30.8.11

Sporting - Marítimo: opinião

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- Começo pelo público. O futebol não é dos treinadores, nem dos jogadores, nem, muito menos, dos que, como eu, gastam o seu tempo a dar opiniões sobre o jogo. O futebol é do público, sobretudo do público. É o mediatismo e a paixão clubística que fazem o jogo ser muito mais do que apenas um "jogo". E é, de facto, mais do que um jogo. Não quer isto dizer que o público deva ser quem escolhe, ou quem toma decisões, obviamente. Quer, isso sim, dizer que o público tem um efeito real e concreto no jogo, que faz parte do mesmo, e que lidar com o público, contrariando-o, pode ser um exercício de sucesso complicado e, sobretudo, potencialmente contra producente. Para se ganhar um argumento com o público, é preciso ter, ou muita razão, ou muita sorte. Porquê, contra producente? Porque os jogadores dependem da confiança e estabilidade para garantir o rendimento óptimo, e as variações, por este efeito, podem ser enormes. Em Alvalade, actualmente, os jogos têm dois motivos de atracção: o que vai acontecer no jogo, em si mesmo, e como vai ser gerida a relação de tensão de certos jogadores (Postiga e Djalo, parece-me) com a plateia. Ora, isto não é bom, porque, se manter a concentração num jogo já é difícil, em dois, pode ser praticamente impossível. Domingos tem gerido esta questão, tentando manter-se do "lado dos jogadores" e, talvez, não querendo dar a sua parte fraca. Não estão em causa as boas intenções do treinador, mas o resultado tem sido catastrófico. Os jogadores entram de inicio, mas, assim que as dificuldades são percepcionadas pelo público, este reage primeiramente contra quem já trazia um sentimento pré concebido. É humano, todos nós sentimos essa tentação. Só que, como a equipa precisa de tudo menos de factores de dispersão e instabilidade, Domingos sente-se forçado a retirar os focos de contestação, porque, mais do que jogar pior do que os outros, eles estão a trazer malefícios de ordem emocional para a equipa. Resultado? Os jogadores visados acabam humilhados, e os que entram ficam com condições verdadeiramente difíceis para criar um impacto positivo, acabando injustamente acusados de não ter "mostrado nada". Tudo isto, claro, porque também não tem havido a felicidade que é necessária.

- Se há um aspecto em que sempre reconheci uma mais valia, em Domingos, é na resposta que as suas equipas deram no lado mental. Todas elas foram muito fortes nesse particular, conseguindo grandes desempenhos em situações de maior exigência e sendo muito fortes nos pormenores do jogo. No Sporting, porém, a sua entrada foi contrastante com esta tendência, acabando por ser no lado mental, e da eficácia, que a equipa se afundou para uma crise que, a meu ver, seria completamente desnecessária. Desnecessária, porque a equipa que cria mais oportunidades na liga, não pode acabar com 3 golos em 3 jogos. Desnecessária, porque uma equipa que não vê a sua linha defensiva ultrapassada em 3 jogos (as únicas ocasiões consentidas foram 2 remates de longe, e bolas paradas), não pode acabar com 4 golos sofridos. Desnecessária, sobretudo, porque os problemas que desencadearam este estado de coisas eram perfeitamente previsíveis. Não por mim, mas pela generalidade das pessoas. Era previsível que não tendo uma solução de finalização credível, a equipa passasse, mais tarde ou mais cedo, por dificuldades. Era previsível que, passando por essas dificuldades, a instabilidade se alastrasse à confiança e ao rendimento da equipa. Era previsível que, expondo-se a ter de gastar 2 substituições por jogo, a equipa poderia acabar refém do problema das lesões, também ele previsível e facilmente antecipado. Domingos tem feito um bom trabalho a vários níveis, o Sporting evoluiu muito, e a sua qualidade não tem nada a ver com o passado. Mas o objectivo do futebol não é a nota artística, é ganhar. Se Domingos não ganhou, foi por não ter evitado situações desnecessárias e previsíveis.

