28.2.12

A especificidade do Braga

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Não é a primeira vez que me refiro a ela mas, ainda assim, merece nova referência. A especificidade do jogo do Braga. Em organização, largura à direita, profundidade à esquerda. A ideia é começar sobre a esquerda, para onde cai Viana, como que esticando o campo, entre a bola e o destino preferencial da jogada, o corredor direito. Assim, é potenciada a construção longa de Viana e o extremo mais forte, Alan (ausente neste jogo, mas sem que o quadro geral se alterasse por isso). Lima aproxima à esquerda no inicio da jogada e assim beneficia também ele dos espaços laterais criados, para atacar a zona de finalização. Tudo isto em organização, onde a equipa actualmente se sente muito bem, pela confiança que foi acumulando, mas é em transição que Jardim reconhece maior potencial de desequilíbrio. Pelo espaço, pois claro. A equipa não teme baixar, e não teme também deixar alguns elementos mais adiantados, porque sabe que pode tirar partido disso se ganhar a bola. Lima na profundidade, naturalmente, mas também uma referência para o primeiro passe vertical - muitas vezes Mossoró - após a reconquista da bola. Um cenário que, quando sucede, recorda a Serie A.

No que ao jogo diz respeito, no entanto, só há momento relevante para explicar a definição do resultado: bolas paradas.

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27.2.12

James...

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- Há um bom tempo que não o imaginava possível, mas o clássico chega mesmo com tudo empatado. E, com um sorriso do destino, o Porto materializa a recuperação do atraso precisamente frente ao mesmo adversário contra quem começara a defini-lo. Do jogo emerge, mais uma vez, James. Realmente, não percebo muito bem que fique fora dos principais eleitos (por critério meramente técnico, isto é), se tivermos em conta o rendimento do colombiano. James é o jogador com maior influência directa nos golos marcados na liga, se considerarmos golos e assistências, descontando penaltis. A sua utilização foi um ponto de interesse das variações tácticas da equipa durante o ano, e não me parecendo que essa seja uma discussão fechada, também não vejo que a dimensão do seu talento e influência seja suficiente para que fique de fora. O que faltará a James, talvez, é mesmo uma exibição de grande nível num grande jogo. Ficaremos à espera para ver o que vai acontecer na Sexta...

Para curiosidade, deixo a lista dos 10 jogadores com mais golos e assistências na liga, excluindo penaltis:
James 15
Lima 14
Nolito 13
Danilo Dias 12
Hulk 12
Baba 12
Cardozo 11
Rodrigo 10
Toscano 9
Edgar 9


- Sobre o jogo do Sporting, posso aproveitar o caso de James para introduzir o de Izmailov, reflectindo sobre a falta que faz ao Sporting ter com regularidade talento do nível do russo. Isto é, ter regularmente jogadores que marquem realmente a diferença. Em relação ao jogo, e na sequência do que havia escrito, veio mais uma vitória alicerçada no controlo e por 1-0. É claro que para Sá Pinto o caminho é ainda muito longo e incerto. Desde a ameaça das lesões até à incerteza de como a equipa poderá reagir a um primeiro resultado negativo, passando pela sobrecarga competitiva (o que não o contexto ideal para quem quer desenvolver alguns conceitos novos). Escrevi, aquando da sua entrada, que não tinha grandes dúvidas de que Sá Pinto saberia bem o que era mais importante para criar uma dinâmica positiva e o treinador tem correspondido plenamente a essa expectativa, reforçando a importância de ganhar e de elevar os níveis de confiança, como motor de arranque para esse objectivo. Aliás, este tipo de sensibilidade é bastante comum em ex-jogadores, e não me parece um acaso. Enfim, apenas mais uma nota sobre o jogo do Sporting: uma das grandes carências da equipa do Sporting é a qualidade da sua circulação baixa, que me parece indiscutivelmente fraca. A equipa revelou nos últimos 2 jogos um crescimento ao nível da segurança no primeiro passe, o que é fundamental e parte da explicação para o maior controlo sobre o adversário (basta ver, por exemplo, como surgiram os principais lances do Paços). Agora, se quiser ser capaz de chamar o adversário sem ter invariavelmente de perder a bola, terá de ser também capaz de a circular muito melhor em zonas baixas, nomeadamente com um melhor uso do guarda redes.

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26.2.12

Eficácia e não só

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- Não há muita volta a dar... quem falha tantas ocasiões, tem sempre de olhar para a eficácia quando perde pontos e, ainda por cima, num empate a zero. Agora, será apenas da eficácia? Talvez não. Primeiro, o lado emocional. Já escrevi algumas vezes sobre a invulgar volatilidade das equipas de Jesus, algo que se constata em praticamente todas as épocas do treinador, e que vinha tendo esta temporada como principal excepção. Até agora. Depois das 2 derrotas, o terceiro jogo sem ganhar trouxe também a segunda vez em que Jesus regista dois jogos sem marcar. Tudo de repente, e de seguida. Essa inconstância pareceu ser o principal foco de Jesus para a nova época, quer pela forma como procurou encontrar uma solução mais equilibradora (Witsel), quer por algumas alterações nos comportamentos da equipa ao nível da gestão da posse. É claro que é impossível identificar com exactidão os motivos, e há que contar ainda com a importante contribuição da ausência de algumas unidades que vinham sendo nucleares na equipa. Ainda assim, é impossível dissociar esta quebra da tendência comportamental que anteriormente fora identificada. Seja como for, vêm aí jogos decisivos e mesmo se o Benfica permanece em boa posição, Jesus reaparece subitamente numa posição de exposição perante a critica... ou não fosse ele um treinador de futebol!

