29.8.11

Barcelona - Porto: opinião

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- Começo pelo enquadramento. Este não era um jogo "normal", nem, tão pouco, um jogo conclusivo, em relação àquelas que são as prioridades de evolução imediata da equipa, ou, mesmo, em relação àquilo que são as suas realidades térreas. Não é correcto, a meu ver, partir deste jogo para extrapolar conclusões para aquele que é o contexto competitivo português. Não, porque há uma barreira enorme, em termos de dimensão competitiva. Mas, podemos, isso sim, fazer uma comparação simples, por exemplo, com aquilo que havia feito o Man Utd, na final da Champions...

Indicador: Man Utd/Porto
Passes Completados: 276/152
Passes Completados Barça: 704/631
% acerto em posse: 74%/61%
% acerto em posse Barça: 88%/85%
Oportunidades: 1/1
Oportunidades Barça: 8/5
Finalizações: 4/8
Finalizações Barça: 20/13

Ou seja, e tendo 1 jogo a validade que tem, não foi mau.


- De facto, no meu ponto de vista, este foi um jogo de enorme interesse, e foi-o, porque o Porto se manteve fiel à sua identidade. Entendo que esta possa não ser a ideia globalmente difundida, mas eu identifiquei os mesmos comportamentos, as mesmas intenções, e a mesma coerência estratégica de jogos, ditos, "normais". O produto final, obviamente, não foi o mesmo, mas isso tem sobretudo a ver com o condicionalismo imposto pelo adversário.

- Numa partição da opinião, começo pelo Porto e pelos seus comportamentos defensivos. Já me havia referido ao pressing do Porto e à sua "inteligência", comparativamente com o que habitualmente vemos, no sentido de ter uma intenção orientadora, antes da pressão activa, e, também, uma orientação estratégica identificável jogo-a-jogo. Porque pressionou alto o Porto, frente ao Barcelona? Porque era importante condicionar a construção, sim, mas porque sabia, também, que o Barça não iria responder com uma abordagem mais directa e forçar segundas bolas dentro do seu bloco. O resultado do condicionamento, começou por ser excelente. O Barça era empurrado para um lado do campo e dele dificilmente saía. Os problemas, porém, acabariam por surgir. O Barça passou a baixar de forma extrema a sua construção, usando Valdés (faz até lembrar a utilização do guarda redes, que é comum no futsal) e colocando Mascherano praticamente na linha de fundo. Esta solução acabou por resolver o problema do Barcelona. O Porto ficou desconfortável ao ter de pressionar numa área tão grande, deixou de identificar as suas referências normais para pressionar, e deixou de controlar os espaços dentro do seu bloco. Apareceram, finalmente, Xavi e Iniesta. Na segunda parte, ficou a ideia de que houve uma intenção de não forçar um inicio de pressão em zonas tão altas, provavelmente pelos problemas que o Barça vinha causando ao extremar a abertura do campo. O que se viu, porém, foi que o Porto deixou de fazer o condicionalismo do lado de saída, deixou de empurrar o Barça para um flanco, e passou a permitir, aí sim, que o Barça gerisse o jogo como lhe convinha. Construindo pelo corredor central, encontrando soluções no espaço "entrelinhas" e controlando muito melhor o momento (e zona) da perda. São compreensíveis as dificuldades de manutenção do rendimento, porque, a todos os níveis (colectivo e individual), não estamos a falar de uma equipa que se possa considerar "normal".

- Comentando o lado ofensivo, não posso deixar de começar por fazer a ponte com o ponto anterior. Ou seja, o que o Porto faz com bola depende sempre de como, e quando, a ganha. Foi melhor na primeira parte, onde criou problemas reais ao Barça, porque, nesse período, recuperou alto. Na segunda, passou a recuperar apenas em zonas baixas e isso, seja para quem for, frente ao Barça, é condição quase suficiente para se ser impotente em transição. Onde, talvez, a equipa fique mais a dever a si própria, é no momento de organização. Já me alongarei mais sobre este tema, e sobre um aspecto específico...

- Parto de um indicador estatístico, a %acerto em posse, no momento de organização (não transição ou bolas paradas):

Porto campeonato: 79%
Man Utd vs Barça: 79%
Porto vs Barça: 70%

Ora, é estranho que uma equipa que pretende ser (e normalmente, é) forte em organização tenha tido esta discrepância. De facto, o que os valores reflectem é apenas a má resposta que a equipa deu dentro do campo a este nível. A equipa não trabalhou o ponto de saída da bola, quando teve oportunidade de construir, nem, tão pouco, colocou em campo as rotinas que habitualmente se identificam. Neste ponto, gostaria de destacar um aspecto, muito importante, que tem a ver com a parte mental. O facto de se jogar com o Barcelona condicionou, claramente, a abordagem de certos jogadores, na hora de ter a bola. Vários. O lado mental é um aspecto que importa trabalhar em qualquer equipa. Decisivo, sem ponta de dúvida. O Porto 2010/11 foi muito forte nesse plano, mas este ano, que ainda vai curto, já assistimos a algumas coisas, menos positivas, que não se havia vislumbrado no anterior.

- Termino com a seguinte interrogação: Porque reage tão bem à perda, o Barça? Tem jogadores fortíssimos na reacção, e uma boa organização. Certo, e isso dar-lhes-ia, desde logo, enorme competência. É um aspecto que irei observar e comparar com outros casos, nos próximos tempos, mas diria que o Barça, pelo facto de não utilizar referências frontais em várias situações, tem sempre mais jogadores em condições de reagir do que a generalidade das equipas, mantendo, normalmente, poucos jogadores à frente da linha da bola. Enquanto que as equipas normais "prevêem" a perda com 2 linhas de 2+2, ou 2+3, o Barça tem frequentemente 2+4, ou 3+4. A confirmar...
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