15.8.11

Gil Vicente - Benfica: opinião

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- O caminho que o jogo tomou até ao empate final talvez não tenha sido o mais provável, mas, combinadas todas as incidências, o resultado não pode ser considerado uma surpresa. Porque o Benfica começou por tirar partido da eficácia, numa primeira parte onde não conseguiu, em boa verdade, uma superioridade condizente com as expectativas. E porque, depois, acabou por ser traído, precisamente, por um golpe de eficácia, numa segunda parte onde, finalmente, havia sido capaz de garantir, pelo menos, um forte domínio territorial.

- Na revisão que havia feito da pré temporada, destaquei o aspecto emocional e dificuldade que a equipa vem sentindo em ser consistente, mantendo-se à margem de sobressaltos inesperados. Ora, logo na primeira jornada, se constata a perda de 2 pontos quando já poucos esperariam. Talvez seja o lado ofensivo que mais mereça correcção no jogo, mas, se o Benfica sofreu 2 golos, eles surgiram de erros individuais evitáveis (Ruben no primeiro e, menos grave, Javi no segundo). Mais do que jogadores ou investimentos, seria fundamental que o Benfica corrigisse o problema da concentração competitiva e da consistência emocional, porque, sem isso, dificilmente atingirá os objectivos a que se propõe.


- No que respeita à história do jogo, houve, de facto, duas partes de tendências distintas. Na primeira, o jogo foi mais repartido, com o Benfica a ter muitas dificuldades em instalar-se no último terço. Para uma equipa como o Benfica, é fundamental conseguir que o adversário "encoste", porque a equipa pode, depois, exercer um domínio continuado, através da boa reacção à perda, que tem. Quantos golos vimos durante a "era Jesus" a partir de recuperações imediatas, no último terço? Como não conseguiu levar a melhor na luta das primeiras bolas, nem conseguiu uma boa resposta em construção, o Benfica teve de dividir o jogo, na primeira parte. A vantagem ao intervalo, ainda que por 1 golo, era já um excelente resultado face ao que se tinha passado até aí.

- Na segunda parte, foi diferente. Houve a troca de Aimar por Witsel, e a alteração de sistema, mas não creio que tenha sido esse o principal motivo da mudança. Parece-me que o Gil passou a ter mais problemas posicionais, baixando demasiado, ou tornando-se pouco compacto quando tentava subir a sua primeira linha de pressão. Resultado? O Benfica chegou com facilidade ao último terço, passou a dominar o jogo pela resposta em transição ataque-defesa, e o Gil deixou de chegar à frente, durante longos períodos, mesmo do meio campo. Ainda que essa superioridade fosse pouco efectiva em termos ofensivos, deve ser reforçado que, na fase em que aconteceu, o golo do Gil foi um acidente.

- Entrando nos aspectos tácticos, há apenas que realçar os problemas ofensivos, já que o Gil não conseguiu potenciar, de forma continuada, eventuais lacunas na resposta defensiva do Benfica. As suas 3 ocasiões resultam, 2 de erros individuais, e 1 de pontapé longo do guarda redes. No que respeita ao capítulo ofensivo, de facto, a produção do Benfica foi demasiado escassa para o que a equipa se deve exigir. Não em termos de posse e domínio territorial, mas em termos de proximidade real com o golo. Em particular, espanta a incapacidade da equipa no último quarto de hora, já depois do empate. Com pleno domínio, e perante um adversário claramente mais frágil, o Benfica não criou 1 única ocasião para regressar à vantagem. Aqui, nota para o facto de Jesus não ter alterado nada a partir do banco, quando lhe faltava 1 substituição. Irónico, se considerarmos o enfoque dado ao "maior número de soluções", no discurso do treinador.

- No que respeita à construção, voltou a notar-se, em especial na primeira parte, uma tendência para baixar Javi e organizar a partir dos centrais. De novo, e tal como venho salientando, a saída pelos corredores, através dos laterais foi a solução dominante, e previsível. Aqui, o principal ponto a notar vai para as características do flanco esquerdo. Emerson é um jogador claramente defensivo (e tem dado boa resposta, aí), havendo, por outro lado, um aproveitamento muito inferior das potencialidades de Nolito quando solicitado a partir do seu flanco, e não em diagonal (quer no espaço, quer no pé). Ora, isto facilita, por exemplo, a estratégia de qualquer equipa, sabendo que se condicionar a saída de jogo pela esquerda, poderá reduzir drasticamente o potencial ofensivo do Benfica. Cabe a Jesus trabalhar as alternativas de saída, através dos movimentos interiores dos alas e dos avançados, e não fazer depender tanto a saída, dos laterais.

- Individualmente, nota positiva para Saviola. Vinha alertando para a sua quebra de rendimento, mas em Barcelos voltou a estar influente ofensivamente, sendo mesmo o protagonista que mais problemas trouxe ao adversário, com a sua movimentação no espaço "entrelinhas". Relativamente ao ponto anterior, Saviola, pela sua qualidade de movimentos, pode ser uma parte importante da solução. Basta que todos queiram. De resto, destacaria aqueles que foram os "vilões" do jogo, Ruben e Javi. Estiveram negativamente ligados aos golos sofridos, mas tiveram um desempenho de muito bom nível, em praticamente todo o jogo.
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