Já agora, sobre eficácia, fica o ranking segundo dados da liga (%Golos marcados por oportunidades criadas):

Marítimo 37%
Braga 36%
Guimarães 36%
Benfica 31%
Porto 30%
Gil Vicente 27%
Nacional 24%
Rio Ave 23%
Beira Mar 22%
Sporting 21%
Academica 20%
Olhanense 19%
Feirense 18%
Leiria 18%
Setúbal 16%


- Um caso interessante, é o da Académica. Há poucas equipas que tenha um modelo de jogo tão arrojado como a equipa de Pedro Emanuel. Aliás, parece-me discutível dizer que haja alguma. Risco em posse e risco na exposição pelo posicionamento defensivo. Ao mesmo tempo, porém, há muitas coisas que faz bem, como muito poucas equipas da Liga fazem. O resultado é uma época de grandes oscilações, com períodos de grande euforia e qualidade (fundamentalmente, quando se juntam confiança e especificidade), e outros bem difíceis, como o que atravessa desde o inicio do ano. Quem não parece estar a gostar do outro lado da moeda é Pedro Emanuel, e talvez por isso tenha adoptado uma postura mais conservadora para este jogo. É, mais uma vez, motivo de reflexão sobre a importância de dosear risco e segurança na definição das ideias de jogo que se querem para as equipas. Até porque, como defendi há dias, o futebol parece frágil.

- Uma nota para outro caso estranho, o 4-4 entre PSG e Lyon. Numa liga conhecida pelos poucos golos marcados, parece que os grandes jogos estão talhados para resultados volumosos e sempre muito equilibrados. Mais um fenómeno do futebol para o qual só os deuses deverão ter resposta.

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24.2.12

Controlo

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- "Prefiro jogar para ganhar 5-4, do que para ganhar 1-0!". A frase é comum e certamente sedutora numa primeira análise, mas como tantas coisas na opinião que se generaliza, não se vislumbra qualquer enquadramento prático no que à realidade do jogo diz respeito. Não há equipas que ganhem 5-4, 4-3 ou 3-2 por sistema. Mas há equipas - várias - que sustentam séries longas vitoriosas em resultados como 1-0 ou 2-1. Tudo isto para falar do controlo, a grande novidade no jogo do Sporting, frente ao Legia. Dificilmente alguém pode ter achado que a equipa alguma vez esteve próximo do golo, o que não constitui novidade face à trajectória recente, mas também não creio que alguma vez se tenha justificado o sentimento de ameaça perante a derrota. E, isto sim, é uma novidade nas exibições do Sporting. Tenho sublinhado (o próprio Sá Pinto o tem feito) a opinião de que é importante crescer nos planos emocionais, nomeadamente no que respeita à confiança. Ora, há uma discussão interessante sobre isto: quanto à necessidade de ganhar, estamos conversados, parece-me inequívoca. Agora, numa hipótese em que (ainda) não seja possível juntar as duas, o que pode beneficiar mais uma equipa? Sentir que não sofre, ou sentir que pode marcar? (repito, na hipótese de não se poder juntar as duas...). Recordo-me de Mourinho dizer a Maradona num documentário recente: "Uma coisa é teres uma equipa que sabes que se marcas ganhas. Outra coisa, é marcares um golo e mesmo assim não saberes o que te pode acontecer". Poderá ser discutível, mas tendo a concordar com esta última ideia, ou seja, de que o controlo é um alicerce fundamental para conseguir um crescimento colectivo sustentado.

- Nos outros jogos, não houve grandes surpresas. Aliás, para mim o que é surpresa, é precisamente não ter havido surpresas, mas a consequência é que teremos uns oitavos de final extremamente interessantes. Uma nota para um dos jogos com mais golos da noite: já se esperava que PSV e Trabzonspor pudessem oferecer um jogo farto em remates certeiros, porque é hábito em ambos os casos. O PSV fez uma série de boas aquisições no Verão, mas quem justifica esta minha referência é um jogador do Trabzonspor, Burak Yilmaz. É impressionante a época que está a realizar na Liga turca, não tanto pelos números absolutos, mas pelo enquadramento relativo dos mesmos. Ou seja, o Trabzonspor tem o melhor ataque da prova, mas só Yilmaz é responsável por mais de 55% dos golos da equipa (contabilidade sem penaltis). Sem entrar em paralelismos, mas tentando fazer perceber a dimensão relativa do feito, seria o equivalente, por exemplo, a Benfica ou Porto terem nesta altura um jogador com 23-24 golos, ou, noutro caso, Real Madrid ou Barcelona terem um jogador com 37-38 golos já concretizados, ambos sem penaltis.

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22.2.12

Do City of Manchester para a Luz

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- Há equipas contra quem lançar a toalha não acaba com o sofrimento, apenas o agrava. Não há muitas, mas nos tempos que correm, o City é uma delas. Há duas formas de ver as coisas: uma é pensar que os erros individuais determinaram uma eliminatória que até poderia ter sido equilibrada. A outra, é pensar que se o incidente do segundo golo tivesse surgido mais cedo, a coisa poderia ter acabado de forma ainda mais embaraçosa.

A fase da temporada, porém, não justifica que se perca muito tempo a olhar para trás. Em breve jogar-se-á tudo e não há outro remédio que não seja concentrar todas as atenções nos embates decisivos que se aproximam, particularmente o da Luz. O clássico ainda não começou, mas já se joga. Começou a jogar-se com a derrota do Benfica em Guimarães, que aumenta a pressão sobre os encarnados. Continuará a jogar-se na próxima jornada, especialmente e de novo, para o Benfica que tem uma deslocação teoricamente mais complicada. Mas poderá também ter tido hoje um dado novo, não pela eliminação, mas pela volumetria da derrota. Perder por 4 pode não fazer diferença na sentença da eliminatória, mas não é liquido que não faça na confiança dos jogadores.

