21.4.10

A opção Paulo Sérgio

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Está longe de ser o pior que podia ter acontecido ao Sporting mas dificilmente será solução suficiente para o momento. Escolher bem, como já tantas vezes escrevi, é o segredo essencial para o sucesso de qualquer gestão desportiva. Pois bem, neste momento escolher bem não basta. É preciso escolher para lá de bem. O motivo? A competição, claro. Por muito que seja reconfortante a ideia de uma independência no caminho para o sucesso, a verdade é que ele depende quase tanto do que se faz como do que os outros fazem. E, neste momento, o cenário não favorece o Sporting. Se o sucesso do Porto se centra nas melhores escolhas que foi fazendo nas últimas décadas, o Benfica vive uma fase em que colhe os louros de uma rara aposta acertada.

Dos elogios que lhe fiz na hora da difícil escolha do sucessor de Paulo Bento, a direcção de Bettencourt confirma que percebeu para quem não se deve virar, mas também que não tem bem clara a orientação a seguir. Não entrar no caminho do “treinador de renome” é já muito bom. Não que haja algum problema em ter-se um bom currículo e reputação, mas porque raramente esse critério leva às melhores escolhas. É, antes sim, uma ilusão que se paga caro. O leque das opções parece, no entanto, ficar-se pelo critério “português, jovem e a indiciar potencial”. Daqui para a frente, para o Sporting, é um tiro no escuro.

Paulo Sérgio tem, de facto, qualidades. Qualidades que explicam o sucesso em praticamente todos os clubes por onde passou. A começar pelo Vitória onde leva um trabalho meritório e com resultados muito positivos. Mas o sucesso, sendo um indicador incontornável no longo prazo, não deve ser tudo. Se o sucesso se explica pelo que tem de melhor, a atitude, o potencial tem as mesmas limitações que as suas equipas revelam no terreno de jogo. Mas vamos por partes...

Primeiro, a atitude. As equipas de Paulo Sérgio são como o discurso do próprio. Ou seja, alicerçam-se numa atitude forte, agressiva e altamente respeitosa perante o jogo e o adversário. Sem bola, o pressing é a marca mais fiel desta mentalidade. Sobe a linha defensiva e adianta a equipa para não deixar o adversário pensar, sempre com grande agressividade sobre a zona da bola. Depois, em transição ou organização, o que mais importa é a intensidade. As armas que escolhe são sempre em função dos recursos e da situação. Um dos exemplos disto é a forma como alterna o sistema de jogo. E aqui, passamos para aquilo que menos favorece o potencial do treinador...

Então o que distancia Paulo Sérgio de um potencial superior? Bem, a forma como reage aos problemas. Sem bola, o pressing sente dificuldades enormes em reagir a uma circulação que fuja à zona inicialmente definida para pressionar. Com bola, não há indícios de uma qualidade que possa ultrapassar consistentemente os blocos mais organizados. Indícios que serão mais concretamente testados nos primeiros jogos de leão ao peito mas que, para já, devem ser considerados.

Por fim, não quero deixar de fazer algumas referências comparativas com outros nomes. Primeiro Paulo Bento, pelas semelhanças óbvias (não só o nome!) com algumas características. Depois Carvalhal, para referir que Paulo Sérgio não justifica a não continuidade do actual treinador. Quanto a Villas Boas, é o exemplo claro de que o Sporting não parece saber exactamente o que medir para as suas escolhas. É possível que se dê aqui um erro histórico. Paulo Sérgio deverá garantir uma boa atitude e, até, uma boa equipa. Mas, para o objectivo que se propõe, “ser campeão”, neste momento, será preciso que ele próprio se supere.



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