30.6.10

Diário de 'Soccer City' (#19)

ver comentários...
Ambição. É uma maneira comum de abordar o jogo. Dir-se-á que nos faltou ambição, porque não tivemos a ousadia de discutir o jogo de forma mais aberta desde o inicio. Não que fosse preciso, mas a última meia hora provou precisamente que discutir o jogo, frente à Espanha, é algo que não estava ao nosso alcance. É por isso que não hesito em riscar “ambição” como a falha fulcral de Portugal no jogo. Em vez disso, opto por “qualidade”. O que faltou a Portugal foi qualidade. Qualidade colectiva, isto é. Qualidade para poder ter ambição e para poder escolher discutir o jogo. Sei que os oitavos de final e o “umzerinho” levarão a óptica resultadista a chutar para o lado no que respeita às consequências do que se viu. A meu ver, no entanto, em 2010 a qualidade foi medíocre de mais para ser ignorada.

Sobre o jogo, e acho justo começar por dizê-lo, não tenho nada a apontar aos jogadores. Individualmente deram tudo, estiveram concentrados e determinados. Infelizmente, um jogo que foi dividido em termos de oportunidades durante 1 hora acabou por se desfazer em 2 minutos de desequilíbrio emocional. Não teve a ver com as substituições, que nada alteraram em termos tácticos, mas sim com ocasião de Llorente na marca dos 60’. Foi esse momento que despertou os espanhóis para o ascendente que lhes valeu a vantagem.

O problema, claro, veio a seguir. Quando Portugal deixou de poder esperar, de poder controlar o espaço e a ter de dominar a bola. Aí, tudo foi diferente. “Tiki-taka”, posse, passes... chame-se o que se quiser. Meia hora de total impotência, e a prova de que a Portugal nada mais restava do que abordar o jogo como abordou e esperar poder ter a sorte de marcar primeiro. Infelizmente não foi assim.

Qualidade
Mas vamos então à qualidade de que falei inicialmente.

- Diz-se que Portugal defendeu bem, o “score” confirma-o, é verdade, mas esconde também o outro lado da questão. Mais do que bem, Portugal defendeu muito. Esteve sempre equilibrado, arriscou o minímo em posse e contou com bons jogadores, do melhor que há na prova em termos defensivos. Colectivamente e tacticamente, porém, tenho mais criticas do que elogios. A Portugal exigia-se que fosse capaz de defender alto, de subir linhas e de pressionar o adversário desde o primeiro passe. Viram o que aconteceu quando a Espanha resolveu trocar a bola?

- Passamos ao momento ofensivo e, para tal, talvez o melhor seja olhar para a Alemanha. Não tem nenhum desequilibrador marcante em termos individuais e, apesar disso, é das equipas que melhor ataca neste mundial. Porquê? Porque a Alemanha, ao contrário da maioria das equipas, tem um verdadeiro modelo de jogo. Trabalhado de forma colectiva e com rotinas conhecidas e interpretadas por todos. A Portugal há muito que isto é pedido, mas infelizmente dá ideia que o modelo português se resume a um sistema. Por isso, depende quase a 100% da inspiração das suas individualidades.

- Outro aspecto que não foi corrigido, foi a situação de Ronaldo. Continuamos a criticar o jogador, quando o erro está na equipa e na forma incompetente como tira partido de um dos mais decisivos jogadores do futebol mundial. Percebe-se a ansiedade de Ronaldo em ser decisivo. Mal ganha a bola tenta acelerar, driblar ou rematar. Esteja a 15 ou 50 metros da baliza. Isto não acontecia no Manchester, nem acontece em Madrid. Acontece em Portugal, e acontece porque, em vez de se reproduzirem as condições e exigências em atinge o sucesso, época após época, insiste-se em pedir-lhe que seja uma espécie de santo milagreiro do futebol nacional, coisa que obviamente não pode ser.

- Por fim, falar de um pormenor que me parece sintomático. Ontem falei da numeração holandesa e do planeamento de um modelo e de uma forma de jogar. Queiroz chegou a falar da importância das 3 semanas e eu, embora não convencido, achei que valia a pena acreditar (na verdade, não havia alternativa!). O que sucede é que Portugal adoptou, em 2 dos 4 jogos que realizou, uma estratégia completamente diferente daquela que havia sido testada em todos as ocasiões anteriores. Uma estratégia que notoriamente precisava de isolar Ronaldo na frente e ter profundidade nos flancos, ao estilo do que aconteceu várias vezes no Manchester. Ora, Queiroz não só levou poucos extremos, como se deu ainda ao luxo de substituir Nani com Amorim. Frente à Espanha, Portugal não tinha ninguém indisponível, mas também não tinha gente suficiente para desempenhar de forma ideal as funções previstas na estratégia adoptada. O que me diz tudo isto? Que Portugal não planeou nada disto e que apenas o decidiu porque, como todos percebemos, não foi capaz de ter qualidade para mais.


Ler tudo»

ler tudo >>

29.6.10

Diário de 'Soccer City' (#18)

ver comentários...
Já se desconfiava, e o caminho começa confirmar isso mesmo: entre Brasil e Holanda, sairá um finalista do Mundial 2010. Os dois defrontam-se agora num dos mais interessantes embates dos quartos de final, e seja quem for o vencedor recolherá sempre amplo favoritismo na passagem à final. Principalmente se for o Brasil. Enfim, antes disso tudo vale a pena olhar um pouco para os jogos do dia. Mas vale apenas por razões de reflexão sobre o que se viu, porque quanto a emoção, confesso, não poderia ter havido dia mais previsível do que o terceiro dos oitavos de final...

Holanda – Eslováquia
Sobre o primeiro jogo, de facto, não tenho muito a dizer. A Eslováquia foi dos que menos fez para chegar aos oitavos e se há alguma coisa que este Mundial nos tem ensinado é que é mesmo preciso jogar para ganhar, poque milagres não tem havido. E assim foi, novamente.

Mas quero deixar algumas notas sobre o candidato, a Holanda: (1) Primeiro, para reforçar a ideia de que é uma equipa que, tendo as suas principais debilidades na cultura defensiva – colectiva e individual – das suas unidades mais recuadas, não me parece das piores deste Mundial. Nem de perto, nem de longe. À beira de formações como o Gana, o Uruguai ou a Argentina, a Holanda é uma perfeição defensiva. (2) Segundo, para destacar o regresso de Robben. Apesar da qualidade individual das suas unidades ofensivas, a verdade é que o futebol holandês raramente tem merecido grandes elogios pelo que faz quando tem a bola. Robben é um dos jogadores mais desequilibrantes do futebol actual. Adora o risco, e dos seus pés saem várias perdas e transições. O que sai também são lances decisivos com uma frequência assustadora. Será o “abre latas” da laranja. (3) Finalmente, referir uma curiosidade. A Holanda jogou numerada de 1 a 11. Não sei se mais alguma equipa o fará neste mundial (duvido!), mas este dado não é uma mera curiosidade. Basta recordar a passagem de Adriaanse pelo Porto, para perceber que os números são mais do que um capricho. São também uma indicação do posicionamento táctico de quem os traz nas costas. É uma curiosidade que vale o que vale, mas que indica, pelo menos, que as coisas não são feitas por acaso na equipa holandesa.

Brasil – Chile
O Chile até poderia ser das formações mais interessantes em alguns aspectos deste Mundial, mas se me perguntassem qual o embate mais previsível dos oitavos, não hesitaria em apontar para este.

É bonito entretermo-nos com um futebol técnico e com boa qualidade colectiva quando em posse, mas torna-se para mim difícil perceber o que espera Bielsa de um jogo contra o Brasil, mantendo certas debilidades crónicas na sua equipa. Será que ele acreditava ter alguma hipótese de ganhar? Francamente, não entendo...
O Brasil é uma equipa obcecada com o equilíbrio táctico, que adora jogar em transição e que procura aproveitar a eficácia das suas investidas ofensivas para ganhar vantagem. O Chile, para os brasileiros, era o adversário perfeito e não é por acaso que quase sempre sai goleado. Sai e sairá de novo, se voltar a repetir a receita...

Comecemos pelo primeiro golo. Já o tinha escrito há muito e era improvável que a factura não acabasse por ser paga. Como é que é possível pensar em fazer carreira num Mundial com uma equipa que não tem um único jogador utilizado acima do 1,85m, e onde apenas 5 dos 14 que jogaram ultrapassam, ainda que marginalmente, o 1,80m?! Não admira que sofressem um golo pelo ar, e não admiraria que fosse também essa uma via privilegiada para o Brasil marcar a diferença caso o nulo se tivesse mantido por mais tempo.

Mas há mais... Se o Brasil gosta da transição, nada como uma equipa que, apesar de boa em posse, não percebe a importância dos equilíbrios tácticos e que assume um risco absurdo para a natureza do jogo que está a jogar. Perfeito para Dunga. Foram 3, e foram apenas porque os brasileiros resolveram trocar a eficácia pelo brilhantismo individual na conclusão de algumas transições quando jogo já estava mais do que sentenciado.

Diria que o Chile esteve algures entre o sofisma e o conto de fadas, mas inclino-me bem mais para a segunda hipótese. Mostrou-nos uma ideia bonita e coerente, sem dúvida, mas nunca com potencial para enganar alguém. Todos sabíamos que, por mais bonita que fosse a princesa, nenhum sapo viraria príncipe...



Ler tudo»

ler tudo >>

28.6.10

Diário de 'Soccer City' (#17)

ver comentários...
O dia mais importante do Mundial até ao momento. Teve entretenimento, emoção e grandes estrelas. Todos os condimentos para ser um grande dia para o futebol. O que todos sabemos, porém, é que este dia ficará na História dos mundiais como um dos mais polémicos de sempre. De repente, o mundo deu de caras com as fragilidades do jogo, e com erros humanos que – ao contrário do que muitas vezes se diz – não só não deviam fazer parte do jogo, como seriam facilmente evitáveis. Como sempre, não vou falar de arbitragens, mas, porque não dá para contornar um “monstro” destes, não poderia deixar de começar por este apontamento. Afinal, este até poderá ter sido um excelente dia para o futebol. Assim alguém queira...

