27.9.10

Marítimo - Benfica: Análise e números

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O Funchal foi apenas a primeira curva de uma longa maratona para o Benfica. Um desafio a que se vê agora obrigado depois do seu mau inicio de época, e que força a equipa não só a ser competente, como a superar a carga psicológica que quem vai atrás sente sempre. O problema, basicamente, é que para quem vai atrás ganhar não chega, e isso impede a equipa de beneficiar de todo incremento de confiança que cada vitória traz. Para já, pode dizer-se, o Benfica passou o primeiro teste porque foi, simplesmente, demasiado competente para o Marítimo que apanhou. Mesmo com todos os problemas de eficácia. A qualidade de jogo não se questiona - nunca se questionou - mas esta eficácia dificilmente chegará para contornar o próximo obstáculo: o Braga.

Notas colectivas
Criou várias oportunidades de golo, mas não dá para dizer sequer que o Benfica tenha feito uma exibição fulgurante em termos de uma superação própria. Um pouco à imagem do que acontecera com o Sporting – embora com evidentes diferenças de qualidade e abordagem ao jogo – o Marítimo foi uma equipa demasiado inocente e permissiva em termos defensivos. Assim, e face a este Benfica, não só não podia disputar a posse – algo que estrategicamente não se propôs fazer – como não podia controlar defensivamente o adversário.

Mais do que os níveis de organização em cada um dos momentos, deve-se questionar a fraca intensidade dos insulares no desempenho da sua proposta de jogo. Baixar o bloco para depois jogar com o espaço era a estratégia, mas o Marítimo acabou a permitir que o Benfica fosse perigoso pela exploração do espaço a partir de momentos de transição e, até, a partir de situações simples como lançamentos laterais no meio campo contrário. Ora, se o objectivo é tirar o espaço ao adversário, como se pode querer ganhar se durante o jogo se permite tantas vezes que este explore a profundidade na transição?

E, assim, sempre dentro da qualidade do seu modelo, com a influência de Carlos Martins e a capacidade desequilibradora de Gaitan, Coentrão e Saviola, o Benfica foi criando e criando até chegar, finalmente, ao seu golo. O alerta escrevi-o no inicio: é preciso mais eficácia e tranquilidade em vários pormenores. A finalização é um capítulo óbvio, mas houve também 2 ou 3 perdas de bola em posse que ofereceram situações de golo que o Marítimo usufruiu e pouco fez por criar.

Notas individuais
Vou optar por comentar alguns jogadores individualmente:
Luisão – Está ser um inicio de época muito bom em termos individuais e na Madeira terá feito, talvez, a sua melhor exibição. Impressionante o domínio que consegue sobre a sua zona, a eficácia com que se move tacticamente fora dela e a lucidez que revela. Houve um tempo em que era muito criticado. Hoje, com organização e estabilidade no seu sector, percebe-se o grande jogador que é. Um alerta para que se distinga sempre o que é colectivo, do que é individual.

Javi Garcia – Continuo a achar que Airton tem mais capacidade para o lugar. Talvez não tenha a personalidade do espanhol, mas é tecnicamente muito mais fiável. Javi Garcia sabe de cor o que tem de fazer. Restabelece equilíbrios, pressiona no momento da saída em transição do adversário e é tacticamente quase perfeito. O problema é que em posse compromete em quase todos os jogos e dessas situações resulta, quase sempre, uma oportunidade de perigo para o adversário. Deve corrigir isso rapidamente.

Carlos Martins – Fez um bom jogo, muito influente e com a intensidade que se lhe conhece. Neste momento, e face ao rendimento do argentino, o Benfica não fica a perder com ele em relação a Aimar. Fica a perder, isso sim, em relação ao Aimar do ano anterior, mas isso é outro assunto. Apenas a apontar-lhe alguma necessidade de ser mais criterioso no passe.

Coentrão e Peixoto – Coentrão é o melhor extremo do Benfica. Mas também é o seu melhor lateral, e é melhor lateral do que extremo, digo eu. Peixoto fez um jogo muito bom, mas não tenho grandes ilusões. Se for solução, o Benfica acabará por pagar por isso. Tem técnica e capacidade, mas não tem intensidade para jogar numa função defensiva. Intensidade em termos de agressividade defensiva e, sobretudo, intensidade ao nível da concentração em posse. São várias as perdas de Peixoto ao longo dos jogos que analisei – não neste – e essa é uma tendência que não desaparece subitamente.

Gaitan – Fez o seu melhor jogo e prova que vem em crescimento. Jogou bem, movimentou-se bem, criou vários desequilíbrios e – importante! – teve também uma grande utilidade colectiva em termos defensivos. Como reparo fica o trauma da finalização e, ainda, alguma falta de preocupação com a certeza do passe em certas zonas – uma reincidência que deriva da tal diferença com a forma como decidia na Argentina.

Saviola – Voltou a jogar ao mesmo nível. Movimentando-se e criando apoios em todas as situações ofensivas, é o garante da fluidez do jogo do Benfica no último terço. O que o torna especial, é que faz isto todos os jogos.

Cardozo – Acabou muito criticado e não fez o jogo que conseguiu frente ao Sporting. Não fez porque não marcou, e não fez porque voltou a não ter – nem de perto! – o mesmo nível de influência e participação. Ainda assim, esteve em vários lances ofensivos e teve também períodos onde se moveu e apareceu mais. Só joga quando lhe apetece e esse continua a ser o problema.

Salvio – É um jogador em formação e duvido que o Benfica seja, nesta altura, o melhor para si. Mas talvez ainda dê para perceber o potencial enorme que este jogador tem.



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