15.4.10

Lances do dérbi em análise

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Oportunidade João Pereira
Foi a principal ocasião do Sporting e, mais do que isso, a jogada que simboliza a primeira parte. A intenção do Benfica forçar a saída em posse mesmo com o Sporting preparado para a pressão não mudou na segunda parte. O que mudou foi, como expliquei ontem, a qualidade com que cada equipa interpretou as suas intenções.

Mas, se esta jogada serve para perceber o que não esteve bem no Benfica na primeira parte, também servirá para perceber o que melhorou. A primeira fase de construção. E é precisamente por residir aqui, tão baixo, o problema, que o impacto de Aimar não pode servir de explicação fundamental para a diferença após intervalo. É que o 10 entrou para o lado de Cardozo e não tinha – nem teve – como missão baixar tanto no campo. Aimar contribui, naturalmente, pela sua qualidade mas não foi a resposta ao problema que a equipa vinha sentindo. Mas vamos ao resto...


Sobre a jogada, gostaria de destacar 3 pontos:

- Importância de Moutinho. O seu papel é especialmente exigente porque Moutinho tem de decidir entre a pressão sobre o central e proximidade do “pivot”. Nem sempre funcionou bem e se funcionou com alguma frequência é pela qualidade e intensidade do capitão do Sporting. Já várias vezes me referi à importância do 10 moderno ser extensível a todos os momentos do jogo. A sua posição, central no campo, implica que seja forte com e sem bola, em organização e transição. Aqui está um exemplo da importância de Moutinho e, talvez, do porquê da não utilização de Matias Fernandez – goste-se ou não da opção.

- Insistência em Javi. Foi um ponto já sublinhei ontem. Não que queira fazer de Javi a fonte dos problemas do Benfica – que não foi – mas porque a sua posição previsível aliada à falta de alternativas de passe, fizeram de Javi um ponto de referência para o pressing do Sporting na primeira parte. Após o intervalo, Javi foi menos solicitado, com David Luiz a assumir também mais riscos.

- Efeito psicológico. Não derivou apenas desta jogada mas ela também contribuiu. É que o Benfica não começou a partida a acumular erros e estes só se tornaram mais frequentes quando o Sporting ameaçou a baliza de Quim. O efeito da confiança no desempenho técnico é evidente e a importância dos estados emocionais encontra aqui mais um exemplo elucidativo.

1º golo
Há bastante por dizer sobre o golo e, por isso, vamos por partes:

- Djaló e Amorim. Ruben Amorim é figura principal no desequilíbrio fundamental do jogo. O Benfica começa por sentir dificuldades e recorre a um passe longo e de sucesso improvável. É na segunda bola que as coisas se começam a decidir. Não se pode responsabilizar Djaló por um não acompanhamento individual, numa óptica zonal de defesa. Mas pode-se, isso sim, responsabiliza-lo por não ter estado devidamente reactivo na jogada. Se partiu da mesma posição do que Amorim, deveria ter também ter conseguido estar mais próximo do lateral do Benfica na abordagem à segunda bola. Se o tivesse feito, poderia ter pressionado de imediato. É nestes pormenores que se mede a intensidade dos jogadores nos jogos e é neles que, tantas vezes, estes se decidem.

- 2 x 2 mal resolvido – Se Djaló não pressionou, o Sporting posicionou-se bem no flanco, com o ajustamento de Pedro Mendes. O que falhou? Principalmente Grimi. Grimi deveria ter pressionado Amorim e hesitou com o movimento de Ramires. Uma troca defensiva que não se justificava e que não foi percebida por Pedro Mendes. O resultado foi uma passividade da dupla e um excelente aproveitamento de Ruben Amorim.

- Coentrão – Djaló não pressionou, Grimi facilitou, mas, mesmo assim, o desequilíbrio de Amorim não foi suficiente perante uma defensiva bem posicionada. A diferença foi feita do outro lado, no acompanhamento de Coentrão. A importância do papel dos laterais no modelo de Jesus é algo que já venho sublinhando e não é pelo que fazem com bola, mas, antes sim, pela postura agressiva que adoptam em todos os momentos do jogo. Aqui fica mais um exemplo. Há muitas equipas e treinadores que não permitem a subida dos laterais em simultâneo. Este Benfica é um exemplo de que essa não é uma regra sagrada para o equilíbrio táctico.

2ª golo
Vou-me repetir... Concentração, intensidade e, já agora, Grimi. Este é um lance que, embora rápido, é bastante simples... Primeira bola disputada por um dos centrais. O que deve acontecer é a protecção do espaço nas suas costas, com os laterais a fecharem por dentro. A chave do lance está na reacção de Grimi no momento da primeira bola.

Em vez de fechar o espaço, o lateral – tal como João Pereira – fica a pedir um fora de jogo de Kardec. Na realidade este foi um pormenor que passou despercebido à própria realização e não se chega a perceber se o argentino tinha ou não razão. O que importa, porém, é que Grimi sobrepõe o protesto à sua própria responsabilidade e perde por completo o controlo posicional da sua zona. Se Aimar se isola é porque Carriço teve também de sair da sua zona para pressionar Ramires. O que deveria ter acontecido era o brasileiro ser pressionado por Grimi e Carriço mantido o controlo da sua zona.

Outra nota poderia ter a ver com o fora de jogo no momento do passe de Ramires. Nem João Pereira, nem o próprio Grimi tiveram o instinto de subir a linha defensiva. Neste sentido, pode admitir-se uma critica colectiva por não o terem feito – embora seja discutível dada a rapidez do lance – mas não se pode nunca falar de erro individual a este respeito.



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