Alemanha – Inglaterra
Polémicas à parte, creio que já poderemos anunciar um vencedor: Joachim Low. Ainda vou bem a tempo de ser surpreendido por algum outro concorrente, mas duvido seriamente que tal aconteça. Esta Alemanha não tem nenhuma estrela do futebol mundial, e pode até dizer-se que tem algumas carências em determinadas posições. Pode dizer-se, por isso, que está longe de ser uma potência em termos individuais, mas é-o seguramente em termos colectivos. E isso deve-se àquele que é o treinador com melhor trabalho neste mundial.

No lançamento do jogo tinha falado da maior qualidade colectiva dos alemães, mas não evitei deixar a porta aberta para um brilharete inglês. Pela seu potencial e pela forma como chegou até este mundial. Mais uma vez, porém – e é um dado comum nesta prova – foi a lógica do jogo que vingou. Ou seja, ganhou quem era melhor e não tivemos nenhuma surpresa neste sentido.

Como pode a Inglaterra ser tão vulnerável em posse? Como pode ter tantas dificuldades em encontrar soluções de passe? Como pode um central como Terry ter uma abordagem tão desastrosa a uma primeira bola? Como pode uma defensiva perder-se tão facilmente com as movimentações germânicas? Como pode Johnson não fazer falta sobre Schweinsteiger numa situação de 3x2 e quando ainda não tinha um cartão amarelo? Como pode Barry jogar? Tudo perguntas para Capello. Quanto a mim, para todas elas tenho a mesma resposta: não devia poder.

Sobre a Alemanha, a confirmação de uma qualidade que não enganou desde o primeiro jogo – a Sérvia não foi mais do que um acidente. Os melhores, para mim, voltaram a ser Schweinsteiger e Ozil. A espinha dorsal da equipa, e a grande injecção de qualidade desde o Euro 2008. Desta vez, porém, há também que deixar uma palavra de realce para o notável jogo do tridente ofensivo: Podolski, Klose e Muller. Todos eles tiveram uma movimentação excelente, permutando de forma notável com as movimentações de Ozil, e abrindo crateras numa defesa inglesa que sucumbiu sempre por onde era mais proibido: a zona central.

Argentina – México
E a Argentina passou mais uma barreira. Não começou por ser fácil, mas acabou por sê-lo realmente. O México tinha tudo para fazer um jogo mais inteligente e para explorar melhor as fragilidades defensivas dos argentinos. Até começou por fazê-lo, mas, creio, acabou por pagar a factura de não ter um plano de jogo tão claro como aquele que apresentou frente à França.

Não que esperasse uma grande qualidade táctica dos mexicanos, mas de facto pensei que pudessem fazer melhor. Franco não jogou de inicio e a possibilidade de o utilizar como “pivot” para as primeiras bolas não foi repetida. O facto de Messi jogar demasiado baixo e decidir em zona de construção como se estivesse nas imediações da área, também não fez parte das prioridades no plano estratégico mexicano. Por fim, claro, há que falar de mais um erro próprio de divisões amadoras. Algo que não pode acontecer, mas que se tornou numa espécie de lugar comum neste Mundial.

Tudo isto foi demasiado para que os mexicanos pudessem sobreviver, e assim permanece viva a pergunta: será possível esta Argentina ser campeã Mundial?



Ler tudo»

ler tudo >>

27.6.10

Diário de 'Soccer City' (#16)

ver comentários...
Terão faltado as estrelas, os grandes nomes, mas, para quem gosta de misturar futebol com entretenimento, terão sido bons os primeiros jogos a eliminar do Mundial 2010. Pelo menos, o segundo foi. Pessoalmente, também gosto de ver velocidade e emoção, mas não prefiro esses condimentos à qualidade. Gostos! Ora, é precisamente no que respeita à qualidade que este Mundial – e este é um comentário que me recordo ter repetido durante o último Europeu – não pode deixar de desiludir. Talvez fosse expectável, mas é impossível não se sentir o choque qualitativo entre clubes e selecções. E é por aqui que quero começar por pegar no comentário aos dois primeiros embates dos oitavos de final.

Do Uruguai, já se sabia: a qualidade individual é o alicerce para o sucesso, enquanto que as limitações colectivas serão sempre o seu grande obstáculo. Não que os uruguaios tenham entretanto repetido os erros tácticos do jogo inaugural, mas porque não conseguem nunca deslumbrar em termos colectivos. E, mais uma vez, frente à Coreia foi assim. Apesar de ter tido o jogo sempre a seu favor e contar, claramente, com mais qualidade, o Uruguai raramente dominou o jogo. Pelo contrário, consentiu que uma frágil Coreia – e já vou a ela – mandasse continuamente no jogo, que empatasse e que chegasse, até, a ameaçar a reviravolta. Não aconteceu porque, mais uma vez, a qualidade individual falou mais alto.

Sobre os coreanos, confesso, tinha algumas expectativas. Não tanto em termos individuais, mas em termos colectivos. A verdade é que a Coreia desiludiu e pagou bem caro esse preço. Jogar contra um adversário mais forte individualmente exigiria mais concentração e eficácia defensiva para, primeiro, não oferecer nada ao adversário e, depois sim, tentar tirar partido dos erros que acontecessem do outro lado. Ora bem, a Coreia começou cedo por fazer o oposto do que precisava. Ofereceu um golo de forma primária e depois – muito devido às limitações da generalidade dos seus jogadores – acabou por não conseguir compensar esse prejuízo.

Mas a história da eliminação coreana repetiu-se apenas poucas horas depois. Talvez não fosse tão claro o diferencial entre as individualidades, mas a verdade é que também os Estados Unidos partiam com a vantagem teórica de serem mais consistentes. Ora, essa foi uma ilusão desfeita logo no primeiro golo. Uma perda em posse – algo normalmente raro, mas que tem sido comum neste Mundial – e uma factura bem cara assinada pelo “Prince” ganês. Nada mais delicado para um jogo a eliminar.

A verdade é que o Gana mostrou também que de consistente nada tem. Não soube jogar com a vantagem no jogo quando teve a bola, nem tão pouco evitar o acelerar do ritmo por parte dos americanos. E este foi o ponto positivo da partida: o ritmo. Os americanos colhem aqui a maior parte do mérito, pela forma como jogaram sempre simples, rápido e objectivo. É claro que deveria ter havido uma resistência mais inteligente, mas todos já vimos neste Mundial situações em que equipas mais fortes conseguiram uma reacção bem menor do que aquela que foi protagonizada pelos americanos. Tanto, que pareciam ser eles – e de novo – os candidatos à qualificação, aquando do prolongamento. Mas a história repetiu-se. Má abordagem defensiva e o preço do talento africano que, dessa vez, foi demasiado para o que os americanos podiam pagar.

Todos sabemos que estas fases se determinam em grande parte pelos erros cometidos, mas se continuarmos a este ritmo, este Mundial poderá ser recordado mais como um festival de oferendas do que como qualquer outra coisa...



Ler tudo»

ler tudo >>

26.6.10

Diário de 'Soccer City' (#15)

ver comentários...
Talvez seja por tanto terem escutado as profecias da desgraça dos velhos do Restelo. Ou, então, talvez seja apenas do fado que nos está no sangue. A verdade é que este empate frente ao Brasil, serve para a maioria como uma vitória. Um alívio. Tanto, que até o próprio seleccionador afirma ter visto a sua equipa jogar de “smoking”. É verdade que o Brasil é uma equipa de potencial superior, e que um empate frente à “canarinha” nunca será um mau resultado. É verdade, também, que o jogo foi dividido e que não estivemos mais longe de o ganhar do que o Brasil. Para mim, porém, custou-me ver o jogo português, especialmente na primeira parte. Venho dizendo que Portugal não pode esperar que o nível dos seus últimos 15 anos se eternize no tempo, e que o mais normal é que voltemos a um patamar mediano, mais tarde ou mais cedo. Ainda não lá chegamos, mas, confesso, frente ao Brasil dei por mim a concluir que já recuamos uns bons degraus em relação a anos anteriores. E falo principalmente da mentalidade.

Começo por clarificar a minha posição. Não há nada de errado em definir como prioridade o equilíbrio táctico ou em adoptar uma estratégia de transição frente a um adversário com o potencial técnico dos brasileiros. Creio, até, que é o caminho mais curto para a vitória. O problema, porém, é que Portugal tem nível suficiente para ser mais ambicioso na qualidade que tenta empregar em cada momento do jogo. Não era preciso ter medo de jogar quando ganhamos a bola, ter medo de trabalhar a posse com critério e qualidade, ou pedir a Ronaldo que tente rematar de 40 metros de cada vez que tivesse oportunidade para tal. Não era preciso, porque Portugal ainda vale bem mais do que isso e porque pode e deve ter mais ambição e exigir mais do seu jogo. O que vi naquela primeira parte foi um “flashback” dos tempos em que éramos Futre e mais dez – para não invocar outros tempos ainda piores – e em que coleccionávamos os cromos dos outros nas grandes competições. Felizmente que as coisas mudaram alguma coisa na segunda parte...

Enfim, não quero ser ingrato e exigir o impossível da Selecção, mas continuo a não encontrar um leque substancial de equipas que nos sejam claramente superiores. Uma ideia que trouxe comigo para o Mundial e que não foi entretanto desfeita. Espero agora que a má fortuna do sorteio – já sabíamos que teríamos de contar com ela – não sirva de desculpa para não sermos ambiciosos. Espero que Portugal seja inteligente e não utópico na forma como escolhe a sua estratégia, e posso facilmente prever que será muito semelhante àquilo que fez frente ao Brasil. Em traços gerais, parece-me bem. O que desejo, porém, é que não regrida demasiado depressa no tempo. Que se valorize e que valorize o seu jogo. Que apresente um futebol confiante e não aquele complexado da primeira parte frente ao Brasil. Se assim for, não tenho duvidas, o favoritismo espanhol depressa deixará de ser uma certeza.