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A identidade napolitana

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- Não sei se será da má fase, mas Villas Boas quase que antecipou a derrota antes da mesma, ao dizer na antevisão da primeira mão que a eliminatória poderia ser invertida na segunda. E pode, pelo que convém não dar as coisas como terminadas. Ainda assim, é sobre o Nápoles que quero escrever, coisa que já estive para fazer, mas que por falta de oportunidade acabou por não acontecer.

Não pode ser nunca um candidato, claro, porque não tem potencial para isso, mas parece-me ter todas as características para ser um perigoso "outsider". Porque tem uma filosofia de jogo muito ajustada ao tipo de jogos da competição, porque é fortíssimo dentro da sua proposta e porque beneficia, depois, de um ambiente muito favorável quando joga em sua casa. O Nápoles não me espanta tanto pela capacidade ofensiva, mas antes pela forma como a consegue. Ao contrário da generalidade das equipas ainda em prova, que procuram vencer "aos pontos", o Nápoles joga tudo no "KO". Ou seja, não procura atacar pela quantidade e, por vezes, parece até que o sofrimento faz parte da estratégia, tal a facilidade com que baixa o bloco enquanto espera pacientemente pelo momento certo para atacar, esticando o jogo de forma tremendamente eficaz, quer em organização, quer em transição. Mais espantoso do que tudo, pelo menos para mim, é a identidade. Seria de esperar que a frieza da sua proposta se desfizesse quando se vê em desvantagem, mas não... O Nápoles permanece impávido e, mesmo a perder, continua a esperar pacientemente pelo momento certo de atacar, e a verdade é que esta reviravolta está longe de ser caso único no currículo da equipa.

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20.2.12

Jesus e o Vitória

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Tentarei trazer algo especifico sobre o jogo, assim que o analisar com mais pormenor, mas para já partilho apenas duas reflexões...

- Jesus. Perder 2 vezes seguidas no Benfica só lhe tinha acontecido no pesadelo do inicio de época da época passada. Podem ser duas derrotas irrelevantes no balanço final da época, e até é provável que o sejam. O Benfica pode, obviamente, ultrapassar o Zenit, e embora tenha perdido agora uma margem importante, continua a ter uma situação muito favorável para recuperar o título. Mas perdeu margem, isso é claro. A minha reflexão sobre Jesus tem a ver com o "timing" da sua entrada no Benfica, que me parece ter sido perfeito, quer para ele, quer para o próprio clube. Isto porque Jesus chegou depois do clube ter recuperado a vários níveis, nomeadamente tendo sido capaz de investir continuadamente, durante vários anos, na equipa principal. Ou seja, quando chegou tinha todos os recursos para vencer. Não menos importante, Jesus chega ao Benfica quando a própria gestão desportiva parece ganhar muito maior consistência nas suas decisões, por ter sido capaz de assumir alguns erros anteriores. Nomeadamente, não me parece muito improvável que Jesus tivesse chegado a esta época se Vieira não tivesse aprendido com o erro do despedimento de Fernando Santos. O Benfica teve cerca de 15 anos num patamar claramente inferior ao do Porto, mas hoje parece-me claro que subiu um importante degrau e que é muito mais improvável que o clube esteja muito tempo sem ganhar títulos. Fruto de um crescimento continuado da sua estrutura, que culminou com o acerto da aposta (continuada) no actual treinador.

- Sobre o Vitória, escrevi após o jogo com o Porto que era provável que a equipa fizesse uma segunda volta em crescendo, para chegar a níveis pontuais próximos daqueles que atingiu nos anos anteriores. Agora, com este inesperado triunfo, esse deixa de ser um cenário provável, para ser o cenário "mais" provável. É interessante como, com os diversos treinadores, há coisas que nunca mudaram nos últimos anos desta equipa, praticamente desde Paulo Sérgio. Nomeadamente, a agressividade no pressing e o recurso a um muito alicerçado nas características da sua principal referência ofensiva (sempre com jogadores fortes no jogo aéreo). Não diria que foi um crescimento brilhante, mas, lá está, com confiança e estabilidade, Rui Vitória deve acabar por levar o seu barco a bom porto e o 5º lugar não é um objectivo irreal.

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Dúvidas sobre cabeceadores...

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- Sem competitividade, é mais difícil ter interesse. E quando uma equipa tão superior dobra a vantagem aos 25 minutos, dissolve-se toda a competitividade que um jogo poderia ter. O Porto e Vitor Pereira é que não devem ter sentido falta do interesse ou da competitividade. Aliás, até os devem ter temido quando Meyong reduziu. Enfim, a minha principal nota do jogo vai para mais um golo de Janko. Para aqueles que, como eu, viveram os anos do seu domínio no futebol português, qualquer golo de cabeça marcado com uma facilidade inverosímil nas costas dos centrais, traz imediatamente à memória a figura de Mario Jardel. Acho que da mesma maneira que gerações anteriores ficaram marcadas pelos "golos à Eusébio", a minha tem os "golos à Jardel" sempre prontos a saltar da memória. Ou então sou só eu. Enfim, a questão que tenho é: que grandes cabeceadores há (ou houve) que actuassem exclusivamente com movimentos ao 1ºposte? Muitas equipas, especialmente as que utilizam apenas 1 avançado mais fixo, pedem quase sempre um movimento ao primeiro poste, para abrir espaço para as entradas dos médios e do extremo do lado oposto. Aquilo que me parece é que este tipo de movimentos, por regra, "queima" o avançado, que normalmente é também o jogador mais forte na reacção ao cruzamento. Por exemplo, Falcao, que é fortíssimo ao primeiro poste, tem também a capacidade de atacar outras zonas em situações de maior densidade. Janko também ataca muitas vezes o primeiro poste, mas tenho dúvidas se não será mais forte quando lhe é dada liberdade para jogar com o lado cego dos centrais. Uma questão para continuar a reflectir...

