7.10.10

Guimarães - Porto: Análise e números

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Não deixa de haver alguma ironia que na primeira perda de pontos se reconheça um falhanço precisamente no plano para o qual o treinador tantas vezes havia alertado: o plano emocional. Talvez seja da parte do próprio treinador portista que venha a melhor imagem dessa perda de controlo, mas há outros indicadores que, dentro do campo, também o evidenciam. É verdade que a situação nunca esteve fora do controlo e que o golo do Vitória veio de uma jogada isolada, e não de uma reacção que tenha tornado eminente o empate. Mas essa é exactamente a questão da importância controlo emocional. Ou seja, numa situação tangencial, e mesmo que o jogo esteja aparentemente controlado, é preciso manter o alerta, a concentração e a intensidade. Não foi isso que o Porto fez. A posse perdeu qualidade, tornou-se mais displicente e menos consequente, numa perda de atitude que acabou por colmatar num erro individual perfeitamente evitável e que deitou tudo por terra. Será preocupante? A resposta partirá sempre de dentro, porque da reacção às adversidades é que se fazem os campeões.

Notas colectivas
Não demorou muito para se perceber quem iria ser o “dono” do jogo. Na verdade, ver a bola mais tempo do lado do Porto era algo que já estava nos planos de Manuel Machado, pelo que não seria esse o problema do Vitória. A complicação vem, isso sim, do controlo que o Vitória não conseguiu ter sobre a posse portista. As combinações nas laterais, através dos triângulos característicos do 4-3-3 portista, conseguiam dar constante profundidade aos corredores e, no centro, os movimentos verticais dos médios – Belluschi e Moutinho – também tiveram os seus momentos de desestabilização. O golo acabaria por acontecer num desequilíbrio individual e mais tarde outra ocasião clara, numa situação de ataque rápido. Pelo meio, a estratégia do Vitória conseguiu apenas 1 lance de acordo com a sua estratégia de transição. Apenas 1, mas 1 de enorme perigo e, também, perfeitamente típico das equipas de Machado, com vários elementos a aparecer rapidamente na transição e a tornar tudo muito difícil para quem defende. Por isso é que a posse deve ser tratada com especial cuidado frente às equipas de Machado.

A exibição portista nunca foi fulgurante. Não foi, mas também não tinha que ser, como bem demonstra a série de vitórias que a equipa conseguiu. Aliás, o jogo estava encaminhado na mesma direcção de muitos outros e, se o Porto não conseguiu desta vez guardar a vitória, deve questionar-se o porquê de tal ter sucedido. Se o fizer, encontrará seguramente criticas e pontos úteis para rever.

Posso começar por comentar o regresso da dupla Maicon-Rolando. Não é por acaso. Creio que é a dupla que nesta altura oferece melhores garantias, sobretudo num jogo que tinha tudo para que Machado potenciasse os pontos fracos de Otamendi (primeiras bolas e erros em posse). Mas talvez Villas Boas esteja a lamentar não ter ido mais longe. Fucile tem características que lhe deverão garantir a titularidade, e estava a fazer um bom jogo, mas o seu lapso é gritante e, sobretudo, dificilmente seria cometido por Sapunaru, que tem neste tipo de lances o seu ponto forte. Não se pode, porém, criticar o treinador por adivinhar o inadivinhável.

O que se passou na segunda parte foi um relaxamento mental da equipa perante um jogo aparentemente controlado. Uma “bomba” que explodiu no erro de Fucile, mas que tinha tido o seu rastilho em várias situações em que alguns jogadores não deram o devido seguimento à posse de bola colectiva. Varela esteve bastante errático, mas talvez seja Hulk quem mais deva ser criticado nesse aspecto, já que perdeu demasiadas vezes a bola, abusando de iniciativas individuais. Outra critica que me parece evidente é de abdicar de um elemento como Belluschi quando se precisa de um momento de inspiração.

Notas individuais
Fucile – É um bom jogador e a melhor solução que o Porto tem para a posição, mas tem um problema. Fucile tem uma queda para o desastre, especialmente em jogos e momentos de maior intensidade. Lembro-me de erros e expulsões em jogos decisivos (lembram-se do Schalke?). Demasiados para que a coincidência seja a explicação mais provável. Talvez o ambiente de Guimarães lhe tenha feito mal...

Álvaro Pereira – É um excelente lateral, com grande intensidade e capacidade ofensiva. Raro é o jogo em que não tem influência ofensiva relevante. Ainda assim, há uma margem de evolução que Álvaro Pereira pode percorrer. Repetidamente erra demasiados passes e deve trabalhar a certeza nesse capítulo.

Belluschi – Voltou a ser extremamente útil na recuperação. Às vezes parece que a bola não pára de ir ter com ele, quer em intercepções, quer em primeiras e segundas bolas, mas a repetição desta tendência é tanta que o acaso não pode ser justificação. Se combinarmos esta característica com a sua verticalidade e capacidade de desequilíbrio, não se percebe porque sai num momento decisivo.

Varela – Ao contrário de Hulk, não está a fazer um campeonato tão bom quanto o crédito que lhe é dado. Muitos são os jogos em que passou literalmente ao lado e este foi mais um deles. Seria bom que a sua capacidade de desequilíbrio fosse mais constante de jogo para jogo.

Hulk – É impressionante o golo que marca e é impressionante o campeonato que está a fazer. Tão impressionante que o próprio parece estar deslumbrado. Hulk é demasiado bom para este campeonato e à medida que o próprio o vai percebendo e sentindo, vai também aumentando o risco de se tornar no jogador que foi após o golo. Ou seja, displicente e egocêntrico no jogo. A equipa por pouco não ganhou à sua custa, mas se tivesse mantido outra atitude, teria seguramente vencido mesmo o jogo. A questão não está tanto nas suas decisões quando está perto da área, mas naquelas que toma numa fase anterior, quando a equipa procura “crescer” no campo. Nesse aspecto, foi a primeira vez que lhe vi este tipo de displicência neste campeonato e isso não deve ser ignorado por quem lidera a equipa.



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