4.10.10

Benfica - Braga: Análise e números

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Os dois escolheram o exagero para enfatizar o mérito das respectivas equipas. A verdade, como quase sempre, está algures no meio. Nem o Benfica criou muitas oportunidades de golo, nem o Braga foi capaz de ter uma grande reacção depois do 1-0. O Benfica foi quem teve domínio por mais tempo, mas não se pode dizer que tenha estado mais perto do golo do que o Braga. Com uma coisa concordo com Domingos: a eficácia e o primeiro golo seriam determinantes e, num jogo de poucas oportunidades, ambas as equipas poderiam ter conseguido essa vantagem. Outra coisa que as equipas partilham é o escasso número de erros durante o jogo. Um dado que, afinal, nem pode ser considerado muito normal, se tivermos o momento que ambos atravessam.

Notas colectivas: Benfica
O arranque do jogo foi muito bom. Boa atitude, pressionante e autoritária, impediu o Braga de jogar e manteve o jogo no meio campo contrário durante largos minutos. Para isso, contribuiu a boa postura e competência em ambos os momentos defensivos da equipa – organização e transição. Também a organização ofensiva merece nota. Coentrão recuou para lateral e mereceu uma estratégia especial de Domingos, com Salino a descair para a direita. O Benfica começou por se dar bem com o plano adversário. Circulou com fluidez em zonas baixas, obrigando o Braga a ajustar constantemente o posicionamento do seu bloco ao longo da largura do campo. Depois, o lado esquerdo – e apesar da tal colocação de Salino – foi quase sempre o flanco escolhido para o primeiro passe vertical. Primeiro, porque Lima tinha uma espécie de dupla missão no pressing mais alto e sentia dificuldades no tal ajustamento lateral à circulação que o Benfica fazia na sua linha mais recuada. Depois, porque Gaitan foi um elemento importante na criação de linhas de passe, acrescentando um problema ao Braga que esperaria apenas ter de controlar Aimar e Saviola no primeiro passe interior.

Mas o Benfica não foi, apesar dessa boa entrada, perigoso. Não foi porque, se na construção – com Gaitan, Martins e Coentrão em destaque – a equipa estava bem, mais à frente houve alguma desinspiração de Saviola e Kardec nos minutos iniciais. Com isto, perdeu-se o momento e abriu-se uma oportunidade para que fosse o Braga a crescer e a ameaçar. O jogo tornou-se mais dividido, menos dominado e, sobretudo, menos controlado por parte do Benfica. Nunca por causa de erros individuais, e mais pelo mérito que o Braga também teve em fazer valer os seus pontos fortes.

Acabou por ser feliz o Benfica, num lance que realça o mérito e capacidade dos seus elementos. Primeiro, a velocidade de transporte de Coentrão, a tirar tempo de organização à defesa do Braga. Depois, o papel vital desempenhado por Saviola, criando uma linha de passe que desfaz o 3x3 que o Braga criara no flanco. Finalmente, e já com o desequilíbrio numérico criado, Martins na inspiração final.

Um lance que decidiu o jogo, numa altura em que o seu destino era tudo menos óbvio.

Notas colectivas: Braga
Domingos arriscou uma estratégia compreensível, mas que não lhe saiu muito bem. Fechar a direita, abdicando de um extremo e introduzindo um ala interior – Salino – e “abrir” a esquerda, com o principal desequilibrador – Alan – e um lateral ofensivo – Elderson. Uma das virtudes desta opção seria não sobrecarregar demasiado o duplo pivot com necessidades de basculação, retirando-lhe a responsabilidade de vir à direita. E todos sabemos os problemas que o duplo pivot tem sentido em controlar o espaço entre linhas.

É sempre arriscado, e normalmente corre mal, mexer na estrutura de um momento para o outro. O problema que Domingos provavelmente não considerou foi a dificuldade de Lima “filtrar” a entrada de jogo pelo flanco direito, e foi por aí que o Braga começou por sentir dificuldades.