- Em Alvalade, Sá Pinto não trocaria os pontos por uma melhor exibição, mas mais do que boa ou má, acho que foi uma performance decepcionante. Pelo menos para mim, que esperava outra capacidade com o regresso a casa e, sobretudo, com o regresso de várias unidades importantes e que raramente jogaram juntas nos últimos meses. Evidente que não é minimamente honesto ligar as dificuldades ao novo treinador e às suas novas intenções, mas as coisas são o que são e se é verdade que ganhar é importante para potenciar a confiança (como o próprio Sá Pinto não se cansa de referir), tenho dúvidas que essa mesma confiança aumente muito quando a situação no campeonato se manteve (por mérito da concorrência) e ainda por cima se absorve a insatisfação vinda das bancadas. Sá Pinto já deu alguma ideia de algumas alterações que pretende introduzir, nomeadamente baixando os médios que tinham uma postura assumidamente mais profunda com Domingos. Tinha a convicção de que o Sporting iria crescer nos próximos tempos, com a série de jogos caseiros e os regressos de alguns jogadores. A primeira sensação que me fica com este jogo, e perante o caminho que ainda parece existir em relação à adaptação às novas dinâmicas, é que esse crescimento poderá não ser tão evidente. Mas frente ao Légia teremos outra ideia, até porque o jogo não será tão fechado como este. Aliás, sobre o Paços notar o conservadorismo da sua proposta que, apesar disso, pode perfeitamente lamentar a eficácia como factor decisivo na definição do resultado. Não lhe sobra um calendário fácil, mas a verdade é que Calisto (que regresso mais improvável!) já fez o mais difícil.

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19.2.12

Fragilidade...

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- A situação do Chelsea de Villas Boas pode ser um bom exemplo da não linearidade das consequências no futebol. Ok, vamos assumir que as circunstâncias não foram favoráveis e que algo (para o efeito, não interessa precisar) correu mal. Que consequências teríamos? Numa hipótese de linearidade, não creio que qualquer circunstância fosse suficiente para vermos um Chelsea tão vulnerável como aquele que temos visto. Não faltam exemplos, semelhantes, ocorrendo-me de forma clara o caso do Feyenoord no ano anterior. Para quem está familiarizado com as reflexões de Nassim Taleb (a figura tem essa proveniência), diria que o futebol é seguramente Frágil.

- Ainda no Chelsea, é curioso como Villas Boas e Domingos, partilharam o climax das suas ainda curtas carreiras na final de Dublin, se encontraram também na queda que inesperadamente se deu a seguir. Vários pontos em comum (e outros, necessariamente, diferentes). O treinador, é factual, não foi solução suficiente, mas daí até ser ele próprio parte dos problemas (ou, de forma mais drástica "o" problema), vai uma grande distância. Será que é? Não interessa muito a opinião de cada um, o futuro falará por si (ainda que possa não dar forçosamente respostas lineares sobre a questão), mas interessa que conclusões serão retiradas por quem tem responsabilidades de as tirar. E este é o ponto central, porque se se confundir problemas com soluções, o que se fará é perpetuar os problemas. Não é uma questão simples, e não tem apenas a ver com a competência (que não está em causa) dos treinadores. No caso do Chelsea, claro, tudo se pode limitar ao número de cheques que Abramovic terá de passar, e se for assim o problema será resumido a uma questão de tempo.

- Quem não usa muito a técnica dos cheques, é o Arsenal. Uma semana negra, concluída com a eliminação da Taça. Pode ser a pior época em muitos anos, o que vendo bem, não constitui grande surpresa. O Arsenal é um caso provavelmente sem par na Premier League, no que respeita à potenciação dos recursos existentes. Isto, no entanto, não faz tanto do Arsenal um caso de sucesso, mas mais um exemplo claro de como no futebol, e para os adeptos, não há prémios de performance relativa. O que interessa é ganhar e de forma absoluta, porque no fim do dia, poucos dão alguma importância ao preço da vitória.

- O Braga. Para quem quer exemplo (mais um) de uma equipa potenciada de forma crescente, tem no Minho, outra vez, uma boa resposta. A equipa não era assim tão forte no inicio, mas foi crescendo de forma progressiva e segura. Não é uma coisa evidente, claro, mas como quase sempre não se trata tanto de fazer coisas deslumbrantes, mas muito mais de ir melhorando progressivamente a qualidade das coisas que se podem fazer. Confiança e especificidade. Confiança, vem com as vitórias. Especificidade, vem com a estabilidade das peças fundamentais. Como o futebol é jogado por homens e não por máquinas, é quase (quase...) sempre assim que acontece, pela confiança e especificidade, e nenhuma fotografia será mais paradigmática do que a do primeiro golo. Jogo longo de Viana, recepção e cruzamento no tempo certo de Alan, e movimento de Lima, em diagonal nas costas do primeiro central. Três acções marcadamente características dos protagonistas (especificidade), executadas com qualidade perfeita (confiança). É claro que os contratempos do Gil também ajudaram, mas não há que retirar mérito, e o segundo lugar está longe de ser impossível.

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17.2.12

É outro campeonato...

