16.1.12

Benfica - Setúbal: opinião e estatística

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- Talvez mais importante do que a liderança - que não é um pormenor num campeonato onde se perdem tão poucos pontos - seja mesmo a naturalidade com que o Benfica chega a esta posição no virar do campeonato. Não é novo que o Benfica de Jesus se apresente especialmente forte nesta altura do ano, mas esse dado aliado à liderança oferece bons motivos para que os seus adeptos estejam optimistas em relação à situação em que se encontram. Não parece fácil, pelo menos para já, que o momento se inverta. Enquanto esperamos pelos próximos capítulos, convém fazer justiça ao planeamento da época encarnada. A mim próprio me surgiram reticências com o volume de contratações, mas a verdade é que o Benfica se reforçou muito bem em praticamente todos os sectores, retirando muito melhor partido do mercado do que qualquer dos seus rivais. Aliás, salvo raras excepções e apesar da excessiva volumetria, o Benfica tem evoluído muito positivamente nas abordagens que faz ao mercado...

- Ao nível dos aspectos colectivos de jogo, quero realçar dois aspectos: transição ataque-defesa e organização ofensiva. Começando pelo último, o Benfica parece ter estrategicamente tentado evoluir na sua construção no último ano. Privilegia uma circulação baixa mais larga, pelo afastamento dos centrais e recuo do pivot, e trabalha também de forma muito mais intencional a utilização do guarda redes como apoio. Artur é também reforço neste plano do jogo. A sua construção baixa, larga, permite-lhe normalmente ganhar enquadramento para entrar pelos corredores laterais, que é por onde consegue melhores resultados. Aqui, é curioso notar que os alas, e apesar do adiantamento dos laterais, nem sempre flectem para dentro, sendo os avançados quem oferecem soluções de apoio sobre um corredor central que, com o recuo do pivot, fica carente de soluções oferecidas pela dinâmica dos restantes jogadores. Isto tem alguns riscos, nomeadamente relacionados com o perfil de decisão de alguns jogadores, mas para o campeonato português, o Benfica tem-se mostrado com uma qualidade demolidora e muito dificilmente contrariável para a generalidade das equipas (diria que a excepcção são mesmo os "grandes" e o Braga).

- Sobre a transição ataque-defesa, há por definição uma ligação com o momento anterior, ou seja com o que a equipa faz com bola, em organização. E este momento foi muitas vezes posto em causa no anterior, mas, como escrevi na altura, o Benfica sempre foi uma equipa muito forte na resposta em transição, nomeadamente porque Jesus define muito bem a estrutura de equilíbrio quando a equipa entra no último terço. O problema esteve - e pontualmente ainda está - na zona onde a equipa perde a bola. Esse continua a ser, a meu ver, a principal vulnerabilidade desta equipa e se ela melhorou tem sobretudo a ver com o que escrevi no ponto anterior, ou seja, com a crescente preocupação que a equipa denota no seu momento de organização ofensiva, nomeadamente na construção baixa. Mas quando perde a bola onde pretende perder, o Benfica é realmente muitíssimo competente, e essa é outra das forças do seu jogo...

- Individualmente, nota de destaque para Witsel. Fez, a meu ver, uma primeira parte praticamente perfeita, com grande presença no jogo da equipa, com enorme certeza nas suas acções, e com a ligação directa com um golo da equipa para o campeonato. Já aqui me referi ao facto de Witsel não estar a ser completamente potenciado do ponto de vista individual, nomeadamente pelo excessiva exigência no momento de construção e pelo afastamento permanente de zonas mais ofensivas. Este ponto, porém, merece um enquadramento colectivo, porque se o Benfica melhorou muito em termos de segurança em posse, ganhando sobriedade e consistência, muito o deve a Witsel. A sua capacidade para ter bola é excepcional, é óbvio e não é preciso escrever muito sobre isso, mas é sobretudo contrastante com o perfil da generalidade dos restantes elementos da equipa, fortemente propensos à verticalização e aceleração constantes do jogo. É interessante este balanço entre potencialização do rendimento individual e minimização dos riscos colectivos. Provavelmente a melhor solução depende do contexto e não é generalizável a todas as situações...

- Finalmente, sobre o Vitória de Setúbal, que não conheço com enorme pormenor, há algumas unidades de qualidade nesta equipa, mas eu discordo das virtudes oferecidas por alguns elementos, tantas vezes elogiadas. Penso que Pitbull tem, de facto, uma capacidade de desequilíbrio acima da média da liga, ainda que seja um jogador especial. Que João Silva é um jogador que merece acompanhamento, não se devendo contabilizar o seu número de golos de forma absoluta, mas sim tendo em conta a capacidade ofensiva da equipa onde está (se não jogar, ou jogar pouco, porém, ficaremos na mesma...). Que Jorge Gonçalves está a fazer uma época notável e, apesar de não ser extremo para altos voos, é um dos casos interessantes desta liga, pela sua competitividade e intensidade (sabiam que é o jogador que mais faltas sofre no campeonato? Não é por acaso...)
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