29.4.11

Porto - Villarreal: Estatística e Análise

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1- Tenho de começar por abordar a atipicidade do jogo. É que, sendo objectivo, a goleada encontra a sua principal justificação na enorme diferença de eficácia entre as duas equipas, e não no número de oportunidades que estas construíram, que, tudo somado, foi muito próximo. Não posso, portanto, concluir que o Porto foi substancialmente mais competente do que o seu adversário na interpretação da proposta que trazia para o jogo, e a forma mais correcta que encontro para tentar explicar o sucedido é através do recurso a uma expressão utilizada pelo próprio Villas Boas: "a transcendência dos jogadores". Se, para além da eficácia, constatarmos ainda que a maioria dos lances de perigo eminente do Villarreal foram salvos por jogadores portistas, e não apenas desperdiçados pelos adversários, então fica clara a conclusão de que o resultado, sendo a consequência de um diferencial de aproveitamento, é também o reflexo da diferença da capacidade de superação dos jogadores nos momentos chave do jogo. Mérito para eles, portanto.

2- O jogo começou com intenções claras de parte a parte. O Porto, percebendo a natureza do adversário e a sua disponibilidade para sair em apoio praticamente de qualquer zona do campo, arriscou no potenciamento do erro, subindo linhas e tentando roubar a bola em zona alta. O Villarreal, por seu lado, trouxe um 4-2-3-1 muito assimétrico, disposto a tentar tirar partido da profundidade à direita (Nilmar) e do apoio interior vindo da esquerda (Cani). O momento de transição seria, assumidamente, a sua aposta. O facto é que, perante este balanceamento foram os espanhóis quem conseguiram maior aproveitamento qualitativo das suas intenções, e de longe. Por 4 vezes nos primeiros 50 minutos Helton teve jogadores contrários isolados na sua frente, num registo provavelmente sem paralelo nesta temporada. O Villarreal sai goleado do Dragão, e nada servirá de prémio de consolação perante este desaire, mas fica, para quem viu, o registo da equipa que mais problemas causou ao Porto no seu estádio esta temporada. Mais do que os vencedores Benfica, Sevilha ou Nacional.


3- Ainda sobre os problemas do Porto na primeira parte, é verdade que a maioria dos lances aconteceu sobre a direita, mas mais relevante do que distinguir o lado dominante para o desfecho das acções, parece-me ser identificar a origem das mesmas. E, aí, a meu ver, entram três factores. A zona de perda da bola (muito baixa, com alguns erros na primeira parte), o risco da linha defensiva ("batida" várias vezes na tentativa de jogar alto e encurtar espaços) e o mérito do Villarreal (jogadas simples, por vezes condicionadas, mas que, mesmo assim, encontraram o tempo e definição certas). Sobre este último ponto, volto a lembrar algo que referi há tempos a propósito de um golo sofrido pelo Benfica nesta prova: nota-se uma grande diferença no aproveitamento que fazem jogadores de ligas como a espanhola ou alemã da "armadilha" do fora de jogo. Uma diferença que tem muito a ver com o hábito de jogar contra este recurso defensivo nesses campeonatos.

4- Da parte do Porto, o seu mérito tem muito a ver com a manutenção da intencionalidade e indiferença à adversidade. O jogo demorou a sair, mas quando saiu teve um impacto tremendo em termos mentais no jogo. Aliás, se houve equipa que mudou o jogo através de alterações próprias foi o Villarreal, retirando três dos seus melhores jogadores no jogo, e desfazendo a estrutura inicial. A reacção táctica ao impacto emocional da momento portista acabou por ser contraproducente, a equipa perdeu ordem, identificação e qualidade, acabando o "submarino" por afundar-se completamente. Foi, usando uma imagem do boxe, uma vitória por KO, e não aos pontos.

5- Nota para o segundo golo, provavelmente o que mais impacto teve no jogo. A jogada, com Hulk a abrir no flanco e Guarin a entrar no espaço entre o central e o lateral, é uma espécie de "clássico" desta época. Na goleada ao Benfica, por exemplo, esteve em foco o mesmo tipo de movimentação, então com Belluschi como protagonista.

6- Algumas notas individuais:
Sapunaru e A.Pereira - estrategicamente pouco participativos numa primeira fase, tentando levar com eles os extremos e deixando as despesas da construção para o corredor central. O costume. No último terço, e também num movimento habitual, Alvaro Pereira foi solução repetida para os cruzamentos, mas foi uma noite pouco inspirada.

Rolando e Otamendi - Um jogo muito difícil para ambos, tendo de jogar alto e assumir o risco de saber que se tem muito espaço atrás de si. Creio que não é por acaso que jogou Otamendi, que tem uma capacidade de reacção e recuperação muito maior do que Maicon. Se assim foi, Villas Boas acertou, porque foram decisivas as intervenções que ambos conseguiram em recuperação. De resto, e como é hábito, Otamendi muito mais interventivo defensivamente, Rolando muito mais certo com bola.

Fernando - Um jogo terrível para ele. Cometeu vários erros em posse, não conseguiu ser influente como é seu hábito e viu vários passes de rotura a serem protagonizados na sua zona.

Moutinho e Guarin - Dentro do melhor que se pode esperar deles. Moutinho, foi o mais influente e certo com bola, a melhor garantia da posse, e destacando-se pela excelente reacção à perda. Guarin foi outra vez o "homem bomba" da equipa, e uma espécie de barómetro da equipa. As suas primeiras tentativas foram um completo falhanço, mas quando acertou, teve um enorme impacto.

Falcao - De novo, a mesma referência. É repetitivo fazer-lhe os mesmos elogios, mas ele não deixa outra hipótese. Ou seja, é um temível finalizador dentro da área e a equipa tem tirado enorme partido dessa sua capacidade.

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