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- Muito semelhante o jogo do Sporting, em relação ao do Benfica, 24 horas antes. A diferença maior será mesmo o golo que o Benfica ofereceu quando parecia ter já extraído empate tão generoso como o que o Sporting agarrou. É claro que o Zenit não é o Legia, e as dificuldades do Sporting parecem ter como explicação uma abordagem menos ajustada da equipa, em relação à do próprio Benfica. Afinal, que tempo teve a nova equipa técnica para preparar este jogo? Ver um Sporting a parecer fazer uma aprendizagem "on the job", com todos os riscos que isso tem, voltou a fazer-me coçar a cabeça sobre o timing desta mudança técnica: Na situação do Sporting, foi quase como mudar de equipa técnica a 3 dias de uma final: foi mesmo só por questões técnicas?! A irracionalidade pode chegar a este ponto?! Sobre o futuro imediato do Sporting, o resultado acaba por importar bem mais do que a exibição. Sobre Sá Pinto e o seu futuro imediato, mantenho o mesmo prognóstico, que não é muito diferente daquele que faria caso Domingos tivesse permanecido. Ou seja, adivinha-se um contexto favorável à evolução da equipa, com o regresso de alguns jogadores e uma série de jogos caseiros onde a probabilidade de vitória é grande. Eu penso que as melhorias virão rapidamente, já quanto aos pormenores, ainda vamos ter de esperar mais um pouco para saber, porque ainda não houve tempo para nada...

- No Dragão, o Porto perdeu quando parecia ter feito o mais difícil para ganhar. O que salta à vista para quem está habituado a ver o Porto jogar semana após semana para o campeonato, é a diferença de resposta a cada duelo individual. Uma diferença que marcou, em grande parte, o destino do jogo. No primeiro caso, Álvaro Pereira faz tudo bem, antecipa a diagonal de Balotelli nas costas dos centrais, ganha-lhe a frente e impede-o de chegar à bola. O problema é que quando se encostou ao italiano para o afastar definitivamente... foi ele quem voltou para trás. Quantos avançados da nossa liga teriam a mesma capacidade física? Se calhar, nenhum. Depois, uma, duas, três, ..., inúmeras vezes vemos o Porto forçar a saída em posse a partir de zonas baixas. Com Moutinho, então, parece sempre infalível. Desta vez, não foi. O problema é que quando se tem Aguero, Nasri e Touré nas costas, uma vez pode ser tudo o que é preciso. São outros campeonatos...

- Quando me pedem projecções sobre a Liga Europa, quase sempre a conversa encerra na volatilidade dos favoritos. Para a maioria das equipas das 5 principais ligas, esta prova é assim como que uma espécie de Taça da Liga Europeia, e por isso é que raramente os favoritos a ganham, ao contrário do que acontece, por exemplo, na Champions. Este ano a Europa tem os olhos colocados nos gigantes de Manchester, mas não daria como definitivo que seja assim tão simples. Para já, não houve grandes surpresas (os 2 ingleses não jogam no fim de semana), mas vamos ter de esperar pelas eliminatórias em que os jogos sejam intercalados com a fase decisiva das principais ligas, onde todos os pontos contam para definir campeões ou apuramentos para a Champions League. É capaz de ser um frete para muitas destas equipas... Redknapp e os franceses que o digam!

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16.2.12

Factor casa

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- O factor casa... Por vezes é ingenuamente desprezado nos discursos, mas raramente o é no campo de jogo. Desta vez, havia mais do que factores psicológicos a condicionar as aspirações do Benfica. Foi um jogo terrível, de sucessivos duelos, acelerações repentinas e uma fluidez quase nula. Tudo isto, claro, perante um adversário muito mais adaptado. 3-2 não é um bom resultado, mas dadas as incidências foi tudo menos mau. Na Luz, claro, tudo será diferente, não querendo isto dizer que forçosamente venha a correr bem. Impressionante o caso de Cardozo: não tem a agressividade exigível, não dá sequência a praticamente nenhum lance que passa por si, mas, depois, é ele que está nos lances decisivos. Não foi a primeira, nem será a última vez, e por isso Jesus não abdica dele.

- Numa das eliminatórias, à partida, mais interessantes, tudo parece ter ficado muito rapidamente resolvido. Porque sucumbiu de forma tão clara o Arsenal? Porque é que as equipas que têm melhores jogadores ficam quase sempre à frente das outras? Não tem de ser uma questão de dinheiro, mas é seguramente uma questão de qualidade.

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14.2.12

O regresso da Europa

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- Não é uma fase final de Champions que levante grandes expectativas. Antes dos oitavos de final, 66% do favoritismo era reservado para os dois grandes de Espanha, e dificilmente alguém imaginará um cenário distinto desse. O aliciante especial neste ano está em perceber se o Barça será capaz de fazer aquilo que nenhuma equipa conseguiu desde que a Champions é "Champions", ou seja, ganhar por dois anos consecutivos. Seria, no fundo, a materialização em termos de títulos de um feito condizente com aquilo que a equipa representa para os anos que passaram. Tudo parece óbvio, mas é só quem tiver muita falta de memória poderá menosprezar os caprichos em que o futebol é fértil em provas destas características.