Ler tudo»

ler tudo >>

25.6.10

Diário de 'Soccer City' (#14)

ver comentários...
Seria seguramente um daqueles casos em que o futebol dizia uma coisa e as pessoas adivinhavam outra. Ou seja, apesar de todos termos visto o pior possível da Itália nos primeiros dois jogos, duvido que alguém não estivesse convencido da sua qualificação. Eu estava. Acabou por vingar a lógica do jogo, e numa espécie de embate da mediocridade, foi a Itália quem levou a pior. Levou, e justamente. Tal como os franceses – com quem partilharam a final há 4 anos – o seu futebol não deixará qualquer réstia de saudade ao torneio africano. A lamentar, creio, só mesmo o espectáculo deprimente que é ver talento a ser desperdiçado no mais importante dos palcos. Com isso, enfim, conviverá a bem História, e, como tal, também nós deveremos ser capazes de calmamente o fazer. Vale muito mais a pena continuar a olhar para o que ainda aí vem e, claro, para o que de bom se tem visto.

Holanda – Eslováquia
De repente, com tanto pela frente, a Holanda sobe em flecha no ranking de favoritos. E nada tem a ver com as indicações do seu futebol. Coisas do calendário e da, agora mais clara, caminhada par “Soccer City”. O futebol dos holandês, em boa verdade, pouco ou nada iludiu nos primeiros 3 jogos. Tem talento de sobra do meio campo para a frente e algumas reticências na forma como defende. É, digamos, uma versão “soft” do caso argentino. Não tem os desequilibradores de Maradona – embora falte enquadrar Robben – mas também não tem, nem de perto, a inconsistência defensiva dos argentinos. O caminho foi-lhes aberto e eles têm capacidade mais do que suficiente para o percorrer. Veremos se o farão...

Quanto à Eslováquia, confesso, surpreende-me mais a sua qualificação do que a eliminação da Itália. Isto porque a prestação dos eslovacos havia sido – e recuperando o termo – nada mais do que medíocre. Confunde-me, por exemplo, como é que Miroslav Stoch foi suplente desta equipa, mas foi sobretudo a sua limitação ofensiva nos primeiros dois jogos que me desiludiu. Talvez tenham recuperado alguma capacidade depois do “thriller” com Itália. Assim espero, porque senão os oitavos serão apenas uma formalidade para a “laranja”.

Paraguai – Japão
Um cenário idêntico ao do primeiro jogo dos oitavos, entre Uruguai e Coreia. Os sul americanos recolhem favoritismo e terão mais qualidade individual. Resta saber, porém, se isso chegará, ou se serão os asiáticos a fazer valer a sua capacidade de trabalho e organização. Aqui, porém, a recente performance frente à Dinamarca japonesa acabará por equilibrar a balança do favoritismo. E justamente, parece-me.

Para mim, de facto, o Japão é uma das grandes surpresas – agradáveis, isto é – da primeira fase. Uma equipa que em todos os jogos se apresentou com uma organização defensiva inesperadamente boa e que, ao contrário de outras, não se limita a esperar pelo adversário. Os japoneses não fazem apenas um constrangimento zonal sobre o receptor do primeiro passe, mas também um constrangimento temporal sobre o portador da bola. Ver uma equipa subir progressivamente no campo e obrigar o adversário a recuar é algo que aprecio. Mesmo contra a Holanda, em que acabaram por perder, os japoneses não deixaram jogar e forçaram a posse holandesa, repetidamente, a andar para trás.

O problema do Japão está no que acontece a seguir. Ou seja, na transição defesa-ataque. Raramente a equipa consegue soltar-se ofensivamente e ser uma ameaça em jogo corrido. Frente à Dinamarca, por exemplo, foi preciso usufruir de lances de bola parada para ver a equipa subir colectivamente no campo. Isto, claro, será sempre limitativo, e cada vez mais o será com o andar da prova.

Mas não se pode falar do Japão sem falar de Keisuke Honda, uma das revelações do torneio. Um jogador que andou pela segunda divisão da Holanda e que conheci na primeira metade desta época, quando ainda jogava no modesto Venlo. O seu talento – como médio criativo e não referência ofensiva como joga na Selecção – não passava despercebido, apesar da modéstia do seu clube. Tanto, que o CSKA pagou para cima de uma dezena de milhões pelo seu concurso. É assim nos dias de hoje. Honda pode ser uma revelação do mundial, um nome desconhecido para a maioria, mas já ninguém o apanha por meia dúzia de trocos...



Ler tudo»

ler tudo >>

24.6.10

Diário de 'Soccer City' (#13)

ver comentários...
Jogado o segundo dia de decisões na fase de grupos, estão já definidos 4 jogos dos oitavos de final. Apesar de ser a rodada das decisões, a verdade é que poucos motivos há para olhar muito para os derradeiros embates da fase de grupos. As “fotografias” das equipas já estão recolhidas, e a cada um dos apurados abre-se também a luz sobre o caminho que a espera até à desejada final. É por isso que o interesse recai, nesta altura, muito mais em olhar para a frente do que para trás, e é por isso também que aproveito o momento para deixar algumas notas sobre os emparelhamentos já definidos. Antes, porém, fica a nota: entre Uruguai, Coreia, Estados Unidos e Gana sairá um improvável semi finalista. Este cruzamento apetecível está ao alcance do 1º classificado do grupo G – o de Portugal. Juntando este aliciante, à probabilidade da Espanha ser primeira, fica claro que o Brasil-Portugal pode vir a tornar-se num embate bem mais importante do que à partida possa parecer.

Uruguai – Coreia do Sul
Escrevi sobre o Uruguai no primeiro jogo, e dele não disse boa coisa em relação à qualidade colectiva. Talento não falta no Uruguai, e essa capacidade deverá ser suficiente para merecer o favoritismo. Sem lhe retirar esse crédito, porém, volto a realçar as minhas reservas sobre a organização dos sul americanos. A este aspecto junto um outro, o da mentalidade, para concluir que, apesar de favorito, o Uruguai deve manter os pés bem assentes na terra se não quiser estragar uma oportunidade de ouro que tem para regressar aos grandes palcos de uma fase final do campeonato do mundo.

Estados Unidos – Gana
É-me difícil falar deste jogo, porque o acho realmente fraco. Há bons jogadores em ambos lados e no caso dos Estados Unidos há um pouco mais do que isso também. No entanto, não vejo em nenhum dos conjuntos uma grande qualidade. Apesar de haver mais casos de talento no lado africano, parece-me que a organização e experiência dos americanos justifica o favoritismo. Aliás, poderemos vir a assistir a uma histórica caminhada de um destes conjuntos.

Alemanha – Inglaterra
Ora aí está o prato forte. Um jogo destes vale quase por todos os oitavos de final – embora se adivinhem outros embates titânicos. A Alemanha é, a seguir, à Espanha a selecção que mais me agrada do ponto de vista colectivo. Mas pode não bastar. Ozil e Schweinsteiger são as unidades essenciais deste conjunto e perder alguma delas, creio, será um golpe que dificilmente deixará de abalar seriamente as pretensões germânicas. Do outro lado, temos um caso quase oposto. A Inglaterra tem algumas das unidades mais determinantes do futebol actual, mas em falhado colectivamente. As coisas melhoraram frente à Eslovénia. Rooney reapareceu, Defoe ganhou o lugar e Gerrard voltou a provar que a discussão em torno da sua utilidade à esquerda não é mais do que um dos habituais sofismas de quem procura justificações imediatas para problemas mais complexos. Mais, Milner fez lembrar Beckham a cruzar e terá, também ele ganho um lugar. O colectivo de Capello não é brilhante mas pode estar a ganhar uma forma. Acredito que a História nunca se repete sempre e, não sei porquê, parece-me que pode ser desta vez que a sorte da Inglaterra possa mudar. A ver vamos...

Argentina – México
Pode a Argentina ser campeã?! A pergunta pode parecer tonta para a maioria. Afinal, poucas selecções terão entusiasmado tanto o grande público como a ‘albiceleste’. Para mim, porém, esta Argentina não pode logicamente ganhar o mundial. Não pode, porque não percebe o que são equilíbrios tácticos, porque facilmente se alonga no campo e abre o campo de ataque ao adversário, porque decide mal e arrisca excessivamente em zonas onde não o pode fazer. Para mim, esta Argentina pode cair a qualquer momento e parece-me impensável que esse momento não chegue até ao último apito da prova. Seria um grande contra senso, um grande equívoco, diria mesmo. Mas todos sabemos que no futebol a bola é bem redonda, e poucos a tratarão tão bem quanto os argentinos. É por tudo isto que a dúvida permanece viva: será possível?!



Ler tudo»

ler tudo >>

22.6.10

Diário de 'Soccer City' (#12)

ver comentários...
Da tormenta à euforia, que não há tempo para perder em boas esperanças. Será assim que a maioria dos até aqui pessimistas encararão esta viragem do cabo da Selecção. Uma analogia óbvia, dada a simbologia do local, mas que faz também todo o sentido em relação ao estado de ânimo dos adeptos. A volatilidade emotiva do costume, portanto. Pessoalmente, não estou particularmente entusiasmado com o que se passou frente à Coreia. Agradado com o desfecho, é certo, mas não crente que este jogo tenha mostrado algo de significativamente diferente em termos qualitativos. Será tão errado alicerçar esperanças neste resultado, como o exagerado catastrofismo que assistimos até aqui. Como quase sempre, é algures no meio que está a virtude.

Confesso a minha surpresa com o que se assistiu desde o primeiro minuto. Esperava uma Coreia conservadora, “afundada” no campo e de risco mínimo. Algo se terá passado com o ego dos Coreanos que, tal como o resto do mundo, terão valorizado excessivamente o surpreendente placar tangencial frente ao Brasil. Só assim se explica o que se viu. A verdade é os Coreanos (como os neozelandeses, por exemplo) não são deste nível e só podem sobreviver com algum êxito se juntadas 2 condições. A primeira é a humildade própria. A segunda é a incompetência colectiva do adversário. Ora, os coreanos perderam a primeira e com isso foram incapazes de testar, sequer, a segunda condição. Confesso que para meu contentamento, diga-se.

