22.6.10

Diário de 'Soccer City' (#12)

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Da tormenta à euforia, que não há tempo para perder em boas esperanças. Será assim que a maioria dos até aqui pessimistas encararão esta viragem do cabo da Selecção. Uma analogia óbvia, dada a simbologia do local, mas que faz também todo o sentido em relação ao estado de ânimo dos adeptos. A volatilidade emotiva do costume, portanto. Pessoalmente, não estou particularmente entusiasmado com o que se passou frente à Coreia. Agradado com o desfecho, é certo, mas não crente que este jogo tenha mostrado algo de significativamente diferente em termos qualitativos. Será tão errado alicerçar esperanças neste resultado, como o exagerado catastrofismo que assistimos até aqui. Como quase sempre, é algures no meio que está a virtude.

Confesso a minha surpresa com o que se assistiu desde o primeiro minuto. Esperava uma Coreia conservadora, “afundada” no campo e de risco mínimo. Algo se terá passado com o ego dos Coreanos que, tal como o resto do mundo, terão valorizado excessivamente o surpreendente placar tangencial frente ao Brasil. Só assim se explica o que se viu. A verdade é os Coreanos (como os neozelandeses, por exemplo) não são deste nível e só podem sobreviver com algum êxito se juntadas 2 condições. A primeira é a humildade própria. A segunda é a incompetência colectiva do adversário. Ora, os coreanos perderam a primeira e com isso foram incapazes de testar, sequer, a segunda condição. Confesso que para meu contentamento, diga-se.

A primeira parte de Portugal foi má. Não há outra palavra. Com os Coreanos estendidos no campo, a Portugal nem era preciso ser particularmente forte no pressing, como ontem acreditava. Bastava organização, claro, e dar prioridade ao critério na posse. Critério que levasse Portugal a chegar de forma apoiada e segura ao último terço e, aí sim, arriscar as roturas decisivas. Assim, Portugal poderia aproveitar as debilidades defensivas dos Coreanos no seu último reduto e, não menos importante, estar bem preparado para eventuais transições ataque-defesa. Seria um jogo de domínio total.

O que Portugal fez, porém, foi dar prioridade à velocidade sobre o critério. Decidiu mal e foi ainda traído pelas condições em que o jogo se disputou, acumulando erros técnicos invulgares em alguns jogadores. Com isto, Portugal permitiu um jogo de transições, onde os Coreanos conseguiam tirar partido da forma estendida como se apresentaram. Um desperdício, acredito eu, porque como o jogo estava parece-me que em vez de 1, Portugal poderia ter ido facilmente para o intervalo com mais 2 ou 3 golos na bagagem.

A verdade é que – e pensando bem – talvez até tenha sido bom o que se passou na primeira parte. Os remates dos coreanos e a sua desvantagem apenas tangencial terá reforçado a crença coreana na sua própria capacidade. Uma ilusão que se transformou um verdadeiro “kamikaze” táctico. Portugal, porque é uma selecção ao nível das melhores em termos de potencial individual, facilmente colheu os frutos e terá praticamente garantido um apuramento que se adivinhava complicado. Isto, claro, a acreditar que os coreanos tenham aprendido a lição do que se passou, porque se voltarem a repetir a “graça”, não é de excluir a hipótese de novo “capote” frente aos marfinenses. Esperemos que recuperem o juízo...

Chile e Suíça
Suíça e Chile era um embate curioso e interessante por juntar as 2 selecções secundárias (permitam-me a expressão) que mais competência apresentam, mas também por o conseguirem ser em filosofias radicalmente diferentes.

Os chilenos apelam à sua filosofia do gosto pela posse e pela bola. Procuram recuperá-la rapidamente e depois circular com velocidade. Procuram o domínio, para além do controlo. Tudo isto faz sentido pela qualidade técnica acima da média dos seus intérpretes, mas pessoalmente tenho de levantar algumas reticências em relação à sua capacidade de se impor perante adversários tecnicamente mais fortes. Como no futebol só há uma bola, não basta ao Chile ser forte com ela, é preciso também ser forte quando não a tem, e tenho dúvidas se o será. Depois, há ainda a consistência na zona decisiva. Jogar com uma equipa tão baixa e com centrais adaptados não me parece nada bom indício. Dúvidas que não poderiam ter melhor teste do que o adversário que se segue: a Espanha.

A Suíça, por seu lado, repetiu a estratégia frente à Espanha e, pode dizer-se, estava a resultar bem até à expulsão. Os suíços não tiveram mais bola, nem criaram grande coisa, é certo, mas também não era a isso que se propunham até aquela altura. A zona suíça consegue ser curta e alta como mais nenhuma o foi neste mundial. Não é perfeita, e comete até vários erros, mas a nível de selecções é difícil alguém fazer melhor. Isto, enquanto tiveram 11 jogadores, porque depois a Suíça reduziu aquilo que era uma zona defensiva a uma simples linha defensiva. Ao contrário do que acontecera na primeira parte, onde mantivera os chilenos a dezenas de metros da sua baliza, na segunda parte a Suíça acabou por “encostar” e, assim, não evitar o sufoco chileno. Não digo que façam tanto – seria preciso um novo e improvável alinhamento de estrelas – mas esta Suíça, se passar, tem capacidade para dar umas dores de cabeça ao bom estilo grego de 2004.

Acabou por ganhar o Chile, mas por uma margem curta para aquilo que produziu depois da expulsão. Um desperdício que, aliás, repetiu depois do embate com os hondurenhos e que lhe retira qualquer favoritismo à qualificação, apesar da liderança destacada que possuí. Enfim, será um final interessante de seguir num grupo onde só as Honduras destoam em termos de qualidade.



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