- Entretanto, na Liga Europa, começou o curioso duelo entre Braga e Besiktas. É interessante perceber como os feitos recentes dos bracarenses lhe creditaram algum favoritismo (ainda que tangencial) para esta eliminatória. É algo que não faz muito sentido, se considerarmos que o Besiktas tem uma série de jogadores com que o Braga não pode sonhar. Para já, o Besiktas conseguiu uma vantagem praticamente decisiva e só um jogo perfeito em Istambul pode inverter esta tendência. Algumas notas sobre alguns protagonistas: Leonardo Jardim, que apesar da derrota volta a fazer uma época excelente, sendo mais um treinador que aparece com um trajecto quase perfeito e já com algum tempo de carreira. Manuel Fernandes, cujo talento sempre me entusiasmou e que parece ter ganho alguma consistência nos últimos meses, sendo aparentemente uma solução a considerar para a Selecção. Finalmente, Carvalhal que tal como tinha antecipado aquando da sua partida para Istambul, abriu para si uma oportunidade interessantíssima num clube de enorme dimensão e num país em que o futebol está em franco crescimento (tem sido a sétima liga da Europa que mais investimento fez nos últimos 3 anos).

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Domingos por Sá Pinto

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A decisão...
O divórcio não era um cenário que colocasse de parte, mas com a iniciativa a partir sempre do lado de Domingos, que era, a meu ver, quem mais perdia com o actual estado da ligação. Estranho que parta da direcção do Sporting a decisão, por um lado porque na divisão de responsabilidades é uma decisão que expõe mais quem dirige do que o próprio treinador, e, por outro, porque não faz qualquer sentido alguém escolher um treinador para meia época depois colocar em causa a sua competência. Percebe-se que a emotividade dos adeptos leve à volatilidade de opiniões, em que o mesmo treinador passa de competente a incompetente em função da onda de resultados ou empatias, já não se pode dizer o mesmo de quem tem a responsabilidade de ver o futebol em bases minimamente racionais. É que não há treinador cuja competência se faça ou desfaça num tão curto espaço de tempo. E é precisamente por isso que se torna difícil que a decisão tenha sido tomada puramente em bases técnicas. Seria como que um duplo auto atestado de incompetência.


O balanço
Já escrevi alguma coisa sobre isto, e não me quero alongar muito mais. De facto, a experiência de Domingos no Sporting ficou obviamente aquém das minhas expectativas, mas o que se passou não é minimamente suficiente para que seja o treinador o principal responsável ou, como escrevi acima, para que a competência mais ou menos inquestionada aquando da sua chegada possa agora ser posta em causa. Como pecados principais, aponto algumas opções técnicas anunciadamente erradas e que custaram pontos fundamentais no inicio de época, e a forma como substituiu Rinaudo (ainda que a questão de André Santos possa não estar totalmente contada). De resto, parece-me claro que houve bastantes erros na formulação do plantel, bem atestados pela necessidade constante do clube em voltar ao mercado e pela absurda falta de fiabilidade física de alguns jogadores nucleares. Na verdade, as lesões não foram sempre um factor impeditivo para que o Sporting pudesse manter uma qualidade de jogo dentro do exigível, mas quando esse factor combinou com a quebra anímica de ver frustrada a tentativa de recuperação no campeonato (após o jogo da Luz), tudo se complicou. Não é novidade, o futebol é fértil neste tipo de situações em que o lado anímico se torna avassalador sobre equipas até bem mais competentes do que este Sporting. Como exemplos recentes temos o Benfica do ano anterior, o Chelsea de Villas Boas ou, num caso ainda breve, a inesperada crise interna do Super-Barcelona. Embora o continue a ver sempre tratado como tal, estou cada vez mais convencido de que o futebol não é um fenómeno de consequências lineares...

O futuro
Não é difícil olhar para este caso e lembrar outros, que marcaram negativamente a história do Sporting (Robson, Mourinho ou mesmo Villas Boas). Estaremos perante mais um desses casos? Honestamente, não o catalogaria do mesmo modo, mesmo que Domingos venha a ter sucesso num rival nos próximos anos. O motivo é simples: se em casos como o de Robson ou de Mourinho, o treinador poderia ter sido suficiente para marcar diferenças de domínio em determinadas eras do futebol português, hoje parece-me que o Sporting tem já um diferencial de condições para os rivais que é demasiado acentuado para que um treinador, por muito determinante que seja, possa marcar tanta diferença. Não que pense que a diferença seja inultrapassável, mas creio que só com uma equipa invulgarmente estável (ao nível das primeiras linhas) e potenciada do ponto de vista colectivo é que o Sporting pode manter um ritmo como o que Porto e Benfica têm mantido nos últimos anos. As más notícias para o Sporting podem não ficar por aqui, porque se este ano foram investidos 30 milhões (sem mais valias de vendas), nem é provável que esse valor seja mantido, nem se sabe ainda com certeza que implicações do ponto de vista financeiro poderão existir para um clube que dá prejuízos elevados em tempos em que o crédito não é de fácil acesso. A direcção do clube parece tranquila, mas só o futuro dirá se o esforço recente terá, ou não, consequências...

Do ponto de vista de Domingos, a sua passagem pelo Sporting deixar-lhe-á muito poucas marcas negativas na reputação (especialmente no estrangeiro, onde a percepção da decepção da campanha interna será praticamente nula). Resta saber onde dará continuidade à sua carreira, mas esta continuará a ser um ponto de interesse seja qual for o destino...