A primeira parte de Portugal foi má. Não há outra palavra. Com os Coreanos estendidos no campo, a Portugal nem era preciso ser particularmente forte no pressing, como ontem acreditava. Bastava organização, claro, e dar prioridade ao critério na posse. Critério que levasse Portugal a chegar de forma apoiada e segura ao último terço e, aí sim, arriscar as roturas decisivas. Assim, Portugal poderia aproveitar as debilidades defensivas dos Coreanos no seu último reduto e, não menos importante, estar bem preparado para eventuais transições ataque-defesa. Seria um jogo de domínio total.

O que Portugal fez, porém, foi dar prioridade à velocidade sobre o critério. Decidiu mal e foi ainda traído pelas condições em que o jogo se disputou, acumulando erros técnicos invulgares em alguns jogadores. Com isto, Portugal permitiu um jogo de transições, onde os Coreanos conseguiam tirar partido da forma estendida como se apresentaram. Um desperdício, acredito eu, porque como o jogo estava parece-me que em vez de 1, Portugal poderia ter ido facilmente para o intervalo com mais 2 ou 3 golos na bagagem.

A verdade é que – e pensando bem – talvez até tenha sido bom o que se passou na primeira parte. Os remates dos coreanos e a sua desvantagem apenas tangencial terá reforçado a crença coreana na sua própria capacidade. Uma ilusão que se transformou um verdadeiro “kamikaze” táctico. Portugal, porque é uma selecção ao nível das melhores em termos de potencial individual, facilmente colheu os frutos e terá praticamente garantido um apuramento que se adivinhava complicado. Isto, claro, a acreditar que os coreanos tenham aprendido a lição do que se passou, porque se voltarem a repetir a “graça”, não é de excluir a hipótese de novo “capote” frente aos marfinenses. Esperemos que recuperem o juízo...

Chile e Suíça
Suíça e Chile era um embate curioso e interessante por juntar as 2 selecções secundárias (permitam-me a expressão) que mais competência apresentam, mas também por o conseguirem ser em filosofias radicalmente diferentes.

Os chilenos apelam à sua filosofia do gosto pela posse e pela bola. Procuram recuperá-la rapidamente e depois circular com velocidade. Procuram o domínio, para além do controlo. Tudo isto faz sentido pela qualidade técnica acima da média dos seus intérpretes, mas pessoalmente tenho de levantar algumas reticências em relação à sua capacidade de se impor perante adversários tecnicamente mais fortes. Como no futebol só há uma bola, não basta ao Chile ser forte com ela, é preciso também ser forte quando não a tem, e tenho dúvidas se o será. Depois, há ainda a consistência na zona decisiva. Jogar com uma equipa tão baixa e com centrais adaptados não me parece nada bom indício. Dúvidas que não poderiam ter melhor teste do que o adversário que se segue: a Espanha.

A Suíça, por seu lado, repetiu a estratégia frente à Espanha e, pode dizer-se, estava a resultar bem até à expulsão. Os suíços não tiveram mais bola, nem criaram grande coisa, é certo, mas também não era a isso que se propunham até aquela altura. A zona suíça consegue ser curta e alta como mais nenhuma o foi neste mundial. Não é perfeita, e comete até vários erros, mas a nível de selecções é difícil alguém fazer melhor. Isto, enquanto tiveram 11 jogadores, porque depois a Suíça reduziu aquilo que era uma zona defensiva a uma simples linha defensiva. Ao contrário do que acontecera na primeira parte, onde mantivera os chilenos a dezenas de metros da sua baliza, na segunda parte a Suíça acabou por “encostar” e, assim, não evitar o sufoco chileno. Não digo que façam tanto – seria preciso um novo e improvável alinhamento de estrelas – mas esta Suíça, se passar, tem capacidade para dar umas dores de cabeça ao bom estilo grego de 2004.

Acabou por ganhar o Chile, mas por uma margem curta para aquilo que produziu depois da expulsão. Um desperdício que, aliás, repetiu depois do embate com os hondurenhos e que lhe retira qualquer favoritismo à qualificação, apesar da liderança destacada que possuí. Enfim, será um final interessante de seguir num grupo onde só as Honduras destoam em termos de qualidade.



Ler tudo»

ler tudo >>

21.6.10

Diário de 'Soccer City' (#11)

ver comentários...
Mais um dia com motivos de sobra para reflectir. O “climax”, claro, teve lugar em Joanesburgo no jogo que culminou numa pequena prenda dos brasileiros para a Selecção portuguesa. No entanto, creio, não menos interessante é olhar para o que aconteceu algumas horas antes, entre Itália e Nova Zelândia. Será difícil alguém ainda se surpreender com o que quer que seja nesta prova, mas será interessante entender o porquê de tantos problemas dos campeões do mundo para bater uma formação tão fraca como os “All Whites”. Nem que seja porque deve servir de exemplo para o que Portugal terá pela frente, é por aí que quero começar.

Se ninguém duvida das diferenças de qualidade entre os jogadores de uns e outros, como se pode então explicar as dificuldades por que passaram os italianos? Bom, seguramente que há vários aspectos a abordar, mas há um que me parece especialmente importante para o sucesso neste tipo de embates: o pressing. Pode parecer estranho escolher concentrar-me no que a equipa faz sem bola, quando não pode haver tipo de jogo mais fácil para se ter a bola. O que acontece, porém, é que perante adversários dispostos a esperar lá atrás, o mero facto de se atacar apenas em organização já é uma importante vitória para quem defende. O caso da Nova Zelândia, aliás, é paradigmático. Uma equipa que defende mal, cometendo vários erros de abordagem individual e colectiva, e que ainda para mais nem tem uma estratégia especialmente conseguida em termos defensivos, “afundando-se” quase que instantaneamente na sua grande área. Ainda assim, atacar sempre contra tanta gente atrás da bola pode ser um sarilho.

É por isso que neste tipo de embates é fundamental forçar outro tipo de jogo e criar desconforto no adversário. Adiantar linhas e pressionar toda e qualquer saída de bola. Afinal, se a diferença está na qualidade técnica, é bom que seja por aí mesmo que se acentue as diferenças. Se o pressing for bem conseguido – como tem a obrigação de ser - provocará um dilema permanente do lado contrário. Ou arriscar pouco, jogando mal e entregando a bola, ou tentar fazê-lo em apoio mas assumindo o risco de uma perda comprometedora. Em qualquer dos casos, o perigo do erro estará sempre presente e o sufoco acontecerá desde o primeiro minuto. Isto foi (entre outras coisas, é certo) o que a Itália não fez frente à Nova Zelândia, e o que Portugal tem de fazer desde a primeira hora frente aos Coreanos. Mesmo que isso implique algum risco posicional. Isto é, também, o que as melhores equipas do mundo fazem perante os adversários mais modestos. Porque esperar para atacar, hoje, já pode não bastar.

Finalmente, o Brasil - Costa do Marfim. Sem surpresas, a Costa do Marfim voltou a repetir a receita e, sem surpresas também, o Brasil sentiu dificuldades idênticas a Portugal até o jogo se abrir. A diferença, é claro, esteve no detalhe e na qualidade com que individualmente os brasileiros se desembaraçaram do problema.

Acho curiosa a forma como Dunga “desenrascou” o seu modelo táctico. Quase que diria que ao não conseguir optimizar a equipa como um só bloco, resolveu decompo-la em 2. Definiu 6 jogadores defensivos e libertou 4 para o ataque. Quando dá para fazer tudo em conjunto, muito bem, mas quando não dá é preferível que a equipa se parta desta forma, do que arrisque tentar fazer tudo num só conjunto. Por um lado, os 6 de trás são suficientes para garantir equilíbrio defensivo em qualquer situação. Por outro, os 4 da frente têm talento de sobra para resolver um jogo em qualquer jogada, sobretudo se for em transição, que é como a equipa mais gosta de jogar. Em termos tácticos, não há nada de brilhante nisto, e só é possível ter sucesso com a qualidade dos recursos em causa e, já agora, com a natureza da própria competição. A verdade, tudo somado, é que não vejo equipa que possa estar tão perto da Espanha na lista de favoritos.

Ler tudo»

ler tudo >>

19.6.10

Diário de 'Soccer City' (#10)

ver comentários...
E o Mundial que não pára de surpreender! Depois da Espanha, depois da França, e no mesmo dia, Alemanha e Inglaterra dão passos atrás numa qualificação que à partida parecia adquirida. Dois casos distintos, é certo, mas em qualquer dos cenários estamos perante candidatos reais a disputar a fase terminal da competição. De qualquer forma, não deixa de ser interessante equacionar o que poderá ser desta competição se todos estes "pesos pesados" fossem já eliminados...

Difícil dizer quem está em piores condições, mas no que respeita ao futebol propriamente dito, parece-me evidente ser menos preocupante o caso alemão. A derrota foi altamente condicionada por uma série de factores e dá até para dizer que a Alemanha teve uma boa reacção a todas as adversidades. Apesar disso de nada lhe ter valido. De novo em destaque a boa movimentação com bola e a segurança da posse. De novo, também, a importância de 2 elementos centrais no jogo da equipa. Schweinsteiger e Ozil. O primeiro claramente como “pivot” de todo o jogo da equipa, oferecendo permanentes apoios à posse e jogando sempre seguro. Importante – muito importante! – também o seu papel na transição ataque-defesa. O segundo, Ozil, é de facto a fonte de criatividade e imprevisibilidade do jogo alemão. Não apenas pelo que faz com bola, mas pela movimentação que assume ao longo dos espaços. Não espanta que sem ele em campo a Alemanha não tenha marcado um único golo nos 2 jogos e, aliás, parece-me que as suas substituições coincidem com uma quebra na produtividade ofensiva da equipa.

Mas se a Alemanha perdeu, perdeu também porque jogou frente a uma das mais homogéneas selecções do torneio. Em termos individuais, isto é. Não consigo dar grande mérito colectivo à Sérvia. Pressionou alto, mas normalmente mal e com bola pouco mais fez do que recorrer a Zigic como plano concreto para chegar à frente. O que acontece é que a densidade da equipa na linha média e sua qualidade individual fazem da Sérvia uma equipa, primeiro difícil de bater pela capacidade de sofrimento que tem no último terço e, depois, capaz de criar desequilíbrios através das boas individualidades que tem em todos os sectores.

