8.3.11

Braga - Benfica: Análise e números

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Não se previa um embate fácil para nenhum dos lados e, de facto, não foi. Particularmente, no caso do Benfica, foram muitas as condicionantes. Desde aquelas que se conheciam de antemão – desgaste e ausências – às outras que apareceram com o decorrer da partida – inferioridade numérica. Mas nenhuma dessas contingências retira ponta de mérito à réplica do Braga. Não só porque o próprio Braga teve a sua dose de infelicidade no jogo – lesões e ineficácia inicial – mas, sobretudo, porque a sua proposta de discussão do domínio foi implementada com sucesso na totalidade dos 90 minutos. Aliás, se o equilíbrio foi a nota dominante na partida, também não me parece que existam dúvidas de que foi o Braga quem esteve sempre melhor.

Notas colectivas
Começando pelo Braga, importa dizer que aquilo que a equipa fez é raro em Portugal. Tão raro, que o próprio Sporting não o ousou fazer de igual forma nos embates recentes com o Benfica. Ou seja, a proposta de jogo passou sempre por discutir o domínio territorial e não apenas jogar com o espaço, numa postura mais expectante. O elogio não passa, obviamente, pelo arrojo da ideia, mas pela capacidade de implementação da mesma. É que, não apenas o Braga tentou dominar, como que foi, de facto, a equipa que mais o conseguiu fazer em todas fases do jogo.

Domingos introduziu Paulo César no lugar de Mossoró e a equipa jogou em 4-4-2 clássico em praticamente todos os momentos. A ideia passava por ter uma presença forte em termos de pressing sobre a primeira fase de construção encarnada, forçando a verticalização do jogo e tentando rapidamente conquistar a bola. Aqui, o risco da estratégia é o habitual para quem tenta subir o bloco numa estrutura de apenas 3 linhas: o espaço entre sectores. Proximidade de linhas e agressividade táctica eram as respostas ao problema, e o Braga tentou servir-se delas.

O resultado desta estratégia foi uma supremacia mais continuada do Braga, mas, também, um Benfica a encontrar episodicamente os seus momentos de liberdade. Particularmente, sempre que superava a “barreira” dos 2 médios, Custódio e Viana. O que sobra é o aproveitamento e eficácia, e, aqui, há alguma ironia. Primeiro, porque o Benfica marcou na primeira verdadeira oportunidade criada. Segundo, porque o Braga, depois de ter desperdiçado alguns bons lances, acabou por ver o seu golo “oferecido” por um erro de Roberto.

Na segunda parte, e com a desigualdade numérica, o jogo mudou. O Braga deixou de ter de se impor para conseguir um domínio territorial que, agora, lhe era naturalmente cedido pelo adversário. A verdade, porém, é que o Braga esteve menos bem frente a 10 do que frente a 11. A sua posse recorreu demasiadas vezes às aberturas largas de Viana e muito menos a uma circulação mais dinâmica. Para mais, a equipa viu-se forçada, com as lesões, a mudar muitas posições e isso descaracterizou bastante a sua performance. O jogo acabou por lhe sorrir numa inspiração de Mossoró, mas não foi pela segunda parte que o Braga mais mereceu elogios.

Em relação ao Benfica, não dá para dizer que a equipa tenha feito um mau jogo. Nomeadamente, não acumulou um grande número de perdas em posse, apesar da pressão do Braga: um tipo de problema em que foi reincidente na pior fase da época. Mas dá também para assinalar, e de novo, a falta que o critério em posse faz a esta equipa. Especialmente, como foi o caso, em jogos onde a sua primeira fase de construção é condicionada. Algo que pode ser preocupante se tivermos em conta que, na Liga Europa, encontrará seguramente adversários mais dispostos a causar este tipo de problemas.

Notas individuais
Roberto – Salvou a equipa em algumas ocasiões, mas o golo é absolutamente imperdoável – bem mais do que aquele que sofrera frente ao Sporting. Sabe-se que os guarda redes vivem muito de estados de confiança e, por isso, é importante que Roberto recupere rapidamente desta fase, porque avizinham-se jogos decisivos e perante adversários com muitas armas no jogo aéreo.

Coentrão – Grande jogo do lateral. Impressionante a sua presença no jogo, vencendo um número infindável de duelos e ainda estando disponível para dar profundidade ao corredor. Obviamente que ganhou com a entrada de Gaitan, com quem se entende muito melhor.

Luisão – Não é novidade que seja ele o “patrão” do sector, mas, desta vez, esteve mesmo a grande distância daquilo que fez Sidnei.

Javi Garcia – Depois do brilharete frente ao Sporting, estava a fazer um jogo útil para equipa. Ou seja, não estava a ser suficiente para evitar o domínio do Braga, mas estava a manter um bom apoio posicional à zona central e sem erros comprometedores em posse, até à expulsão.

Carlos Martins – Não decidiu sempre bem, mas teve um papel difícil e que exerceu com bastante sucesso no jogo. Ou seja, frequentemente foi forçado a jogar sob grande pressão, à saída da zona de construção, dependendo do sucesso das suas acções, ou a perda de bola em zonas proibitivas, ou a possibilidade de explorar o espaço entre linhas do adversário. A verdade é que Martins não teve qualquer perda comprometedora e esteve na génese da maioria dos ataques rápidos da equipa. A equipa perdeu com a sua saída e não apenas por motivos de ordem táctica.

Menezes – O pensamento indutivo, tem-no sob mira. Far-se-á, sempre, uma relação directa entre a derrota e a sua utilização. A verdade é que Menezes, longe de ter feito um jogo fantástico, cumpriu perfeitamente o que dele se exigia, trabalhando bem defensivamente e participando também com correcção em termos ofensivos.

Jara – Esforçado, sim, mas com pouca utilidade para a equipa. Especialmente na segunda parte, onde a possibilidade de dar profundidade foi menor. Não dá para fazer grande critica, dada a sua utilização fora de posição. Não me espanta que Fernandez fique na bancada – referi-o antecipadamente – mas continua-me a espantar como é que o Benfica o foi buscar no mercado de Inverno!

Hugo Viana e Mossoró – Não apenas pelos golos, os melhores em campo. Viana exagerou demasiado no passe longo, na segunda parte. Uma opção que, prevista ou não, acabou por impedir que os movimentos envolventes de Mossoró dessem sequência ao que prometeram, logo após a sua entrada.

Silvio – Fala-se na sua transferência para o Porto. É jogador útil, pela sua versatilidade e, sobretudo, pela sua capacidade de antecipação e leitura defensiva (ainda que tenha de corrigir alguns aspectos posicionais). Não tem, porém, capacidade ofensiva para poder ser uma mais valia numa equipa como o Porto.

Lima – Outro que se fala poder mudar-se para o Dragão. Lima é um jogador muito difícil de neutralizar, porque tem uma boa capacidade de movimentação – joga muito bem com a última linha – e, sobretudo, porque é um temível finalizador. O seu lado menos forte é o jogo interior, onde não é um jogador muito consistente. Mas pode encontrar o seu espaço numa equipa como o Porto, mesmo que não seja como primeira opção.

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