Resta Sá Pinto. É-me impossível fazer qualquer projecção de expectativas com bases seguras, mas à excepção dos descontrolos temperamentais que todos conhecem, tenho boa impressão do ex-jogador do Sporting. Não tenho dúvidas que saberá o que uma equipa precisa nesta situação, que procurará criar uma base estável para que a sua ideia de jogo possa ser potenciada e bem sucedida (mais uma vez, é importante ter presente a relação de reciproca dependência entre vitórias e bom futebol). A conjuntura pode ser-lhe favorável, porque o calendário imediato ajudará no arranque e porque as expectativas serão automaticamente revistas com esta mudança no comando técnico. Haverá outras condicionantes, claro, mas não me surpreenderá se tiver uns bons meses até final da temporada. O seu grande desafio, porém, está apenas reservado para a próxima época...
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13.2.12

A circulação baixa do Marítimo

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Terá sido, aos meus olhos, o aspecto mais marcante do ponto de vista táctico, no jogo. O que define o resultado é uma discussão menos trivial, sendo impossível de rivalizar, por exemplo, com o peso fatídico de lapsos pontuais, como o erro de Patrício, ou a escorregadela de Xandão, mas no que respeita à definição do balanceamento do jogo, ao que marcou o ascendente do Marítimo e as dificuldades de imposição do Sporting, nenhuma fase do jogo terá contribuído tanto como a circulação baixa dos insulares.

Foi uma situação que se repetiu sucessivamente no inicio do jogo e que estaria, inclusivamente, na origem do lance do segundo golo, mesmo numa altura em que a resposta das equipas era já bastante diferente daquilo que acontecera na primeira parte. Há, aqui, algum contraste com aquilo que tem acontecido na generalidade dos jogos do Sporting, nomeadamente na abordagem que é feita pelos seus adversários. O Marítimo, desta vez, assumiu o risco de promover uma circulação baixa, tentando chamar e envolver o Sporting, antes de explorar os espaços mais adiantados. Foi uma situação de risco, sobretudo porque confrontou a intencionalidade do Sporting de subir o bloco e potenciar o erro no meio campo contrário. Por mérito de uns e demérito de outros, foi o Marítimo quem saiu repetidamente por cima deste confronto e, por isso, quem ficou desde logo mais próximo das zonas que definiu como essenciais para criar vantagem.

Aqui ficam alguns pontos de opinião sobre esta situação:

- intencionalidade/mérito do Marítimo: Nada foi um acaso. Centrais abertos, laterais profundos, uso do guarda redes e apoio dos médios, como solução de passe no corredor central. Não creio que haja a intenção de fazer uma ligação muito apoiada entre as diferentes fases, mas há pelo menos o objectivo de criar a dúvida no posicionamento do bloco contrário, atraindo as linhas mais adiantadas para depois explorar alguma abertura do bloco, quer através de uma circulação mais larga, quer através de um jogo mais directo. Para além da intencionalidade e de alguma qualidade, penso que se deve destacar, porque não é muito comum a este nível, a tranquilidade e confiança com que os jogadores do Marítimo o fizeram.

- presença pressionante do Sporting: Domingos juntou Matias a Van Wolfswinkel, o que não é uma surpresa. O pressing do Sporting pretende ter um impacto vertical imediato e não tanto uma acção orientadora da sua primeira linha, e para isso é quase inevitável a utilização de dois jogadores no inicio de pressão. Mas as dificuldades surgiram, a meu ver, por dois factores. O primeiro tem a ver com o controlo da acção dos médios (Roberto Sousa/Rafael Miranda) no corredor central, que nunca foi bem conseguida pelos elementos da segunda linha, sempre algo distantes dos dois elementos mais adiantados. Depois, mesmo quando conseguiu criar dificuldades, o Sporting não as materializou, devido a uma aparente incapacidade ao nível da agressividade. Finalmente, nem sempre se verificou uma boa prioridade na acção pressionante dos elementos da primeira linha, sendo um excelente exemplo o lance do segundo golo, quando o Sporting consegue fechar o Marítimo num lado do campo, mas depois Van Wolfswinkel é batido numa tentativa de desarme, quando a prioridade deveria ser não deixar a bola sair do corredor. O Sporting fica assim exposto, porque a sua equipa está balanceada para um lado do campo e a bola circula rapidamente par o lado oposto, aumentando a abertura lateral da equipa (basta reparar na distância de Arias para os centrais na fase terminal do lance).

- última linha: quase sempre a última linha é a mais visada, porque são sempre estes os protagonistas da fotografia final. Mas, como bem retrata o lance do segundo golo, raramente a questão se pode resumir de uma forma assim tão simples. Neste jogo, por exemplo, não sou da opinião que a última linha do Sporting tenha feito um mau jogo, apesar de ter sido muito exposta pela perda de presença pressionante sobre o portador da bola. Aqui, na reacção da última linha a este tipo de situação, reside uma das questões mais difíceis de responder pela generalidade das principais equipas do futebol actual. O que fazer quando há perda de presença pressionante sobre o portador da bola? Bom, cada equipa/treinador definirá o que pretende, mas o que se vê é que a generalidade das linhas defensivas mantém o posicionamento nestas situações, aumentando ainda que instantaneamente o risco de exposição do espaço nas suas costas. Pessoalmente, penso que o ideal é que se corte a profundidade, mesmo que se aumente o espaço entre sectores. Parece-me preferível baixar, aguentar e reorganizar do que correr o risco.