Finalmente, a Inglaterra. Uma desilusão a sua qualidade. Demasiados erros individuais, exibições desinspiradas e colectivamente um futebol pouco ligado, com muito espaço entre jogadores e sectores, que impede uma fluidez mais constante. Há ainda, para além de tudo isto, alguns aspectos tácticos que julgo merecer revisão. A ideia de Gerrard partir da esquerda não é má. É, aliás, na movimentação interior do 4 inglês que reside a maior fonte de desequilíbrios da equipa. Aí e no pressing que Capello fez questão em implementar à sua equipa. Mas, depois, há alguma distância entre sectores, com a equipa a preferir baixar a sua linha recuada a mantê-la alta para aproximar o conjunto. Não se vê a razão de ter de actuar com 2 avançados quando, claramente, Heskey não tem andamento para os objectivos que estão propostos ao colectivo. Mais, parece muito mais útil um modelo com um avançado e que potencie os movimentos de Lampard e Gerrard na zona de finalização do que este, que distancia sectores e não tira qualquer partido das duas unidades da frente.

Dizia-me alguém que com Capello eles vão fazer um mundial “the italian way”. Não convencer no inicio, sofrer, e depois embalar para uma prestação em crescendo. Bom, as duas primeiras partes deste “plano” estão confirmadas...



Ler tudo»

ler tudo >>

17.6.10

Diário de 'Soccer City' (#9)

ver comentários...
Chocante! Não pelo resultado, porque se um dia antes havíamos visto a Espanha cair perante a Suíça, não poderia ser agora a derrota de uma França moribunda a fazer-nos abrir a boca de espanto. O que realmente choca é a forma como tudo aconteceu. Os méritos do México, ninguém os tira, e já irei a eles, mas o que se viu do lado francês superou todas as marcas. A substituição de Anelka ao intervalo, a exibição em perda progressiva, a ausência de Henry e Gourcuff e, sobretudo, a enorme passividade de todos perante um cenário de tamanho descalabro. Não vou mais além do que isto, porque seria entrar num campo meramente especulativo, mas diria que há algo de muito estranho por trás desta tremenda hecatombe gaulesa.

Tacticamente, diria que a exibição francesa prova, de novo, como o futebol vai muito para além de sistemas e opções individuais. Não houve nada de errado com o 4-2-3-1 de Domenech, e as suas escolhas, embora discutíveis, não chegam, nem um pouco, para explicar a pobreza a que se assistiu. O que faltou – e de novo – à França foi qualidade em tudo aquilo que tentou fazer. Com bola, jogava no improviso individual e não tinha, nem qualidade de movimentos, nem sequer um plano para chegar ao seu destino. Sem bola, tentou pressionar alto, mas não conseguia parar o primeiro passe. Abriu um espaço entre linhas gritante e nem sequer a sua linha mais recuada se salvou minimamente, mantendo um espaço enorme entre os seus elementos e falhando frequentemente no aproveitamento do fora do jogo. É para mim um tremendo enigma como uma equipa – com tanto potencial – se pode apresentar desta forma depois de 1 mês de preparação...

Mais interessante, e seguramente mais animador, é falar do México. Defensivamente é uma equipa que não merece grandes elogios. Não tão má quanto o Uruguai frente aos mesmos gauleses, mas mesmo assim sem uma grande qualidade naquilo que fez sem bola. Mais, o México foi até mais inocente na forma como consentiu algumas perdas de bola que resultaram em transições de perigo potencial (raramente concretizado, diga-se).

Outra coisa é falar da grande nuance táctica do jogo: a forma como o México estrategicamente preparou as suas ofensivas. Em vez de utilizar Franco como unidade mais avançada, e Vela e Giovani nas alas, Aguirre optou por baixar o ponta de lança e torná-lo num “pivot” para todas as situações ofensivas. Quer em construção, quer em transição. E funcionou em pleno porque, primeiro, a França abriu um espaço gigantesco entre a linha defensiva e o primeiro médio e, depois, porque Domenech devia estar a pensar na sua longa viagem de regresso e não foi capaz de corrigir uma situação tão flagrante e repetido ao longo do jogo. Com isto, não só a França passou por dissabores para controlar os movimentos diagonais de Vela e Giovani nas costas do “pivot”, como ficou impedida de se manter alta no campo e pressionar. Sempre que a bola entrava em Franco, era ver os franceses correr para trás, tentando remendar algo que normalmente devia ser prevenido.

O debate sobre a paupérrima selecção gaulesa – em termos relativos, a pior do Mundial – deverá ficar por aqui, e aproveito o último parágrafo para um pequeno apontamento sobre um tema paralelo nesta competição: as transmissões televisivas. Por estar ausente de Portugal, tenho acompanhado as transmissões noutros canais, entre os quais a BBC. É a esta estação britânica que quero prestar a minha homenagem. A ausência de anúncios é aproveitada de uma forma fantástica para os espectadores. Ao intervalo, por exemplo, figuras como Seedorf ou Shearer estão a fazer a sua análise do jogo, umas escassas de dezenas de segundos após o apito do árbitro. O mais interessante, porém, é o facto de o poderem fazer já com o apoio de imagens recolhidas e tratadas sobre um jogo que apenas acabara de terminar. É caso para dizer que na BBC cada jogo vale bem mais do que os 90 minutos.



Ler tudo»

ler tudo >>

Diário de 'Soccer City' (#8)

ver comentários...
Ontem tinha deixado a opinião de que defrontar uma estratégia como aquela que a Costa do Marfim montou frente a Portugal seria um bico de obra para qualquer formação Mundial. Ora, nem de propósito, 24 horas depois tivemos um bom exemplo disso mesmo. Não que o jogo da selecção espanhola fosse idêntico ou, mais importante ainda, que se possa comparar a qualidade dos espanhóis com aquela que a selecção portuguesa apresenta na actualidade. As semelhanças estão, isso sim, naquilo que fizeram Suíça e Costa do Marfim, na sua proposta de jogo e numa abordagem que parece ter pegado moda neste Mundial. É disso que me parece mais interessante falar.

A ideia, em si mesmo, não é muito complicada de entender. Abdicar do pressing alto, baixar os avançados para trás do meio campo e subir a linha mais atrasada um bom par de metros acima da grande área. Assim, se cria a zona densa onde é difícil entrar sem ser de imediato apertado, onde se proporcionarão recuperações capazes de iniciar transições que tirem partido do espaço. Assim, e sempre dentro dessa zona, é possível ter uma presença pressionante a toda a largura do terreno.

Entre um caso e outro, são evidentes as diferenças do jogo português para o espanhol. Os portugueses, simplesmente procuravam um primeiro passe vertical, mas raramente dele conseguiam passar. Ou o receptor era de imediato apertado, ou a linha de passe seguinte não surgia a tempo de evitar o sufoco marfinense. No caso espanhol, a bola circulou com muito mais velocidade, com sucessivos apoios a serem criados e com uma velocidade de circulação que impedia que os defensores conseguissem estar permanente em cima do receptor.

A diferença passa, obviamente, pela qualidade individual, mas não só. Um dos requisitos para que se tenha uma boa circulação é conseguir criar também zonas de densidade ofensiva. Ora, isto parece contrariar o principio do “campo grande” que vem nos livros. Parece, e contraria mesmo, porque “campo grande” só tem utilidade quando a defesa é arrastada, porque quando a defesa define ela própria a zona em que quer actuar não serve de muito o “campo grande”. Talvez aqui resida uma primeira boa reflexão teórica, mas há mais...

Mas o que fez então de errado a Espanha? Não foi seguramente a qualidade de circulação. O que me parece não ter sido conseguido pelos espanhóis foi a capacidade de fazer “esticar” a zona suíça. Ou seja, obrigar a sua linha mais recuada a entrar dentro da área. Para isso, creio, o melhor caminho residiria em ter alguma profundidade nos flancos. Calma! Não convém confundir esta ideia com o eterno sofisma da necessidade de ter extremos a tentar permanentemente ganhar a linha para cruzar. Isso seria um “bónus” para a robusta defesa suíça.

Passo então a explicar... Para fazer a linha defensiva baixar e abrir espaços interiores, o melhor caminho é de facto pelas alas. É nos corredores que há menos congestionamento e nenhuma defesa se prepara especificamente para evitar a profundidade nos flancos, mas apenas para a controlar. Ora, se a bola passar a longitude da grande área, toda a defesa terá de recuar, abrindo espaços interiores. Se esta vier de novo para trás, ela terá de reajustar e de novo subir. É neste “vai e vem” que se criam as oportunidades de penetração para quem ataca. O exemplo disso está na jogada que terminou com a ocasião de Piqué, a melhor do primeiro tempo. O problema dos espanhóis, portanto, terá sido a falta de profundidade nos flancos na primeira parte, com a bola a circular, e bem, lateralmente, mas sem obrigar os suíços a “esticar” a sua zona. E assim praticamente voaram 45 minutos.

Uma nota final, porém. Desengane-se quem tirar muitas conclusões destes primeiros jogos. Ninguém ganhou, nem perdeu nada, e ninguém está significativamente mais perto nem mais longe de o fazer.



Ler tudo»

ler tudo >>

15.6.10

Diário de 'Soccer City' (#7)

ver comentários...
Não foram precisos muitos minutos para perceber o que seria do jogo. A Costa do Marfim, grande esperança africana no Mundial daquele Continente, resolveu jogar “à europeia”. E fez bem. A partir do momento em que a estratégia “gélida” dos marfinenses entrou em campo, seria sempre o primeiro golo o ditador do jogo. Pode dizer-se que Eriksson fez emergir o pior do jogo da Selecção, o maior dos seus receios. Portugal, perante este cenário, não foi nem melhor nem pior do que as expectativas que já se poderiam ter. Uma pena. Duas coisas me parecem mais claras, depois dos 90 minutos: (1) Está tudo em aberto ; (2) Prevê-se um grupo muito difícil para todos.

