3.11.11

Feirense - Sporting: opinião e estatística

ver comentários...
- A vitória é importante porque esta era a última deslocação antes do primeiro clássico da "era Domingos". Esse, aliás, pode ser visto como um ponto potencialmente a favor do Sporting. É impossível fazer projecções muito apertadas para um tão curto número de jogos, mas é também inquestionável que as equipas de Domingos tiveram, no passado, uma capacidade de superação tremenda nos grandes momentos e nos grandes jogos. Este promete ser um campeonato de muito poucos pontos perdidos fora dos clássicos - sem surpresa, note-se - e, se assim for, o Sporting torna-se a meu ver um candidato não menos forte do que qualquer outro se as suas hipóteses do título forem discutidas no confronto directo.

- A vitória acabou por sorrir ao Sporting mas, tal como foi reconhecido por todos, não foi fácil. Desde logo, não foi fácil porque o Sporting não marcou tão cedo como vem sendo hábito e isso confere logo outra dificuldade ao jogo. Mas não foi só por isso. A meu ver, há dois factores que contribuíram para a menor capacidade do Sporting em se aproximar com o golo, sem que isso, no entanto, tenha implicado qualquer défice de controlo junto da sua baliza. O primeiro tem a ver com a postura do Feirense perante a organização do Sporting. Tal como noutros jogos, o Feirense apresentou dois jogadores a tentar condicionar o lado de saída na primeira fase de construção do adversário. Um, na linha entre os centrais, e outro, na zona do "pivot". Depois, condicionou também a ligação entre centrais e laterais, forçando uma ligação do central em posse com os elementos mais adiantados. Não entendo que tenha sido um condicionamento muito forte, e já vimos, por exemplo, o Benfica a passar facilmente "por cima" dele, conseguindo circular lateralmente na primeira fase. O Sporting não o fez, e isso penalizou o seu jogo, que gosta de circular lateralmente antes de entrar. Quando a bola saía por Onyewu, raramente teve qualquer sequência, com o central americano a jogar directo, mas sem qualquer propósito prático em praticamente todas as suas intervenções. Com Carriço há mais capacidade, mas o problema surge à frente, já que nem Capel nem Schaars oferecem uma dinâmica que permita grande qualidade na entrada do jogo por aquele corredor. Capel, recebe quase sempre de costas e transporta depois, Schaars raramente abre uma linha de passe útil dentro do bloco. Não é de hoje, é assim desde o inicio de época. A isto juntou-se um outro factor, que foi o facto do Feirense escolher a zona de Carriço para a sua construção longa. A consequência foi termos um jogo completamente centrado no lado esquerdo do Sporting, e isso representa logo um défice de qualidade no Sporting porque é à direita que está o seu maior potencial. Já agora, por isso é que vimos mais Insua e menos João Pereira, mais Schaars e menos Elias, mais Capel e menos Matias, mais Carriço e menos Onyewu. Destes, porém, apenas Carriço teve uma prestação verdadeiramente positiva nas acções ao longo do corredor, sobretudo as defensivas.

- Ainda assim, e apesar deste jogo emperrado à esquerda, o Sporting haveria de levar a melhor, essencialmente porque tem mais qualidade e porque foi sempre a equipa que, ainda que de forma descontinuada, se aproximou do golo. Aqui, na qualidade, parto para as minhas notas individuais, particularmente nas diferenças entre Elias e Schaars. É um caso curioso, de novo, a forma como estes jogadores são percepcionados. No comentário ao jogo do Porto escrevia sobre jogadores discretos, não por serem pouco participativos, mas porque têm uma aparição tão breve e eficaz que não damos por eles. Elias é um desses casos. Schaars é o contrário. Não neste jogo, porque houve o tal factor de "esquerdismo" no jogo, mas na média das prestações dos dois jogadores no campeonato, Elias tem +30% dos passes que Schaars completa a cada jogo, e uma percentagem de acerto quase 15% superior. Neste jogo, em concreto, Schaars interveio mais, mas foi um dos responsáveis pelo emperrar do jogo naquele corredor, já que o seu acerto no passe foi extremamente medíocre, numa tendência que se repete de outros jogos, e que não tem paralelo em qualquer médio, nem no Sporting, nem nos outros "grandes". Domingos, como já suspeitava, não percepciona ou não valoriza esta diferença (pode ser pela importância das bolas paradas), para mim abismal, de qualidade entre os dois, e abdica quase sempre do brasileiro quando tem de mexer no meio campo. Dito tudo isto, e porque o futebol é assim mesmo, a aposta em Schaars revelou-se acertadíssima porque haveria de ser o holandês a estar envolvido nos dois golos que ditaram a vitória leonina. Já agora, e porque não quero ser injusto na minha apreciação a Schaars, o seu aproveitamento em lances decisivos é até ao momento muito bom e se o mantiver seguramente que isso compensará o défice de consistência ao nível do passe, e, por outro lado, o seu envolvimento defensivo neste jogo foi também muito bom.

- Há ainda algumas notas individuais que não vou aprofundar, mas que deixo, ainda assim, uma breve consideração sobre cada uma. Sobre Onyewu mantém-se a dicotomia entre a mais valia da sua presença nas bolas paradas e a incapacidade no que resta do jogo. Rinaudo, que apesar de poder evoluir nas suas abordagens, continua a revelar uma presença extraordinária, tanto em posse como na reactividade defensiva. Que consequências terá a sua ausência? Matias, que revela um crescimento em termos de envolvimento e uma boa resposta no trabalho defensivo, sobretudo quando veio para o meio. Wolfswinkel, que me parece repetir em demasia o ataque ao primeiro poste nos cruzamentos, uma opção que em situações de maior densidade torna muito difícil o sucesso das suas acções nesta situação especifica (será propositado para abrir espaço atrás?). Carrillo, que mantém a inconsistência mas também os sinais francamente positivos em relação ao seu potencial como elemento desequilibrador.
Ler tudo»

AddThis