27.10.11

Sporting - Gil Vicente: opinião e estatística

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- Começo por abordar um tema, partindo do que havia escrito sobre o Porto. É interessante verificar a diferente abordagem, entre Domingos e Vitor Pereira (e, ainda que a um nível mais moderado, mesmo Jesus). Enquanto que o treinador portista tem gerido o seu plantel, alterando muito de jogo para jogo, em Alvalade, Domingos orienta o seu discurso para a necessidade de capitalizar os momentos altos, mantendo o essencial da equipa, mesmo em jogos de menor responsabilidade. São formas diferentes de gerir e cada um terá os seus motivos, mas o facto é que Domingos conseguiu, seja por essa ou outra razão, encontrar o trilho da confiança. Das vitórias alicerçadas nas boas exibições, ou... vice versa. À cerca disto, de resto, importa ter alguma memória e relembrar os primeiros jogos para o campeonato, onde os indícios de capacidade ofensiva já existiam, mas a falta de eficácia acabou por penalizar muito a equipa em termos de resultados, percepção geral e consequente confiança. Porque falei disso na altura, da importância decisiva que estava a ter a eficácia, parece-me interessante ver hoje as coisas do outro lado, de quando se marca o que se cria. É que, ganhando, tudo fica mais fácil também para o jogo seguinte...

- Sobre o jogo, importa explorar sobretudo o que aconteceu antes da loucura final. Ou seja, é mais importante perceber a vitória do que a goleada. Aqui, vou abordar dois momentos, organização ofensiva e bolas paradas (as situações de transição, para o Sporting, foram apenas episódicas). O Sporting começou o jogo com grande facilidade em conseguir domínio territorial, colocando a primeira linha a construir alto, praticamente em cima da linha do meio campo. Este ponto, a altura da primeira linha de construção parece-me bastante relevante. O motivo tem a ver com o receio que o extremo reduto adversário passa a ter da sua exposição nas costas, colando-se instintivamente à sua área. Assim, torna-se mais fácil entrar no bloco, e mais fácil reagir à perda. Foi isso que o Sporting conseguiu. Porque o conseguiu? A meu ver, por mérito próprio, porque procura fazer uma circulação intensa e larga na primeira linha de construção, dificultando a organização contrária ao exigir-lhe constantes ajustamentos laterais, mas também por demérito do próprio Gil, que nunca conseguiu evitar essa intenção. Mas, para ganhar é preciso marcar e não apenas dominar. Fica fácil jogar-se bem quando, como tem sido o caso do Sporting, se é eficaz tão cedo. Neste jogo, a vantagem através de um lance de bola parada, e é importante notar o bom trabalho que tem sido conseguido a este nível, com vários situações a serem trabalhadas e a produzir efeitos práticos. O Sporting é, entre os "grandes", a equipa que mais ocasiões de golo criou neste tipo de lances, não sendo, porém, a que mais concretizou (Porto). Já agora, no campo defensivo, é também aquela que mais ocasiões concedeu junto da sua baliza, mas aí entra o efeito do jogo com o Marítimo.

- Ainda no Sporting, destaque para as combinações nos corredores laterais, para onde o Sporting canaliza preferencialmente o seu jogo. Confirma-se a cada jogo a influência e acréscimo de qualidade que traz Elias. Em tudo, mas neste caso também no que respeita à dinâmica do lado direito. Junta-se a João Pereira, numa dupla que oferece excelente dinâmica todas condições à integração de seja quem for (desta vez foi Matias, já foi Carrillo, e falta ainda ver Jeffren nesta dinâmica). Do lado esquerdo, um triângulo diferente, menos ligado, menos dinâmico por natureza e mais dependente de Capel. À partida, aliás, parece ser mesmo só Capel, mas não é. Insua, não tendo a mesma energia e disponibilidade de João Pereira, tem um notável sentido de "timing", o que lhe tem valido uma grande eficácia e propósito nas suas investidas ofensivas. Schaars, por outro lado, não se aproxima tanto do corredor permanece mais interior, aparecendo, em contraponto, mais vezes na área do que Elias. Neste jogo, há um pormenor que me parece decisivo nas dificuldades que teve o Gil Vicente no corredor esquerdo. É que raramente houve uma boa presença junto do extremo no momento da recepção, permitindo ao Sporting progredir facilmente assim que fazia a bola entrar no seu flanqueador. Um ajuste posicional que não foi corrigido durante o jogo, que começou por dar vantagem a Capel mas que continuou com Carrillo. Aliás, acaba por ser um pormenor decisivo nas principais jogadas do peruano pelo flanco esquerdo.

- Finalmente, falar sobre Schaars, que me parece ser o jogador menos adaptado às suas funções, neste Sporting. É, na minha leitura, um jogador de primeira fase de construção, e que tem dificuldades em integrar-se de forma tão útil como os demais no jogo da equipa. Isto reflecte-se em vários indicadores, onde, quer em termos de influência, quer em termos de eficácia fica muito aquém do que faz, por exemplo, Elias, o seu espelho do outro lado do campo. A sua utilidade é alavancada pela importância que assume nas bolas paradas, mas parece-me que, por exemplo, Matias tem condições para ser testado no mesmo papel do holandês, já que em termos de resposta defensiva não me parecem ser jogadores de capacidade muito diferente. No entanto, suspeito que Domingos não tenha o mesmo entendimento...

- A goleada espanta, não tanto pelo Sporting, mas pelo Gil. Tem sido uma das boas equipas deste campeonato e não se esperaria (pelo menos eu) tamanha derrocada. Como escrevi, creio que houve alguns lapsos, quer no condicionamento da primeira linha, quer nos ajustamentos laterais, sobretudo à esquerda do ataque do Sporting. Com a entrada de Guilherme houve uma melhor presença em termos de condicionamento da primeira linha, com o Sporting a passar a construir um pouco mais atrás. Depois dessa alteração, aliás, o jogo não parecia poder vir a ter o destino que teve, mas a equipa acabou por ser penalizada, após o segundo golo, pela eficácia e tremenda energia que o Sporting manteve até final. Falar ainda de Hugo Vieira, que me parece ter sido uma ausência importante e muito pela capacidade que tem precisamente no condicionamento defensivo da primeira fase de construção.
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