Baixar a primeira a linha e subir a última, para assim criar uma zona de grande densidade, onde Portugal tivesse pouco espaço para jogar. Duas coisas seriam preciso para que Portugal contornasse o obstáculo. Ou pelo menos uma delas. Uma, seria ser capaz de ter uma posse dinâmica e segura, que evitasse as perigosíssimas perdas em construção e que fosse capaz de, lentamente, ir esburacando o “muro” marfinense. Mas esse era o principal problema da Selecção: jogar contra equipas fechadas, que dessem pouco espaço para a explosão. Sempre foi, e não foi – para novo desapontamento – neste jogo que ele deu sinais de desaparecer.

A segunda possibilidade passava por explorar o outro lado do jogo, aquele que começou a ter lugar com mais frequência após a metade da primeira parte. Porque os marfinenses também jogaram, também eles assumiram boa parte do jogo. Restava a Portugal ser capaz de fazer a Costa do Marfim de provar do seu próprio veneno. Ser capaz de pressionar, provocar perdas nos primeiros passes da construção e sair depois em transição. No fundo, ser capaz de jogar com o espaço quando ele existiu. Mas também não foi capaz de o fazer, e é por isso que o nulo, bem vistas as coisas não foi assim tão mau. Portugal não fez por merecer mais e não fica propriamente em pior condição do que quando entrou para o jogo.

Convém situar as coisas. Portugal não fez um grande jogo, e mesmo tendo-se deparado com o seu grande problema colectivo, creio que há exibições individuais às quais se exige mais. Mais qualidade e mais simplicidade, sobretudo. No entanto, a Costa do Marfim que tivemos pela frente será tão forte quanto a maioria dos adversários que poderemos encontrar. O problema de muitas Selecções, especialmente fora da Europa, é não terem um nível de organização que lhes possibilite potenciar melhor as suas hipóteses em cada jogo. Porque o nível técnico, esse, está ao nível dos melhores. E esse vinha sendo o problema, por exemplo, da Costa do Marfim. O facto é que dentro desta proposta de jogo, qualquer Selecção encontraria e encontrará grandes problemas. Isto faz, na minha opinião da Costa do Marfim um candidato para levar a sério, assim consiga chegar aos oitavos.

Enfim, um boa notícia, para já, é que o segundo jogo de Portugal se joga uma noite depois do Brasil-Costa do Marfim. Dará para perceber a importância real do jogo com a Coreia. Por exemplo, se tivermos um empate na noite de Joanesburgo, Portugal saberá que precisará de vencer os Coreanos por 2 golos para entrar em vantagem no último jogo. Para já, o que parece claro é que teremos um apuramento disputado até à última e que, depois da magra vitória canarinha frente aos coreanos, ninguém sai a rir da primeira jornada deste verdadeiro “grupo da morte”.

Ler tudo»

ler tudo >>

Diário de 'Soccer City' (#6)

ver comentários...
Ao quarto dia, mais 2 candidatos. Holanda e Itália, cada uma das equipas encontrou a sua própria forma de não entusiasmar. Dos holandeses, espera-se que criem ilusão a abrir mas duvida-se do que possam fazer na hora das decisões. Dos italianos, o contrário. Um arranque aos soluços, mas uma presença temível na fase decisiva. Para já ambos estão a cumprir com o papel que lhes parecia ser destinado, mas duvido que a candidatura de qualquer uma destas selecções tenha saído revista em alta, seja por quem for.

Sobre os holandeses, ninguém duvida da sua potencialidade criativa. Mesmo que neste jogo a dinâmica estivesse abaixo do esperado. Essa é a força da “laranja”. É curioso, porém, verificar como a escola holandesa, que não se cansa de produzir talentos ofensivos, falha em conseguir o mesmo patamar para a metade traseira da sua equipa. A verdade é que o comportamento defensivo dos defesas holandeses não é o melhor. Frequentemente arriscam demais ou têm abordagens erradas. Isso verifica-se a todos os níveis e o jogo frente à Dinamarca acabou por dar alguns exemplos, ainda que escassos, disso mesmo. E é aí que reside o problema desta equipa.

O grupo é tão fácil que só uma Itália muito fraca ficará pelo caminho. Certo. Do que se viu, porém, fica ideia que para chegar a algum lugar perto da final de 2006, a Itália terá de evoluir muito. Frente a um Paraguai que foi um digno opositor durante um bom período de tempo, os “azzurri” mostraram-se incapazes de praticar um futebol fluído e dominador. Pareceram apenas aptos a aproveitar os momentos em que lhes foi permitido verticalizar o jogo. Quando lhes foi criado problemas de pressing, quando foi preciso mostrar qualidade para evitar a perda e empurrar o Paraguai sistematicamente para trás, aí, a Itália já não foi capaz de responder. Acabou por se ver forçada a dividir o jogo e a entrar num jogo mais físico. Pode ser que Pirlo seja a chave para uma boa parte do problema, mas... será suficiente?



Ler tudo»

ler tudo >>

14.6.10

Diário de 'Soccer City' (#5)

ver comentários...
E ao terceiro dia, qualidade. Não qualidade individual, porque essa já tivéramos em vários momentos do Mundial. Qualidade colectiva. A Alemanha aproveitou a estreia para marcar terreno, para dizer que embora não seja a potência de outros tempos e embora não tenha a qualidade individual de alguns, está em África para defender a sua História. Não foi só a primeira goleada da prova, foi também a primeira exibição verdadeiramente consistente e digna de um sério candidato.

Não há muito de errado no que fez a Austrália se tivermos em conta o que já foi visto nesta prova. Não pressionou alto, é certo, mas definiu uma zona densa com o adiantamento da linha defensiva e reduziu muitíssimo os espaços entre linhas. O pior, claro, foi o comportamento da linha defensiva no controlo do espaço que havia nas costas. Mais um exemplo de quão importante pode ser a movimentação colectiva da linha mais recuada.

A verdade, porém, é que há mais mérito germânico do que demérito dos “Aussies”. Uma equipa organizada, paciente em posse, sempre procurando o momento e a movimentação certa para penetrar. Depois – e isto é importante – esteve também preparada para pressionar no momento da perda de bola, impedindo a Austrália de sair em transição e encurralando o jogo no meio campo contrário. Tudo coisas boas. Para futuro, porém, fica a reserva do uso de apenas 2 médios na zona central. Será difícil controlar o espaço entre linhas e manter pleno controlo do corredor central com apenas 2 jogadores. Uma opção de longo prazo, mas que, com algumas fragilidades individuais, será o calcanhar de Aquiles da equipa.

Individualmente, há 2 notas que não podem ser evitadas. Primeiro Ozil, para mim o melhor em campo. Fantástica exibição a jogar como falso avançado. Grande capacidade de movimentação, quer na profundidade, quer entre linhas e óptima qualidade, quer na execução quer na decisão. Aos 21 anos, podemos estar perante a grande revelação do Mundial. Depois Schweinsteiger. Ainda é jovem mas durante algum tempo pareceu perdido no que respeita ao seu papel no campo. O facto é que Schweinsteiger tem tudo para ser um jogador de construção, um médio que executa bem e seguro e que tem capacidade para crescer na leitura do jogo. É aí que se tem afirmado e é aí que poderá rapidamente tornar-se no sucessor de Ballack como líder da “Mannschaft”.

Ler tudo»

ler tudo >>

12.6.10

Diário de 'Soccer City' (#4)

ver comentários...
Argentina e Nigéria têm origens distintas, mas é fácil prever que em qualquer dos casos será sempre a emoção a prevalecer sobre a razão. No caso ‘albiceleste’, a presença de Maradona só podia agudizar a tendência, mas havia a incerteza de qual seria, realmente, o produto do choque de mentalidades que se dava do lado nigeriano. Ora, se Lagerback foi “importado” com a missão de suavizar o efeito emotivo no futebol das “águias”, então bem se pode dizer que esteve longe de produzir os efeitos desejados. Tudo somado, tivemos um todo bem menor do que a soma das partes. Isto é, um golo foi pouco para tanto desequilíbrio.

Maradona pensou como era previsível: como um adepto. Quatro defesas e um médio defensivo não foram mais do que um requisito mínimo, porque os olhos estão colocados na ilusão de uma chuva de talentos criativos. De preferência com liberdade máxima, mesmo que isso implique uma irresponsável perda de equilíbrios tácticos.

O “ex-pibe” vestiu-se para a comunhão e a verdade é que a sua estratégia foi a que mais frutos colheu. Primeiro, claro, pelos efeitos do talento que tinha ao seu dispor. Depois, porque do outro lado o “efeito-Lagerback” pouco ou nada beneficiou os nigerianos.

Defender bem. A via do sucesso nigeriano teria de passar sobretudo por aí. Óbvio. Mas defender bem não é defender muito, nem se resume àquilo que as equipas fazem sem bola. Defender bem começa, precisamente, quando se tem a bola nos pés, na qualidade com que se decide cada passe e, sobretudo, na importância que é dada à segurança no processo de decisão. Mais do que erros tácticos, a Nigéria falhou porque não soube ser segura com a bola nos próprios pés. Decidiu irresponsavelmente e permitiu que os argentinos tivessem inúmeras transições. Proibitivo para qualquer estratégia.

Mas há mais. Lagerback resolveu adoptar o 4-4-2 clássico, com apenas 3 linhas defensivas. Ora, será difícil pensar em pior opção quando se quer parar alguém que tem como estratégia principal fazer aparecer Messi e Tevez entre linhas. Um desastre anunciado e que apenas foi disfarçado pelo festival de golos perdidos.

A Argentina, por seu lado, certamente sorrirá com a estreia. Messi esteve fantástico, e se o 1-0 é curto, tantas oportunidades perdidas servirão de consolo suficiente, quer para a critica, quer para a própria equipa técnica. A verdade é que vejo com muita improbabilidade o sucesso deste modelo argentino. Será difícil que encontre tantas facilidades para atacar e, por consequência, que não acabe por pagar, também, o preço dos riscos que assume. Coreia do Sul e Grécia serão já testes interessantes.



