaba por justificar, a meu ver, o principal destaque entre todas as exibições individuais da equipa.

Gaitan - Teve uma acção decisiva no segundo golo e obviamente que a sua qualidade não passou despercebida também noutras ocasiões do jogo. No entanto, não me parece ter sido das exibições mais conseguidas nos últimos tempos, primeiro porque tardou em conseguir entrar no jogo, mas sobretudo pela forma como perdeu concentração e critério assim que a equipa ganhou vantagem no marcador. Creio mesmo que terá sido por essa perda intensidade e lucidez decisional que Jesus terá optado pela sua substituição. Mesmo reconhecendo esta fragilidade do jogador, tenho dúvidas sobre essa decisão.

Markovic - Em Nápoles, e na sequência de uma grande pré-época que vinha fazendo, espantou-me a forma como subitamente teve tantas dificuldades em entrar no jogo, parecendo uma peça quase aparte da restante equipa. Por isso, o que sucedeu desta vez não foi para mim tão surpreendente, e mostra como apesar de todo o talento, Markovic é ainda um jogador em formação. Ganhou muito quando na segunda parte Jesus o encostou à direita, não que isso tivesse implicado um grande protagonismo no jogo, mas simplesmente porque a partir dessa posição conseguiu uma integração colectiva lógica e não apenas correndo quase sempre sem sentido.

Lima - Teve uma actuação díspar em termos de zona de intervenção. Conseguiu utilidade e eficácia quando se ofereceu como apoio em fases mais atrasadas do jogo ofensivo, e perdeu inspiração e lucidez quando o teve de fazer mais próximo da área adversária. O problema é que é neste segundo capítulo que a equipa verdadeiramente precisa dele. Têm sido muitas as criticas à sua falta de golos (a meu ver precipitadas, como venho escrevendo, até porque ignoram o contributo que já deu em termos de assistências) e isso pode estar a afectar a sua confiança. Apesar dessa presença modesta no último terço, acabou por ter uma participação decisiva no golo de Rodrigo, sendo a sua antecipação no jogo aéreo que cria o desequilíbrio na defesa belga.

Sulejmani - Teve um impacto decisivo no jogo, com a assistência para o último golo, e já antes havia proporcionado a Luisão uma finalização em zona privilegiada. No entanto, e à margem deste "totobola de 2ªfeira", acho muito questionável que se opte por Sulejmani em vez de Gaitan num jogo desta importância. No segundo golo do Anderlecht, poderia ter tido outra resposta defensiva, mas acho excessivo que seja responsabilidade numa situação onde foi deixado bastante isolado perante o lateral direito belga.

Rodrigo - Depois do golo na Madeira (1ªjornada), desperdiçou 7 ocasiões claras de golo, o que como sempre é fatal em termos de crítica para um avançado. À oitava foi de vez e Rodrigo voltou a marcar. Parece-me importante - e repito esta ideia - que seja capaz de ser protagonista com tanta frequência neste tipo de ocasiões, porque a eficácia acabará mais tarde ou mais cedo também por favorecê-lo e quando isso acontecer, Rodrigo voltará a ser uma figura importante na capacidade concretizadora da equipa.

Ivan - Pouco tempo em campo.

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