Outro problema evidente de Domingos, são as soluções para o meio campo. Percebe-se a preocupação do treinador em ter ao lado de Vandinho um jogador forte no passe, que possa dar qualidade, quer à construção, quer à saída em transição. Por isso opta, ora por Viana, ora por Aguiar ao lado de Vandinho, em vez do eléctrico Salino. Aguiar, e à parte do seu pontapé, é uma opção muito difícil de justificar em qualquer das posições onde vem jogando. Viana, e apesar de ter um sentido posicional muito mais apurado do que o uruguaio, também não tem a intensidade que muitas vezes se pede para a posição. Um problema, e isso viu-se pela paupérrima primeira parte que fez Aguiar, muito raramente em jogo. Melhorou com a troca com Viana, mostrando-se mais útil em zonas mais baixas, mas é para mim um mistério o porquê de sair Viana (a condição fisica não me parece suficiente) quando tinha um rendimento muito superior a Aguiar. Para este Braga, a perda de Mossoró criou um problema irreparável na dinâmica ofensiva.

Ainda assim, e apesar destes problemas, é importante notar a forma como o Braga sobreviveu à má entrada, evitando maiores situações de perigo junto da sua baliza. Aliás, e repito a ideia de ontem, num outro momento de confiança seria provável que o Braga conseguisse outro aproveitamento das oportunidades que criou e, nessa hipótese, dificilmente teria perdido este jogo.

Notas individuais: Benfica
Carlos Martins: não fez um jogo excepcional, mas apenas normal dentro daquele que vem sendo o seu rendimento. Realmente, só espanta o porquê de não ter tido mais minutos nos primeiros jogos. Martins não é hoje um jogador diferente do passado. Tem características excepcionais – como se viu no golo – mas faltam-lhe também outras. Está num bom momento e o seu desafio, como sempre, será a reacção mental a um momento mais adverso.

Gaitan: Foi um jogador muito importante na primeira parte, espalhando algum do seu "perfume" e protagonizando jogadas que, se fossem de outros mais consagrados, teriam sido fortemente empoladas. O problema é que Gaitan continua a arricar demasiado em zonas que podem ser muito perigosas num dia de menor inspiração, e isso, embora não tenha sido o caso, poderá custar caro. Ainda assim, a sua confiança está claramente a crescer e com ela fica bem mais claro o potencial que obviamente tem.

Saviola: A sua entrada no jogo foi, de facto, muito desastrada, perdendo quase todas as bolas que passaram pelos seus pés. Mas o acerto no passe não é a mais valia de Saviola. O que o distingue é a movimentação e foi isso que, de novo, fez a diferença. Esteve em todos os 3 desequilíbrios que a equipa conseguiu enquanto esteve em campo e fica-me a dúvida se o último e decisivo não terá vindo “just in time”. É que se preparava uma dupla substituição e se calhar Saviola iria sair. O seu momento técnico pode não deslumbrar, mas continua a ser a grande fonte de desequilíbrios da equipa.

Kardec: Importa falar dele porque, afinal, foi o substituto da grande ausência: Cardozo. É difícil dizer se o Benfica ficou a ganhar ou a perder, porque, face à sua irregularidade, não se sabe que Cardozo teríamos. Começou por ter muitas dificuldades em entrar no jogo, mas foi ganhando espaço e confiança e acabou por se fazer sentir no jogo aéreo. Seria bom para ele ter outra oportunidade...

Notas individuais: Braga
Paulão: Para mim foi a surpresa positiva do jogo. Dominou completamente a sua zona e não confirmou dúvidas que sobre ele se levantaram nos últimos jogos.

Silvio: Percebe-se bem que é o lateral mais fiável do Braga, quer à direita, quer à esquerda. De longe! A Selecção é outra conversa...

Luis Aguiar: Já falei dele atrás e também no Dragão havia tido uma prestação muito negativa, para além do golo. O seu pontapé é uma arma rara, mas tem de estar muito inspirado para compensar a nulidade de rendimento que teve. Domingos estará melhor quanto mais depressa encontrar alternativas para o uruguaio no modelo base. Pela amostra que tenho, é a única opinião que posso ter.

Salino: A sua energia dá nas vistas e muitas vezes acaba por parecer fazer mais do que aquilo que realmente faz. Ainda assim, é um jogador interessantíssimo, com grande intensidade e boa qualidade técnica. Só falta perceber qual é, realmente, a sua posição no modelo. Os elogios são, por isso, justificados (ainda que sem exageros), mas há que notar também que Salino representa um pouco da quebra de confiança e eficácia do Braga pós-Emirates. Frente ao Shakhtar teve 2 clamorosas ocasiões e, agora, mais um “penalti em movimento”. Como seria diferente a história - sua e da equipa - se tivesse tido um bom aproveitamento destas ocasiões...



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