21.6.11

O que conheço de Vitor Pereira

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A partir do momento em que se deu como provável a hipótese de saída de Villas Boas, e dada a situação de mercado, era o nome que mais fazia sentido, e a minha perspectiva apontava, precisamente, para a sua nomeação.

A minha curiosidade em relação ao desafio que Vitor Pereira tem agora pela frente, é especial. Foi o treinador que acompanhei mais de perto, e, imagino, poucas pessoas terão tido a oportunidade de seguir boa parte da sua carreira como eu tive. Refiro-me, em particular ao seu trajecto de quase duas temporadas no Sp.Espinho, onde, na altura, fazia o acompanhamento integral dos jogos da equipa, como comentador de rádio.

Começo por dizer que, desde essa altura, e mesmo aquando da sua entrada no clube, a sua competência era muito elogiada, avançado-se já a possibilidade de uma carreira de sucesso até ao mais alto nível.


Vitor Pereira chegou ao Espinho para herdar uma equipa acabada de descer da Liga de Honra, onde a generalidade do plantel se manteve. A primeira época foi jogada essencialmente em 4-3-3, mas também em 4-4-2, em situações especificas. O objectivo do 1º lugar esteve perto, mas acabou por fugir numa fase final em que outros clubes claramente investiram mais.

Mais interessante, foi a segunda temporada. Vitor Pereira promoveu uma revolução radical no plantel, mantendo apenas 2 jogadores do anterior elenco, numa decisão muito contestada e que revelou coragem pelo risco e responsabilidade que envolveu. O plantel foi composto com jogadores para uma ideia de jogo enquadrada com as suas características. O Espinho começou a jogar num sistema assimétrico, com um lateral muito ofensivo e outro muito posicional e próximo dos centrais. Mas a principal característica da equipa era a forma repentina como verticalizava o jogo, recorrendo a uma dupla de avançados que se complementava muito bem. Um jogador muito forte na primeira bola aérea e um outro explosivo na profundidade. Para além do seu modelo base, Vitor Pereira tinha uma estrutura alternativa, mais larga na linha média, com que jogava intencionalmente para provocar o factor surpresa com o decurso das partidas. O Espinho dominou o campeonato durante grande parte do tempo, parecia ter o primeiro lugar bem encaminhado já em plena segunda volta, mas inesperada e repentinamente o cenário inverteu-se e Vitor Pereira acabou por sair do clube, ainda com a época em curso, numa sequência de acontecimentos que, pessoalmente, nunca ficou muito clara.

A descrição acima pode indiciar um perfil radicalmente distinto de Villas Boas, porque o futuro treinador do Chelsea deixou uma imagem de ser um cego seguidor de uma filosofia de jogo apoiado e valorização de posse. Na verdade, não creio que assim seja. A filosofia de jogo que adoptou no Porto obedece a uma escolha feita em função das circunstâncias e recursos. Entendo que Villas Boas vale muito mais do que alguém que reduz o futebol à aplicação prática de um dogma e que tem, acima de tudo, uma fidelidade ao "seu modelo" e não a "um modelo". Essa versatilidade, de reconhecer a variabilidade do jogo em função de cenários e circunstancias é uma virtude que, a meu ver, ambos comungam.

Vitor Pereira, prevejo, manterá a linha de orientação do modelo de jogo, mas surgir-lhe-ão inevitavelmente novos desafios a que estou certo que responderá com coragem e confiança. Infelizmente, do ponto de vista da antecipação de perfil táctico, não posso ir muito além disto, porque o que dele conheci foi num cenário competitivo completamente diferente.

Do ponto de vista do desafio, parte com o enorme peso do paralelismo que, inevitavelmente, será feito com o ano anterior. Um "fardo" injusto, uma vez que em futebol não há cenários iguais ou repetiveis (e nem o próprio Villas Boas o teria), mas que faz parte do jogo.

Duas notas finais para algo muito salientado durante a apresentação: a "estrutura Porto". Parece-me incontornável a importância desse factor, que, no caso, garante a possibilidade de ser nomeado alguém com o perfil de Vitor Pereira, que seria impensável em qualquer dos outros "grandes". A outra nota tem a ver com a competência de Vitor Pereira em termos metodológicos. Algo que não é garantido por mim, mas mais uma vez pela qualidade da "estrutura". O sucesso, será outro assunto muito mais complexo, e que começaremos a analisar a seu tempo...

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