21.12.10

Paços - Porto: Análise e números

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Tinha tudo para ser um teste difícil, e acabou por sê-lo, mesmo se começou por não parecer. A Mata Real é um marco especial do trajecto das equipas, especialmente das “grandes”. Porque na Mata Real há menos espaço e porque, na Mata Real, mora habitualmente uma equipa que sabe transportar o jogo para uma dimensão mais mais física e menos técnica do que habitualmente acontece. A Mata Real é um campo de futebol directo, e esse é um estilo pouco do agrado de quem tem na técnica uma vantagem competitiva. O problema é que, na Mata Real, quem não se adapta ao estilo, normalmente dá-se mal. Foi isso que quase aconteceu ao Porto. Não porque não se tenha tentado adaptar ao estilo, combatendo-o, mas porque, mesmo assim, teve dificuldades. Valeu-lhe, sobretudo, a madrugada do jogo.

Notas colectivas
Começo pela pergunta que provavelmente mais intrigará quem viu o jogo: porquê que as 2 partes foram tão diferentes? Como sempre, entendo que a complexidade do jogo relega a resposta para uma combinação de vários factores e não para o isolamento de alguns. Ou seja, a atitude do Paços foi diferente, com Rondon mais isolado na primeira parte, e a equipa menos bem posicionada para abordar as segundas bolas. Depois, porque a sua própria pressão foi mais baixa e menos agressiva sobre a primeira fase de construção portista. Ou seja, o Porto, com a sua qualidade em posse, fazia o jogo instalar-se no meio campo adversário e, mesmo quando perdia a bola, podia pressionar imediatamente, impedindo o Paços de subir no terreno – destaco aqui a diferença no primeiro passe de transição do Paços, na primeira parte sempre para trás, na segunda, muitas vezes para a frente.

A estes aspectos, mais de ordem táctica, há que juntar outros, de ordem emocional. Ou seja, o Porto abriu o jogo com uma ocasião a partir de uma bola parada. Isso pode ter condicionado a atitude dos pacenses, encolhendo-se mais perante as dificuldades. O mesmo se pode dizer do Porto da segunda parte. Ou seja, perante os primeiros sinais de reacção do Paços, a equipa não terá tido a resposta mais autoritária, encolhendo-se mais para proteger a zona à frente da sua defesa e sendo cada vez menos capaz de fazer subir o epicentro do jogo.

Talvez esse seja o aspecto que mais mereça reflexão por parte dos portistas: porquê tanto encolhimento? Gostaria de falar de 2 pontos a este respeito: o primeiro tem a ver com a entrada de Souza. A estratégia foi proteger a zona à frente dos centrais, particularmente à esquerda. Compreende-se, dados os primeiros sinais do Paços, com o posicionamento de Di Paula mais próximo de Rondon, mas terá também sido um sinal de recuo lançado à própria equipa, a colocação de um jogador com uma missão estritamente posicional, e com tanto tempo por jogar. O Porto tem jogadores cultos tacticamente e poderia ter mantido a estrutura, pedindo apenas um posicionamento mais prudente à sua linha de 3 médios. Por exemplo, fazendo Moutinho – que tem melhor sentido posicional – jogar pela esquerda e mais próximo de Guarin. Isto leva-me ao segundo ponto, que tem a ver com a saída em transição e com a profundidade da mesma. Ou seja, perdendo um extremo – e contando também com algumas más decisões individuais – o Porto esteve demasiado tempo sem capacidade de se fazer sentir junto da baliza contrária. Isto, aparentemente, pouco terá a ver com as dificuldades de controlo continuado, mas a verdade é que, regra geral, quando uma equipa se sente ameaçada também tem menos confiança nas acções ofensivas posteriores. Era importante que o Porto tivesse conseguido de forma mais regular o aproveitamento do espaço em transição, e isso não aconteceu.

Uma nota sobre o Paços que teve, de facto, muito mérito naquilo que aconteceu na segunda parte. Atitude, agressividade e, em alguns momentos, qualidade. Destaco o trabalho de Rondon, que não sendo um jogador alto, conseguiu servir de referência às primeiras bolas, e também Leonel Olímpio, que é um jogador forte, tanto tecnicamente como em agressividade: um jogador, talvez, a merecer uma análise de clubes de outra dimensão, mesmo tendo em conta a idade.

Notas individuais
Sapunaru – Está, de facto, a fazer uma boa época. Surpreendentemente. Não creio que mereça o estatuto de “titular”, como Álvaro Pereira merece à esquerda, por exemplo, já que Fucile, apesar de alguns erros que recorrentemente repete, é muito mais forte em vários aspectos. Ainda assim, num jogo destas características, não havia dúvidas quanto à maior adequação do perfil de Sapunaru.

Otamendi – Não esteve isento de erros, mas estes foram apenas sombras na exibição que conseguiu. Jogos de luta, a pedir intervenções constantes, são o que mais gosta. Ganhou um número imenso de bolas e deu boa sequência a grande parte do jogo que por si passou - muitas vezes, diga-se, em situações nada fáceis. É curioso comparar-se o nível de intervenção dos 2 centrais. Parece que jogaram jogos distintos, mas não, é sobretudo uma questão de perfil. Algo que, de resto, já venho alertando há bastante tempo.

Guarin – Esteve sempre na “luta” do meio campo, com entrega e carácter. Ganhou muitos duelos, mas teve também alguns erros – demasiados – com potencial prejuízo para a equipa. Não aconteceu, mas quem joga na sua posição tem de garantir mais segurança.

Belluschi – Não fez um jogo extraordinário, sobretudo porque não desequilibrou. Mas, no que respeita à capacidade de trabalho e qualidade, foi mais uma prova de que é muito mais do que um simples criativo. Voltou a não ser tão certo no passe como Moutinho, mas voltou também a mostrar a sua maior capacidade interventiva. Algo que já não pode surpreender quem anda minimamente atento...

Hulk – Voltou a ser o elemento mais determinante nos desequilíbrios ofensivos. A sua capacidade individual é enorme, como facilmente se percebe, e tem também uma boa atitude defensiva. O problema dele continua a ser algum deslumbramento em certas fases do jogo. Por vezes pede-se mais lucidez e objectividade na entrega e se Hulk tivesse sido mais capaz nesse aspecto em algumas transições da segunda parte, talvez o jogo não tivesse sido tão difícil.

James Rodriguez – Teve um enorme aproveitamento do jogo que por si passou e até colocou uma bola soberba, que isolou Falcao – mais uma vez, o seu pé esquerdo é a sua arma. Mas passou demasiado tempo longe do jogo, não sendo muito prestável sem bola, nem muito presente com ela. Este era um jogo em que era preciso mais luta e ele até tem essa capacidade de trabalho. Tem tempo, repito...

Walter – Apenas uma nota para referir que me parece totalmente errado fazer uma associação linear entre a sua presença em campo na segunda parte e as maiores dificuldades sentidas pela equipa. Não que tivesse feito um grande jogo, ou que Falcao não pudesse ter dado mais à equipa. Não é isso. Simplesmente, não foi por ele. Marcou, é verdade, mas continuo à espera das suas “bombas”. Parece retraído, demasiado preocupado em ser generoso, mas quando se tem o seu poder de remate, a meu ver, há que incentivar um pouco mais a sua utilização...



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