2.11.11

Benfica - Olhanense: opinião e estatística

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- Nova vitória tangencial, novamente com sentimento de segurança e, novamente também, sem uma grande capacidade para ultrapassar o bloco defensivo contrário. A dúvida persiste. É bom ganhar consecutivamente, é bom estar confiante, mas é incerto o que poderá fazer o Benfica quando o jogo não lhe for tão favorável como vêm sendo os últimos. Será a equipa capaz de acelerar os níveis de intensidade e agressividade ofensiva, fazendo valer a capitalização do seu bom momento emocional? Ou, pelo contrário, ficará presa à menor produtividade ofensiva e sempre refém da eficácia? Não se sabe. Querem mais indícios contraditórios? O Benfica de Jesus tem como traços marcantes características perfeitamente opostas a estas. Por um lado, a agressividade e capacidade ofensiva sempre foi uma característica, por outro, a resposta mental na adversidade nunca foi um ponto forte. Há, notoriamente, uma tentativa de corrigir os malefícios de um futebol eufórico, entusiasmante mas tantas vezes instável nos grandes momentos. Os resultados desse esforço, porém, ainda não são uma certeza...

- Não é normal, mas vou começar por abordar aspectos individuais, no que ao Benfica diz respeito. Na minha leitura, torna-se mais interessante abordar o curso do jogo pelo lado do Olhanense e, por isso, reservo essa opinião para os pontos seguintes. Em termos individuais, quero falar de três jogadores, Rodrigo, Witsel e Matic. Sobre Rodrigo, o destaque do jogo e a promessa do momento, tenho pouco de conclusivo a adiantar. O talento é evidente, mas de identificar talento a projectar rendimento, vai uma grande distância, sendo muito mais fácil a primeira parte da questão. Mais fácil, mas também de muito pouco valor acrescentado. Para já, é bom que Rodrigo tenha a capacidade de responder de forma positiva nas oportunidades que tem, mas não é minimamente conclusivo para o tempo de jogo que teve. Dá, também, para perceber traços do perfil enquanto jogador e, aqui, há uma clara diferença entre o seu caso e o de Cardozo, por exemplo, apesar do espanhol ser muitas vezes projectado como uma alternativa ao paraguaio. Rodrigo gosta da mobilidade e de se mostrar presente no jogo, Cardozo não faz questão. É uma tarefa difícil de gerir para Jesus, querer lançar Rodrigo ao mesmo tempo que tem dois jogadores com bom rendimento até ao momento, como Cardozo e Saviola.

- Sobre Witsel, a sua qualidade, sobretudo na capacidade extraordinária que tem para oferecer segurança a cada posse de bola fica evidente a cada jogo. A verdade, porém, é que o rendimento do belga está muito longe de ser óptimo ou dentro daquilo que o jogador realmente pode oferecer. Pelo menos, no que ao campeonato diz respeito, já que na Europa a sua produção tem sido significativamente superior. Para abordar esta questão, parto da sua produtividade ofensiva, no que respeita a golos e assistências. Se formos ver o seu perfil, quer no Standard, quer na selecção belga, Witsel esteve sempre acostumado a ser um jogador decisivo neste capítulo, e com grande regularidade. No Benfica, porém, isso não tem acontecido. Para além dos efeitos de circunstância, há uma explicação, obviamente. Ao contrário do que acontecia anteriormente, Witsel tem no Benfica uma missão que lhe exige presença constante no inicio de cada ataque. Baixa para receber, dar, mas com isto capta atenções sobre si e perde o timing de aparição, como elemento surpresa, numa fase posterior. A diferença nesta utilização do jogador não contrasta apenas com o histórico da carreira do próprio, mas também com a do próprio Ramires no Benfica, que tinha um envolvimento completamente diferente. E sabe-se como Jesus pensou em Ramires quando projectou a utilidade de Witsel. O belga pode ser catalogado como "jogador de transição", mas, na prática e ao contrário do que aconteceu com Ramires, pede-se-lhe que seja protagonista sobretudo em organização.

- Finalmente, Matic. O seu rendimento não é ainda tão constante como o de Javi, tanto ao nível do rendimento em posse, como da resposta defensiva. Não é, mas isso não impede que Matic protagonize já exibições com um nível de protagonismo e utilidade que raramente se viu no espanhol. Já Airton o conseguia no ano anterior, o que é uma evidência clara de como o Benfica pode e deve exigir-se mais para uma posição tão nuclear como esta. No que respeita a Matic, o seu principal problema tem a ver com o ajuste do critério em posse, relativamente às posições onde actua. É um jogador com maior potencial técnico do que Javi, isso é evidente, mas o seu perfil de decisão só lhe permite nesta altura ser uma mais valia em relação ao espanhol, quando tem a oportunidade de definir no último terço. Não porque Javi seja um exemplo a seguir no que respeita à segurança em posse (não é, de forma nenhuma), mas porque a segurança que Matic oferece em posse não é ainda melhor. E, é bom notar, a segurança em posse do pivot persiste como um dos grandes pontos fracos da equipa, havendo uma distância significativa para o que Porto e Sporting conseguem extrair das suas unidades para esta posição. De todo o modo, se Matic evoluir positivamente, sobretudo ao nível do critério em posse, pode facilmente suplantar Javi em termos de nível de rendimento.

- E agora, então, o Olhanense. Muito do que o Benfica não fez ofensivamente no jogo tem a ver com o perfil defensivo da equipa de Dauto Faquirá. Aliado ao facto do resultado se ter rapidamente precipitado para o conforto do 2-0, claro. Aquilo que observamos na generalidade das equipas que defrontam os "grandes", é que há uma qualquer tentativa de condicionar a primeira fase de construção, desde os centrais, ou mesmo do guarda redes. O que, porém, raramente produz grandes resultados. O Olhanense, por seu lado, não se exige a mesma profundidade defensiva, raramente condiciona a primeira fase de construção, nem sequer tentou obrigar o guarda redes a bater longo. Já agora, um dado que ilustra bem a ausência de presença da equipa de Olhão na pressão sobre a primeira linha são os dados de Artur, que teve os menores índices de participação, com os pés, de qualquer guarda redes dos 3 "grandes" no campeonato. Nem o Benfica foi forçado a jogar com o seu guarda redes, nem este a bater longo. Ora bem, o que fez o Olhanense foi concentrar a sua atenção na segunda fase ofensiva do Benfica, aproximando as duas linhas mais recuadas, tentando não baixar demasiado a sua última linha, mas garantindo sempre a presença das duas linhas entre a bola e a baliza. Aqui, sobretudo, o destaque vai para o condicionamento e bom ajuste à circulação larga na primeira fase de construção, não permitindo a entrada do jogo pelos laterais, como acontece muitas vezes. As excepções, os golos, surgem na sequência de uma circulação à largura, mas nesses casos ela aconteceu numa segunda linha ofensiva, dentro do bloco, expondo imediatamente o controlo dos espaços laterais na última linha. O problema do Olhanense, porém, surgiu no momento de transição defesa-ataque, já que raramente o protagonizou com qualidade suficiente para ultrapassar a barreira de reacção do Benfica. Um ponto que deve ser revisto, sem dúvida, mas de todo o modo parece-me já interessante reflectir sobre os resultados da organização defensiva de Dauto, que não são de hoje e que aparentam ser bem melhores do que a generalidade das equipas da mesma dimensão (sobretudo fora de casa). Vem aí mais um teste, na recepção ao Porto...
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