Ler tudo»

ler tudo >>

Diário de 'Soccer City' (#3)

ver comentários...
Desilusão anunciada. No caso da França nem é preciso explicar porquê. Aliás, tão baixo desceram as expectativas em relação aos gauleses que quase se chegou ao exagero de desvalorizar o seu favoritismo. Um exagero, de facto. Não porque Domenech não o merecesse, mas porque do outro lado mora também outra desilusão anunciada. Não apenas o Uruguai, mas a generalidade dos conjuntos Sul Americanos, que julgo terem boas condições para deixar muito boa gente desiludida.

O Atlântico separa os dois Continentes, mas há bem mais do que um Oceano entre o nível táctico dos Sul Americanos e aquele que se pratica na Europa. Tabarez deu o mote com o disparate dos 3 centrais. Perdeu presença numérica no centro e nem sequer se deu ao trabalho de juntar linhas para aproximar a equipa. Não só tornou impossível criar problemas no pressing como ainda contraiu, ela própria, uma incapacidade gritante para fazer sair o primeiro passe. De repente, o trapalhão Domenech parecia um sábio da táctica.

E era tão fácil à França ter feito melhor! Sem apoios para a saída de bola, e com 3 jogadores na mesma linha recuada, o destino da posse uruguaia tinha de ser pela ala, pelo lateral. Era posicionar, pressionar e recuperar. Depois, com bola e sempre mais um apoio na zona central, bastava abrir no extremo, puxar o médio uruguaio para a ala e de novo procurar o interior, abandonado por uma presença excessiva de defensores na zona mais recuada. A França nunca o percebeu e foi aqui que começou a perder as suas hipóteses de vencer. Jogada após jogada, forçou a entrada pelas alas, onde facilmente os uruguaios garantiam boa presença com a ajuda do central mais próximo. Nunca quis, nem soube ver onde estava o “ouro” do jogo e por isso acabou com o justo prejuizo do nulo.

No meio disto tudo, há que realçar uma exibição: Forlan. Se o Uruguai sentiu dificuldades em jogar, só não mais as sentiu por causa do seu Diego. Veio atrás, buscou jogo e criou soluções de passe onde elas nunca existiriam por si só. Forlan foi a excepção de um jogo onde abundava potencial para muito mais.

E assim será, entre o talento individual e a mediocridade táctica se definirá o destino da generalidade dos sul americanos no Mundial 2010.



Ler tudo»

ler tudo >>

10.6.10

Diário de 'Soccer City' (#2)

ver comentários...
Expectativas. A sensação de êxtase ou frustração que os adeptos sentem no final das competições são consequência dos resultados. Óbvio. No entanto, este é também um jogo a dois, e o sentimento final só fica definido pela natureza do outro elemento, a expectativa inicial, e do que resulta do choque entre esta e o desfecho final. Tudo isto se joga neste momento um pouco por todas as nações presentes na África do Sul, mas em nenhuma o fenómeno “expectativa” parece ter tanto interesse como em Espanha.

Enquanto estava a ver a ‘Seleccion’ a passar a ferro a Polónia e a aniquilar a úlitma réstia de dúvida sobre a sua superioridade qualitativa às portas do Mundial, questionava-me também sobre a utilidade do que se gera por trás de tanto e tão bom futebol. Não do optimismo, e muito menos da importantíssima confiança. Refiro-me antes a alguma sobranceria que inevitavelmente cairá em cima disso tudo. E digo “inevitavelmente”, porque é sempre assim. Porque o exagero toma sempre o seu lugar nesta equação. Um exagero que começa nos adeptos mas que quase sempre se transmite também para os jogadores, ainda que nuns casos mais e noutros menos.

Um bom exemplo, talvez mesmo o melhor de todos, seja o do Brasil em 1982. A reputação de um futebol divino não se construiu na própria competição. Aliás, nem haveria tempo para tal. O que aconteceu foi que em Maio de 1981 o Brasil fez uma digressão europeia e no espaço de 1 semana venceu Inglaterra, França e Alemanha, sempre em território alheio. Em Espanha, o mundo apenas confirmou a ideia que já tinha e rejubilou com uma equipa que acabou vitima de um misto de má fortuna e desleixo. Ser-se o “melhor” é naturalmente um bom sinal, mas ceder ao conforto desse estatuto pode também ser o mais perigoso dos pecados.

Uma coisa é certa, porém: o que se joga no Mundial é um título de “Campeão”, porque para distinguir o “Melhor” nem era preciso jogar.
Ler tudo»

ler tudo >>

9.6.10

Diário de 'Soccer City' (#1)

ver comentários...
Com o Mundial prestes a começar, é tempo de definir como será o funcionamento do blogue nas próximas semanas. Motivos profissionais deverão condicionar a minha capacidade de oferecer o mesmo tipo de conteúdos que normalmente acompanham as análises e, por isso, apenas partilharei opiniões regulares – praticamente diárias – sobre a competição, que obviamente acompanharei com grande atenção. Assim deverá ser até às meias finais. Mas vamos às primeiras opiniões...

Nani não: 4-4-2... nem assim!
As capas que fez depois do jogo com os Camarões explicam, embora com exagero, a importância que poderia ter para os desequilíbrios. Portugal, o país dos extremos, vê-se agora reduzido a um único jogador que parece preferir o 4-3-3: Simão. Ainda por cima, Simão!

Não que pense que o sistema seja, em si mesmo, um factor que possa condicionar em absoluto a qualidade, mas porque a Selecção já mais do que provou a sua incapacidade para criar dinâmicas que a façam realmente forte dentro do sistema.

Ronaldo explodiu em Manchester e manteve-se espectacular em Madrid. Entretanto, na Selecção, continua incapaz de repetir o mesmo rendimento. Juntando todos estes dados, eu diria que algo deveria ser feito. Algo para mais do que invocar sucessivas justificações de circunstância ou, pior ainda, culpar o jogador.

Podia também falar de Liedson e da forma como este agradeceria jogar com mais alguém na frente, mas o outro motivo que me faz acreditar que a simples mudança de sistema implicaria, por si só, um salto qualitativo no jogo luso tem a ver com a proximidade entre os jogadores no meio. Com laterais como Coentrão, Duda, Miguel ou, agora, Amorim, o meio campo não precisa de se alargar para ter qualidade no apoio lateral. A forma de Deco, os movimentos de Meireles ou a classe de Tiago seriam altamente beneficiadas pela presença de um maior número de apoios. Portugal seria mais forte com bola e poderia estar igualmente bem preparada para a reacção à perda.

Foi assim que tivemos os melhores 45 minutos da “era Queiroz”, na Dinamarca, e é por tudo isto que lamento o esquecimento do 4-4-2, meses depois do seleccionador ter repetidamente anunciado a sua descoberta.
Ler tudo»

ler tudo >>

4.6.10

2006: A última sinfonia de 'Zizou'

ver comentários...
Todos o davam como acabado. E, afinal, o próprio já havia avisado que iria dar os últimos passos nos relvados do Alemanha-2006. Zidane, porém, era um "vintage", daqueles que se tornam melhores com a idade. A força do seu futebol nunca foi a velocidade ou a explosão e, por isso, foi-se tornando cada vez melhor a decidir, cada vez melhor a executar. Zidane será sempre lembrado por aquela final de 1998 e pelos golos com que vergou o Brasil. A importância histórica não está em causa, mas escolher 2 cabeçadas como ponto alto da carreira de Zidane parece-me um claro contra senso. É por isso que, entre todas as suas exibições em mundiais, não teria dúvidas em destacar uma outra, 8 anos mais tarde contra o mesmo opositor.

Para enquadrar o cenário, importa lembrar que não foi só Zidane a aparecer desvalorizado nesta competição. Toda a equipa francesa foi rotulada de "velha", com nomes como Barthez, Thuram, Makelele ou Vieira a juntarem-se aos 34 anos de "Zizou" para compor um onze base com uma média de idades acima dos 30 anos. "Os Dinossauros", apelidaram os mais críticos.

A suposta incapacidade da equipa francesa pareceu confirmada na fase de grupos, quando num grupo com a Suiça, Togo e Coreia do Sul, os franceses não fizeram melhor do que o 2º lugar. Aqui terá entrado um dos mais comuns erros de apreciação nestas competições - e que provavelmente se repetirá em todos os mundiais. Avaliar uma equipa por jogos de características diferentes daquelas que terão na fase decisiva. E assim foi. A França podia não ter grandes rasgos para bater defesas muito fechadas, mas era uma equipa consistente e com qualidade para se bater com as melhores, em jogos mais divididos. Provou-o, primeiro, afastando uma entusiasmante Espanha. Depois o favorito Brasil e, finalmente, Portugal. Tudo, sempre, em velocidade moderada e com grande classe. O estilo Zidane.

A França esbarrou na final e acabou por não proporcionar o grande final ao seu capitão. Zidane voltou a marcar uma final de um mundial à cabeçada, mas desta vez não na bola, mas sim no peito de Materazzi. Um pecado final cujo preço nunca saberemos qual foi exactamente. O que sabemos, contudo, é que a caminhada para a final justificava outro desfecho em Berlim. Como a bola é redonda, ganhou a Itália que teve a sorte que lhe faltou em 94. Para quem viu aquele mundial com olhos de ver, não hesitará em destacar a França e Zidane como os melhores da prova.

Sobre o 10 francês, não há muito para dizer. Nunca houve. Aliás, o que distinguiu Zidane nunca foram os feitos ou os números. Nem mesmo a eficácia das suas acções. O que o distinguiu foi sempre a sua arte e o seu estilo. E é precisamente por isso que para perceber o impacto de Zidane não chega qualquer descrição, é preciso ver. Um artista na forma de jogador, como poucos o foram. E é por essa especificidade que Zidane merece, a meu ver, um lugar de enorme destaque entre os mais importantes da História do Jogo.