- guarda redes: não é novidade que o guarda redes ganha importância com a postura pressionante das equipas. De um lado, quando em posse de bola, porque tem de ser parte da circulação. Do outro, em situação defensiva, porque tem de estar preparado para cortar o espaço nas costas da sua linha defensiva. Neste jogo, Peçanha foi fundamental na circulação e Patrício no auxilio ao controlo da profundidade. O caso de Patrício, porém, não merece grandes elogios apesar do bom desempenho neste jogo (a este nível). Para além do seu já conhecido jogo de pés, muito aquém do que se exige nos dias de hoje, tem revelado dificuldades comprometedoras na decisão de sair da baliza. Já havia sido decisivo em Braga, valendo um golo aos bracarenses, e voltou a sê-lo a meio da semana, quando não reagiu a cruzamento feito na linha média e que acabou com uma finalização de cabeça perto da marca de penalti, perante a imobilidade do guarda redes. Preocupante!
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1.2.12

Gil Vicente - Porto: opinião e estatística

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- A introdução não varia muito daquilo que tantas vezes refiro: depois de vista, a derrota pode parecer uma fatalidade óbvia, mas essa conclusão terá mais a ver com a perspectiva do observador do que com o objecto de observação em si mesmo. O aspecto que me parece mais importante realçar, do ponto de vista do jogo portista, é o mesmo de jogos anteriores, e tem a ver com a dificuldade da equipa em criar situações de maior proximidade com o golo, independentemente do domínio territorial que consegue (ou lhe é concedido, como foi o caso). Isso já acontecera em jogos anteriores, mas desta vez houve dois factores que me parecem ter contribuído especialmente para que tudo se complicasse do ponto de vista do resultado. O primeiro tem a ver com a eficácia, com o Gil a ser perfeito no aproveitamento das situações ofensivas que criou (Helton não fez uma defesa, apesar dos 3 golos sofridos), e o segundo com a reacção da própria equipa, que revelou uma desinspiração generalizada nos seus jogadores (Belluschi e Varela serão as excepções). Creio que a relação entre dois pontos existe e que é de natureza não linear, o que agrava os seus efeitos. A ideia que me fica é que há uma forte potenciação do segundo (a desinspiração) através do primeiro (a eficácia do adversário), sendo que aqui volto ao ponto que realcei sobre o jogo do Benfica, relativamente à tendência de quem vai na frente ser capaz de reagir melhor às adversidades. E se houve desafio em que o Porto falhou em Barcelos, foi na reacção à adversidade (ao contrário do Benfica, na Vila da Feira, coincidentemente).

- Em relação à primeira parte, que é o período que me parece mais interessante de analisar, foi curioso ver como o Porto teve tantas dificuldades em ligar as suas fases ofensivas, sendo que nunca teve dificuldades numa primeira fase do seu jogo ofensivo, mas também praticamente nunca chegou a concluir qualquer das iniciativas iniciadas. Aqui, o papel dos médios ala do Gil revelou-se, surpreendentemente, avassalador para as investidas portistas. Em particular, a tendência do Porto para libertar Álvaro Pereira no corredor foi completamente anulada pela presença de Rodrigo Gallo, no apoio ao lateral. Álvaro Pereira, aliás, é um caso especial. Tem uma acção muito interventiva no jogo ofensivo da equipa e todos reconhecem o potencial das suas características, mas se a sua progressão ao longo do corredor for condicionada, muitas vezes acaba por não ter o contributo mais útil para a equipa. Em situações mais próximas da área, opta várias vezes por forçar o cruzamento em situações desfavoráveis, mas também em fases anteriores do jogo ofensivo se verifica uma tentativa frequente de ligar o jogo de forma mais directa, que poucas vezes tem uma sequência útil. Face a esta disposição do Gil, seria útil ao Porto especular as entradas pelos corredores laterais, aproveitando depois o espaço interior. No entanto, isso raramente aconteceu...

- Este caso do Porto, do contraste entre a sua facilidade em construir e posterior dificuldade em entrar, depois, de forma mais útil no último terço, parece-me realçar de forma evidente a importância de não fazer dos "meios", "fins". E o futebol, enquanto jogo, só tem um fim, que é o golo. Ou seja, podemos identificar certas zonas como zonas de elevado potencial, traçando cada equipa o objectivo de que o seu processo ofensivo possa fazer chegar a bola a essas zonas, e de forma útil - a zona "entrelinhas" ou as zonas próximas do vértice da área, por exemplo. No entanto, mesmo chegando repetidamente a essas zonas, o sucesso do processo ofensivo não fica garantido. É importante a última fase, conseguir criar roturas quando a bola chega "entrelinhas", ou ter uma solução de cruzamento que possa criar, com boa probabilidade, problemas de controlo ao adversário. Esta tem sido, na minha opinião, a principal lacuna do Porto após a alteração de estrutura promovida por Vitor Pereira.

- O Porto, tudo indica, partirá agora para uma nova fase. O peso da derrota, aliada às chegadas de Lucho e Janko deverá implicar algumas mudanças nos rostos que marcarão a próxima fase da equipa. Vitor Pereira começou por optar pela continuidade, mantendo praticamente todas as linhas do modelo do ano anterior. Depois, e particularmente depois da eliminação da taça, tivemos uma outra versão do Porto 2011/12. Não creio que possa haver uma inflexão dessa mudança, até porque Lucho e Janko parecem encaixar nas necessidades da equipa, nesta forma de jogar. Lucho porque é um jogador muito forte na movimentação sem bola e a aparecer nas zonas de finalização, sendo previsível que venha a fazer o papel que Defour ou Belluschi vinham desempenhando. Janko, porque é um jogador especialmente forte no jogo aéreo, algo que parece faltar como complemento aos inúmeros cruzamentos de Álvaro Pereira (ainda que não me pareça que seja apenas um problema de resposta individual no centro da área). Sobram ainda Maicon/Otamendi, outros candidatos previsíveis a sair da equipa base. Seja como for, o campeonato está realisticamente muito complicado para o Porto. Os 5 pontos não são muito se tivermos em conta que há um jogo decisivo, onde o Porto tem a oportunidade de recuperar 3. O problema é que, agora como antes deste jogo, não parece claro que seja mais provável ser o Porto a vencer esse jogo, ou o Benfica a perder mais pontos nos restantes jogos que ainda há por jogar. Pelo contrário, arrisco eu...
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