5.7.10

Diário de 'Soccer City' (#22)

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Embora tardiamente, não quero passar às meias finais, antes de deixar umas breves notas sobre os quartos de final. Na verdade, não há muito a acrescentar às antevisões que fiz, uma vez que os jogos corresponderam em quase tudo às expectativas que tinha. Antes do comentário jogo-a-jogo, porém, deixo uma nota sobre a actualidade extra-Mundial e o funcionamento do blogue. É certo que acabamos de assistir a uma das mais importantes transferências da história do futebol português e que, entretanto, também já outras definições foram conhecidas e concretizadas no mercado. Ainda assim, manterei o plano de me dedicar exclusivamente ao Mundial, prometendo a partir da próxima semana, aí sim, concentrar atenções no mercado e na preparação para a próxima época de clubes.


Brasil – Holanda
Foi o único jogo em que o palpite que deixei não se concretizou, mas, na verdade, o curso do jogo foi muito próximo do previsto. A única surpresa esteve, primeiro, na entrada algo permissiva dos holandês em termos defensivos e, depois, na eficácia laranja que conduziu à reviravolta.

O primeiro dado a merecer atenção é o que está por trás do golo brasileiro. Já aqui falei várias vezes das fragilidades individuais dos defensores holandeses e esse lance explica bem o que há de problemático no seu comportamento. Tudo está relacionado, parece-me, com uma carência na formação holandesa. A equipa tem preocupações tácticas correctas, mas individualmente os defensores holandeses são displicentes na forma como protegem as zonas mais importantes em termos defensivos e, noutros casos, assumem riscos excessivos em posse. Uma carência que se verifica semana após semana na liga interna e que explica também o evidente contraste entre o sucesso da escola holandesa em posições ofensivas e a modéstia revelada na zona mais recuada do campo. E assim, a Holanda se viu numa desvantagem potencialmente decisiva. Porque não cuidou as prioridades dos espaços, porque ignorou as referências zonais e colectivas e porque se deixou levar por aquilo que cada adversário, individualmente, ia fazendo.

Se a Holanda falhou no seu ponto fraco, deve à eficácia e a um capricho do destino o facto de não ter pago com a eliminação. Isto porque, e apesar de ter conseguido alguns períodos de domínio territorial, nunca foi capaz de por em perigo a baliza de Julio César. Aliás, até à reviravolta ter sido consumada, não se contabilizaram quaisquer oportunidades significativas de golo dos holandeses e, pode dizer-se, foi sempre o Brasil quem mais ameaçou.

Mas este foi um jogo de topo, decidido no pormenor. Pormenor das bolas paradas e pormenor da capacidade de reacção emocional às incidências do jogo. A Holanda foi eficaz e o Brasil perdeu a cabeça.

Uruguai – Gana
O jogo louco confirmou-se. De parte a parte, a qualidade individual dos atacantes superou em muito o rigor táctico de ambos lados. Erros em posse, espaço entre linhas e alguns desequilíbrios. O resultado, claro, foi um jogo entretido, bem ao gosto de quem tem no entretenimento o condimento favorito num jogo de futebol.

Do ponto de vista da análise, não há muito a dizer de um jogo destes. Porém, não quero deixar de comentar 2 detalhes em relação às grandes penalidades. Primeiro, sobre Gyan. Entre coragem e imprudência, não sei o que haverá mais naquele primeiro penalti da série decisiva que saiu ao ângulo. Depois, sobre Mensah. Para mim, é incompreensível como um profissional aponta um penalti com tão pouco balanço.

Alemanha – Argentina
E, de novo, o futebol foi respeitado. A qualidade colectiva superou o talento individual. Não tinha de ser assim, o jogo poderia ter conhecido outro caminho se fosse conhecendo outras condicionantes, mas, creio, seria difícil à Argentina durar muito mais tempo com tantas insuficiências.

Do lado argentino, confirmou-se o equívoco do posicionamento de Messi, demasiado longe da zona onde o seu futebol faz mais sentido. Confirmaram-se também todas as insuficiências tácticas, ao nível do equilíbrio e da preocupação com a transição ataque-defesa, bem como a exposição que havia alertado para o lado direito argentino, que acabou por ser o caminho para o sucesso na estratégia alemã.

Do lado alemão, confesso, a exibição nem sequer superou as minhas expectativas. Como esperava, teve repetidas oportunidades para actuar em transição e, também sem surpresas, fê-lo sempre com um entrosamento colectivo bastante elevado. No jogo alemão, porém, nem todas as fases foram óptimas e a equipa acabou por passar alguns períodos em que falhou demasiado no primeiro passe de transição e permitiu um domínio continuado dos argentinos que, se tivesse tido um momento de inspiração, poderia ter virado a face do jogo. O tempo, porém, acabou por tornar a vitória alemã num desfecho inevitável.

Individualmente, é difícil fazer destaques numa exibição que, como sempre, foi conseguida pelos méritos do colectivos. Ozil não esteve tão influente como nos últimos jogos mas Schweinsteiger confirmou novamente ser um dos grandes destaques deste mundial. Mais influentes estiveram Khedira e, sobretudo, Muller que, com Podolski, beneficiou muito do espaço em transição. Se colectivamente a Alemanha foi sempre melhor, fica-me a sensação que com uma definição individual mais constante, o jogo poderia ter sido decidido bem mais cedo.

Espanha – Paraguai
A Espanha acabou por vencer sem sofrer, como havia sugerido, mas este foi o jogo que menos se ajustou às projecções que fizera. Sobretudo pelo lado espanhol. O domínio e a qualidade da posse existiu, e a qualidade defensiva dos paraguaios também não foi melhor do que se pensava. O que aconteceu foi que a Espanha raramente deu nota de ter um plano para entrar na área paraguaia e, por isso, não só teve um número inesperadamente reduzido de oportunidades como deu oportunidades para que os paraguaios fossem crescendo em termos emotivos.

Os espanhóis, tudo somado, serão a melhor equipa entre os 4 semi finalistas, mas não me parece que seja uma equipa optimizada. Longe disso. Valem sobretudo pelas características das suas individualidades e pela importação de algumas rotinas do fantástico Barcelona. De resto, faz sentido ter Villa a descair sobre a esquerda e não há nada de errado com a mobilidade de Torres. O que não pode acontecer é a equipa utilizar os corredores para penetrar e depois não ter soluções de passe na zona interior. O trabalho de Del Bosque não podia ser mais fácil, mas ele parece querer complicá-lo. Se o Barcelona tem rotinado um modelo fantástico em 4-3-3, se Xavi, Iniesta e Busquets são tantas vezes os 3 do meio campo, para que é que é preciso mais um jogador?! Tudo seria bem mais fácil se estes 3 jogassem no meio e se a eles se juntasse um extremo direito (Navas ou Pedro), com Villa à esquerda e Torres ao meio. A Espanha não deixa de ser favorita para todos os jogos que fizer, mas não escolheu o caminho mais curto...



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