Ler tudo»

ler tudo >>

3.6.10

Villas Boas, a oportunidade do prodígio

ver comentários...
Quando perdeu 4-0 na Luz, fiz questão de concluir a apreciação ao jogo com 2 projecções. A primeira, não se confirmou, e apontava para a probabilidade da Académica terminar o campeonato na metade de cima da tabela. A segunda acaba agora de se verificar. A ascensão meteórica de Villas Boas até ao comando de um “grande”. O “timing” que escolhi não foi inocente. É que a qualidade que Villas Boas revelou neste curto percurso como treinador vai muito para além dos resultados obtidos. Tem muito mais a ver com a qualidade que conseguiu implementar numa das mais modestas formações do nosso país. É tudo isto, mas apenas isto, que torna a escolha portista mais do que justificada. Agora, não nos equivoquemos, o sucesso imediato está longe de estar garantido.

“novo Mourinho”? Obviamente que não.
Se o futebol português não tivesse tido o “caso Mourinho”, seguramente que seriam muito menos a aceitar esta escolha. Como ele existiu, Villas Boas cabe numa “caixinha” que faz sentido. A “caixinha Novo Mourinho”. Mas Villas Boas não é uma boa escolha por ter trabalhado com Mourinho, e muito menos porque Mourinho é um caso raro de sucesso. Vilas Boas é uma boa escolha porque tem qualidade própria. O facto de ter trabalhado com Mourinho, aliás, garante-lhe muito pouco.

Tal como Mourinho não foi 2 “novo Robson” ou o “novo Van Gaal”, Villas Boas não será nunca o “novo Mourinho”. Não tem o mesmo perfil psicológico, nem terá o mesmo estilo de liderança. Terá, sim senhor, influências de uma pessoa com quem trabalhou durante muito tempo, importará métodos e abordagens pontuais, mas nunca será um “papel quimico” do novo técnico do Real. Aliás, ele próprio deu um sinal de inteligência quando, desde o inicio, afirmou ter uma personalidade e ideias diferentes de Mourinho.

É precisamente por não ser um “novo Mourinho” que Villas Boas tem um grande futuro à sua frente. Por ter reflexões e ideias próprias e por defender a abordagem em que acredita e não aquela que lhe foi apresentada como boa. Esse é segredo do sucesso em qualquer área. Iniciativa, dedicação e uma postura permanentemente critica em relação ao que deve ser feito.

O que não é garantido? O Sucesso imediato.
Os elogios ao seu trabalho vêm sendo aqui expressos desde o primeiro jogo e, entretanto, já tiveram vários episódios. Numa abordagem simplista poder-se-ia concluir que projecto também um sucesso imediato de Villas Boas. Não é assim.

Ao contrário do que é geralmente entendido, o futebol não é um contra-relógio individual. Várias equipas medíocres já foram campeãs. Várias outras, de grande qualidade, falharam esse objectivo. Não tenho dificuldade em projectar um bom trabalho de Villas Boas no Porto e em lhe projectar também uma carreira de sucesso no médio-longo prazo. O que não faço com tanta facilidade é uma projecção do seu sucesso imediato. A razão é simples: a concorrência. Villas Boas dificilmente encontrará um cenário fácil na liga portuguesa, onde o Benfica deverá ser novamente um adversário muito forte.

Já aqui referi que o trabalho de Jesualdo não será nada fácil de repetir. Poucos seriam os nomes que estariam ao nível dessa tarefa. Mas Villas Boas é um deles.

Ler tudo»

ler tudo >>

2.6.10

Portugal - Camarões: números e opiniões

ver comentários...
Não dá para entrar em euforias e há várias coisas que julgo que têm de ser afinadas antes do inicio da competição, mas dá para ver que também há notícias positivas na preparação para o Mundial. Dá para ver - não que fosse preciso - também, que o cepticismo em torno da Selecção atingiu níveis disparatados. Mas isso é outro assunto. O jogo frente aos Camarões acabou por confirmar aquilo que me parece ser um dos grandes mitos das fases de preparação: que os denominados "testes" antes da competição nada têm a ver com aquilo que se vai jogar quando começar a doer. Pode ser confortável acreditar que jogar com os Camarões serve para enquadrar o jogo de abertura. De facto, porém, os jogos serão completamente diferentes, sendo perigoso fiar-se num jogo de tão baixo nível de intensidade como aquele que se jogou na Covilhã. É isso que diz, também, a estatística.

Deco, a boa notícia
Um dos motivos pelo qual Portugal tem de ser sempre olhado como um dos favoritos é o seu potencial individual. Num bom dia, pode ganhar a qualquer equipa. Ora, é no plano individual que as boas notícias chegam para Portugal. Deco, mais concretamente. O criativo é sempre uma das grandes incertezas da Selecção e é fácil perceber que dele depende boa parte do potencial da equipa. Deco, frente aos Camarões, teve uma influência tremenda no jogo, algo que indicia uma boa condição para o arranque da prova. E isso é uma grande notícia. Ainda no meio campo, também Meireles me parece ser um dado positivo. Se Deco é influente pela presença permanente que consegue ter em jogo, Meireles serve de contra-peso pela sua capacidade de se mover sem bola. Foi o mais rematador da equipa e as suas chegadas à zona de finalização não podem deixar de lembrar outro elemento que tanto sucesso teve ao lado de Deco: Maniche.

As reticências: laterais e bolas paradas
A Selecção mostrou bons indicadores em algumas situações de pressão, saída em transição e posse de bola. Indicadores de uma qualidade que existe e tem de existir. Mas também deixou algumas reticências. Os Camarões dividiram a posse de bola e, embora isso não fosse particularmente mau dado o risco que assumiram, a verdade é que por vezes pareceu demasiado consentido o espaço a alguns jogadores. Particularmente Song, que era quem coordenava o jogo. Uma falta de intensidade que, talvez, surja pela própria natureza do jogo.

Mas o que mais me preocupa são 2 aspectos. O primeiro são as bolas paradas, onde se voltaram a ver falhas. O segundo foi a dificuldade de controlo em alguns momentos de transição. Particularmente, tenho muitas reticências em relação ao poder de explosão de Kalou e Gervinho. Controla-los, a eles e às primeiras bolas de Drogba, será mais de meio caminho andado para bater a Costa do Marfim. Mas não será fácil.

A importância das transições
Um dos motivos pelo qual é mais fácil a Portugal agradar perante adversários mais fortes, é porque estes lhe permitem jogar em transição e não sistematicamente em organização, onde o espaço é bem menor. Não é grave. É um problema comum à generalidade das Selecções, mesmo as mais fortes. Ora, é por isso que se torna importante ter uma boa capacidade de recuperação. Deco não é apenas importante pela criatividade. É muito mais do que isso. É importante porque está presente em todos os momentos do jogo e porque se revela também um fantástico recuperador (foi o jogador que mais intercepções conseguiu na Selecção). O mesmo se pode dizer de Liedson, que vale bem mais do que os golos que regularmente consegue. Neste jogo, por exemplo, não teve qualquer ocasião mas não deixou de ser fundamental no pressing da equipa.

Camarões
Já agora uma palavra sobre os Camarões. Neste registo não terá grandes hipóteses. Com ou sem Eto'o. Não terá porque demonstrou ser uma equipa macia, tecnicamente dotada, sim, mas irresponsável em posse e com grandes dificuldades em manter equilíbrios posicionais ao longo das jogadas. Há, no entanto, vários jogadores de enormíssima qualidade. Entre todos, destaco Mbia, um médio que este ano se revelou como central no Marselha. Tem de evoluir em alguns parâmetros, mas é um jogador de enormíssimo potencial, com capacidade para entrar na elite mundial a breve prazo, assim queira algum "tubarão" apostar nele.

Ler tudo»

ler tudo >>

1.6.10

Mourinho: Como ser especial em Madrid?

ver comentários...
Quando há 2 anos foi para o Inter, e mais concretamente para Itália, escrevi que seria um “passo errado”. Não o foi pela forma como acabou e pelo “objectivo Champions”, mas o retrocesso que representa, nos dias de hoje, ir de Inglaterra para Itália foi provado nas declarações do próprio. Segue-se Madrid e, de novo, a opção me parece questionável. Percebe-se dentro das ambições e metas pessoais do próprio, mas também se levantam novos riscos nesta etapa. É difícil dizer que serão maiores do que na etapa anterior, mas este será, seguramente, um enorme desafio para Mourinho.

Como pode ser “especial”?
“Special One” foi o rótulo com que ficou e, pode dizer-se, não poderia ser mais ajustado. Especial no Porto por motivos óbvios. Especial no Chelsea por devolver o domínio interno 50 anos depois. Especial no Inter por devolver o título europeu 45 anos depois. Gerações e gerações de adeptos em todos estes clubes nunca haviam presenciado tamanhos feitos e, por isso, para todos eles, Mourinho é realmente “especial”.

E no Real? Como poderá ser “especial”? 9 Taças Europeias, a última das quais há 10 anos e um número infindável de títulos internos. Vários treinadores foram bem sucedidos em Madrid e nenhum deles ficou como “especial”. Não vejo como Mourinho poderá evocar feitos que o tornem “especial” em Madrid. A sua motivação é agora outra. Mourinho quer ser “especial” para o mundo. O primeiro a vencer as 3 ligas e o primeiro a ser campeão europeu em 3 casas diferentes.

Pressão, pressão, pressão
Pressão é algo a que parece estar imune, mas será capaz de passar no barómetro do Barnabéu? Por motivos conjunturais e estruturais não há lugar mais difícil.

Conjunturais porque no mesmo campeonato mora a melhor equipa do mundo e que dificilmente deixará de ser de um dia para o outro. Para Mourinho vencer internamente será por si só um feito enorme dentro desta conjuntura. O problema é que, em Madrid, isso poderá até nem ser suficiente.

E aqui chegamos aos motivos estruturais. Madrid é, por tradição, um local de pouca paciência para treinadores. Mesmo os que ganham, mesmo os mais consagrados. Ao obstáculo Barcelona, Mourinho terá de acrescentar um cronómetro. Os seus 4 anos de contrato são tudo menos uma garantia. Aliás, ganhando ou não, o prognóstico mais fácil de fazer é que Mourinho não os cumprirá na totalidade.



Ler tudo»

ler tudo >>

AddThis