30.8.10

Benfica - Setubal: Análise e números

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O jogo ficou marcado por um momento. O penalti e expulsão podiam ter lançado a partida para bases inesperadas e, mesmo depois da defesa de Roberto, essa era uma hipótese plausível. O curioso, porém, é que esse climax emocional acabou, afinal, por condicionar a emotividade do que se viu a seguir. Talvez o Setúbal tenha sido apanhado de surpresa pelo novo paradigma que o jogo lhe propôs. Estaria à espera de ter muito espaço e pouca bola e não o contrário. O mais interessante, porém, foi a reacção do Benfica. De repente deixou de ser uma equipa impulsiva para se tornar mais racional. Controlou os espaços, aplicou a sua agressividade em zonas mais baixas e deu mais valor à bola e menos à explosão. Com um pouco de eficácia, o jogo tornou-se um passeio.

Notas colectivas
Pessoalmente, sou um apreciador da mentalidade subjacente ao modelo de Jesus. Tem uma obsessão pela bola, mas não pelos motivos habitualmente evocados. Ou seja, mais do que ter muito tempo a bola, quer tê-la muitas vezes. Podem parecer conceitos semelhantes, mas têm uma diferença enorme. Ter muito tempo a bola pressupõe a conservação da mesma e, por consequência, assume um risco menor enquanto em posse. Ter mais vezes a bola, pelo contrário, não pressupõe qualquer aversão ao risco. Pelo contrário, a iniciativa ofensiva é o complemento perfeito para quem se propõe a ser rápido e eficaz no momento da perda. É esta a mentalidade do modelo de Jesus.

O único problema, como sempre, é que no futebol não há modelos perfeitos. Tudo depende das circunstâncias e condicionantes para a sua aplicabilidade. No caso concreto, ao Benfica faltar-lhe-á a maturidade para perceber melhor quando deve, ou não, dar prioridade ao risco. É um “senão” que não é novo e que já havia apontado ao Braga do mesmo Jesus.

Ora bem, o que foi mais interessante na recepção ao Setúbal foi, precisamente, ver o Benfica mudar de paradigma. Começou por assumir, de novo, o seu estilo habitual. Aquele que lhe valeu tantos frutos e elogios no passado, mas que lhe vinha também falhando num período onde o défice de confiança não combinava bem com a atitude arrojada da equipa. Depois da expulsão, porém, passou a pensar de outra forma. Teve menos bola, fez menos passes, mas também acumulou muito menos perdas do que nos jogos anteriores. E esse dado – o das perdas – era aquele que melhor reflectia os problemas da equipa no passado recente.

Os treinadores são homens de guerra, treinados para ter certezas e não para duvidar ou filosofar sobre as suas ideias. Talvez um dia venha a falar um pouco mais disto, mas para já o ponto que quero vincar é que não é provável que Jesus tire para si grandes ilações desta alteração de mentalidade a que a equipa foi forçada. E é pena.

Notas individuais
Posso começar por bater na mesma tecla. Se o Benfica tem estado melhor nos últimos 2 jogos, muito se deve ao crescimento das suas unidades mais influentes. Em particular, Pablo Aimar. Já longamente abordei a importância da posição 10 no modelo encarnado e a diferença que faz um “bom” ou “mau” Aimar. Não espanta, portanto, que haja uma correlação evidente entre a prestação do 10 e da própria equipa.

Outro caso interessante é Gaitan. Obviamente que as suas assistências o tornam num destaque trivial da partida, mas a sua prestação não foi uniforme ao longo do jogo e teve, precisamente, um ponto de inflexão com a mudança de atitude da equipa. Sem a pressão de explodir e verticalizar tornou-se mais assertivo e estável no jogo. Já o tinha escrito e volto a fazê-lo: Gaitan precisa de crescer em termos de confiança para poder ser tão desequilibrador quanto dele se espera. Para isso, convém que se faça um processo de exigência contínuo e gradual e não radical e repentino. Ou seja, pedindo-lhe primeiro que dê segurança e continuidade às suas iniciativas e só depois, com o tempo, que vá experimentando o risco e a explosão que tem para oferecer. Neste sentido, a expulsão foi-lhe muito útil. Já agora, parece que esta semana já não é um jogador de espaços interiores. É sempre bom deixar de ouvir disparates.

Para terminar, falar de 2 outros nomes. Primeiro Coentrão para realçar como ele perde preponderância quando o jogo se torna mais pensado e menos veloz. E isto não é uma critica ou um defeito, apenas uma constatação de uma característica. Depois Cardozo, que fez o seu melhor jogo oficial da época. Não apenas pelo golo, mas porque participou um pouco mais e um pouco melhor. Só um pouco, é certo, mas bem mais próximo daquilo que é minimamente exigível...



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