- Entrando no jogo, começo pela construção. Houve, nos primeiros minutos, uma grande distância entre a primeira e segunda linhas de construção. Isto, porque o Marítimo fez um pressing especulativo e facilmente contornável, se tivesse havido apoio de um dos médios à construção (aqui começa o efeito André Santos, que abordarei à frente). As coisas foram melhorando, a primeira linha de construção foi subindo, ganhando o Sporting com isso. Identificam-se alguns movimentos de saída, todos recorrendo às alas, e nenhum incluindo os médios. Mais forte sobre a direita, por causa de Polga, mas sobretudo por causa de João Pereira, que, ao contrário de Evaldo, identifica os momentos de entrada em profundidade para receber num segundo momento. Quando a equipa sai sobre a esquerda, quase invariavelmente, a bola entra, do central no lateral, deste para o extremo, e deste... para trás. Postiga também esteve mais envolvido do que em jogos anteriores, destacando-se sobretudo as suas acções num segundo momento, e sobre as alas, onde me parece ser o local onde realmente as suas incursões podem ter alguma consequência concreta. O que não parece coerente, é uma equipa ter um avançado que vem para as alas, e um extremo (Capel) que procura preferencialmente a linha para cruzar. Vale Izmailov, não apenas por ser o único jogador que, nesta altura, parece ter uma boa relação com a baliza, mas por ser, também, o único com criatividade para provocar situações de rotura (foi o único a criar ocasiões, em bola corrida). Depois, e quero apenas acrescentar isto, para não me alongar em demasia, o Marítimo tinha de ser ultrapassado no aproveitamento do espaço entre sectores, pelo espaço que dava dentro do seu bloco, coisa que não foi rapidamente percepcionada pela equipa. Enfim, vê-se trabalho, a equipa produz o suficiente para ganhar a este nível, mas há várias coisas a melhorar. O destaque principal, claro, vai para o último terço, onde não há, sobretudo, grande coerência em alguns movimentos.

- Mas a equipa, fez, de facto, o suficiente para ganhar o jogo, não fossem... os lances de bola parada. É difícil de explicar para quem vê de fora, tanta insegurança. Nota para o facto de ser repentina, porque nos outros jogos, isso não aconteceu. Sem poder ter certezas, não descontextualizaria as entradas de Carriço e André Santos, dois jogadores muito mais fracos na reacção no espaço aéreo do que Rodriguez e Rinaudo. Mas, há outros pontos a abordar. O pressing, que não foi, como é hábito, agressivo sobre a primeira linha. O Sporting não potenciou o erro, e é possível que tenha sido estratégico, antecipando o jogo directo do Marítimo. O ponto é que Postiga não teve uma acção que obrigasse, sequer, a bater longo, e o Marítimo saiu, na primeira parte, algumas vezes a jogar com mais ligação do que o Sporting desejaria. Outro aspecto, é a linha defensiva, que não foi tão agressiva em altura, como é hábito. Estratégico? Reacção à ausência de pressing? Finalmente, e talvez, mais importante, a reacção à perda. Pareceu-me, e a estatística sugere-o, também, que o Sporting foi menos eficaz na transição ataque-defesa. O Marítimo ficou menos vezes "preso" no seu meio terreno, e o Sporting teve uma presença ofensiva menos continuada do que foi hábito nos primeiros 2 jogos. Por outro lado, talvez se explique, por aqui, o número elevado de cantos e bolas paradas do Marítimo. O Sporting nunca perdeu o controlo sobre as iniciativas insulares, seja em organização ou transição, mas conduziu-as para as fatídicas bolas paradas. Há um motivo que me parece incontornável...

- Começo com um dado estatístico:

cortes/antecipações:
Rinaudo (média 2 jogos): 18,5 (10 em transição ataque-defesa)
A.Santos (vs Maritimo): 9 (4 em transição ataque-defesa)


Rinaudo pode ser um jogador com pontos onde deve evoluir. É. Pode ter feito uma má primeira parte em Aveiro, em termos técnicos. Fez. Mas, no balanço, do que se perde e se ganha, Rinaudo é incomparavelmente superior a André Santos ou a qualquer outro médio da equipa. Tem muito mais presença em posse, tem um bom critério (privilegia a segurança) e, sobretudo, é um jogador muito mais bem posicionado e reactivo nos aspectos defensivos. Isto, num meio campo onde não abunda a agressividade ou a capacidade de agressividade no espaço, é decisivo. Nomeadamente, na reacção à perda, Rinaudo é excepcional, e uma mais valia tremenda, sendo decisivo para que a equipa se mantenha no meio campo ofensivo. Sobre André Santos, sendo um bom jogador, com boas características, está longe de ser, no presente, uma mais valia. Tem um caminho a percorrer para o ser, precisa de evoluir em especificidade, coisa que não fez, nem tem feito. Dou o exemplo do 2º golo, e sem contornar a responsabilidade maior de João Pereira, ou, mesmo, a má fortuna de Patrício. O Marítimo fechou a saída pelo corredor, e fechou também a linha para o central, João Pereira ficou sem solução e precipitou-se ao solicitar cegamente a zona do pivot. O erro é de João Pereira, sem dúvida, mas André Santos devia estar lá, e não estava porque não acompanhou correctamente a jogada, adiantando-se excessivamente e neutralizando o seu papel de apoio. Mais à frente, e tal como já acontecera no golo contra a Olhanense, não antecipou o movimento de Sami, e desguarneceu a zona central. Devia, igualmente, tê-lo feito porque era aquele movimento que lhe cabia controlar. Elias será uma mais valia para esta zona, mas o potencial que oferece Rinaudo, salvo problemas físicos, não pode ser tão facilmente desprezado, mesmo com a chegada do brasileiro.
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